SAUDAÇÕES E BOAS VINDAS

LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO! PARA SEMPRE SEJA LOUVADO!

Caríssimos e amados irmãos e irmãs em Nosso Senhor Jesus Cristo! Sêde BEM-VINDOS!!! Através do CATECISMO, das HOMILIAS DOMINICAIS e dos SERMÕES, este blog, com a graça de Deus, tem por objetivo transmitir a DOUTRINA de Nosso Senhor Jesus Cristo. Só Ele tem palavras de vida eterna. Jesus, o Bom Pastor, veio para que Suas ovelhas tenham a vida, e com abundância. Ele é a LUZ: quem O segue não anda nas trevas.

Que Jesus Cristo seja realmente para todos vós: O CAMINHO, A VERDADE, A VIDA, A PAZ E A LUZ! Amém!

domingo, 30 de julho de 2017

PAIXÕES E MAUS HÁBITOS


"O ímpio, depois de ter caído no abismo dos pecados, tudo despreza" (Provérbios XVIII, 3).

Nada mais perigoso na luta pela salvação eterna do que a nossa propensão ao pecado. Basta pensarmos nestas palavras do Espírito Santo pela boca do Apóstolo São Paulo: "Vejo nos meus membros outra lei que se opõe à lei do meu espírito, e que me faz escravo da lei do pecado, que está nos meus membros. Infeliz de mim! quem me livrará deste corpo de morte? somente a graça de Deus por Jesus Cristo nosso Senhor" (Rom. VII, 23 e 24). "Mas pela graça de Deus sou o que sou, e a sua graça, que está em mim, não foi vã. (1 Cor. XV, 10). É a terrível concupiscência, consequência do pecado original. Este é tirado da alma pelo santo Batismo, mas a concupiscência permanece, para termos campo de luta, pela qual devemos merecer o céu. O Apóstolo diz tudo: temos dentro de nós mesmos esta lei do pecado e é pela graça de Jesus Cristo que podemos vencê-la, mas é necessário que correspondamos a esta graça para que ela não fique estéril em nossa vida.

Caríssimos, justamente por não corresponder à graça de Deus, é que pode acontecer de o pecador adquirir uma atração para mal ainda maior, que é o hábito do pecado. Não correspondendo à graça, o pecador é levado pelas suas paixões, que além  de si mesmas já serem muito fortes, tornam-se dominantes pelo hábito dos pecados provocados por elas. E pior ainda, estas paixões podem se tornar verdadeiros ÍDOLOS.

Caríssimos, é evidente, que quem luta generosamente, pondo em Deus toda a esperança, alcança infalivelmente o triunfo. A luta poderá prolongar-se, tornar-se renhida, mas acabará por uma vitória. Quem cede, porém, sem se incomodar, aquele cuja vida é assinalada por capitulações contínuas, será finalmente derrotado e cairá na escravidão do pecado e de suas paixões. E, longe de gemer sob este terrível jugo, aceita-o, ama-o, e se recusa a fazer esforços para dele se libertar. Oh! estado terrível da alma que se torna assim escrava dos sentidos, prostrando-se até diante das criaturas e alienando sua liberdade para deixar o vício dominar-lhe o coração como senhor absoluto! É portanto, um idólatra. Dando o exemplo do vício capital da gula diz São Paulo: "Falo com lágrimas, muitos procedem como inimigos da cruz de Cristo: o fim deles é a perdição, o deus deles é o ventre; e fazem consistir a sua glória na sua própria confusão, gostando somente das coisas terrenas" (Filipenses III, 18 e 19).

Os homens não adoram mais, é verdade, ídolos de madeira ou metal; não dobram os joelhos para adorar imagens inanimadas como se elas fossem deuses ou deusas. Os homens haviam de corar de tal loucura. Mas será menor a culpa de quem se entrega às paixões? Na verdade, quem se abandona ao pecado mortal, rejeita a soberania de Deus e adora a sua paixão. Deus Nosso Senhor não pode assim reinar em corações que prestam homenagem e adoração a falsas divindades.

Quando começamos a ceder a uma tendência culpável, somos inclinados a iludir-nos; julgamo-nos ainda livres. O demônio pode até fazer a pessoa se orgulhar como se estivesse dando provas de energia. E aí esta pobre alma por fim, não conseguirá mais resistir. É escrava do pecado e este é o seu deus! Coisa terrível!!! Quando uma melodia suave nos encanta os ouvidos, (estou ouvindo uma destas) estes sentimentos nos impressionam fortemente e caímos em uma espécie de êxtase, que nos faz esquecer todos os seres, que deixam, por assim dizer, de existir para nós (estava digitando sem pensar no que escrevia, tal o atrativo da música, e aí desliguei-a). Assim, caríssimos, também a alma que, atraída por um objeto criado, que lhe parece fascinante, não se obriga a afastá-lo, será seduzida sem demora e perderá a noção de tudo; sua vida então se concentrará na contemplação do objeto que lhe prende os pensamentos, como se fosse para ela o único necessário. Tal é o estado da alma idólatra. O que as almas santas sentem por Deus e pelas coisas de Deus, a alma idólatra sente pelas criaturas às quais se apegou como se fosse o seu fim último.

E Deus não castigará esta idolatria de muitos cristãos ou que se dizem tais? Claro que sim! Ouçamos o que diz Santo Afonso Maria de Ligório: "É difícil que tais pecadores se salvem, porque os maus hábitos cegam o espírito, endurecem o coração e ocasionam provavelmente a obstinação completa na hora da morte.

Primeiramente, o mau hábito nos CEGA. Qual o motivo que faziam os Santos implorar incessantemente a luz divina, temendo converter-se nos pecadores mais abomináveis do mundo? É porque sabiam que, se chegassem a perder a luz divina, poderiam cometer culpas horrendas. E como se explica que tantos cristãos vivem obstinadamente em pecados, até que irremediavelmente se condenam? Porque o pecado os cega, e por isso se perdem: "Assim pensaram, mas enganaram-se, porque a sua malícia os cegou" (Sabedoria II, 23). "O costume de pecar não deixa o pecador reconhecer o mal que pratica" diz Santo Agostinho.

Além disso, os maus hábitos ENDURECEM O CORAÇÃO, permitindo-o Deus justamente em castigo da resistência que se opõe a seu convites. Pode haver castigo maior?!... São Paulo diz que Nosso Senhor "tem misericórdia de quem quer, e endurece a quem quer" (Rom. IX, 18). Santo Agostinho explica este texto, dizendo que Deus não endurece de um modo imediato o coração daquele que peca habitualmente, mas que o priva da graça em castigo da ingratidão e obstinação com que repeliu a que antes lhe havia concedido; e em tal estado o coração do pecador se endurece como se fosse de pedra: "O seu coração é duro como a pedra, e apertado com a bigorna do ferreiro" (Jó XLI, 15).
Teme, pois, meu irmão caríssimo, que não te suceda esta desgraça. Se tens algum mau hábito, procura libertar-te agora que Deus te chama. Enquanto sentes remorso na consciência, regozija-te, porque é indício de que Deus ainda não te abandonou. Mas você pode garantir-te que Deus está longe de o fazer? Urge, pois, corrigir-te e sair o mais breve possível desse estado, doutra maneira gangrenar-se-á a ferida e te verás perdido. Eis o que é mais terrível! O que explicarei a seguir.

OS MAUS HÁBITOS OCASIONAM PROVAVELMENTE A OBSTINAÇÃO NA HORA DA MORTE:

Só escrevo baseado que estou na incontestável autoridade de um Santo Afonso Maria de Ligório. Ouçamo-lo: "Privado da luz que nos guia e endurecido o coração, que admira que o pecador tenha mau fim e morra obstinado em suas culpas? "O coração duro será oprimido de males no fim; e aquele que ama o perigo perecerá nele" (Eclesiástico III, 27). Os justos andam sempre pelo caminho reto. "A senda do justo é direita" (Isaías XXVI, 7). Ao contrário, aqueles que pecam habitualmente caminham sempre em linhas tortuosas. Se deixam o pecado por algum tempo, voltam de novo a ele; pelo que São Bernardo os ameaça com a condenação no sermão sobre o Salmo 90. Talvez algum deles queira emendar-se antes que lhe chegue a morte. Mas é precisamente nisto que está a dificuldade: o pecador por hábito, ainda que chegue à velhice, não se emenda. "O homem, segundo o caminho que tomou sendo jovem, não se afastará dele, mesmo quando velho" (Provérbios XXII, 6). "Se um etíope pode mudar a sua pele, ou um leopardo as suas malhas, poderás vós também fazer o bem, vós que não aprendestes senão fazer o mal?" (Jeremias XIII, 23). "Bem-aventurado o homem que está sempre com temor; mas o de coração duro cairá no mal" (Provérbios XXVIII, 14).

Estou, portanto, condenado e sem esperança?  -  perguntará, talvez, algum destes infelizes pecadores ... Não, se deveras quiseres emendar-te. Mas os males gravíssimos requerem remédios heroicos. Não deves esperar um milagre da graça. Impende evitar resolutamente as ocasiões perigosas, fugir das más companhias e resistir às tentações, recomendando-te a Deus. É preciso que te confesses a miúdo, que faças cada dia leitura espiritual e te entregues à devoção da Virgem Santíssima, pedindo-lhe continuamente que te alcance forças para não recair. É necessário que te domines e empregues violência. Se não aplicares agora o remédio, quando Deus te ilumina, mais tarde dificilmente poderás remediá-lo. Teme que não seja este o último apelo que Deus te faz. "Temo a Jesus que passa e não volta mais", dizia Santo Agostinho.

Ó Senhor, quero mudar de vida e entregar-me a Vós. Dizei-me o que devo fazer, pois quero pô-lo em prática. Sangue de Jesus Cristo, ajudai-me! Virgem Maria, advogada dos pecadores, socorrei-me! Amém!


sexta-feira, 28 de julho de 2017

OS NOVÍSSIMOS SEGUNDO S. JOÃO BOSCO


"Em todas as tuas obras, lembra-te dos teus novíssimos, e nunca jamais pecarás" (Eclesiástico VII, 40).
A MORTE.

