SAUDAÇÕES E BOAS VINDAS

LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO! PARA SEMPRE SEJA LOUVADO!

Caríssimos e amados irmãos e irmãs em Nosso Senhor Jesus Cristo! Sêde BEM-VINDOS!!! Através do CATECISMO, das HOMILIAS DOMINICAIS e dos SERMÕES, este blog, com a graça de Deus, tem por objetivo transmitir a DOUTRINA de Nosso Senhor Jesus Cristo. Só Ele tem palavras de vida eterna. Jesus, o Bom Pastor, veio para que Suas ovelhas tenham a vida, e com abundância. Ele é a LUZ: quem O segue não anda nas trevas.

Que Jesus Cristo seja realmente para todos vós: O CAMINHO, A VERDADE, A VIDA, A PAZ E A LUZ! Amém!

domingo, 28 de julho de 2019

EPÍSTOLA DO 7º DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES


Romanos VI, 19-23

"Falo à maneira dos homens, por causa da fraqueza da vossa carne, porque, assim como oferecestes os vossos membros para servirem à imundície e à iniquidade, a fim de (chegar) à iniquidade, assim oferecei agora os vossos membros para servirem à justiça, a fim de chegar à santificação. Porque, quando éreis escravos do pecado, estivestes livres quanto à justiça. Que fruto tirastes então daquelas coisas, de que agora vos envergonhais?(Nenhum), pois o fim delas é a morte. Mas agora, que estais livres do pecado e feitos servos de Deus, tendes por vosso fruto a santificação e por fim a vida eterna. Porque o estipêndio do pecado é a morte. Mas a graça de Deus é a vida eterna em nosso Senhor Jesus Cristo".

Neste capítulo VI de sua Carta aos Romanos, São Paulo observa que Jesus morreu uma só vez e "ressuscitando dos mortos, não morrerá jamais; pois a morte nenhum domínio exercerá sobre Ele". Assim também quem morreu para o pecado, há de viver para Deus, não permitindo que sobre seu corpo reine o pecado, mas libertando-se dele para sempre. Tanto mais que o fruto do pecado é a morte e o fruto da graça é a vida eterna.

O pecador é vítima de seus próprios pecados, e é castigado às vezes, por eles mesmos. Só para darmos alguns  exemplos: os libertinos levam uma vida infernal, não só enquanto estão no caminho da condenação mas também mesmo neste mundo. Paz, honra, dignidade, muitas vezes, a saúde, a família, tudo é imolado sobre o triste altar de um curto prazer pecaminoso. Quando a faísca dos pecados impuros não for logo apagada, transforma-se num incêndio devastador e incontrolável ou quase. Quantas fadigas e quantas lutas se impõem aqueles que se entregam às paixões impuras!

Os vaidosos e, sobretudo as vaidosas, a quantos sacrifícios se submetem por causa da beleza. Isto sim é ser escravo; escravo das modas. E quanta preocupação e gastos no afã de se sobressair nas reuniões mundanas! Infelizes daqueles que se entregam às drogas e à bebida! Estragam sua saúde, a da alma e também a do corpo. "Que fruto tiveste  -  pergunta o Apóstolo  -  naquelas coisas de que agora te envergonhas?" Qual um general déspota que, depois de haver exigido dos soldados os maiores sacrifícios, dá-lhes por soldo a morte, assim é o pecado. Depois de vos conduzir por caminhos íngremes, paga-vos com o salário da vergonha. Daí o conselho de São Paulo: se tivestes a infelicidade de sofrer tanto para correr atrás da satisfação das tuas paixões, empregue agora, depois de convertido, todas as tuas forças para correr no caminho da virtude e da verdadeira paz, enfim, para a vida eterna na Pátria do Repouso eterno. Em outras palavras: reserva para o bem os entusiasmos que outrora consagravas ao mal.

A lei da castidade, sobretudo, parece reclamar desmedidas renúncias? Entretanto, devemos igualmente medir os sacrifícios que foram feitos para simplesmente se afundar e se revolver na lama de imundícies. Então, uma vez convertido, deve o homem, com igual ânimo, enfrentar as dificuldades que se opõem a liberdade de filho de Deus. O pecador convertido deve pensar na pontualidade com que se apresentava em outros tempos à festas mundanas mesmo depois de um dia de trabalho estafante, e agora não deve medir esforços para ter a mesma pontualidade em se apresentar à igreja para a Santa Missa. Quantos gastos para a vaidade! Agora, convertido, seja generoso para com os pobres e em ajudar à Igreja. Conta-se de certo santo, cujo nome não me lembro no momento, que ao passar pela rua, encontrando-se com uma dama esmeradamente elegante e perfumada, desatou a chorar. Perguntando-lhe outros a razão destas lágrimas, respondeu-lhes o santo: "É que vejo nesta mulher maior cuidado em servir ao mundo, do que atenções encontro em mim no serviço de Deus".

O próprio São Paulo é um exemplo de convertido! Quem mais investiu contra a Igreja do que o fariseu Saulo a "respirar ameaças e morte contra os discípulos do Senhor"? Mas quem mais do que ele, soube com igual generosidade consagrar à Igreja e a Jesus  os nobres impulsos do coração e do gênio? Nem os açoites dos romanos, nem as flagelações dos judeus; nem os perigos dos ladrões e dos da sua nação, dos gentios, do deserto e do mar; nem o trabalho, nem a fadiga; nem as vigílias, nem a fome, nem a sede,  (cf. 2 Cor. ) enfim, jamais coisa alguma conseguiu arrefecer-lhe o entusiasmo por Cristo Jesus, que, outrora, odiava até a perseguição e que, depois, convertido, amou até a adoração.


Poderíamos dar muitos outros exemplos de convertidos: como Santo Agostinho e Santa Maria Madalena. Mas quero terminar com as palavras do grande Orígenes: "Corriam, outrora, teus pés para o delito, corram agora para a virtude. Estendiam-se antigamente tuas mãos aos bens alheios, estendam-se hoje aos teus bens para generosamente distribuí-los. Voltavam-se antes teus olhos às riquezas do teu próximo na ânsia de possuí-las, voltem-se, agora, para os pobres no desejo de socorrê-los. O ofício que teu corpo um dia prestava aos vícios, ofereça-o hoje à virtude; e o serviço antigamente dado à imundície seja agora dado à castidade e à santidade". Amém!

