SAUDAÇÕES E BOAS VINDAS

LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO! PARA SEMPRE SEJA LOUVADO!

Caríssimos e amados irmãos e irmãs em Nosso Senhor Jesus Cristo! Sêde BEM-VINDOS!!! Através do CATECISMO, das HOMILIAS DOMINICAIS e dos SERMÕES, este blog, com a graça de Deus, tem por objetivo transmitir a DOUTRINA de Nosso Senhor Jesus Cristo. Só Ele tem palavras de vida eterna. Jesus, o Bom Pastor, veio para que Suas ovelhas tenham a vida, e com abundância. Ele é a LUZ: quem O segue não anda nas trevas.

Que Jesus Cristo seja realmente para todos vós: O CAMINHO, A VERDADE, A VIDA, A PAZ E A LUZ! Amém!

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

QUARTA-FEIRA DE CINZAS

   "És pó em em pó te hás de tornar" (Gênesis III-19). Estas palavras dirigidas a Adão em consequência do pecado cometido, a Santa Madre Igreja repete-as a cada cristão para nos lembrar do nosso nada e da nossa morte: "Lembra-te, ó homem, que és pó e em pó te hás de tornar". Ao pronunciar estas palavras, o sacerdote impõe as cinzas. A cinza é símbolo de penitência pelos pecados que trouxeram o morte para este mundo. As orações da bênção e imposição dos cinzas e as da Missa nos fazem penetrar no espírito da penitência cristã; humilde submissão, unida a uma grande confiança na misericórdia de Deus. "Ouvi-nos, Senhor, diz o Introito da Missa, porque é benigna a vossa misericórdia; segundo a multidão de vossas comiserações, olhai para nós, Senhor".

  A Epístola nos põe diante dos olhos um exemplo comovente de penitência, o jejum. Eis a Epístola (Joel II-12-19): "Eis o que disse o Senhor: Convertei-vos de todo o vosso coração em jejuns, em lágrimas e gemidos. Rasgai vossos corações e não vossos vestidos; convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, que é benigno e compassivo, paciente e rico em misericórdia, e pronto a perdoar a maldade. Quem sabe se Ele não se voltará para vós, se vos perdoará, e não deixará uma bênção atrás de Si [para apresentardes novamente] sacrifício e libação ao Senhor, vosso Deus? Tocai a trombeta em Sião, guardai um jejum sagrado, convocai a assembléia, reuni o povo, santificai a Igreja, reuni o povo, santificai a Igreja, reuni os velhos, congregai os pequeninos e os meninos de peito; saia o esposo de seu aposento e a esposa do seu leito nupcial. Os Sacerdotes, ministros do Senhor, chorem entre o vestíbulo e o altar, dizendo: Perdoai, Senhor, perdoai ao vosso povo, e não deixeis cair a vossa herança no opróbrio, expondo-a aos insultos das nações. Porque se diria entre as nações: Onde está o seu Deus? O Senhor zela por sua terra e perdoa o seu povo. E o Senhor responde e diz a seu povo: Eis que vou enviar-vos trigo, vinho e azeite, deles ficareis abastecidos, e nunca mais vos entregais aos insultos das nações. Assim disse o Senhor Onipotente". 

   E Jesus nos ensina no Evangelho que este jejum deve ser antes de tudo interior, feito com coração reto diante de Deus. Eis o Evangelho segundo São Mateus VI-16-21: "Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Quando jejuardes, não tomeis um ar tristonho, como o fazem os hipócritas, que desfiguram suas faces, para que os homens vejam como jejuam. Em verdade, eu vos digo: já receberam a recompensa. Mas, quando tu jejuares, unge a tua cabeça e lava o teu rosto, para que não mostres aos homens que estás jejuando, mas só a teu Pai, que está presente ao que há de mais secreto; e teu Pai, que vê no oculto, de dará a recompensa. Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e a traça consomem e onde os ladrões desenterram e roubam. Ajuntai, porém, tesouros no céu, onde não há ferrugem nem traça que consomem, nem ladrões que desenterram e roubam. Porque onde está o teu tesouro, está também aí o teu coração". 