 A morte é a separação da alma do corpo e o total abandono das coisas deste mundo. Todos sabem que um dia devem morrer, mas ninguém sabe onde e como morrerá. Você não sabe se a morte o surpreenderá na sua cama ou no seu trabalho, na estrada ou em outro lugar. A ruptura de uma veia, um infarto, um tumor que talvez já esteja crescendo em seu organismo, uma  queda, um acidente, um terremoto, um raio e outras mil causas de que você nem suspeita agora, podem privá-lo da vida. E isto pode acontecer daqui a um ano, a um mês, uma semana, a uma hora e, talvez, apenas terminada a leitura desta meditação. Quantos se deitaram à noite com boa saúde e de manhã foram encontrados mortos! Quantos ainda hoje morrem de improviso! E onde se encontram agora? Se estavam na graça de Deus, felizes deles! São para sempre bem-aventurados. Mas se estavam em pecado mortal, agora estão eternamente perdidos! Diga-me, meu caro jovem, se você devesse morrer neste instante, que seria de sua alma?

Embora o lugar e a hora de sua morte lhe sejam desconhecidos; você sabe com certeza que vai morrer. Esperemos que a sua última hora não venha de repente, mas aos poucos, por uma doença comum. De qualquer modo virá um dia em que, estendido em sua cama, você estará prestes a passar à eternidade assistido por um sacerdote e cercado por parentes que choram. Você terá a cabeça dolorida, os olhos embaçados, a língua ressequida, um suor gélido e o coração fraquíssimo. Assim que a alma expirar, seu corpo será vestido e colocado num caixão. Aí os vermes começarão a roer suas carnes, e bem depressa de você não restarão a não ser poucos ossos descarnados e um pouco de pó. Experimente abrir um sepulcro e verá a que ficou reduzido aquele jovem antes cheio de saúde, aquele rico, aquele ambicioso, aquele orgulhoso!

Meu caro filho, ao ler estas linhas, lembre-se de que elas falam de você, como de todos os outros homens! Agora, o demônio, para induzi-lo a pecar, procura desviar sua atenção destes pensamentos e escusá-lo de suas culpas, dizendo-lhe não ser um grande mal aquele prazer, aquela desobediência, aquela omissão da Missa no domingo ou em dia santo, e assim por diante; mas quando chegar o momento da sua morte, será ele mesmo que vai lhe revelar a gravidade destes e dos outros pecados, e vai lançá-los diante de sua consciência. Que fará você então? Ai de você se, naquele momento, se achar em desgraça de Deus!

Não se esqueça, meu jovem amigo, de que daquele momento depende a sua eterna salvação ou a sua eterna condenação. Duas vezes temos diante de nós uma vela acesa: no Batismo e na hora da morte. A primeira vez para fazer-nos ver os preceitos da Lei divina que devemos cumprir, e a segunda para fazer-nos ver se os cumprimos. À luz daquela vela quantas coisas se verão! À luz daquela vela, você verá se amou a Deus ou se O desprezou; se honrou seu santo Nome ou se O blasfemou; você verá as festas profanadas, as Missas perdidas, as impurezas cometidas, os escândalos dados, os furtos, os ódios, as soberbas ... Oh! meu Deus, verei tudo naquele momento em que se abrirá diante de mim a porta da eternidade!

Grande e terrível momento do qual depende uma eternidade de glória ou de sofrimentos! Você está compreendendo o que lhe digo? Eu lhe digo que daquele momento depende o ir para o céu ou para o inferno; ser para sempre feliz ou desesperado; para sempre filho de Deus ou escravo de Satanás; para sempre gozar com os anjos e os santos no céu ou gemer e queimar para sempre com os condenados no inferno! Por isso, prepara-se para aquele grande momento fazendo logo um ato de contrição e, o mais depressa que você puder, uma boa e santa confissão. Decida-se, depois, a viver sempre na graça de Deus, porque como se vive assim se morre.

O JUÍZO PARTICULAR.

O juízo é a sentença que Jesus vai pronunciar no fim da nossa vida, com a qual fixará o destino de cada um por toda a eternidade. Assim que sua alma tiver saído do corpo, comparecerá diante do Juiz Divino, que lhe pedirá conta rigorosa do bem e do mal que você praticou na sua vida. Num piscar de olhos, como que numa luz repentina, você verá toda a sua vida posta em confronto com a vontade de Deus. Então você ficará horrorizado com os pecados cometidos dos quais não se arrependeu, com as orações desleixadas, com os escândalos dados. Verá as almas que, com seus maus exemplos, levou ao pecado, as quais o amaldiçoam no inferno e pedem sua condenação. Verá os demônios ansiosos para arrastá-lo consigo e, embaixo, o inferno escancarado para recebê-lo. Você tentará, então, levantar o olhar suplicante para a face de Cristo, mas não conseguirá manter o olhar. Invocará o auxílio de Nossa Senhora, mas Ela não poderá mais fazer nada por você. Então, não encontrando acolhida, gritará às montanhas e às pedras que o cubram e o aniquilem, mas elas não se moverão. Sua alma imortal não poderá de maneira alguma refugiar-se no nada. Nesta hora, você mesmo, reconhecendo a Justiça de Deus, invocará o inferno como uma libertação!

Meu caro jovem, você está ainda em tempo de evitar um juízo de condenação! Peça logo perdão a Deus de seus pecados e comece desde hoje uma vida verdadeiramente cristã. Naquele dia tremendo, você será feliz por ter amado a Jesus e ter observado seus mandamentos. Até os sofrimentos, que você padece agora, ser-lhe-ão naquele momento fonte de alegria. Viva, portanto, hoje como gostaria de ter vivido então!

O INFERNO.

Quem recusa Deus até o fim, isto é, até a hora da morte, continuará a recusá-Lo para sempre. Por isso, a Justiça divina, respeitando a livre escolha feita pela sua criatura, afasta-a para sempre de Si, deixando-a caminhar para o destino de quem recusou o Sumo Bem para escolher o sumo mal, o Inferno Eterno. A primeira pena que os condenados sofrem no inferno é a pena dos sentidos, que serão atormentados por um fogo que queima terrivelmente sem jamais se consumir. fogo nos olhos, fogo na boca fogo em todas as partes. Cada sentido  padece a própria pena conforme o mau uso que dele fez em vida. Os olhos são aterrorizados pela vista dos demônios e dos outros condenados. Os ouvidos só escutam uivos e prantos de desespero. O olfato sofre com o mau cheiro do enxofre e a boca com sede e fome canina.

O rico epulão, no meio dos tormentos do inferno, levantou o olhar para o céu e pediu, suplicante, uma gota d'água para refrescar a ardência de sua língua: mas até essa gota d'água lhe foi negada!
Oh! Inferno, Inferno! Quão infelizes são os que caem nos teus abismos! Meu caro, jovem, se você devesse morrer neste momento, para onde iria? Mas agora você não pode suportar um minuto o dedo na chama de uma vela sem gritar de dor, como poderá suportar o tormento de todas aquelas chamas por toda a eternidade?

A segundo pena que os condenados padecem no inferno é a pena do dano. Esta é, sem comparação, mais terrível que a dos sentidos, porque é a privação completa e eterna do Bem Infinito para o qual fomos criados. Como os nossos pulmões têm necessidade do ar para viver, assim a nossa alma tem necessidade de Deus; e como a morte por afogamento é a mais terrível que existe, assim não há pena mais insuportável para a alma do que a necessidade insopitável que sente de "respirar" Deus. Sem contar que o sofrimento do afogado dura poucos minutos, enquanto que o padecimento do condenado dura para sempre! E com a privação de Deus, o condenado é privado também da companhia dos Anjos, de Nossa Senhora, dos Santos e dos seus caros defuntos, que não verá nunca mais.

Caro jovem, como poderá ainda viver em pecado, agora que você conhece que terríveis penas esperam quem não se decide a amar a Deus verdadeiramente! Não adie a sua conversão! Tem certeza de que esta não será a última chamada, e, se não corresponde a ela, não terá outras para salvá-lo do inferno?

Considere, meu caro jovem, que se você for para o Inferno, nunca mais dele sairá! Pois no Inferno não só se sofrem todas as penas, mas todas eternamente. Passarão cem anos desde que você caiu no Inferno, passarão mil anos e o Inferno terá apenas iniciado; passarão cem mil, cem milhões, passarão mil milhões de séculos, e o inferno estará ainda em seu começo.

Se um Anjo levasse aos condenados a notícia de que Deus os quer libertar do Inferno, depois de passados tantos milhões de séculos quantas são as gotas d'água do mar, as folhas das árvores e os grãos de areia da terra, esta notícia lhes causaria a maior satisfação. "É verdade  -  diriam  -  que devem passar ainda tantos séculos, mas um dia hão de acabar!" Pelo contrário, passarão todos esses séculos e todos os tempos que se possam imaginar, e o Inferno estará sempre no princípio.

Se ao menos o pobre condenado pudesse enganar-se a si mesmo e iludir-se pensando: "Quem sabe, um dia talvez Deus poderá me arrancar deste tormento..." Mas não, nem isto será possível, porque foi o próprio condenado que, na hora da morte, firmou sua vontade contra Deus a tal ponto que não quer mudá-la mais agora que entrou na eternidade. Será ele mesmo a querer para sempre aquelas chamas que o queimam, aqueles demônios que o atormentam, e a rejeitar para sempre  aquele Deus que ele ofendeu!

Meu jovem amigo, compreende bem o que você está lendo? Uma pena eterna por um só pecado mortal que, talvez, cometeu com tanta facilidade! Escute, pois, o meu conselho: Se a consciência o acusa de algum pecado mortal (mesmo que seja um só), vá depressa confessar-se e comece logo uma vida boa. Para isto, escolha um santo sacerdote ao qual você poderá recorrer para pedir conselho e, se necessário, faça uma confissão geral, ou seja, que abranja toda a sua vida.

Lembre-se sempre de que, para não cair no Inferno, qualquer sacrifício que você possa fazer é bem pouca coisa, porque todos os sacrifícios que você possa fazer é bem pouca coisa, porque todos os sacrifícios deste mundo duram pouco, enquanto que o Inferno dura para sempre!

O PARAÍSO.

Tanto apavora o pensamento do Inferno, quanto consola a lembrança do Paraíso que Deus preparou para aqueles que O amam. Se você pudesse gozar ao mesmo tempo de todas as alegrias deste mundo, desde as belezas criadas até os alimentos mais saborosos, desde as músicas mais suaves até os afetos mais puros, saiba que tudo isso é nada em comparação com as alegrias que o aguardam no Céu!