EVANGELHO DO 7º DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES



S. Mateus VII, 15-21

Acautelai-vos dos falsos profetas...

Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

"Acautelai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós sob peles de ovelhas, e por dentro, no entanto, são lobos vorazes". Sempre houve e sempre haverá falsos pregadores porque eles são frutos do orgulho e da mentira; em uma palavra, são filhos do demônio. Eis como o Espírito Santo ensina a tratar os falsos profetas: "Quando chegaram [Paulo e Barnabé] a Salamina, pregavam a palavra de Deus nas sinagogas dos judeus. Tinham com eles João. Tendo percorrido toda a ilha até Pafos, encontraram certo homem mago, falso profeta, judeu, que tinha por nome Barjesus, o qual estava com o procônsul Sérgio Paulo, homem prudente. Este, tendo mandado chamar Barnabé e Saulo, mostrou desejos de ouvir a palavra de Deus. Mas Elimas, o mago (porque assim se interpreta o seu nome) se lhes opunha, procurando afastar da fé o procônsul. Porém Saulo, que também se chama Paulo, cheio do Espírito Santo, fixando nele os olhos, disse: Ó cheio de todo o engano e de toda a astúcia, filho do demônio, inimigo de toda justiça, não acabarás de perverter os caminhos retos do Senhor? (Atos XIII, 5-11).

 O único Profeta que devemos ouvir, o único Mestre cujas lições devemos seguir, é Jesus Cristo e os que O representam, os que se tornaram guardiões e arautos de Sua doutrina. "Ipsum audite" diz o Altíssimo aos apóstolos ao mostrar-lhes seu Filho Jesus Cristo: "ESCUTAI-O". Quanto aos Apóstolos e, na sua pessoa, aos seus sucessores, o próprio Jesus disse: "Quem vos ouve, a mim ouve". Quem segue a Nosso Senhor Jesus Cristo nunca anda nas trevas, nunca se desmente, porque Jesus é a Verdade.

Mas, infelizmente, sempre houve e sempre haverá pessoas orgulhosas que se arvoram em mestres para dominar os fiéis, querendo obrigá-los a segui-los "per fas et nefas" quer os dirijam para um lado, quer os levem para o oposto. Mas sendo tal atitude de per si odiosa, empregam a hipocrisia e, às vezes, abusam dum dom de Deus, isto é, de uma inteligência privilegiada, para conduzir suas ovelhas com esperteza, com astúcia, ou seja, como lobos vorazes mas sob peles de ovelhas. Querem simplesmente a honra de conduzir as ovelhas a seu bel prazer, e se esforçam por induzir os fiéis a aceitar suas lições. Estes falsos profetas, estes messias, como eles não têm receio de se chamarem algumas vezes, infelizmente são numerosos em nossos dias.  Estes falsos "cristos" sempre tiveram a aprovação e o apoio do mundo. Hoje, porém, o mundo tem muito mais recursos para secundar suas ações lupinas e, em contra partida, para lutar contra os verdadeiros pregadores e, no mínimo, para neutralizar sua ação missionária.

O Divino Mestre, depois de ter dito que a porta do céu é estreita e que apertado é o caminho que a ele conduz, prossegue: Guardai-vos dos falsos doutores... Falsos doutores são, consequentemente, aqueles que ensinam que o caminho do céu é largo, cômodo... Falsos profetas são aqueles que pregam ampla liberdade; que ensinam uma moral laxa que se acomoda às paixões humanas. Os falsos doutores se cobrem com pele de ovelha, apresentando-se com ares de santidade; ostentando seus erros sob um aspecto de verossimilhança; empregando argumentos que, na verdade, são sofismas; deturpando as Sagradas Escrituras; pregando um "Cristianismo light"; aparentando mansidão, simplicidade, piedade...; usando de palavras doces, de frases suaves... Hodiernamente, infeccionados pelo ecumenismo pós-conciliar, gostam de se moverem em terreno comum, onde reina o interconfessionalismo. Basta os falsos profetas deixarem de combater o mundo com suas modas indecentes, vaidades e ideias contrárias ao Santo Evangelho, e logo são ouvidos e seguidos pela maioria.

Para conhecê-los é bastante examinar-lhes os frutos. A maior parte das heresias, com poucas exceções,  foram propagadas por homens da hierarquia, bispos, patriarcas e padres e simulavam santidade. Mas quais foram os frutos das heresias? As divisões, as rixas, os morticínios, os exílios, as rapinas, as guerras, a profanação da igrejas e dos sacramentos. Na verdade, a boa árvore dá bons frutos, a árvore má, maus frutos. Não é possível que uma árvore má produza bons frutos. Se os frutos são maus, é sinal evidente da maldade da árvore. Os péssimos frutos da heresia, do erro, das falsas religiões estão a mostrar a sua corrupção.  

"Toda árvore que não dá bom fruto será cortada e lançada ao fogo". Caríssimos, é mister considerarmos atentamente esta palavra do divino Salvador: "QUE NÃO DÁ BONS FRUTOS". Jesus Cristo não disse: que dá maus frutos. Na verdade, há muitos cristãos que creem ter cumprido toda justiça, porque pretendem não ter feito o mal, não ter matado, nem roubado, não ter, em uma palavra, feito mal a ninguém. Segundo a palavra do divino Mestre, no entretanto, não é suficiente não ter feito o mal mas é preciso ter feito o bem. Com efeito, toda criatura neste mundo tem uma missão a cumprir, desde um pé de erva até o sol; com muito mais razão o homem,  a obra-prima e o rei da criação. O Evangelho, todas as vezes que fala do reino dos céus, representa-o como o preço do esforço, do trabalho, do sacrifício. É um reino que é preciso conquistar e só os valorosos o arrebatam; é um negócio que é mister realizar, uma vinha que é preciso cultivar, uma casa que é necessário administrar. A inação, a ociosidade aí são condenadas com persistência. Diz o profeta Rei: "Afastai-vos do mal e fazei o bem" (Salmo XXXVI, 27). E o mesmo diz o profeta Isaías: "Cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem" (Is. I, 16 e 17).

"Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas, o que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, este é que entrará no Reino dos céus". Estas palavras do Divino Mestre são um desenvolvimento e comentário das precedentes que supra comentamos. Com efeito, dizer: Senhor, Senhor, é, na verdade reconhecer a divindade de Jesus Cristo. A fé é coisa boa, necessária, indispensável. Dizer: Senhor, Senhor, é bom outrossim porque é orar. A oração, as práticas piedosas são úteis, necessárias mesmo, e muito recomendadas por Jesus Cristo e pela Igreja. Mas isto não é suficiente: é mister juntar as obras. Jesus di-lo formalmente: Entrará no reino dos céus aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Mas esta vontade onde se encontra expressa? No Evangelho, nos mandamentos de Deus e nos ensinamentos e preceitos da Igreja, que não são outra coisa que o comentário e a aplicação das leis de Deus.

Caríssimos, depois da união da natureza humana com a divina, que adoramos em Jesus Cristo, e da união da maternidade com a virgindade, que honramos em Maria Santíssima, não há nenhuma mais admirável que a da nossa vontade com a do Senhor. Este abandono filial, que nos entrega inteiramente nas mãos de Deus, é a mais bela vitória da graça sobre a nossa vontade, sem ofender o nosso livre arbítrio. Através desta união, adquiro uma admirável semelhança, uma espécie de parentesco com Jesus Cristo. Ele desceu à terra, nela viveu e morreu, só para fazer a vontade de seu Pai. Com esta virtude, não temos outro alimento senão o que tem Jesus Cristo. Entro na sua família, torno-me seu irmão, sua irmã, sua mãe (Cf. S. Mateus XII, 50). Elevo-me até Deus, tomando a sua vontade por norma da minha; nisto consiste a verdadeira santidade. Pois, quando faço a vontade do Senhor e obedeço à direção de sua suma sabedoria, posso, acaso, enganar-me? E, quando procedo conforme com a santidade infinita, posso pecar?

"Ó meu Deus, quando estiver perfeitamente unido a Vós, não terei já tribulação nem dor; então a minha vida será cheia de alegria, porque eu mesmo serei cheio de Vós" (S. Agostinho). Amém!

domingo, 21 de julho de 2019

TRANQUILIDADE

TRANQUILIDADE

                                                                                                                                                               Dom Fernando Arêas Rifan*    

        Não é fácil ficar tranquilo no meio das preocupações. Mas é possível e altamente necessário superar os problemas. Preocupados com o passado e o futuro, não vivemos bem o presente. A memória e a imaginação, não controladas, roubam-nos a paz e a tranquilidade. 
        Bem disse o teólogo e filósofo existencialista Sören Kierkegaard: “A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás; mas só pode ser vivida olhando-se para frente”. No mesmo sentido, afirma o Pe. Roque Schneider: “Que a saudade do ontem e o medo do amanhã não roubem a alegria do nosso hoje”. Precisamos controlar as lembranças do passado e as expectativas do futuro, para não perdermos a paz de espírito. Daí a consoladora oração de São Pio de Pietrelcina: “Senhor, eu peço para o meu passado a vossa misericórdia, para o meu presente o vosso amor, para o meu futuro a vossa providência”. E fiquemos tranquilos assim.
        O célebre livro “A imitação de Cristo”, nos adverte que “a imaginação dos lugares e mudanças a muitos tem iludido” (I, 9). É quase a interpretação da famosa poesia de Vicente de Carvalho: “Essa felicidade que supomos, / Árvore milagrosa, que sonhamos / Toda arreada de dourados pomos, // Existe, sim: mas nós não a alcançamos / Porque está sempre apenas onde a pomos / E nunca a pomos onde nós estamos”.
        Jesus, no seu Sermão da Montanha, nos dá a receita da tranquilidade: “Não fiqueis preocupados quanto à vossa vida... Olhai os pássaros do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros. No entanto, vosso Pai celeste os alimenta. Será que vós não valeis mais do que eles?... Aprendei dos lírios do campo, como crescem. Não trabalham nem fiam, e, no entanto, eu vos digo, nem Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um só dentre eles... Vosso Pai celeste sabe que precisais de tudo isso. Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo. Portanto, não fiqueis preocupados com o amanhã, pois o amanhã terá sua própria preocupação! A cada dia basta o seu mal” (Mt 6, 25-34).
        O mundialmente conhecido escritor Dale Carnegie, no seu best seller “Como evitar preocupações e começar a viver”, cuja leitura recomendo, reforça a sua tese com essa frase do Evangelho, acima citada: “A cada dia basta o seu mal, o seu problema”. Não perder a paz com o que aconteceu ontem, nem com o que imaginamos poderá acontecer amanhã: basta o problema de cada dia. Santa Teresa chamava a imaginação de “a louca da casa”. Ela pode nos perturbar e nos tirar a tranquilidade e a paz, com os perigos e os problemas que nem sequer existem ainda.
        No Pai-Nosso, Jesus nos ensinou a pedir “o pão nosso de cada dia”. Com a palavra “pão” podemos entender não só o alimento, mas também a solução de todos os problemas. De cada dia, não os de amanhã. Abandonemo-nos nas mãos de Deus, que é Pai, e se preocupa conosco e por nós. “Lança sobre Deus o teu cuidado, e ele te sustentará” (Sl 55, 23). “Lançai sobre ele toda a vossa preocupação, pois ele cuida de vós” (1Pd 5,7).
    
*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
http://domfernandorifan.blogspot.com.br/

HOMILIA DOMINICAL - 6º Domingo depois de Pentecostes

   Leituras: Epístola de São Paulo Apóstolo aos Romanos 6, 3-11.
   Continuação do Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos 8, 1-9:

   "Naquele tempo, estava com Jesus uma grande multidão, e não tinha o que comer. Jesus chamou os discípulos e lhes disse: Tenho compaixão deste povo: porque já estão comigo há três dias e não têm o que comer. Se eu os mandar em jejum para as suas casas, desfalecerão no caminho, porque alguns vieram de longe. Seus discípulos responderam-Lhe: De onde poderá alguém fartá-los de pão, aqui no deserto? Perguntou-lhes Jesus: Quantos pães tendes? Responderam: sete. Então Ele ordenou à multidão que se assentasse no chão. E tomando os sete pães, deu graças, partiu-os e deu-os a seus discípulos, para que distribuíssem ao povo. Havia também alguns peixinhos, e Ele os abençoou e mandou que os distribuíssem. Comeram pois, e ficaram fartos, e dos pedaços que tinham sobrado, levaram sete cestos. E os que comeram eram perto de quatro mil. E Jesus os despediu". 

