LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA
A Sagrada Escritura
no Evangelho de S. João, V, 22 diz: "O
Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo poder de julgar...". Também
lemos no capítulo 20, 21 a 23:
"Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós. Tendo dito estas
palavras, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. Àqueles a
quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os
retiverdes, ser-lhes-ão retidos". Portanto, o poder de julgar e daí o
de perdoar ou não, foi dado a Jesus Cristo e este mesmo poder Jesus Cristo o
comunicou aos sacerdotes no confessionário. Assim todo confessor é juiz e o juízo
que exerce é o do próprio Deus.
São Cipriano, por isso mesmo, chama a confissão de: "O
Juízo antecipado de Cristo". Na verdade, Nosso Senhor Jesus Cristo, na
pessoa de seu ministro, pronuncia agora por antecipação uma sentença que não
fará senão confirmar quando a alma comparecer diante d'Ele no momento da morte.
São Cipriano com este expressão "o juízo antecipado de Cristo" quer
significar que o homem culpado tem de sujeitar-se a dois juízos: um presente ao
qual preside a mais tocante misericórdia; o outro futuro, onde tudo será pesado
na balança da mais rigorosa justiça. Portanto está nas mãos do pecador se
livrar, por assim dizer, do terrível tribunal da justiça, aproximando-se com fé
do tribunal da misericórdia. Tudo que for apagado, remido, perdoado no juízo
sofrido durante a vida, será suprimido no juízo que deve seguir à morte. Daí a
exclamação de São Bernardo: "O Senhor não voltará sobre uma causa já
julgada. O que tiver sido decretado no tribunal da Igreja, está decretado no
tribunal de Deus; é uma só e mesma sentença".
Um juiz deve primeiramente
tomar conhecimento da causa que é chamado a julgar; em seguida deve
examiná-la e considerar todas as circunstâncias, finalmente deve pronunciar a
sentença. É isto também, caríssimos, o que deve fazer o confessor. Ele deve em
primeiro lugar conhecer os pecados que o penitente cometeu, deve em seguida
avaliar a sua gravidade, assim como atender às disposições do pecador. E, no
caso de ter visto as boas disposições do penitente, dá a absolvição e impõe uma
penitência proporcional na medida das possibilidades de cada um. Com já tivemos
oportunidade de demonstrar, para o confessor exercer corretamente este poder
divino de julgar e perdoar, terá que ouvir cada um em particular. Daí a
confissão tem que ser auricular.
Finalmente devemos concluir que o confessor é juiz de nossas
consciências, de nossas disposições; é juiz, outrossim, da própria
absolvição e é juiz para impor a devida
e praticável penitência. Devemos, contudo, observar que Jesus Cristo é Juiz e, sendo Deus, julga vendo Ele mesmo o íntimo de cada um. Assim, por exemplo, perdoou ao homem paralítico. Mas o padre, julga somente pelo que o próprio penitente diz. Não pode julgar além disto. E a conclusão que se tira é a necessidade de o penitente ser sincero. Não o sendo por ocultar pecado mortal, e/ou por não dizer o número dos pecados mortais e/ou as circunstâncias que mudam a espécie de pecado, embora o confessor dê a absolvição, Jesus Cristo não perdoa e ainda pedirá contas ao pecador pelo sacrilégio.