Pense, com efeito, na alegria que experimentará encontrando-se com os seus parentes e amigos, que virão correndo ao seu encontro para acolhê-lo no meio deles; pense na beleza e nobreza dos Anjos e dos Santos que, aos milhões, louvam ao seu Criador. No Céu você verá a grande multidão de jovens que conservaram intacta a virtude da pureza e daqueles que a reconquistaram pelo arrependimento e pela penitência: e os verá todos felizes cumulados de uma felicidade que nunca lhes será tirada.

Mas saiba que todas as alegrias do Paraíso não são nada em comparação com a alegria que se experimenta ao ver a Deus! Como o sol ilumina e embeleza todo o mundo, assim Deus, com sua presença, ilumina e embeleza todo o Paraíso e enche seus bem-aventurados moradores de delícias inefáveis. N'Ele você verá, como num espelho, todas as coisas, gozará todos os prazeres, amará todos os Santos do Céu.

São Pedro, no monte Tabor, por ter contemplado uma só vez o rosto de Jesus radiante de luz, sentiu-se repleto de tanta doçura que, fora de si, exclamou: "Senhor, como é bom estar aqui!" E ali teria ficado para sempre. Pense, portanto, naquela sua alegria de poder contemplar e amar, não por um instante apenas, mas para sempre, aquele rosto divino que encanta os Anjos e os Santos e que embeleza todo o Paraíso!

E pense que alegria será para você contemplar e beijar o rosto puríssimo e amável de Maria Santíssima, que na terra você invocou tantas vezes e agora o recebe como filho caríssimo e o apresenta a Jesus!

Crie coragem, portanto, meu caro filho; se ainda lhe couber padecer alguma coisa neste mundo, não importa; o prêmio que o aguarda no Céu recompensará infinitamente todos os seus sofrimentos.


Então sim, você poderá dizer: "Estou salvo! Estarei para sempre com o Senhor!" Então sim, você bendirá o momento em que deixou o pecado, o momento em que fez aquela boa confissão e começou a frequentar os Sacramentos, o dia em que deixou as más companhias, as más leituras e os maus espetáculos... Então, cheio de gratidão, você se voltará para Deus e Lhe cantará seus louvores por todos os séculos. 

quinta-feira, 27 de julho de 2017

LOUCURA DO PECADOR


"A sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus" (1 Cor. III, 19)

CONSIDERAÇÃO XX SOBRE AS VERDADES ETERNAS (em resumo)
Segundo Santo Afonso Maria de Ligório

Há quem enlouqueça pelas honras; outros, pelos prazeres; não poucos, pelas futilidades da terra. E se atrevem a considerar loucos os santos, que desprezam os bens mesquinhos do mundo para conquistar a salvação eterna e o Sumo Bem, que é Deus. A seus olhos é loucura sofrer desprezos e perdoar ofensas; loucura, privar-se dos prazeres sensuais e preferir a mortificação; loucura, renunciar às honras e às riquezas, e amar a solidão, a vida humilde e oculta. Não consideram, no entanto, que a essa sua sabedoria mundana Deus chama loucura: "A sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus" (1 Cor. III, 19). Ah! ... Virá o dia em que confessarão e reconhecerão a sua demência... Quando, porém? quando já não houver remédio possível e tenham que exclamar desesperados: "Desgraçados de nós, que reputávamos loucura a vida dos santos! agora compreendemos que os loucos fomos nós. Eles já se contam no número feliz dos filhos de Deus e compartilham a sorte dos bem-aventurados, que durará eternamente e os fará felizes para sempre... ao passo que nós ficamos escravos do demônio, condenados a arder neste cárcere de tormentos por toda a eternidade!... Enganamo-nos, pois querendo cerrar os olhos à luz divina (cf. Sabedoria, V, 6) e nossa maior desventura é sabermos que o nosso erro não tem nem terá remédio enquanto Deus for Deus.

"Oxalá que eles tivessem sabedoria e compreendessem e previssem o fim" (Deuteronômio XXXII, 29). O homem que se guia razoavelmente em suas obras, prevê o futuro, isto é, considera o que lhe há de acontecer no fim da vida: a morte, o juízo, e depois dele o inferno ou a glória do Céu.. Quanto mais sábio é um simples aldeão que se salva, do que um monarca que se condena! "Vale mais um moço pobre, mas sábio, do que um rei velho e néscio, que não sabe prever nada para o futuro" (Eclesiastes IV, 13). Ó Deus! Não teríamos por louco aquele que, para ganhar um real, se arriscasse a perder todos os bens? E não deve passar por louco aquele que, a troco de um breve prazer, perde a sua alma e se expõe ao perigo de perdê-la para sempre? Esta é a causa da condenação de muitíssimas almas: ocupam-se em demasia dos bens e dos males presentes, e não pensam nos eternos.

Deus não nos colocou neste mundo para alcançarmos riquezas, nem adquirirmos honras ou contentarmos os sentidos, senão para procurarmos a vida eterna: "Mas agora que estais livres do pecado  e feitos servos de Deus, tendes por vosso fruto a santificação e por fim a vida eterna" (Rom. VI, 22). E a consecução desta finalidade deve ser o nosso único interesse. "Uma só coisa é necessária" (S. Lucas, X, 42). Ora, os pecadores desprezam este fim. Só pensam no presente. Caminham até ao término da vida e se acercam da eternidade, sem saberem para onde se dirigem. Sábio do mundo foi o rico avarento que soube enriquecer; e, todavia, morreu e foi sepultado no inferno (cf. S. Luc. XVI, 22).

"Ante o homem, a vida e a morte: aquilo que ele escolher, ser-lhe-á dado" (Eclesiástico XV, 18). Cristão! diante de ti se apresentam a vida e a morte, isto é, a voluntária privação das coisas ilícitas para ganhar a vida eterna, ou o entregar-te a elas e à morte eterna ...Que dizes? Que escolhes? ... Procede como homem e dize: Que aproveita ao homem ganhar o mundo todo e perder sua alma?" (S. Mateus XVI, 26).

Compenetremo-nos bem de que o verdadeiro sábio é aquele que sabe adquirir a graça divina e a glória do Céu. Roguemos ao Senhor para que nos conceda a ciência dos Santos, ciência que ele dá a quem lha pede (Sab. X, 10), Seremos eternamente venturosos, se soubermos amar a Deus, ainda que ignoremos todas as demais coisas, como dizia Santo Agostinho. Quantos ignorantes há, diz ainda o mesmo santo Doutor, que nunca aprenderam a ler, mas que sabem amar a Deus, e se salvam, quantos doutos do mundo que se condenam! ... Quão sábios, tantos mártires e tantas virgens que renunciaram a honras, prazeres e riquezas para morrer por Cristo!... Ainda os próprios mundanos reconhecem esta verdade, e proclamam feliz aquele que se entrega a Deus e sabe o que tem de fazer para salvar a sua alma. Em suma: aqueles que renunciam os bens da terra para se consagrar a Deus são chamados homens desenganados. Como deveremos chamar os que preferem a Deus os bens do mundo? ... Homens enganados.

Os sepulcros são escola excelente para reconhecer a vaidade dos bens deste mundo e para aprender a ciência dos Santos, adverte S. João Crisóstomo, saberíeis distinguir ali o príncipe do plebeu, o analfabeto do letrado?" "Eu, por mim, nada vejo, senão podridão e vermes". Todas as coisas do mundo passarão em breve, dissipar-se-ão como fábulas, sonhos e sombras.

Não há ninguém que se não quisera salvar e santificar, mas, como não empregam os meios convenientes, condenam-se. É preciso evitar as ocasiões de pecar, frequentar os sacramentos, fazer oração, e, sobretudo gravar no coração as máximas do Evangelho, como, por exemplo, as seguintes: "Que aproveita ao homem se ganhar o mundo todo e perder a alma?" Quem ama desordenadamente a sua vida, perderá a vida eterna". " Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo". Para seguir a Jesus Cristo é preciso recusar ao amor próprio a satisfação que exige. Nossa salvação consiste no cumprimento da vontade divina (Sl 29, 61).


Ó meu Jesus, que destes vosso sangue para me remir; não permitais que volte a ser, como fui, escravo do mundo! Arrependo-me, Sumo Bem, de ter-vos abandonado. amaldiçoo todos os momentos em que minha vontade consentiu no pecado, e abraço-me com vossa santíssima vontade, que só deseja a minha felicidade. Concedei-me, Eterno Pai, pelos merecimentos de Jesus Cristo, força para executar tudo quanto vos agrade, e fazei que prefira morrer a opor-me à vossa vontade. Ó Maria Santíssima, alcançai-me estas graças! O vosso divino Filho nada vos recusa. Amém!

domingo, 23 de julho de 2017

DEVO SALVAR-ME


"Deus Nosso Salvador quer que todos os homens se salvem" (cf. 1 Tim. II, 4).

Falamos anteriormente da graça santificante que é um hábito na alma e, portanto, permanente e só é perdida com a pecado mortal. Aqui neste artigo, falaremos das graças atuais que são passageiras. E é neste sentido que fala Santo Agostinho: "Temo a Jesus que passa e não volta mais".

Deus, Nosso Senhor quer a salvação de todos os homens.É uma verdade de fé: "Assim, não é a vontade de vosso Pai que está nos céus, que pereça um só destes pequeninos" (S. Mateus XVIII, 14). Deus, nosso Pai que está no céu, quer que todos os seus filhos se salvem, ou seja, que um dia, vão morar na sua verdadeira casa que é o Céu. Para tanto, dá as graças suficientes. Deus não quis, anteriormente à previsão dos méritos e dos pecados, salvar uns e perder outros; nem tão pouco tenha pensado assim: quero antes de tudo, e a todo custo, salvar Pedro e perder Judas, e por isso vou conceder a Pedro graças a que há de corresponder, e a Judas graças que não há de corresponder. Absolutamente não! porque, no seu amor infinito, Deus quer a salvação eterna de todos e poderá dizer a cada um dos condenados: "Que deveria eu fazer por ti que não tenha feito?" (cf. Isaías V, 4).

É bom, antes de nos aprofundarmos nesta meditação, ter em mente estas palavras de Santo Agostinho: "Quais são os eleitos? Vós, se o quiserdes" (In Ev. Joan., tr. 26, a. 2).  Há quem possa ser tentado a dizer: "O Céu foi preparado para outros: pois bem, sede outros e o céu terá sido preparado para vós" (In Ps. 126, n. 4).