   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

   Ouçamos, no Evangelho, as palavras bondosas de Jesus: "Tenho compaixão deste povo". Jesus tem compaixão de nós, das nossas fraquezas, da nossa debilidade, da indecisão da nossa vontade. Vê as nossas almas cansadas, famintas, necessitadas de auxílio e, como outrora às turbas que vinham para O ouvir, repete-nos também a nós: "Tenho compaixão". A compaixão de Jesus volta-se primeiro para as nossas necessidades espirituais; com a Sua Paixão e Morte já proveu com liberalidade a essas necessidades, mas deseja continuar a cuidar delas todos os dias de um modo mais pessoal e direto, oferecendo-Se como alimento às nossas almas. O Evangelho fala-nos da segunda multiplicação dos pães, mas para nós, mais afortunados que as multidões da Palestina, Jesus reservou um pão infinitamente mais nutritivo e mais precioso: a Eucaristia.

   Fascinadas pela palavras de Jesus, as turbas haviam-no seguido, esquecendo até as próprias necessidades: andavam com Ele há três dias e não tinham nada para comer. Que lição para nós, muitas vezes mais solícitos pelo pão material do que pelo espiritual! E Jesus, depois de ter provido largamente às necessidades do espírito, pensa também nas do corpo. Os discípulos, por sua vez, ficam admirados: "como poderá alguém saciá-los de pão aqui no deserto?" Já tinham assistido à primeira multiplicação dos pães, mas agora parece não terem dela a menor lembrança e ficam desconfiados. Quantas vezes palpamos nós de igual modo os milagres da graça, os milagres da divina Providência! Porém, não é raro ficarmos perplexos em face de novos casos difíceis e obscuros, como se puséssemos em dúvida a onipotência de Deus. Pensemos, por exemplo, na nossa vida espiritual: existem ainda pontos por vencer, por superar... experimentamo-lo  tantas vezes e talvez agora não tenhamos já coragem para recomeçar de novo. Oh! se tivéssemos fé, se nos lançássemos em Deus com maior confiança! Bastaria talvez um belo ato de confiança total para conseguir a vitória. Jesus olha-nos e repete-nos: " Tenho compaixão deste povo; e a sua compaixão não é estéril. É ação vital, é auxílio e graça atual para a nossa alma; por que não temos, pois, mais confiança n'Ele?
   (Extraído do Livro "INTIMIDADE DIVINA" do P. Gabriel de Sta M. Madalena, O.C.D.).

 Terminemos com palavras de Santa Teresinha do Menino Jesus, Doutora da Igreja: "Ah, Senhor meu! Tenho necessidade da Vossa ajuda, porque sem ela nada posso fazer. Por Vossa misericórdia não consintais que a minha alma seja enganada, deixando o caminho começado. Dai-me luz para que veja como está nisto todo o meu bem...
  Fazei-me compreender que a minha fé em Vós deve apoderar-se da minha miséria e não me devo espantar... se me acontecer sentir temor e fraqueza. Devo deixar que a carne faça o seu ofício, lembrando-me de que Vós, ó Jesus, dissestes na oração do horto: 'a carne é fraca'... Se a vossa carne divina e sem pecado é enferma, como quererei que a minha seja tão forte que não sinta temor? Portanto não me quero queixar de temores nem desanimar por ver fraco o meu natural. Quero confiar na Vossa misericórdia desconfiando das minhas forças, porque toda a minha fraqueza está em me apoiar nelas". 

   Ó JESUS, SENHOR E MEU PAI, TENDE COMPAIXÃO DA MINHA POBRE ALMA E SUSTENTAI-A COM A VOSSA GRAÇA. AMÉM!

EVANGELHO DO 6º DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES



S. Marcos VIII, 1-9
Fome da Eucaristia, Fome da Palavra de Deus

Atitude exemplar a da multidão que, por três dias havia seguido a Jesus no deserto, ávida unicamente em alimentar suas almas e despreocupada com o alimento corporal. Exemplo  muito mais para se admirar  hoje quando o mundo, com raras exceções, só tem ânsia em enriquecer e gozar. Infelizmente, os lugares de divertimento e de tráfico refervem dia e noite, ao passo que Jesus Eucarístico é abandonado nos Tabernáculos. Os sacerdotes zelosos em vão repetem as palavras de Deus.

Felizes, no entanto, os que têm fome da Eucaristia, porque quem não come deste Alimento morrerá para sempre. Felizes os que têm fome da palavra de Deus, porque não só de pão material vive o homem, ma também, e sobretudo, da palavra que sai da boca de Deus, através de seus fiéis ministros: "Quem vos ouve, a mim ouve".

FOME DA EUCARISTIA: Nas primeiras décadas do século XV, piratas de terra e de mar haviam invadido a Groenlândia, passado a fio de espada uma parte da população cristã, e reduzido o resto à escravidão. Todas as igrejas tinham sido arrasadas até o solo, e todos os sacerdotes mortos. Muitas vezes os pobres Groenlandeses tinham recorrido a Roma, onde era Papa Inocêncio VIII, mas inutilmente. O mar em toda a volta da sua inóspita praia gelara, de modo que, havia oitenta anos, nenhuma nau estrangeira ali tinha podido aproar. Privados de bispo e de sacerdotes, muitos já haviam esquecido a fé de seus pais, retornando aos vícios do paganismo. Só poucos tinham sabido conservar-se fiéis á religião. Esses tinham achado um corporal, aquele sobre o qual repousara o Corpo do Senhor na última Missa celebrada pelo último padre groenlandês. Todo ano eles o expunham à veneração pública: em torno dele os velhos, tremendo e chorando, rezavam, em torno dele as mães conduziam seus filhos para aprenderem a conhecer Jesus. Em torno dele todos se comprimiam como famintos em torno de uma branca mesa sobre a qual não tinha ficado mais do que o perfume da comida. E exclamavam: "Senhor! envia-nos depressa o sacerdote que consagre, dá-nos ainda, uma vez ao menos, a tua Carne a comer e o teu Sangue a beber, do contrário também nós perderemos a fé e morreremos como pagãos" (L. PASTOR, HISTÓRIA DOS PAPAS, v. III, pag. 448 e 449).

