Leituras: Primeira Epístola de São Paulo Apóstolo aos Tessalonicenses 4, 1-7.
Continuação do Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus 17, 1-9:
Caríssimos a amados fiéis em Nosso Senhor Jesus Cristo!
A primeira observação que fazemos é que Jesus Cristo escolheu para presenciar sua Transfiguração os mesmos três apóstolos privilegiados que presenciariam Sua agonia no Getsêmani: São Pedro, que seria o primeiro Papa, São Tiago que seria o primeiro apóstolo a morrer mártir, São João que era, pela sua virgindade, o discípulo que Jesus mais amava.
Monte Tabor |
Deixando por um instante, a forma de servo, Jesus se mostra o que realmente é no esplendor da sua glória, o Filho de Deus vivo. Segundo Santo Tomás, a Transfiguração foi menos um milagre que a cessação momentânea de um milagre. Com efeito, o mistério da Encarnação supunha dois milagres concomitantes - um , pelo qual o Filho de Deus se encerrava no corpo de um homem; outro, pelo qual a divindade, que naturalmente devia jorrar através da humanidade, se escondia sob os véus de uma carne mortal.
Jesus tem a seus lados os dois corifeus do Antigo Testamento e diante de si os Apóstolos do Novo. Moisés é a Lei, Elias os Profetas, os Apóstolos os Evangelhos.
A Transfiguração se realizou , ao que parece, durante a noite, e é de notar que os Apóstolos tenham sucumbido ao sono, enquanto Jesus orava, tanto no Tabor, como no Getsêmani.
Jesus pediu segredo sobre a Transfiguração certamente porque tal divulgamento teria aumentado o perigoso fanatismo dos que contavam erradamente com o reino temporal do Messias.
Caríssimos irmãos, talvez a pergunta mais provável sobre o evangelho deste segundo domingo da Quaresma seria: qual a razão de a Igreja colocar para nossa meditação um mistério de alegria em plena Quaresma?
Igreja construída por Santa Helena, no alto do Tabor onde se deu a Transfiguração. |
Hoje seus Apóstolos não podem separar-se dele; no dia da sua morte, todos o abandonarão! Todavia estes dois mistérios têm entre si íntima relação e lançam luz um sobre o outro para a sua compreensão. Um mostra-nos a coroa que nos é destinada; o outro ensina-nos por que preço a alcançaremos. A sua união faz-nos conhecer que neste mundo a doçura e a amargura, a glória e a ignomínia não podem estar separadas muito tempo. Modera a nossa alegria na prosperidade, consola-nos na adversidade, a anima-nos com a esperança. Tem principalmente uma admirável força para abrasar nossos corações no amor divino. Sem a Transfiguração comover-nos-ia menos a Paixão. Depois de contemplar as grandezas do Filho de Deus, apreciamos melhor a caridade que o fez descer por nós ao último grau de humilhação.
Se não tivesse o cuidado de revelar-nos suas grandezas, pensaríamos nós no sacrifício que fez delas por amor de nós, não durante algumas horas somente, ou alguns dias, mas durante toda a vida? Como vimos acima, Sua Transfiguração foi a interrupção momentânea de um milagre de amor, sem o qual não teria podido humilhar-se, nem padecer, nem morrer por nós. No jardim das Oliveiras suspendeu o efeito da visão beatífica, para que sua alma fosse oprimida de tristeza; durante toda a vida, suspendeu o efeito da união hipostática, para que sua santa humanidade estivesse sujeita às humilhações, aos sofrimentos e à morte.
Mas, caríssimos e amados irmãos, quantos cristãos e até sacerdotes, procuram separar estes dois mistérios. Querem ficar só no Tabor; e fogem do Calvário! São todos os partidários de uma devoção cômoda. Querem estar com Jesus Cristo, contanto que seja nas honras e delícias. Como é possível que não vejam que uma piedade sem incômodo, sem sacrifício, sem penitência, está em contradição com a piedade própria do espírito de Jesus Cristo? Que ensinou Ele? Como viveu? Sua doutrina resume-se em três coisas: negar-se a si mesmo; tomar a sua cruz e segui-Lo. Uma só palavra resume todos os seus exemplos: padecer. Entremos finalmente com valor e constância neste caminho de cruz, onde nos precederam os homens apostólicos e todos os santos.
Caríssimos, no meio das vossas tribulações lembrai-vos do Céu. Estremecei de alegria, pensando nessa glória incomparável que vos está reservada na Pátria do repouso eterno!. Tende paciência! Como diz São Paulo: não há comparação entre as tribulações que sofremos agora no tempo, com o peso imenso de glória que nos está reservado no Céu! Pensai assim muitas vezes nas íntimas relações que há entre a Transfiguração e a Paixão, entre o Tabor e o Calvário, entre a Cruz e o Céu. Amém!
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