Devemos também saber que, embora Deus queira não só a salvação mas também a santificação de todos, e, para tanto, dá as graças suficientes, é certo também que Ele não quer conceder a todos a mesma medida de graças. É o que Jesus ensina com a parábola dos talentos. Agindo livremente, por ser o Senhor de seus dons, e segundo os desígnios impenetráveis de sua Sabedoria infinita, determina que uns recebam grandes graças e outros graças menores. No que Deus faz para os menos favorecidos, fá-lo guiado sempre pela bondade e pelo amor. Jesus, em uma aparição a Santa Maria de Jesus Crucificado, Carmelita de Belém, disse: "Nenhuma alma se perde sem que eu lhe tenha falado mil vezes ao coração".

Eis uma verdade que muitos não entendem e desejo de coração que venham a entendê-la pela explicação de S. João Damasceno: "Deus prevê que os pecadores obstinados não se aproveitarão dos seus convites, preferindo perder-se. Ele mantém, apesar disso, o decreto que os chama à existência, e pelo qual lhes dará tais e tais auxílios, com os quais poderiam alcançar a salvação. Mantém-na, porquanto ele, Senhor e soberano, não pode depender de seus súditos, nem ser tolhido e impedido em seus desígnios pela má vontade alheia. Não é possível que Deus seja obrigado, antes de conceder seus benefícios, a prostrar-se diante de suas criaturas, e lhes perguntar humildemente de que graças estariam dispostas a se aproveitar. Nesse caso, diz o Santo, seria o pecador quem havia de vencer a Deus, cujo poder limitaria" (Cf. Fé Ortodoxa, L. IV, cap. XXI).

Deus fez o homem livre e respeita-lhe a liberdade. Ora, sendo livre, ele pode se aproveitar fielmente das graças divinas atuais que se sucedem quase que ininterruptamente. Mas o homem pode também, mostrar-se menos fiel, e, pela sua resistência ou negligência, colocar obstáculos, maiores ou menores à torrente das liberalidades divinas. Na verdade, Deus não se deixa vencer em generosidade; mas, também sente a ingratidão e, então, não dá tantas graças atuais como daria se a alma fosse generosa e agradecida. Jesus reclamou daqueles nove leprosos que curados no caminho, não voltaram para agradecer. E é evidente que ao samaritano agradecido, Jesus concedeu mais graças: "Tua fé te salvou". Caríssimos, que responsabilidade quando essa graça que tanto custou a Jesus, se torna inútil por nossa culpa! Que ingratidão, que loucura! Quão terríveis são as maldições proferidas por Jesus contra aqueles que abusam de grandes graças: "Ai de ti, Corozain, ai de ti, Betsaida... No dia do juízo haverá menos rigor para Tiro e para Sidon do que para vós" .  "E tu Cafarnaum, que te elevas até ao céu, serás abaixada até aos infernos... Sim, eu te digo, haverá menos rigor no dia do juízo para o pais de Sodoma que para ti" (S. Mateus XI, 21-23).

 Quando, por culpa da pessoa, a graça de Deus  se torna estéril, também não serão tão frequentes como antes. Há também outro crime em relação às graças divinas: a negligência. São Paulo admoesta seu discípulo Timóteo: "Não negligencies a graça que te foi dada" (2 Tim. IV, 14). "Por que, pergunta São Francisco de Sales, não progredimos no amor de Deus como Santo Agostinho, S. Francisco de Assis, Santa Catarina de Gênova, Santa Francisca Romana? É, Teótimo, porque Deus ainda não nos concedeu essa graça. E por que não no-la concedeu? Porque não correspondemos devidamente às suas inspirações" (Trat. do Amor de Deus, 11, II). E o Santo da mansidão faz esta comparação: "Se nos derem um remédio e o recusarmos por culpa própria, o remédio ficará sem efeito. Se, em vez de o tomarmos todo, bebermos apenas um gole, não produzirá o efeito desejado, e isto ainda por nossa culpa. Assim se dá com a graça: pede-nos muito. Se não lhe dermos senão uma parte do que nos pede, ou se, em vez de lhe darmos tudo de boa vontade, lho dermos com certa reserva, com certo receio, e, por assim dizer, de mau grado, a graça não produzirá os efeitos salutares que Deus desejava operar por seu meio; sem se tornar inteiramente estéril, será, por nossa culpa, pouco fecunda". Muitas almas não progridem na vida interior porque tem receio de fazer sacrifícios, não são dóceis. Jesus lhes fala ao coração para pedir-lhes sacrifícios, como faz com todos os seus filhos; estas almas tíbias, no entanto, encontram sempre pretextos fúteis para se esquivar.

Deus quer a nossa santificação e, no entanto, seus planos de bondade ficam tolhidos por aquelas almas que não querem fazer violência a si mesmas, são pouco corajosas. São almas, que na prática, mesmo que não o digam, se contentam em ser servas de Deus e recusam a amizade íntima com o seu Pai do Céu. No fundo é falta de mortificação. Para, pois, corresponder aos desígnios de Deus, seria necessário fazer violência a si mesmas, mortificar o seu corpo, os seus gostos, reprimir a sua imaginação, conter as suas palavras, renunciar a si mesmas constantemente. Preferem a mediocridade para poderem viver mais suavemente. Temem as provações, as contradições, as humilhações. Tem-se a impressão que estas almas temem ser santas! E, assim como a generosidade atrai mais graças, esta negligência é castigada pelo escassez das graças. E aqui, devemos ter em mente uma verdade assustadora: como jararacas dorminhocas, as paixões mais degradantes se encontram sempre no fundo da alma humana, e basta que Deus retire em parte suas graças, e diminua a sua proteção, para a alma cair no lodo. Assim Deus castiga o pecado pelo próprio pecado, e recompensa a virtude por um acréscimo de virtude. Sem dúvida, se a justiça é temperada pela misericórdia, não é porém aniquilada. A bondade de Deus o incita a conceder graças aos próprios pecadores; a justiça, porém, obriga-O a diminuí-las e a punir o pecado, deixando-o produzir, ao menos em parte, seus funestos efeitos. As graças escolhidas que Deus dá às almas dóceis, generosas e gratas, recusa-as às almas tíbias, mesquinhas e ingratas.

Mais uma importante observação: uma única resistência à graça já causa uma grande perda espiritual, mas uma longa série de infidelidades e o hábito de afastar as inspirações divinas, produz efeitos ainda mais funestos. Eis uma verdade constatada nas almas: os pecadores voltam aos seus pecados, os medíocres à sua mediocridade, as almas fervorosas à sua habitual generosidade. "Quem tem, ser-lhe-á dado mais ainda, o que não tem muito, até o pouco que tem lhe será tirado". Aí está a explicação entre os perfeitos e os não perfeitos. Os primeiros são sempre dóceis ao Divino Espírito Santo; os segundos são sempre ou quase sempre negligentes e resistem ao Divino Espírito Santo.


Caríssimos, já que tantas vezes ouvimos a voz de Deus, não queiramos endurecer o nosso Coração. Sejamos cumpridores dos nossos deveres em relação ao Doce Hóspede e Santificador de nossas almas: nunca expulsar da alma pelo pecado mortal, o Espírito Santo; nunca contristar na alma pelo pecado venial deliberado, o Espírito Santo, e nunca resistir às inspirações do Espírito Santo. Amém!

A IGREJA CATÓLICA - 30ª LIÇÃO


 -  QUEM FUNDOU A IGREJA CATÓLICA?

FOI NOSSO SENHOR JESUS CRISTO. 

  Como já sabemos, Jesus, tendo 30 anos, foi ensinar. Como o padre que visita as capelas, assim Jesus sempre parava algum tempo numa povoação, ensinava a sua doutrina, e provava com alguns milagres que dizia a verdade.
   Quando o padre prega, alguns não vêm ouvir, outros ouvem e não fazem caso, mas há pessoas que ouvem e aceitam a doutrina e fazem o que o padre ensina.
   Assim era com Jesus. Alguns nem foram ouvir o Senhor: outros foram e não fizeram caso, não creram; mas alguns ouviram a doutrina do Senhor, creram em tudo o que Jesus ensinava e queriam fazer tudo o que Jesus mandava. E assim Jesus percorreu quase todo o país, e em quase todo a parte encontrava gente boa, que aceitava a sua doutrina.
   Àqueles que criam o que ensinava e queriam fazer o que mandava, Jesus lhes chamava seu rebanho, ou sua Igreja. No país onde o Senhor ensinava, havia muitos pastores de ovelhas. De manhã, o pastor chama as suas ovelhas e vai diante delas para procurar uma fonte com água boa, para as ovelhas beberem, e um bom pasto para o seu rebanho. Naquele país há muitos lobos que querem comer as ovelhas; mas um bom pastor vigia bem e defende as suas ovelhas contra o lobo e de noite as coloca dentro dum curral, onde os lobos não podem entrar. Jesus se chama a si mesmo o bom pastor. O bom pastor procura pasto para as suas ovelhas. Jesus dava a sua doutrina. A nossa alma tem fome da verdade, isto é, a nossa alma deseja conhecer, receber a verdade. A doutrina de Jesus é o pasto para a nossa alma. Um bom pastor procura pasto para as suas ovelhas. Jesus dava a sua graça. O bom pastor defende as suas ovelhas contra o lobo. O lobo que quer mal às almas, é o demônio. Jesus defende-os contra o demônio. 
   Por isso Jesus chama a estes fiéis o seu rebanho, e a si mesmo o bom Pastor. Jesus chama-os também a sua Igreja , ou o seu reino. O rebanho de Jesus quer dizer a sua IGREJA.


 

 O rebanho é uma porção de ovelhas, unidas pela obediência aos mesmos pastores. As ovelhas de Jesus são aqueles que creem na verdadeira doutrina de Jesus. Estas ovelhas de Jesus são unidas num rebanho pela obediência aos mesmos pastores. Os pastores são os Bispos e o Papa. A IGREJA CATÓLICA SÃO AQUELES QUE CREEM A VERDADEIRA DOUTRINA DE JESUS E ESTÃO UNIDOS PELA OBEDIÊNCIA AOS BISPOS E AO PAPA. Entre os protestantes não é assim. Não há união. Eles não obedecem aos bispos nem ao papa. Cada um faz o que pensa. Os protestantes não são uma igreja, mas muitas igrejas. Mas Jesus disse: "Haverá um só rebanho e um só pastor". Este único rebanho é a Igreja Católica. Se as seitas protestantes fossem de Jesus, o divino Mestre teria dito: "Haverá muitas centenas de rebanhos, de igrejas com pastores que se contradizem uns aos outros". Devemos agradecer ao nosso Bom Pastor, Jesus, por nos ter recebido entre as ovelhas do seu rebanho. Para esta ação de graças podemos dizer as belas palavras da Sagrada Escritura, que nos ensina a rezar assim:
   "O Senhor é meu pastor, e nada me faltará. Colocou-me nos seus pastos verdejantes. Conduz-me a águas frescas. Leva-me pelos caminhos da justiça por causa do seu nome. Ainda que eu caminhe no meio da escuridão da morte".







sábado, 22 de julho de 2017

A GRAÇA DE DEUS É UM BEM INEFÁVEL


"Ó se conhecêsseis o dom de Deus!" (S. João IV, 10).