Caríssimos, nós temos Jesus sempre perto de nós. Contudo, pensai em quantas igrejas ficam desertas o dia todo! Pensai no número tão grande de cristãos que esqueceram até o fazer a Páscoa ou, então pensai naqueles que fazem a comunhão, sem vontade, com o coração frio e imerso nos desejos mundanos e mesmo pecaminosos. Pensai em todos aqueles que poderiam participar das Santas Missas, receber a Eucaristia e não o fazem e isto, por motivos fúteis, ou melhor sem nenhuma explicação senão a falta de fé e de amor a Jesus!

Os homens não têm mais fome do Pão de vida: como farão para viver na graça de Deus e um dia ressuscitar para a vida eterna?!

FOME DA PALAVRA DE DEUS: Lemos na vida de Santo Efrém o seguinte fato que muito ilustra este ponto que ora tratamos. Este santo, estando em oração, ouviu uma voz que dizia; "Efrém, toma alimento". Pasmado com essa ordem, e não sabendo de onde vinha, o santo respondeu: "E que comida me darás?" Então a voz replicou: "Vai ter com Basílio: ele te instruirá, e te oferecerá o alimento eterno". Imediatamente ele correu em busca do bispo Basílio, e achou-o na igreja, orando. Então conheceu que a palavra de Deus era a comida que ele devia tomar. E foi instruído na palavra de Deus pelo santo e sábio Bispo Basílio.

Caríssimos, assim como o pão material é necessário para sustentar o corpo, assim também a palavra divina é necessária para sustentar a alma. Uma alma sem este alimento espiritual consome-se de fome, e vai perecer miseravelmente. A fé é absolutamente necessária para a salvação, pois, sem ela, como afirma S. Paulo, é impossível alguém agradar a Deus. E a fé, como assegura o mesmo Apóstolo, vem pelo ouvido "fides ex auditu", ou seja, a fé é alimentada nas almas pela audição da palavra de Deus. Por que é que em tantos cristãos a fé é lânguida, e por isso, morta, porque não tem a força necessária para dar frutos para a vida eterna. É uma árvore com a folhas amareladas; ou é qual lamparina bruxuleante cujo azeite está se extinguindo. É porque muitos e muitos não têm fome da palavra de Deus. 

A palavra de Deus é necessária não só para iluminar a mente mas também para fortalecer a nossa vontade no bem. A terra, quando não é banhada pelas águas, esteriliza-se e não produz senão espinhos; assim também o nosso coração quando o celeste orvalho da palavra de Deus não o fecunda mais. Como é triste a gente ver católicos (que na verdade, só trazem o nome) nem sequer se incomodam em ouvir ou ler a Explicação do Evangelho dos domingos e dias santos! A estes valem as palavras terríveis de Santo Hilário: quando este santo subia ao púlpito, percebendo que algumas pessoas saíam da igreja para não se aborrecerem com o sermão que ele ia fazer, deteve-se à porta da igreja e gritou: "Agora bem podeis fugir da igreja, mas um dia já não podereis sair do lugar de tormentos".

Caríssimos, imitemos as turbas cujo exemplo nos comove e anima na leitura do Evangelho de hoje. Procuremos primeiro ter fome de Jesus na Eucaristia, ter fome da palavra de Deus, e obteremos o seu reino e o pão material ser-nos-á dado por acréscimo. Amém!


terça-feira, 16 de julho de 2019

NOSSA SENHORA DO CARMO

NOSSA SENHORA DO CARMO

                                                                                                                         Dom Fernando Arêas Rifan*

        Ontem celebramos uma data importante do mês de julho: a festa de Nossa Senhora do Carmo, uma das mais antigas e conhecidas invocações de Nossa Senhora.
        Quase na divisa com o Líbano, o monte Carmelo, com 600 metros de altitude, situa-se na terra de Israel. “Carmo”, em hebraico, significa “vinha” e “El” significa “Senhor”, donde Carmelo significa a vinha do Senhor. Ali se refugiou o profeta Elias, que lá realizou grandes prodígios, e depois o seu sucessor, Eliseu. Eles reuniram no monte Carmelo os seus discípulos e com eles viviam em ermidas. Na pequena nuvem portadora da chuva após a grande seca, Elias viu simbolicamente Maria, a futura mãe do Messias esperado.
        Assim, Maria foi venerada profeticamente por esses eremitas e, depois da vinda de Cristo, por seus sucessores cristãos, como Nossa Senhora do Monte Carmelo ou do Carmo.
       No século XII, os muçulmanos conquistaram a Terra Santa e começaram a perseguir os cristãos, entre eles os eremitas do Monte Carmelo, muitos dos quais fugiram para a Europa. No ano 1241, o Barão de Grey da Inglaterra retornava das Cruzadas com os exércitos cristãos, convocados para defender e proteger contra os muçulmanos os peregrinos dos Lugares Santos, e trouxe consigo um grupo de religiosos do Monte Carmelo, doando-lhes uma casa no povoado de Aylesford. Juntou-se a eles um eremita chamado Simão Stock, inglês de família ilustre do condado de Kent. De tal modo se distinguiu na vida religiosa, que os Carmelitas o elegeram como Superior Geral da Ordem, que já se espalhara pela Europa.
       No dia 16 de julho de 1251, no seu convento de Cambridge, na Inglaterra, rezava o santo para que Nossa Senhora lhe desse um sinal do seu maternal carinho para com a Ordem do Carmo, por ela tão amada, mas então muito perseguida. A Virgem Santíssima ouviu essas preces fervorosas de São Simão Stock, dando-lhe, como prova do seu carinho e de seu amor por aquela Ordem, o Escapulário marrom, como veste de proteção, fazendo-lhe a célebre e consoladora promessa: “Recebe, meu filho, este Escapulário da tua Ordem, que será o penhor do privilégio que eu alcancei para ti e para todos os filhos do Carmo. Todo aquele que morrer com este Escapulário será preservado do fogo eterno. É, pois, um sinal de salvação, uma defesa nos perigos e um penhor da minha especial proteção”.
       O Papa Pio XII, em carta a todos os carmelitas (11/2/1950), escreveu que entre as manifestações da devoção à Santíssima Virgem “devemos colocar em primeiro lugar a devoção do Escapulário de Nossa Senhora do Carmo que, pela sua simplicidade, ao alcance de todos, e pelos abundantes frutos de santificação, se encontra extensamente divulgada entre os fiéis cristãos”. Mas faz uma advertência sobre sua eficácia, para que não seja usado como superstição: “O sagrado Escapulário, como veste mariana, é penhor e sinal da proteção de Deus; mas não julgue quem o usar poder conseguir a vida eterna, abandonando-se à indolência e à preguiça espiritual”.