   Nos quarenta dias da Santa Quaresma, os cristãos se unem intimamente aos sofrimentos e à morte do Divino Salvador, a fim de ressuscitarem com Ele para uma vida nova, nas grandes solenidades pascais. É preciso que os Cristãos sacudam a poeira do mundo. A sabedoria da Santa Igreja estabeleceu este tempo propício de quarenta dias, a fim de que as nossas almas se pudessem purificar, e por meio de boas obras e jejuns, expiassem as faltas. Inúteis seriam, porém, os nossos jejuns, se neste tempo os nossos corações se não desapegassem do pecado. 
   As práticas exteriores que devem desenvolver em nós o espírito de Nosso Senhor Jesus Cristo e unir-nos a seus sofrimentos, são o jejum, a oração e a esmola. 

   Jejum: Seria um engano pernicioso não reconhecer a utilidade desta mortificação corporal. Seria menosprezar o exemplo do próprio Jesus. O Prefácio da Quaresma nos descreve os efeitos salutares do jejum: ..."pelo jejum corporal reprimis os vícios, elevais a inteligência, concedeis a virtude e o prêmio dela...".

    Oração: Assim como a palavra "jejum" abrange todas as mortificações corporais, da mesma maneira compreende a palavra "oração" todos os exercícios de piedade feitos neste tempo, com um recolhimento particular, como sejam: a assistência à Santa Missa, a Comunhão frequente, a leitura de bons livros, a meditação especialmente da Paixão de Jesus Cristo, a Via Sacra e a assistência às pregações quaresmais. 
    Esmola: Compreende as obras de misericórdia para com o próximo. Já no Antigo Testamento está dito: "Mais vale a oração acompanhada do jejum e da esmola do que amontoar tesouros" (Tobias XII-8).

QUARESMA

   A Quaresma é um tempo de reparação e de emenda, consagrado ao recolhimento e à oração, à penitência e às boas obras. A  Santa Madre Igreja quer honrar deste modo o retiro e o longo jejum de Jesus Cristo, e preparar-nos para a Páscoa, isto é, para a passagem da morte para a vida, ou de uma vida imperfeita para uma vida mais santa, assim como o divino Mestre se preparou com um retiro de jejum de quarenta dias, para renovar o mundo com a pregação do Evangelho.

   Antigamente definia-se a Quaresma como o período dos quarenta dias de jejum que precedem a festa da Páscoa. Isto porque neste santo tempo de penitências, havia a obrigação de jejum em todos os dias, com exceção dos domingos, para imitarmos assim os quarenta dias do jejum de Jesus e nos prepararmos dignamente para a festa da Páscoa. Sabemos que hoje todos estes dias obrigatórios de jejum ficaram reduzidos a apenas dois (Quarta-feira de Cinzas e Sexta-feira Santa). 

   São Jerônimo afirma que a Quaresma é de tradição apostólica e que este número de quarenta nas Sagradas Escrituras é sempre o da pena e da aflição. E o grande doutor da Igreja cita Ezequiel XXIX. 

   Lembremo-nos da chuva torrencial de quarenta dias e quarenta noites no dilúvio que submergiu a raça humana sob as vagas, à exceção de oito pessoas, a família de Noé. Consideremos o povo hebreu, errante por quarenta anos no deserto, em castigo de sua ingratidão, antes de poder entrar na terra prometida. Escutemos o Senhor ordenando a seu profeta Ezequiel permanecesse deitado quarenta dias sobre o lado direito, para representar a duração e um cerco, ao qual devia seguir-se a ruína de Jerusalém. 

   No Antigo Testamento Moisés que representava a Lei, e o Elias que representava a Profecia, ambos se aproximam de Deus: o primeiro no monte Sinai, o segundo no monte Horeb; mas nenhum deles consegue acesso junto à divindade, senão depois de purificados pela expiação em um jejum de quarenta dias. 

   A Quaresma aparece-nos então em toda a sua majestosa severidade, e como meio eficaz de aplacar a cólera de Deus e purificar nossas almas. Ao reconhecer humildemente que somos pecadores, sentimos necessidade da penitência, especialmente na quaresma, e esperamos assim que Deus se digne, como no tempo do profeta Jonas, conceder misericórdia a cada um de nós e a todo o povo. Na verdade, para obter a regeneração que nos tornará dignos de voltar às santas alegrias do Aleluia, ser-nos-á necessário o triunfo sobre os nossos três inimigos: o demônio, a carne e o mundo. Unidos ao Redentor, que luta sobre a montanha contra a tríplice tentação e contra o próprio demônio, necessitamos de estar armados e de vigiar sem desfalecimento. 