Vejamos quão grande é a graça divina, e assim, consequentemente teremos todo o cuidado em não a perder, teremos, outrossim, mais horror ao pecado mortal que a destrói na alma do pecador que peca gravemente. Na verdade, caríssimos, são poucos os que conhecem o valor da graça divina. Poderíamos dirigir a multidão infeliz o mesmo lamento que Jesus Cristo expressou à mulher samaritana: "Ó se conhecêsseis o dom de Deus!".  Porque não conhecem o valor da graça divina, muitos e muitos trocam-na por ninharia, um fumo subtil, um punhado de terra, um deleite irracional.

Na parte superior do quadro vemos o símbolo de uma alma na graça de Deus;
Na parte inferior vemos o símbolo de uma alma em pecado mortal.
A graça santificante, vida da alma, participação real, embora limitada da própria natureza divina, é um tesouro de valor infinito, que nos torna dignos da amizade de Deus. A alma no estado da graça é amiga de Deus Nosso Senhor. O próprio Jesus Cristo disse: "Quem é meu amigo, guarda os meus mandamentos". Quem observa os mandamentos conserva em si a graça santificante, pela qual é amigo de Deus, e mais ainda, é filho de Deus. Devemos meditar frequente e profundamente nesta verdade: se estou na graça de Deus, sou amigo de Deus, sou seu filho. Filho adotivo, na verdade. Mas esta adoção é infinitamente superior à da terra, que  é só questão de assinatura de um documento, mas o sangue é outro. A adoção pela graça, porém, é uma participação real da natureza de Deus: "consortes divinae naturae" na expressão de São Pedro. É uma participação limitada, porque somos criaturas, mas é uma participação real. Tanta é esta dignidade que Jesus Cristo no-la mereceu por sua Paixão! Como diz São João Evangelista, Jesus Cristo nos comunicou, de certo modo, o resplendor que recebeu de Deus: "Eu (disse Jesus dirigindo-se a seu Pai) dei-lhes a glória que tu me deste, para que sejam um, como também nós somos um" (S. João , XVII, 22). A alma que está na graça  está intimamente unida a Deus: "Ao que está unido ao Senhor é um só espírito com ele" (1 Cor. VI, 17). O próprio Jesus disse que a Santíssima Trindade vem habitar na alma que está no estado de graça: "Aquele que retém os meus mandamentos e os guarda, esse é que me ama; e aquele que me ama, será amado por meu Pai, e eu o amarei (também), e me manifestarei a ele... Se alguém me ama, guardará a minha palavra, meu Pai o amará, nós viremos a ele e faremos nele morada" (S. João, XIV, 22).

Dizia Senta Brígida que ninguém seria capaz de ver a beleza de uma alma em estado de graça, sem morrer de alegria. Santa Catarina de Sena, ao contemplar uma alma em estado tão feliz, disse que preferia dar sua vida para que aquela alma jamais viesse a perder tanta beleza. Era por isso que a Santa beijava a terra que os sacerdotes pisavam, considerando que por seu intermédio recuperavam as almas a graça de Deus.

"Que tesouros de merecimentos, diz Santo Afonso de Ligório, pode adquirir uma alma em estado de graça! Em cada instante lhe é dado merecer a glória; pois, segundo disse Santo Tomás de Aquino, cada ato de amor, produzido por tais almas, merece a vida eterna. Por que, pois, continua o santo Doutor, invejar os poderosos do mundo? Estando na graça de Deus, podemos adquirir continuamente as maiores grandezas celestes".

Só aquele que desfrutou pode compreender quão suave é a paz de que goza, mesmo neste mundo, uma alma que se acha na graça: "Muita paz aos que amam a tua lei" (Salmo 118, 165). A paz que provém dessa união com Deus excede a quantos prazeres possam oferecer os sentidos e o mundo, como explica São Paulo: "E a paz de Deus, que está acima de todo o entendimento, guarde os vossos corações e os vossos espíritos em Jesus Cristo" (Filip. IV, 7).

Donde, caríssimos, devemos pedir sempre o amor de Deus, a sua graça e a perseverança neles. Devemos também pedir forças a Nosso Senhor para sofrermos com paciência todas as cruzes que Ele nos destinar, já que merecemos a separação e o fogo eternos se perdida a graça tivéssemos morrido assim. Devemos estar resolvidos a servir unicamente a Jesus Cristo, mesmo que for necessário vencer todo respeito humano. Devemos procurar agradar só a Jesus, e fazer de tudo para evitar o pecado mortal, e lutar também por evitar o venial. Só quero viver na graça de Deus, e quero, pelas graças atuais, crescer sempre mais na graça santificante.

Para terminar, vejamos o outro lado da moeda, a parte inferior do quadro ilustrativo: quão infeliz é a alma que cai em pecado mortal, que assim atrai o desagrado do próprio Deus. O profeta Isaías diz: "Mas são as vossas iniquidades que puseram uma separação entre vós e o vosso Deus, e os vossos pecados são os que lhe fizerem esconder de vós a sua face, para não vos ouvir" (Isaías, 59, 2). A pessoa que vive em pecado mortal, vive separado de seu Sumo Bem, que é Deus. Ela não é de Deus, nem Deus é seu. "E o Senhor disse a Oseias: Põe-lhe o nome de Não-meu-povo porque vós já não sois meu povo e eu não serei mais vosso (Deus)" (Oseias I, 9). Falando contra os pecados de idolatria diz a Sagrada Escritura: "Deus aborrece igualmente o ímpio e a sua impiedade". Se alguém tem por inimigo a um príncipe do mundo, não pode repousar tranquilo, receando a cada instante a morte. E aquele que foi inimigo de Deus, como pode ter paz? Pode-se escapar das mãos dos homens, mas das de Deus não: "A todo e qualquer lugar aonde vá, tua mão alcançar-me-á. E disse: Talvez me ocultarão as trevas; mas a noite converte-se em claridade para me descobrir no meio dos meus prazeres" (Salmo 138, 10 e 11). Além disso, a pessoa que vive no pecado mortal, traz consigo a perda de todos os merecimentos. Ainda que tivesse merecido tanto como uma Santa Teresinha do Menino Jesus, uma Santa Teresa d'Ávila, um São Francisco Xavier, um Santo Cura d'Ars, e até tanto como São Paulo que por si só alcançou  - segundo São Jerônimo  - mais merecimentos que todos os outros apóstolos, se tal pessoa cometesse um só pecado mortal, perderia tudo. De filho de Deus, o pecador converte-se em escravo do demônio; de amigo predileto torna-se odioso inimigo; de herdeiro da glória, em condenado do inferno.

Como é triste a gente ver como os homens em geral, relativamente com poucas exceções no mundo, choram por ter perdido algo de valor e/ou de estimação. Vi na Internet um sujeito chorando porque perdeu seu macaco de estimação. Aliás Santo Agostinho já dizia: "Aquele que perde um cavalo, uma ovelha, já não come, já não descansa , mas chora e lastima-se. Mas se perde a graça de Deus, come, dorme e não se queixa!". São Francisco de Sales dizia: "Se os anjos pudessem chorar, certamente chorariam de compaixão ao verem a desdita de uma alma que comete um pecado mortal e perde a graça divina". E Santo Afonso comenta: "Entretanto, a maior tristeza é que os anjos chorariam, se pudessem chorar, e o pecador não chora".


Ó meu dulcíssimo Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo, se na vida passada meu coração andou mal, amando as criaturas e as vaidades do mundo, de agora em diante, só viverei para Vós e só a Vós amarei, meu Deus, meu tesouro, minha esperança e minha fortaleza. Inflamai meu coração em vosso santo amor. Maria, minha Mãe, fazei que minha alma arda em amor de Deus. Amém! 

quinta-feira, 20 de julho de 2017

MALÍCIA DO PECADO MORTAL


"Criei filhos e engrandeci-os; mas eles me desprezaram" (Isaías I, 2).

Deus manifestou sua justiça propondo como vítima de propiciação a Seu Filho Jesus (cf. Rom. III, 25). E o divino Espírito Santo já havia declarado através do Profeta Isaías: "Será (o Messias) despedaçado por causa de nossos crimes". Jesus ressuscitado glorioso não sofre mais. Mas sendo também Deus já previu todos os pecados dos homens e por eles sofreu e morreu. Todo pecado fez Jesus sofrer.

O pecado mortal é uma ofensa grave que se faz a Deus. A malícia de uma ofensa , ensina Santo Tomás de Aquino, se mede pela pessoa que a recebe e pela pessoa que a comete. Assim, uma ofensa feita por um colega ao seu colega, é, sem dúvida, um mal; mas, se um súdito desacata o Rei, isto é muito mais grave. E quem é Deus? É o Rei dos reis (Apoc, XVII, 14). Deus é majestade infinita, perante quem todos os príncipes da terra e todos os santos e anjos do céu são menos que um grão de areia: "Todos os povos na Sua presença são como se não existissem, e ele considera como um nada, uma coisa que não existe" (Isaías XL, 17). Por outro lado, que é o homem? Responde São Bernardo: saco de vermes, pasto de vermes, que cedo o hão de devorar. O homem é um miserável que nada pode, um cego que nada vê; pobre e nu, que nada possui (Apoc, III, 17). E este verme miserável se atreve a injuriar a Deus? exclama o mesmo São Bernardo. Com razão, pois afirma Santo Tomás de Aquino, que o pecado do homem contém uma malícia quase infinita (S. Th. p. 3, q. 2, a. 2.). Santo Agostinho vai um pouco mais além e diz que, absolutamente, o pecado é UM MAL INFINITO. Na verdade, a gravidade de uma ofensa se mede pela dignidade da pessoa ofendida. Ora, o pecado ofende a Deus que é de uma DIGNIDADE INFINITA. Logo, sob este aspecto, é um mal INFINITO. Daí dizer o próprio Deus: "Delicta quis intelligit?" (Salmo 18, 13). Sendo o homem finito não poderá compreender toda gravidade do pecado mortal, porque é infinita.  E Santo Afonso conclui: "Todos os homens e todos os anjos não poderiam satisfazer por um só pecado, mesmo que se oferecessem à morte e ao aniquilamento. Deus castiga o pecado mortal com as penas terríveis do inferno; contudo esse castigo é, segundo dizem todos os teólogos, menor que a pena com que tal pecado deveria ser castigado". E alguns teólogos daí concluem que o inferno é eterno: sendo criatura, nunca poderá ser infinito. Mas a gravidade do pecado mortal é infinita. Como Deus é justo, a eternidade é algo infinito na duração.