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
http://domfernandorifan.blogspot.com.br/

domingo, 14 de julho de 2019

EPÍSTOLA DO 5º DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES


1 S. Pedro, III, 8-15
"Sede todos de um mesmo coração, compassivos, amantes dos irmãos, misericordiosos, modestos, humildes, não retribuindo mal por mal, nem maldição por maldição, mas pelo contrário, bendizendo, pois para isto fostes chamados, a fim de que possuais a bênção como herança. O que quer amar a vida e viver dias felizes, refreie a língua do mal, e os seus lábios não profiram engano. Aparte-se do mal e faça o bem; busque a paz e vá após ela, porque os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos estão atentos às suas orações, mas o seu rosto está contra os que fazem o mal. E quem vos fará mal se fordes zelosos pelo bem? Mas se também padecerdes por amor da justiça, sois bem-aventurados. E não tenhais medo deles nem vos turbeis: antes bendizei  Senhor Jesus Cristo em vossos corações".

Caríssimos, os primeiros cristãos, como demonstra a própria Sagrada Escritura, viviam exatamente segundo estas orientações do primeiro Papa da Santa Igreja. Viviam como se todos fossem um só coração e uma só alma. Eram compassivos, misericordiosos, modestos, humildes, sabiam perdoar as ofensas e até fazer bem aos malfeitores. Foram perseguidos atrozmente pelos pagãos, e, no entanto não retribuíam o mal com o mal, mas pelo contrário, perdoavam e, na medida do possível procuravam ter paz com todos. Não usavam nenhum engano para prejudicar o próximo. Viviam em paz, porque procuravam imitar o Divino Mestre. Só temiam o pecado.

Todos nós desejamos a paz, mas poucos, como diz o Livro da Imitação de Cristo, buscam os meios da verdadeira paz. E quais são estes meios? Primeiramente o temor de Deus, temor de O ofender. E devemos, em segundo lugar, confiar na Providência divina: "Não cai um cabelo da nossa cabeça, como disse Jesus, sem permissão de Nosso Pai do Céu". De Deus e d'Ele somente depende a nossa vida presente e futura. Ninguém nos poderá causar algum mal, sem a  permissão de Deus. Este pensamento de que Deus vela sobre nós, dar-nos-á aquela resignação, que vem a ser o primeiro elemento da paz. Devemos dispensar os nossos cuidados apenas aos bens do Céu. Os santos, os primeiros cristãos ficavam tranquilos  em meios às maiores perseguições. Tinham fé e sabiam que Deus, nosso Pai, só quer o nosso bem e faz com que tudo concorra para o bem dos seus escolhidos, daqueles que O amam.

Na verdade, os vícios contrários às virtudes acima inculcadas pelo primeiro Papa, ou seja, a inveja, o egoísmo, a vingança, os sentimentos de ódio, o orgulho, todos estes vícios, digo, são justamente a causa das desavenças, e são os elementos perturbadores daquela harmonia que deveria reinar na convivência com o próximo. Assim, pois, quem quiser verdadeiramente ter um vida feliz terá que combater todos aqueles vícios e, além disso, deverá domar a sua língua, que, como diz S. Tiago, é envenenada pelo inferno.


O segredo desta paz de Jesus, paz esta que o mundo não pode dar, pertence apenas aos artigos da lei de Jesus Cristo. Ó Jesus, dai-me a vossa graça, o vosso amor, a vossa paz, e serei feliz e bastante rico. Amém!

HOMILIA DOMINICAL - 5º Domingo depois de Pentecostes

   Leituras: Primeira Epístola de São Pedro Apóstolo 3, 8-15.
   Continuação do Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus 5, 20-24:

   "Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Se vossa justiça não vai além da justiça dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos céus. Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás; e quem matar, será réu em juízo. Eu, porém, vos digo: todo aquele que se irar contra seu irmão será levado ao tribunal do juízo; e o que chamar a seu irmão: tolo, será réu diante do Conselho. E o que lhe chamar louco, será condenado ao fogo da geena. Portanto, se trouxeres a tua oferenda ao altar, e te lembrares que o teu irmão tem contra ti alguma coisa, deixa a tua oferenda diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e depois vem fazer a tua oblação".

   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

  Tive a inspiração de resumir o sermão que  Santo Agostinho fez sobre o Evangelho deste 5º Domingo depois de Pentecostes. 

   O Santo Evangelho cuja leitura acabamos de ouvir, muito nos fez tremer, se temos fé. Não tremem aqueles que não têm fé. Na verdade, para se chegar a segurança na vida sem fim, deve-se tremer agora nesta vida que tem fim. E nós trememos. E como não tremer quando se ouve a própria Verdade dizer: "Quem chamar a a seu irmão 'louco', será réu do fogo da geena". Por outro lado diz São Tiago na sua  Epístola: "Nenhum homem é capaz de domar a sua língua" (Tiago III, 7 e 8).  

