S. Marcos VIII, 1-9
Fome da Eucaristia, Fome da Palavra de Deus
Atitude exemplar a da multidão que, por três dias havia
seguido a Jesus no deserto, ávida unicamente em alimentar suas almas e
despreocupada com o alimento corporal. Exemplo
muito mais para se admirar hoje
quando o mundo, com raras exceções, só tem ânsia em enriquecer e gozar.
Infelizmente, os lugares de divertimento e de tráfico refervem dia e noite, ao
passo que Jesus Eucarístico é abandonado nos Tabernáculos. Os sacerdotes
zelosos em vão repetem as palavras de Deus.
Felizes, no entanto, os que têm fome da Eucaristia, porque
quem não come deste Alimento morrerá para sempre. Felizes os que têm fome da
palavra de Deus, porque não só de pão material vive o homem, ma também, e
sobretudo, da palavra que sai da boca de Deus, através de seus fiéis ministros:
"Quem vos ouve, a mim ouve".
FOME DA EUCARISTIA: Nas primeiras décadas do século XV,
piratas de terra e de mar haviam invadido a Groenlândia, passado a fio de espada
uma parte da população cristã, e reduzido o resto à escravidão. Todas as igrejas tinham sido arrasadas até o solo, e todos os sacerdotes mortos. Muitas vezes os
pobres Groenlandeses tinham recorrido a Roma, onde era Papa Inocêncio VIII, mas
inutilmente. O mar em toda a volta da sua inóspita praia gelara, de modo que,
havia oitenta anos, nenhuma nau estrangeira ali tinha podido aproar. Privados
de bispo e de sacerdotes, muitos já haviam esquecido a fé de seus pais,
retornando aos vícios do paganismo. Só poucos tinham sabido conservar-se fiéis
á religião. Esses tinham achado um corporal, aquele sobre o qual repousara o
Corpo do Senhor na última Missa celebrada pelo último padre groenlandês. Todo
ano eles o expunham à veneração pública: em torno dele os velhos, tremendo e
chorando, rezavam, em torno dele as mães conduziam seus filhos para aprenderem
a conhecer Jesus. Em torno dele todos se comprimiam como famintos em torno de
uma branca mesa sobre a qual não tinha ficado mais do que o perfume da comida.
E exclamavam: "Senhor! envia-nos depressa o sacerdote que consagre, dá-nos
ainda, uma vez ao menos, a tua Carne a comer e o teu Sangue a beber, do
contrário também nós perderemos a fé e morreremos como pagãos" (L. PASTOR,
HISTÓRIA DOS PAPAS, v. III, pag. 448 e 449).
Caríssimos, nós temos Jesus sempre perto de nós. Contudo,
pensai em quantas igrejas ficam desertas o dia todo! Pensai no número tão
grande de cristãos que esqueceram até o fazer a Páscoa ou, então pensai naqueles
que fazem a comunhão, sem vontade, com o coração frio e imerso nos desejos
mundanos e mesmo pecaminosos. Pensai em todos aqueles que poderiam participar
das Santas Missas, receber a Eucaristia e não o fazem e isto, por motivos
fúteis, ou melhor sem nenhuma explicação senão a falta de fé e de amor a Jesus!
Os homens não têm mais fome do Pão de vida: como farão para
viver na graça de Deus e um dia ressuscitar para a vida eterna?!
FOME DA PALAVRA DE DEUS: Lemos na vida de Santo Efrém o
seguinte fato que muito ilustra este ponto que ora tratamos. Este santo,
estando em oração, ouviu uma voz que dizia; "Efrém, toma alimento".
Pasmado com essa ordem, e não sabendo de onde vinha, o santo respondeu: "E
que comida me darás?" Então a voz replicou: "Vai ter com Basílio: ele
te instruirá, e te oferecerá o alimento eterno". Imediatamente ele correu
em busca do bispo Basílio, e achou-o na igreja, orando. Então conheceu que a
palavra de Deus era a comida que ele devia tomar. E foi instruído na palavra de
Deus pelo santo e sábio Bispo Basílio.
Caríssimos, assim como o pão material é necessário para
sustentar o corpo, assim também a palavra divina é necessária para sustentar a
alma. Uma alma sem este alimento espiritual consome-se de fome, e vai perecer
miseravelmente. A fé é absolutamente necessária para a salvação, pois, sem ela,
como afirma S. Paulo, é impossível alguém agradar a Deus. E a fé, como assegura
o mesmo Apóstolo, vem pelo ouvido "fides ex auditu", ou seja, a fé é
alimentada nas almas pela audição da palavra de Deus. Por que é que em tantos
cristãos a fé é lânguida, e por isso, morta, porque não tem a força necessária
para dar frutos para a vida eterna. É uma árvore com a folhas amareladas; ou é
qual lamparina bruxuleante cujo azeite está se extinguindo. É porque muitos e muitos não têm fome da palavra de Deus.
A palavra de Deus é necessária não só para iluminar a mente
mas também para fortalecer a nossa vontade no bem. A terra, quando não é
banhada pelas águas, esteriliza-se e não produz senão espinhos; assim também o
nosso coração quando o celeste orvalho da palavra de Deus não o fecunda mais.
Como é triste a gente ver católicos (que na verdade, só trazem o nome) nem
sequer se incomodam em ouvir ou ler a Explicação do Evangelho dos domingos e
dias santos! A estes valem as palavras terríveis de Santo Hilário: quando este
santo subia ao púlpito, percebendo que algumas pessoas saíam da igreja para não
se aborrecerem com o sermão que ele ia fazer, deteve-se à porta da igreja e
gritou: "Agora bem podeis fugir da igreja, mas um dia já não podereis sair
do lugar de tormentos".
Caríssimos, imitemos as turbas cujo exemplo nos comove e
anima na leitura do Evangelho de hoje. Procuremos primeiro ter fome de Jesus na
Eucaristia, ter fome da palavra de Deus, e obteremos o seu reino e o pão
material ser-nos-á dado por acréscimo. Amém!
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