Mas que pena bastará para castigar como merece um verme que se rebela contra seu Senhor? Somente Deus é Senhor de tudo, porque é o Criador de todas as coisas. Por isso, todas as criaturas lhe devem obediência. Mas o homem, quando peca, que faz senão dizer a Deus: Senhor, não quero servir-te. Deus diz: "Não te aposses dos bens alheios" e, no entanto rouba. "Abstém-te do prazer impuro, e o pecador não se resolve a privar-se dele. Lemos no Êxodo, V, 2 que quando Moisés comunicou a ordem de Deus de que Faraó desse liberdade ao povo de Israel, este ímpio respondeu: "Quem é o Senhor, para que eu obedeça à sua voz? ... Não conheço o Senhor". Caríssimos, o pecador diz a mesma coisa: Não conheço Senhor; eu sou senhor do meu querer; faço o que me agrada. Assim, na presença de Deus mesmo Lhe falta o respeito e se afasta d'Ele e nisto consiste propriamente o pecado mortal: o ato com o homem se afasta de Deus e se volta paras as criaturas. Quando o homem peca, ele levanta a mão como que ameaçando o Onipotente. 

"Tu desonras a Deus, transgredindo a lei" (Rom. II, 23). Além de ofender a Deus, também O desonra. Na verdade, renunciando à graça divina por um miserável prazer, menospreza e rejeita a amizade de Deus. E por conta de que? Diz o Espírito Santo: "Elas (falsas profetisas que perdem as almas) desonravam-Me diante do meu povo por um punhado de cevada e por um pedaço de pão, matando as almas" (Ezequiel XIII, 19). "Quando o pecador, diz Santo Afonso, começa a deliberar consigo mesmo se deve ou não dar consentimento ao pecado, toma, por assim dizer, em suas mãos, a balança e se põe a considerar o que pesa mais, se a graça de Deus ou a ira, a quimera, o prazer... E quando, por fim, dá o consentimento, declara que para ele vale mais aquela quimera ou aquele prazer que a amizade divina". Daí dizer Deus pela boca do profeta Isaías: "A quem me comparastes vós e me igualastes, diz o Santo?" (XL, 25). Ó pecador! terias pecado se soubesses que ao cometer o pecado perderias uma das mãos ou mil reais ou menos talvez? Só Deus parece tão vil a teus olhos que merece ser posposto a um ímpeto de cólera, a um gozo indigno.

Deus é o nosso único e último Fim. E, no entanto, quando o pecador, para satisfazer qualquer paixão, ofende a Deus, na verdade, converte em sua divindade essa paixão, porque nela põe o seu último fim. Daí dizer São Jerônimo: "Vício no coração é ídolo no altar". São Paulo diz chorando que para muitos o seu estômago é o seu deus: "Quorum Deus, venter est". Diz Santo Tomás de Aquino: "Se amas os prazeres, estes são teu deus". E São Cipriano: "Tudo quanto o homem antepõe a Deus, converte-o em seu deus".

O pecador sabe que Deus está em toda parte e que os vê. Mas injuriam-No e O desonram face a face. Dizem que uns povos pagãos na antiguidade consideravam o Sol o seu deus e por isso procuravam evitar o pecado durante o dia. Os cristãos que pecam gravemente, não apresentam nem esta sensibilidade pagã.

O pecador despreza tudo o que Jesus Cristo fez e sofreu para tirar o pecado do mundo. Na expressão de São Paulo, o pecador calca aos pés o Filho de Deus (cf. Hebr. X, 29). Diz Santo Afonso: "Bem sabe o pecador que Deus não pode harmonizar com o pecado. Bem vê que, pecando, obriga Deus a  afastar-se dele. Rigorosamente, é como se Lhe dissesse: Já que não podeis ficar com meu pecado e tende de afastar-vos de mim,  -  ide quando vos aprouver. E expulsando a Deus da alma, deixa entrar o inimigo que dela toma posse. Pela mesma porta por onde sai Deus, entra o demônio". Caríssimos, que mágoa não sentiríamos se recebêssemos grave ofensa duma pessoa, a quem tivéssemos feito grande benefício? Pois bem, esta mágoa e infinitamente maior o pecador causa a Deus, que chegou a dar sua vida para nos salvar.


Ó Jesus, não, nunca mais quero me separar de Vós! Dai-me a santa perseverança... Maria Santíssima, minha Mãe, socorrei-me sempre; rogai a Jesus por mim e alcançai-me a dita de jamais perder graça divina. Amém!

terça-feira, 18 de julho de 2017

A VIDA DO HOMEM É UMA VIAGEM PARA A ETERNIDADE


"Irá o homem à casa de sua eternidade" (Eclesiástico XII, 5).

"Morro todos os dias": São Paulo fala da morte mística, mas o mesmo podemos dizer da física. Somos como as velas acesas no altar: à medida que estão iluminando, estão simultaneamente se extinguindo. Enquanto vivemos e porque vivemos, estamos morrendo, caminhando para o fim desta vida passageira e aproximando-nos da vida que não passa, isto é, para a eternidade. "Não temos aqui cidade permanente, mas vamos buscando a futura" (Hebr. XIII, 14). A terra, portanto, não é nossa pátria, mas apenas lugar de trânsito. Como diz São Pedro, nós somos peregrinos e estrangeiros aqui neste mundo. Estamos viajando sem parar para a outra vida que não passa porque eterna. Ou feliz ou infeliz ETERNAMENTE! Assim um dia, uma cova será a morada no nosso corpo até o dia do Juízo Final no fim do mundo, e nossa alma, logo após o juízo particular que se dará logo após a morte, irá à casa da eternidade, ao céu, ou ao inferno. Por isso nos diz Santo Agostinho: "És hóspede que passa e vê. Néscio seria o viajante que, tendo de visitar de passagem um país, quisesse empregar ali todo o seu patrimônio na compra de imóveis, que ao cabo de poucos dias teria de abandonar. Considera, por conseguinte, que estás de passagem neste mundo, e não ponhas teu afeto naquilo que vês. Vê e passa, e procura uma boa morada, onde para sempre poderás viver".

Diz Santo Afonso: "Feliz de ti se te salvas!... quão formosa a glória!... Os palácios mais suntuosos dos reis são como choças em comparação à cidade celeste, única que se pode chamar Cidade de perfeita formosura (Lam. II, 15). Ali não haverá nada que desejar. Vivereis na gozosa companhia dos Santos, da divina Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo e sem recear nenhum mal. Vivereis, em suma, abismados num mar de alegrias, de contínua beatitude, que durará sempre": "Os remidos pelo Senhor voltarão e virão a Sião, cantando os seus louvores; e uma alegria eterna coroará a sua cabeça, possuirão gozo e alegria, e deles fugirá a dor e o gemido" (Isaías XXXV, 10). E esta alegria será tão grande e perfeita, que por toda a eternidade e em cada instante parecerá sempre nova... O que é infinito não se esgota, não enjoa. 

Mas há a eternidade infeliz. Não podemos omitir esta verdade, e, até, o devemos nela meditar para termos mais força para não pecar. "Desçamos vivos em espírito ao inferno para não descermos lá, depois da morte, com a alma; e no fim do mundo, também com o corpo por todo eternidade", dizia um santo.  Quem negar o inferno seria um herege. Jesus disse claramente: "A vós, pois, meus amigos, vos digo: Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, e depois nada mais podem fazer. Eu vos mostrarei a quem haveis de temer: temei aquele que, depois de matar, tem poder de lançar no inferno; sim eu vos digo, temei este" (S. Lucas XII, 4 e 5). Não menos claramente falou o divino Mestre ao discorrer sobre o Juízo Final: "Esses [os injustos] irão para o suplício eterno, os justos para a vida eterna"  (S. Mateus, XXV, 46). Nossa Senhora mostrou às três crianças de Fátima, o inferno como um mar de fogo. Quem se condenar sentir-se-á submerso neste mar de fogo, desesperado porque pensará a todo momento que dali não sairá jamais. E pior, ali o condenado estará privado eternamente da visão beatífica de Deus. Embora não possamos imaginar como é, a Teologia nos garante que esta pena chamada do dano, é a maior que possa existir: é pior que o fogo, e todos os demais tormentos possíveis. E o condenado sofre a eternidade dos tormentos, e o tormento da eternidade. Estará sempre pensando que aquele sofrimento nunca diminuirá nem acabará. É o peso da eternidade.

São João Crisóstomo, considerando que aquele rico, qualificado de feliz no mundo, foi logo condenado ao inferno, enquanto que Lázaro, tido como infeliz porque era pobre, foi depois felicíssimo no céu, exclama: "Ó infeliz felicidade, que trouxe ao rico eterna desventura!... Ó feliz desdita, que levou o pobre à felicidade eterna!"