   Que faremos então, irmãos meus? Se Jesus disse: "Quem chamar a seu irmão 'louco' será réu do fogo eterno" e se a Sagrada Escritura também diz: "O homem não tem capacidade de domar a sua língua", logo estamos todos condenados? De modo nenhum! Porque diz também o Espírito Santo na Bíblia Sagrada: "Senhor, Vós fostes nosso refúgio de geração em geração" (Conf. Salmo 89, 1). Vossa ira é justa, ó Senhor! A ninguém mandais injustamente para o fogo eterno. Entendemos, caríssimos, que, se o homem não tem capacidade para domar a sua língua, deve se refugiar em Deus para domá-la. Tomemos o exemplo dos próprios animais que nós homens domamos. Nem o cavalo, nem o camelo, nem o elefante, nem a serpente, nem o leão se domam a si mesmos. Para domá-los, lança-se mão do homem. Logo, para domar o homem.  é mister recorrer a Deus. Refugiemo-nos n'Ele!
                              
   Sim, Senhor, "Vós fostes nosso refúgio". Sem dúvida, Deus nos domará se nós nos refugiarmos n'Ele. Se nos deixarmos domar por Ele. O homem doma um leão que não é obra de suas mãos; e não há de domar a ti quem te tirou do nada pelo poder de Suas mãos? Olhai, caríssimos, para os animais ferozes. Ruge um leão e nós trememos. Contudo, o homem se sente capaz de domá-lo. Não pela força física, mas pela inteligência. Nisto o homem é mais forte que o leão, porque foi feito à imagem de Deus. Assim o homem, que é imagem de Deus, doma a fera. E não domará Deus a Sua imagem, que é o homem? 

   Em Deus, pois, está nossa esperança; sujeitemo-nos a Ele e imploremos Sua misericórdia; ponhamos n'Ele nossa confiança; e, tanto nos doma, amansa e nos faz perfeitos quanto nos submetemos a Ele e n'Ele nos refugiamos. Ás vezes Deus, nosso Domador,  também lança mão do chicote e da vara. São as provações e humilhações a que nos submete. Tu, ó homem, domas um cavalo para que uma vez manso te seja adjutório, conduzindo-te sobre ele. E, no entanto, quando morre, tu o abandonas às aves. No entanto, quando Deus te doma é para dar-te uma recompensa, que não é outra senão Ele mesmo. Depois de uma morte passageira, ressuscita-te, devolvendo a ti a carne sem faltar sequer um cabelo. Até os cabelos de vossa cabeça estão todos contados, disse Jesus. Ele te ressuscita, para te colocar entre os anjos para sempre. Ali já não necessitas mais de ser domado, porque serás posse deste mesmo Pai, infinitamente doce. Então será Deus tudo em todos. Não haverá então infelicidade que nos prove, senão felicidade que nos satisfaça plenamente. Só Deus será nosso pastor; nosso Deus será nossa bebida; nosso Deus será nossa glória; nosso Deus será nossa riqueza. Toda variedade de bens que andas buscando aqui na terra, tê-los-á todos juntos n'Ele, em Deus. Buscai, caríssimos, não os bens, mas o Bem supremo que contém em Si todos os bens.

  Nosso Deus e Redentor e Pai nos doma, castiga e às vezes emprega até o chicote, mas tudo isto é para nos entregar uma herança que será Nosso mesmo Pai. Com este fim  nos corrige, e ainda há quem murmura e chega até a blasfemar! Um blasfemo, porém, não açoitado, não encontrará um Juiz irado? Não é, porventura, preferível que Deus te açoite, ó homem, mas te receba por filho, do que não te castigue mas te abandone?

   Digamos, pois, ao Senhor, Nosso Deus: "Senhor, Vós fostes nosso refúgio de geração em geração. Na primeira geração e na segunda, Vós fostes nosso refúgio. Refúgio para que nascêssemos, quando ainda não existíamos; refúgio para que renascêssemos, quando éramos pecadores; refúgio para nos sustentar, quando fugíamos de Vós; refúgio para nos levantar e guiar, quando éramos vossos filhos; sempre fostes nosso refúgio. Não voltaremos a deixar-Vos quando nos haveis curado de nossos males, quando haveis domado nossa carne, nosso orgulho, nossa ira e assim nos enriquecido de vossos bens; bens estes que nos dais entre carícias para evitarmos as fadigas do caminho. E quando nos corrigis, açoitais e bateis, é para que não nos afastemos do caminho. Vós, ó Senhor, serás nosso refúgio! Amém! 

  

   

domingo, 7 de julho de 2019

HOMILIA DOMINICAL - 4º Domingo depois de Pentecostes

   Leituras: Epístola de São Paulo Apóstolo aos Romanos 8, 18-23.
   Continuação do Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas 5, 1-14:

   "Naquele tempo, cercado pela multidão que viera ouvir a palavra de Deus, viu Jesus, que estava nas margens do lago de Genesaré, duas barcas paradas à borda desse lago. Os pescadores haviam descido e lavavam as redes. Entrou [Jesus] em uma daquelas barcas, que era de Simão, e pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra. Sentou-se, então, e da barca pôs-se a ensinar às turbas. Quando cessou de falar, disse a Simão: Faze-te ao largo, e lançai as vossas redes para a pesca. Respondendo, Simão disse-Lhe: Mestre, trabalhamos toda a noite, e não apanhamos nada; mas por vossa palavra, lançarei a rede. Feito isto, apanharam tão grande quantidade de peixes, que a rede se rompia. E acenaram aos companheiros, que estavam na outra barca, para que os viessem ajudar. Vieram e encheram as duas barcas, de modo que estas se submergiam. Vendo isto, Simão Pedro prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Afastai-Vos de mim, Senhor, que sou homem pecador. Porque estava atônito como todos os que com ele se achavam, pela pesca que haviam feito. E igualmente os estavam Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram companheiros de Simão. E disse Jesus a Simão: Não temas; daqui em diante serás pescador de homens. E conduzidas as barcas para a terra, eles deixaram tudo e O seguiram". 

   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

   Uma noite inteira de trabalho e nem um só peixe! Por que? Aí não estava Jesus... Os pescadores não trabalharam sob as ordens, sob a Sua direção, sob a Sua assistência...Trabalharam confiados só na sua arte... na sua experiência. 

