"Que aproveitará a um homem ganhar todo o mundo, se vier a perder
a sua alma? Ou que dará um homem em troca da sua alma?" (S. Mateus
XVI, 26).
"Eu vos mostrarei a quem haveis de temer:
temei aquele que, depois de matar, tem poder de lançar no inferno, sim, eu vos
digo, temei este" (S. Lucas XII, 5).
A minha salvação é negócio todo meu. Se eu, pois, não trato
dele, quem vai tratar dele por mim? E mais, é um negócio meu, e de mim todo,
isto é, da minha alma e do meu corpo. Se salvo a minha alma, salvarei também o
corpo que no fim do mundo será ressuscitado por Deus e subirá glorioso e
imortal com Jesus para o Paraíso Eterno. Portanto a salvação é um negócio meu,
de mim todo e por toda eternidade. Não se trata de uma dignidade, de um ofício,
de um lucro temporal e que acabam ao muito com a morte. Santo Estanislau Kostkca,
jovem de 16 anos, maltratado até fisicamente pelo seu irmão mais velho, por não
querer acompanhá-lo nas festas mundanas, dizia: "Meu irmão perdes o tempo,
não me posso resolver ao que queres; porque o meu negócio é superior a todos os
demais negócios e é mais importante que tudo neste mundo, e é todo meu e de
toda a eternidade; e este negócio é o da minha salvação".
Segundo as palavras do Divino Mestre acima citadas, vemos
que o negócio da salvação é, sem dúvida, o mais importante, e até devemos
concluir que é o único necessário. Se alguém fosse tão grandioso e afamado, tão
rico e que pudesse gozar todos os prazeres da carne como Salomão, mas, ao
morrer, fosse para o inferno, que valeria tudo isto. Melhor seria a sorte do
pobre Lázaro! E, no entanto, a maior parte das pessoas no mundo vive como se a
morte, o juízo, o inferno, a glória e a eternidade não fossem verdades da fé,
mas apenas fábulas inventadas pelos padres que seguem a Tradição. Hoje a gente
lê na Internet como pessoas até choram, vivem com tranquilizantes quando perdem
um animal de estimação como um cachorro, um macaco, uma vaca, um cavalo etc. Há
casos em que a tristeza é tão grande que causa depressão, não se alimentam e
nem dormem direito. E quantas diligências para encontrá-los! E, no entanto,
muitos perdem a graça de Deus, e entretanto dormem, riem-se e gracejam!... Vendo-os
como assim vivem, dir-se-ia que nunca hão de morrer ou nunca deverão prestar
contas a Deus de suas vidas. Mesmo os poucos que ainda acreditam no inferno,
não pensam nele e acabam perdendo-se. Os cuidados do mundo absorvem-nos e nem pensam em suas almas. Os homens estão tão
materializados que concentram toda sua atenção nas coisas da terra.
Persuadamo-nos, pois, diz Santo Afonso, de que a felicidade
eterna é para nós o negócio MAIS IMPORTANTE, o negócio ÚNICO,o negócio
IRREPARÁVEL se não o pudermos realizar. É, sem dúvida,, o negócio mais
importante, porque é das mais graves consequências , em vista de se tratar da
alma, e, perdendo-se esta, tudo está perdido. "Devemos estimar a alma como
o mais precioso dos bens, dizia São João Crisóstomo: "Anima est toto mundo pretiosior". E caríssimo é só meditar um
pouco sobre a alma para compreendermos o que estamos explicando: Deus criou a
alma à Sua imagem e semelhança. Deus
sacrificou seu próprio Filho à morte para salvar nossas almas (S. João III,
16). O Verbo Eterno, o Filho Único de Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima
Trindade, não vacilou em resgatá-las com seu próprio sangue (1 Cor. VI, 20).
Daí esta palavra de Nosso Senhor Jesus Cristo: "Que dará o homem em troca de sua alma"? Na verdade, se
alma tem assim tamanho valor, qual o bem do mundo que poderá dar em troca o
homem que a vem perder? Por isso, São Filipe Nery chamava de louco ao homem que
não trabalhava na salvação de sua alma.
Dizia Santo Afonso de Ligório: "Se houvesse na terra
homens mortais [que acabassem como os animais]
e homens imortais [com um destino por toda eternidade] e aqueles vissem
estes se aplicarem afanosamente às coisas do mundo, procurando honras, riquezas
e prazeres terrenos, dir-lhes-iam sem dúvida: "Quanto sois insensatos!
podeis adquirir bens eternos e só pensais nas coisas miseráveis e passageiras,
condenando-vos a penas eternas na outra vida!... Deixai-os, pois; nesses bens
só devem pensar os desventurados que, como nós, sabem que tudo se acaba com a
morte!"... E continua o Santo
Doutor da Igreja: "Isto, porém, não é assim: todos somos imortais".