Sou réprobo ou predestinado? Só depende de cada um querer. Queres morrer bem e ir para o Céu, viva bem! Tal vida, tal morte! É o que diz o Espírito Santo através de uma comparação: "Se a árvore cair para a parte do meio-dia, ou para a do norte, em qualquer lugar onde cair, aí ficará"  (Eclesiastes. XI, 3).  Assim, se a pessoa viver sempre voltado para Deus, quando sua alma sair do corpo, ficará com Deus; mas se ficou tombada para o lado do pecado onde está o demônio, quando vier a morte, ficará eternamente em companhia dos demônios: "Ide malditos para o fogo eterno, preparado para os demônios e seus SEGUIDORES" (S. Mateus, XXV, 41). "Irá o homem à casa de sua eternidade" (Eclesi. XII, 5). "IRA", para significar que cada qual há de ir à morada que quiser. Não será levado, mas irá por sua própria e livre vontade. "Deus quer certamente, afirma Santo Afonso, que nos salvemos todos; mas não quer salvar-nos à força. Põe diante de nós a vida e a morte (Ecles. XV, 18) e ser-nos-á dado o que escolhermos". Jeremias diz também o mesmo, acomodando aqui o sentido: "Isto diz o Senhor: Eis que ponho diante de vós o caminho da vida e o caminho da morte"  (Jeremias, XXI, 8). A nós cabe escolher. Mas quem se empenha em andar pela senda do inferno, como poderá chegar ao Céu? Exclama Santo Agostinho: "Quem será tão louco que tome veneno mortal com esperança de curar-se? No entanto, quantos insensatos se dão a morte a si próprios, pecando, e dizem: mais tarde pensarei no remédio... Ó deplorável ilusão, que a tantos tem arrastado ao inferno!" Dizia Santo Euquério: "Se tanto trabalho se dá o homem para adquirir uma casa cômoda, espaçosa, saudável e bem situada, como se tivesse certeza de que a poderia habitar durante toda a vida, por que se mostra tão descuidado quando se trata da casa que deve ocupar eternamente: "Negotium pro quo contendimus, aeternitas est. E dizia São Gregório Magno: "Em se tratando da eternidade, todo cuidado é pouco!". Quando Santo Tomás Morus foi condenado à morte por Henrique VIII, Luísa, sua esposa, procurou persuadi-lo a consentir no que o rei queria (aprovar o seu adultério). Tomás lhe replicou: Dize-me, Luísa: quanto tempo ainda poderei viver?  - Poderás viver ainda uns vinte anos - disse a esposa.  -  Oh! triste negócio!  -  exclamou então Tomás. Por vinte anos de vida na terra, querias que perdesse uma eternidade de ventura e que me condenasse à eterna desdita?" 


Caríssimos, se a doutrina da Eternidade (Céu e Inferno) fosse apenas uma opinião PROVÁVEL, ainda assim deveríamos procurar com empenho viver bem para não nos expormos, caso essa opinião fosse verdadeira, a ser eternamente infelizes. Mas esta doutrina e certíssima, é dogma de fé. O Divino Mestre falou, e muitas vezes, tanto sobre a existência do Céu, como sobre a do inferno. Reavivemos a nossa fé: "Creio na vida eterna!" Amém!

segunda-feira, 17 de julho de 2017

IMPORTÂNCIA DA SALVAÇÃO


"Que aproveitará a um homem ganhar todo o mundo, se vier a perder a sua alma? Ou que dará um homem em troca da sua alma?" (S. Mateus XVI, 26).
"Eu vos mostrarei a quem haveis de temer: temei aquele que, depois de matar, tem poder de lançar no inferno, sim, eu vos digo, temei este" (S. Lucas XII, 5).

A minha salvação é negócio todo meu. Se eu, pois, não trato dele, quem vai tratar dele por mim? E mais, é um negócio meu, e de mim todo, isto é, da minha alma e do meu corpo. Se salvo a minha alma, salvarei também o corpo que no fim do mundo será ressuscitado por Deus e subirá glorioso e imortal com Jesus para o Paraíso Eterno. Portanto a salvação é um negócio meu, de mim todo e por toda eternidade. Não se trata de uma dignidade, de um ofício, de um lucro temporal e que acabam ao muito com a morte. Santo Estanislau Kostkca, jovem de 16 anos, maltratado até fisicamente pelo seu irmão mais velho, por não querer acompanhá-lo nas festas mundanas, dizia: "Meu irmão perdes o tempo, não me posso resolver ao que queres; porque o meu negócio é superior a todos os demais negócios e é mais importante que tudo neste mundo, e é todo meu e de toda a eternidade; e este negócio é o da minha salvação".  

Segundo as palavras do Divino Mestre acima citadas, vemos que o negócio da salvação é, sem dúvida, o mais importante, e até devemos concluir que é o único necessário. Se alguém fosse tão grandioso e afamado, tão rico e que pudesse gozar todos os prazeres da carne como Salomão, mas, ao morrer, fosse para o inferno, que valeria tudo isto. Melhor seria a sorte do pobre Lázaro! E, no entanto, a maior parte das pessoas no mundo vive como se a morte, o juízo, o inferno, a glória e a eternidade não fossem verdades da fé, mas apenas fábulas inventadas pelos padres que seguem a Tradição. Hoje a gente lê na Internet como pessoas até choram, vivem com tranquilizantes quando perdem um animal de estimação como um cachorro, um macaco, uma vaca, um cavalo etc. Há casos em que a tristeza é tão grande que causa depressão, não se alimentam e nem dormem direito. E quantas diligências para encontrá-los! E, no entanto, muitos perdem a graça de Deus, e entretanto dormem, riem-se e gracejam!... Vendo-os como assim vivem, dir-se-ia que nunca hão de morrer ou nunca deverão prestar contas a Deus de suas vidas. Mesmo os poucos que ainda acreditam no inferno, não pensam nele e acabam perdendo-se. Os cuidados do mundo absorvem-nos e  nem pensam em suas almas. Os homens estão tão materializados que concentram toda sua atenção nas coisas da terra.
Persuadamo-nos, pois, diz Santo Afonso, de que a felicidade eterna é para nós o negócio MAIS IMPORTANTE, o negócio ÚNICO,o negócio IRREPARÁVEL se não o pudermos realizar. É, sem dúvida,, o negócio mais importante, porque é das mais graves consequências , em vista de se tratar da alma, e, perdendo-se esta, tudo está perdido. "Devemos estimar a alma como o mais precioso dos bens, dizia São João Crisóstomo: "Anima est toto mundo pretiosior". E caríssimo é só meditar um pouco sobre a alma para compreendermos o que estamos explicando: Deus criou a alma à Sua imagem e semelhança.  Deus sacrificou seu próprio Filho à morte para salvar nossas almas (S. João III, 16). O Verbo Eterno, o Filho Único de Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, não vacilou em resgatá-las com seu próprio sangue (1 Cor. VI, 20). Daí esta palavra de Nosso Senhor Jesus Cristo: "Que dará o homem em troca de sua alma"? Na verdade, se alma tem assim tamanho valor, qual o bem do mundo que poderá dar em troca o homem que a vem perder? Por isso, São Filipe Nery chamava de louco ao homem que não trabalhava na salvação de sua alma.

Dizia Santo Afonso de Ligório: "Se houvesse na terra homens mortais [que acabassem como os animais]   e homens imortais [com um destino por toda eternidade] e aqueles vissem estes se aplicarem afanosamente às coisas do mundo, procurando honras, riquezas e prazeres terrenos, dir-lhes-iam sem dúvida: "Quanto sois insensatos! podeis adquirir bens eternos e só pensais nas coisas miseráveis e passageiras, condenando-vos a penas eternas na outra vida!... Deixai-os, pois; nesses bens só devem pensar os desventurados que, como nós, sabem que tudo se acaba com a morte!"...  E continua o Santo Doutor da Igreja: "Isto, porém, não é assim: todos somos imortais". Que loucura, portanto, a daqueles que, por causa dos miseráveis prazeres do mundo, perdem a sua alma? Não entendemos que os poucos cristãos que ainda creem no juízo, no inferno, na eternidade, possam viver sem receio de nenhuma dessas coisas? Basta morrer, e esta vem como um ladrão, e a pessoa entra na eternidade e não pode voltar atrás. Ou feliz ETERNAMENTE, ou infeliz ETERNAMENTE!

A salvação eterna não é só o mais importante, senão também o único negócio que nesta vida temos obrigação de cumprir: "Entretanto uma só coisa é necessária" (S. Lucas X, 42). São Bernardo deplora a cegueira dos cristãos que, qualificando de brinquedos infantis certos passatempos da infância, chamam negócios sérios suas  ocupações mundanas. Na verdade, maiores loucuras são as néscias puerilidades dos homens. Daí, caríssimos, a premente necessidade de meditarmos nesta advertência de Nosso Senhor Jesus Cristo: "Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro  se vier a perder sua alma?" (Mt XVI, 26). Perdida a alma, tudo está perdido: honras, divertimentos e riquezas . Ouçamos São Paulo: "Eis, pois, o que vos digo, irmãos: o tempo é breve; resta que os que têm mulheres, sejam como se as não tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que compram, como se não possuíssem; os que  usam deste mundo, como se dele não usassem, porque a figura deste mundo passa como uma sombra". São Paulo exorta-nos a não termos apego a nada deste mundo, mesmo nas coisas permitas, porque devemos considerar os prazeres permitidos no matrimônio, os bens adquiridos com justiça, enfim todas as coisas agradáveis e também desagradáveis deste mundo,  como sombras, mas, além disso, não sombras permanentes, mas passageiras. 

Caríssimos, para alcançar a salvação é necessário que, na hora da morte, apareça a nossa vida semelhante à de Nosso Senhor Jesus Cristo: "Os que Ele (Deus) conheceu na sua presciência, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho..." (Rom. VIII, 29).  Para este fim devemos esforçar-nos em evitar as ocasiões perigosas e empregar os meios necessários para conseguir a salvação. Se chegarmos na praça das cidades e perguntarmos aos presentes: quem aí quer ganhar o Céu, ser feliz por toda eternidade? Todos responderão que sim. Mas quase todos, para não dizer todos, querem-no mais desde que seja sem o menor incômodo. Querem seguir a dois senhores ao mesmo tempo. Mas Jesus disse que isto é impossível e o Reino do Céu terá que ser conquistado com uma força de vontade em renunciar-se a si mesmo.

A salvação da alma, além de ser um negócio o mais importante, um negócio único, vamos ver agora afinal que é também um negócio IRREPARÁVEL. Caríssimos todos os erros de nossa vida podem ser reparados, mas se a pessoa errar quanto à sua salvação, então, não há como reparar este erro. Depois da morte, não se volta atrás. "Foi estabelecido a todo homem morrer uma só vez, e depois virá o juízo" (Hebr. IX, 27). O Espírito Santo condena a heresia espírita da reencarnação. Para quem se condena, não há possibilidade de remédio. Morre-se uma vez, e perdida uma vez a alma, está perdida para sempre. Disse Santa Teresa d'Ávila: "Se alguém perde, por sua culpa, um vestido, um anel ou outro objeto, perde a tranquilidade e, às vezes, não come nem dorme. Qual será, pois, ó meu Deus a angústia do condenado quando, ao entrar no inferno, se vir sepultado naquele cárcere de tormentos, e, atendendo à sua desgraça, considerar que durante toda a eternidade não há de chegar remédio algum! Sem dúvida exclamará: Perdi a alma e o paraíso, perdi a Deus; tudo perdi para sempre, e por que? por minha culpa!".