   Assim, caríssimos irmãos, o Santo Evangelho de hoje nos oferece oportunidade para falarmos sobre o trabalho frutuoso e não frutuoso. 

   O meio mais acessível de santificação é tudo fazermos à luz de Deus, com Jesus, por Jesus e em Jesus, porque, unidos a Ele, todas as nossas ações serão frutuosas, meritórias. 

   'Trabalhamos durante toda a noite, disse São Pedro, e nada apanhamos'. 
 
   O que é trabalhar sem Jesus?
  • É trabalhar sem a graça, sem a verdadeira luz, em cegueira espiritual, em estado de pecado mortal, sob o império de determinadas paixões. Ai! quantos cristãos trabalham assim infrutuosamente, consumindo a vida no pecado. 
  • É trabalhar para o mundo, pela terra. São aqueles que se extenuam e sofrem mil cuidados para adquirir riquezas ou honras. E tudo isto é vaidade e aflição de espírito. "Que adianta ao homem, disse Jesus, ganhar o mundo todo, se vier a perder a sua alma?" E contudo é esta a vida da maioria dos homens, mesmo de cristãos!
  • É trabalhar sem pureza de intenção, conforme a nossa própria vontade, sem procurar, nem a glória, nem a vontade divinas. O que assim se faz é sem mérito e sem fruto. Ai! e são muitos os que assim trabalham com prejuízo total, mesmo entre as pessoas religiosas, porque se age por leviandade, por rotina e com negligência. 
       Como se trabalha com Jesus?

  • Conservando sempre o estado de graça, vivendo na amizade de Jesus, para que ainda as menores das nossas ações sejam santas: "Aquele que me segue, disse Jesus, não anda nas trevas".
  • Nada fazendo senão conforme a vontade de Deus, na ordem por Ele estabelecida: "A pessoa obediente cantará vitória" (Prov. XXI, 28).
  • Não perdendo jamais de vista, em todas as nossas ações, a santa presença de Deus. Disse Deus a Abraão: "Anda na minha presença e serás perfeito" (Gen. XVI, 1). 
  • Executando todas as coisas só por amor de Deus e para Sua glória e referindo-Lhe tudo: "Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus" (1 Cor. X, 31). 
  • Conservando-se sempre, e em tudo, em união com Nosso Senhor. Sem Nosso Senhor Jesus Cristo não podemos fazer nada de bom: "Sem mim, disse Jesus, nada podeis fazer". Com Ele, porém, tudo é abençoado!
      Terminemos ouvindo Santa Teresinha do Menino Jesus: "Senhor, Vós o vedes, caio em tantas fraquezas, mas não me admiro... Entro dentro de mim e digo: estou ainda no mesmo ponto que antes! Mas digo isto com uma grande paz e sem tristeza, porque sei que conheceis perfeitamente a fragilidade da nossa natureza e estais sempre pronto a socorrer-nos. Portanto, de que poderei ter medo? Apenas me vedes convencida do meu nada, ó Senhor, logo me estendeis a mão; mas se eu quisesse fazer alguma coisa de grande, mesmo sob o pretexto de zelo, imediatamente me deixaríeis só. Basta, pois, que me humilhe e suporte de boa vontade as minhas imperfeições; é nisto que consiste para mim a verdadeira santidade". Amém!

   

segunda-feira, 1 de julho de 2019

FESTA DO PRECIOSÍSSIMO SANGUE

 

Esta meditação é muito própria para nos santificar. Este foi um dos pontos de meditação assídua de Santa Catarina de Sena. Este o grito incessante desta santa extraordinária: "Banhai-vos no Sangue, mergulhai no Sangue, revesti-vos do Sangue de Cristo!"... "A alma que se inebria e se submerge no Sangue de Cristo, veste-se de verdadeiras e reais virtudes".  

   Mas, evidentemente, nada mais próprio para nos excitar a amar a Jesus do que as palavras do próprio Divino Espírito Santo nas Sagradas Escrituras: "Cristo amou-nos e lavou-nos dos nossos pecados no Seu Sangue" (Apoc. I, 5). "Mas Cristo, vindo como pontífice dos bens futuros, [passando] pelo meio de um tabernáculo mais excelente e perfeito, não feito por mão de homem, isto é, não desta criação, e não com o sangue dos bodes ou dos bezerros, mas com o seu próprio sangue, entrou uma só vez no Santo dos Santos, depois de ter adquirido uma redenção eterna." (Hebreus IX, 11 e 12). 

   Caríssimos, devemos ter o "sentido" do Sangue de Cristo, do Sangue que Ele derramou por nós até à última gota. Sangue que, por meio dos sacramentos - da confissão, em particular - jorra continuamente para lavar as nossas almas, para as purificar e enriquecer com os méritos infinitos da Redenção na Cruz. Este Sangue Preciosíssimo que o Verbo, ao encarnar, tomou da nossa natureza humana, todo no-lo devolveu como preço do nosso resgate. E Jesus o fez livremente, ou melhor dizendo, obrigado por seu amor por nós. : "Amou-nos e lavou-nos dos nossos pecados no seu Sangue". Na verdade, todos os mistérios da nossa redenção são mistérios de amor e todos, por isso, nos incitam ao amor; mas o Mistério do Sangue de Jesus Cristo particularmente nos comove: contemplar a efusão do Sangue de Jesus, que corre do Calvário tingindo de púrpura o mundo inteiro, rociando todas as almas!!! Nada mais comovente e capaz de nos obrigar a amar a Jesus sem reservas: "Sic nos amantem, quis non redamaret?" 

   Conclusão melhor não poderíamos fazer do que empregando as palavras de São Paulo: "... deixando todo o peso que nos detém e o pecado que nos envolve, corramos com paciência na carreira que nos é proposta, pondo os olhos no autor e consumador da fé, Jesus, o qual, tendo-lhe sido proposto gozo, sofreu a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está sentado à direita do trono de Deus. Considerai, pois, aquele que sofreu tal contradição dos pecadores contra si, e não vos deixareis cair no desânimo. Pois ainda não resististes até derramar o sangue, combatendo contra o pecado..." (Hebreus XII, 1-5). 

  Caríssimos, rezemos com muita devoção a Ladainha do Preciosíssimo Sangue.