Que loucura, portanto, a daqueles que, por causa dos miseráveis prazeres do
mundo, perdem a sua alma? Não entendemos que os poucos cristãos que ainda creem
no juízo, no inferno, na eternidade, possam viver sem receio de nenhuma dessas
coisas? Basta morrer, e esta vem como um ladrão, e a pessoa entra na eternidade
e não pode voltar atrás. Ou feliz ETERNAMENTE, ou infeliz ETERNAMENTE!
A salvação eterna não é só o mais importante, senão também o
único negócio que nesta vida temos obrigação de cumprir: "Entretanto uma só coisa é necessária" (S. Lucas X, 42).
São Bernardo deplora a cegueira dos cristãos que, qualificando de brinquedos
infantis certos passatempos da infância, chamam negócios sérios suas ocupações mundanas. Na verdade, maiores
loucuras são as néscias puerilidades dos homens. Daí, caríssimos, a premente necessidade
de meditarmos nesta advertência de Nosso Senhor Jesus Cristo: "Que aproveita ao homem ganhar o
mundo inteiro se vier a perder sua
alma?" (Mt XVI, 26). Perdida a alma, tudo está perdido: honras, divertimentos
e riquezas . Ouçamos São Paulo: "Eis,
pois, o que vos digo, irmãos: o tempo é breve; resta que os que têm mulheres,
sejam como se as não tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que
compram, como se não possuíssem; os que
usam deste mundo, como se dele não usassem, porque a figura deste mundo
passa como uma sombra". São Paulo exorta-nos a não termos apego a nada
deste mundo, mesmo nas coisas permitas, porque devemos considerar os prazeres
permitidos no matrimônio, os bens adquiridos com justiça, enfim todas as coisas
agradáveis e também desagradáveis deste mundo, como sombras, mas, além disso, não sombras
permanentes, mas passageiras.
Caríssimos, para alcançar a salvação é necessário que, na
hora da morte, apareça a nossa vida semelhante à de Nosso Senhor Jesus Cristo: "Os que Ele (Deus) conheceu na sua
presciência, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu
Filho..." (Rom. VIII, 29). Para
este fim devemos esforçar-nos em evitar as ocasiões perigosas e empregar os
meios necessários para conseguir a salvação. Se chegarmos na praça das cidades
e perguntarmos aos presentes: quem aí quer ganhar o Céu, ser feliz por toda
eternidade? Todos responderão que sim. Mas quase todos, para não dizer todos,
querem-no mais desde que seja sem o menor incômodo. Querem seguir a dois
senhores ao mesmo tempo. Mas Jesus disse que isto é impossível e o Reino do Céu
terá que ser conquistado com uma força de vontade em renunciar-se a si mesmo.
A salvação da alma, além de ser um negócio o mais
importante, um negócio único, vamos ver agora afinal que é também um negócio
IRREPARÁVEL. Caríssimos todos os erros de nossa vida podem ser reparados, mas
se a pessoa errar quanto à sua salvação, então, não há como reparar este erro.
Depois da morte, não se volta atrás. "Foi
estabelecido a todo homem morrer uma só vez, e depois virá o juízo" (Hebr.
IX, 27). O Espírito Santo condena a heresia espírita da reencarnação. Para quem
se condena, não há possibilidade de remédio. Morre-se uma vez, e perdida uma
vez a alma, está perdida para sempre. Disse Santa Teresa d'Ávila: "Se
alguém perde, por sua culpa, um vestido, um anel ou outro objeto, perde a
tranquilidade e, às vezes, não come nem dorme. Qual será, pois, ó meu Deus a
angústia do condenado quando, ao entrar no inferno, se vir sepultado naquele
cárcere de tormentos, e, atendendo à sua desgraça, considerar que durante toda
a eternidade não há de chegar remédio algum! Sem dúvida exclamará: Perdi a alma
e o paraíso, perdi a Deus; tudo perdi para sempre, e por que? por minha
culpa!".
O demônio, pai da mentira, procura incutir no pecador
apegado ao pecado, o seguinte pensamento: depois me confessarei, mais tarde
mudarei de vida. E quantos, por causa dessa maldita esperança, se condenam!
Aqui vale a advertência de São Paulo: "De
Deus não se zomba! o que o homem semear, isso irá colher" (Gálatas,
VI, 7). Depois, devemos considerar que a esperança dos obstinados no pecado não
é esperança, mas sim presunção e ilusão que não promovem a misericórdia divina,
mas provocam a justa indignação do Juiz Supremo. "Se dizes, observa Santo
Afonso, que presentemente não estás em estado de resistir às tentações, à
paixão dominante, como resistirás mais tarde, quando, em vez de aumentar, te
faltará a força pelo hábito de pecar? Por uma parte a alma estará mais cega e
mais endurecida na malícia, e por outra faltar-lhe-á o auxílio divino". Deus
dá a graça suficiente, mas, por culpa do pecador, esta graça tornar-se-á
ineficaz.
Ah!, meu Jesus! peço-vos amor e dor e estas graças unidas à
da perseverança até à morte e vo-las peço através de Maria Santíssima. Ouvi-me
por aquele amor que vos fez sacrificar por mim a vida no Calvário. Amém!
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