O demônio, pai da mentira, procura incutir no pecador apegado ao pecado, o seguinte pensamento: depois me confessarei, mais tarde mudarei de vida. E quantos, por causa dessa maldita esperança, se condenam! Aqui vale a advertência de São Paulo: "De Deus não se zomba! o que o homem semear, isso irá colher" (Gálatas, VI, 7). Depois, devemos considerar que a esperança dos obstinados no pecado não é esperança, mas sim presunção e ilusão que não promovem a misericórdia divina, mas provocam a justa indignação do Juiz Supremo. "Se dizes, observa Santo Afonso, que presentemente não estás em estado de resistir às tentações, à paixão dominante, como resistirás mais tarde, quando, em vez de aumentar, te faltará a força pelo hábito de pecar? Por uma parte a alma estará mais cega e mais endurecida na malícia, e por outra faltar-lhe-á o auxílio divino". Deus dá a graça suficiente, mas, por culpa do pecador, esta graça tornar-se-á ineficaz.


Ah!, meu Jesus! peço-vos amor e dor e estas graças unidas à da perseverança até à morte e vo-las peço através de Maria Santíssima. Ouvi-me por aquele amor que vos fez sacrificar por mim a vida no Calvário. Amém!

segunda-feira, 10 de julho de 2017

LAMENTOS DE JESUS À ALMA TÍBIA

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

Com todo direito, Jesus na Eucaristia, Corpo, Sangue, Alma e Divindade, espera dos penitentes e comungantes uma fé mais viva e um amor mais ardente. Sobretudo nestes dois sacramentos,  Confissão e  Comunhão,  a tibieza causa náuseas a Nosso Senhor Jesus Cristo. Pois, no Sacramento da Penitência Jesus, com seu Sangue divino, lava com todo amor a alma do penitente. É o Sacramento, obra-prima da  Sua misericórdia. Na Eucaristia, Jesus se nos dá inteiramente como alimento para nos fortalecer, vivendo unidos estreitamente a Ele. Fica também no Sacrário para ser o nosso confidente. Se temos fé viva na presença real de Jesus na Eucaristia, não há explicação para comunhões frias, não tem explicação para umas visitas tão raras e rápidas. Jesus Cristo merece mais amor, aliás todo nosso amor, um amor ardente! Vamos meditar nos lamentos que Jesus faz, e com toda razão, às almas frias, tíbias e de amor medíocre.


JESUS CRISTO:  Eu desejo ver-te, ó alma remida e lavada pelo meu Sangue, com um coração mais contrito, mais cheio de dor, por ter Me ofendido, mesmo quando só com pecados veniais, mas plenamente deliberados. É muito de temer, ó alma remida com Meu Sangue, que caias, e pior, que permaneças na tibieza. É preciso ter muito cuidado para não cair na rotina, isto é, confessar-se e comungar mais por costume, quase por uma simples formalidade. E se a confissão é feita com tibieza, igualmente farás a comunhão. Desejo, ó alma minha remida, ver-te muitas vezes a meus pés, e desejo ainda mais entrar no teu coração. Às vezes, porém, quase que me fazes arrepender deste meu desejo. Vens à minha presença para adorar-me e fazer a Comunhão com tão poucas disposições, que quase me arrependeria de te ter chamado. Não quero dizer que tu cometas sacrilégios, não; mas poderias ser muito mais fervorosa do que és. Não pretendo de ti virtudes heroicamente extraordinárias, porque não tens ainda ânimo para tanto. Esse é o ideal! Mas pelo menos por enquanto é preciso que faças alguma violência ao teu caráter, um pouco mais de atenção na oração, em pouco de empenho em corrigir-te dos teus defeitos. Talvez, ó alma remida pelo Meu Sangue, achas estas coisas muito difíceis. Pensa, minha filha, que Eu não poupei nada por teu amor, derramei todo o meu Sangue para tua salvação. Quero que este Sangue continue a inebriar-te dum amor ardente. No entanto, vens à Comunhão, não digo com uma vontade má, mas com uma vontade entorpecida. Pretenderias que Eu fizesse tudo com a minha graça, e fizesse de ti uma santa alma sem exigir-te esforço algum e muito menos um sacrifício? Desejarias vir aqui, adormecer-te sobre o meu Coração e depois de meia hora despertares já toda outra, com as tuas paixões subjugadas com uma espécie de imunidade de toda a tentação, com uma natureza totalmente inclinada ao bem? Desde que tenhas evitado o pecado mortal, fazendo uma preparação qualquer, vens ter comigo julgando teres feito o bastante, e esperas que Eu te infunda no coração uma santidade já pronta e acabada? Como te enganas!... Para que a Comunhão produza efeitos grandes, é preciso dispor-se com uma vontade um pouco mais enérgica que a tua. Não quero dizer que seja preciso uma preparação extraordinária à maneira dos santos, mas ao menos deves fazer aquilo que podes, e fazê-lo todo. Não se chega às alturas dos santos, de uma vez. Mas para lá chegar é preciso esforço contínuo. Por exemplo: durante o dia, algum ato de virtude podes fazê-lo se quiseres que a ocasião não te falta. Portanto, desperta-te deste sono da tibieza, e quando se te apresentar oportunidade de calar, de humilhar-te, de mortificar-te, de usares de caridade, de perdoares uma ofensa, de seres gentil para com uma pessoa antipática, não a deixes passar em vão; e pensa que vindo à Comunhão apresentando-me algum destes atos de virtude, dar-Me-ás muito mais satisfação do que recitando-Me muitas orações... As palavras agradam-Me, mas as virtudes enamoram-Me. Portanto, ó alma querida remida por Meu Sangue, se queres realmente que Eu me enamore de ti, sê um pouco mais virtuosa, e consegui-lo-ás. Amém!

sábado, 8 de julho de 2017

O SANGUE DE JESUS E A COMUNHÃO


LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

Na preparação para o comunhão.

Na Hóstia Consagrada, ó meu dulcíssimo Jesus, eu Vos contemplo como quando estavas sobre a Cruz na hora do grande sacrifício. Oh! com qual púrpura Vos adornais sobre o trono do Vosso amor! Sangue,,, Sangue... Sangue... desde a extremidade dos pés até ao vértice da cabeça é tudo uma ferida... O Sangue corre de mil chagas... Madalena apoiada sobre o pé da Cruz salpicada deste Sangue, os anjos vindos do Céu recolhem-no em cálices de ouro... Ó Jesus, de todo este Sangue não haverá um pouco também para mim? Estou tão sedento!... não poderíeis derramar também um pouco no cálice do meu coração? Bastar-me-ia uma gota, dai-me, ó Jesus, esta gota de Vosso Preciosíssimo Sangue redentor e purificador!

À vista de tanto Sangue eu deveria fugir para longe, como da presença dum meu delito, como Caim fugiu ao ver o sangue de Abel, porque fui eu que vo-Lo tirei das veias na hora da minha insensatez e da minha loucura. Contudo, embora Ele me grite bem alto com voz de reprovação, eu sei que é muito mais forte a voz do Vosso amor. Dei-Vos a morte, ó Jesus; contudo Vós amais-me sempre. Dei-Vos a morte, mas sabeis que estou arrependido da minha crueldade, sabeis que tenho chorado os meus pecados e que quisera apagar-lhes as mais leves manchas mesmo que fosse preciso sacrificar-me totalmente por Vós. Dei-vos a morte, mas Vós já me perdoastes, e estais prestes a vir visitar-me e tratar-me com tal ternura como se eu nunca Vos tivesse ofendido. Aqui estou como Madalena ao pé da vossa Cruz. Quereis que a lembrança e o testemunho do meu delito se convertam em prova do Vosso amor e da minha felicidade; quereis que aquele Sangue que a minha insensatez Vos fez sair das veias desça ao meu coração a levar-lhe o calor da sua ternura. Espero que digais de mim o mesmo que dissestes de Maria Madalena: "Muitos pecados lhe foram perdoados, porque muito amou! Assim, ó Jesus, espero-Vos, desejo-Vos, quero ter a suma dita de ter-Vos sempre juntinho do meu coração.

Fico encantado em ver a sorte das santas mulheres do Calvário; quero também eu experimentar o que seja aquele Sangue que, ó Jesus, Vos caiu abundante das mãos, dos pés, da fronte, do Coração, que corre copioso a santificar as almas. Quero também eu ver até onde chega a Vossa generosidade em derramá-Lo pela salvação do mundo... quero ser ainda mais venturoso que aquelas piedosas mulheres. Elas viram o Vosso Sangue com os olhos, eu quero recebê-Lo em meu coração, pois, na Hóstia Consagrada está também o Sangue de Jesus. As santas mulheres recolheram talvez algumas gotas e levaram-nas consigo depois da Vossa morte, ó Jesus. Eu quero recolhê-Lo todo e tê-Lo comigo enquanto me durar a vida: elas ajudaram Maria a lavar as manchas de Sangue do Vosso Corpo depois que morrestes e fostes descido da Cruz; eu, pelo contrário, quero que o Vosso Corpo fique unido ao Vosso Sangue, e que um e outro alimentem a minha alma; elas viram-No, contemplaram-No, mas com os olhos cheios de lágrimas e o coração despedaçado pela dor; eu, pelo contrário, quero gostá-lo, inebriar-me de amor com Ele, para gozar comigo uma hora de felicidade santa e celestial.


E vós, ó Jesus, não vindes de boa vontade dar-me o Vosso Sangue? Mas a quem o dareis senão a uma alma que tanto O deseja e que tanto necessita d'Ele? Se me prometestes que me tornaríeis participante do Vosso reino, não é justo que eu participe também da Vossa púrpura? Ó Jesus, desejo ardentemente a Vossa vinda ao meu coração! Espero que nele estareis melhor que no Calvário. Lá o Vosso Sangue caiu em parte sobre um tronco duríssimo da cruz, em parte sobre um terreno sem sentimento nem beleza, e quem sabe quanto não terão os algozes calcado aos pés! No meu coração não encontrareis por certo aquela dureza, nem Vos farei um acolhimento insensato, ninguém ousará calcá-Lo aos pés, não, não, pela vossa graça; nem uma só gota será profanada, mas todo, todo será recolhido, adorado, amado com a ternura devota dum coração que quer viver todo realmente inebriado de amor por Vós, ó dulcíssimo Jesus. Amém!