   "Devemos, diz D. Guéranger, durante a Quaresma trazer à memória os penitentes públicos, que, expulsos solenemente da assembleia dos fiéis na Quarta-feira de Cinzas, constituíam, por todo o espaço da santa Quarentena, objeto de maternal preocupação para a Igreja, devendo esta, se o mereciam, admiti-los à reconciliação na Quinta-feira Santa. Um admirável conjunto de leituras, destinado a instruí-los e a interessar os fiéis em seu favor, passará sob os nossos olhos, pois, a Liturgia nada perdeu tão pouco dessas vigorosas tradições. Lembrar-nos-emos então da facilidade com que nos têm sido perdoadas as iniquidades que, nos séculos passados, talvez não o fossem senão após duras e solenes expiações. E, pensando na justiça do Senhor, que permanece imutável, sejam quais forem as mudanças introduzidas na disciplina pela condescendência da Igreja, sentiremos tanto maior a necessidade de oferecer a Deus o sacrifício de um coração verdadeiramente contrito, e de animar, com um sincero espírito de penitência as leves satisfações que apresentamos à sua divina Majestade" (do Livro "Ano Litúrgico).

   

PRÁTICAS DA SANTA QUARESMA



 A Quaresma existe desde os apóstolos, que limitaram sua duração a quarenta dias, em memória do jejum de Jesus Cristo no deserto.

   No intuito de encaminhar-nos para o Divino Redentor e Mestre, Nosso Senhor Jesus Cristo, a Santa Madre Igreja estabeleceu: 
  1. os domingos de Setuagésima, Sexagésima e Quinquagésima, que nos aproximam mais e mais desse período de penitência. Durante essas três semanas, a Igreja usa paramentos roxos, suprime o Gloria in Excelsis, a Aleluia, o Te Deum, cânticos de alegria, e incita-nos, pelos evangelhos que escolhe, a trabalharmos com mais empenho no cultivo e amanho da nossa alma, e a ouvirmos, mais assíduos e mais piedosos, a palavra de Deus. 
  2. as preces da Quarenta Horas. Enquanto o mundo, ao aproximar-se a quaresma, procura distrações e divertimentos pecaminosos no carnaval, a Igreja convida seus filhos aos pés dos altares, para, no retiro ouvir a Palavra de Deus e também para adorar a Jesus Eucarístico. Pede-lhes o recolhimento e a oração, quer para prepará-los à quaresma, quer para implorar o perdão de Deus pelos pecados que se cometem. 
  3. a cerimônia das Cinzas. Na quarta-feira em que começa a santa quaresma, faz-se a imposição das Cinzas. Com solenidade, o celebrante benze cinzas no altar; depois de as santificar pela oração, a água benta e o incenso, põe na cabeça do clero e do povo, e a cada um dirige esta palavra: "Lembra-te, ó homem, que és pó e em pó te hás de tornar!" ("Memento homo, quia pulvis es, et in pulverem reverteris"). Logo é o pensamento da morte, e também uma lição de penitência que se evoca aos fiéis. De fato, as cinzas sempre foram entre os antigos, símbolo de luto e dor profunda. Davi, no extremo da mágoa, cobriu-se de cinzas, e os Ninivitas, ouvindo o convite do profeta Jonas, fizeram penitência com cinza e cilício. Nos primeiros séculos cristãos, a Igreja introduziu o costume de pôr cinzas na fronte dos pecadores, especialmente dos penitentes públicos. Por humildade e sinal de arrependimento, todos os fiéis quiseram participar dessa cerimônia, que ficou como preparação eloquente para a penitência da quaresma.
  4. observar segundo suas forças a abstinência e o jejum que a Igreja prescreve. - Com efeito, todos nós precisamos de penitência pelos numerosos pecados que temos cometido durante um ano inteiro de indiferença, esquecimento, e muitas vezes de fraqueza criminosa. Ora, o melhor desagravo é o que a Igreja nos pede. Humildemente devemos reconhecer a necessidade que temos de fazer mais penitências além das estritamente obrigatórias pelas leis da Igreja. Estas penitências, no entanto devem ser sempre humildes, discretas e obedientes. 
  5. empregar mais tempo na oração e nas boas obras. Os ofícios da Igreja ouvidos com mais atenção, a Santa Missa alguma vez na semana, leituras piedosas, o exercício da Via-Sacra, esmolas mais abundantes aos pobres e às obras de caridade, são outras tantas práticas úteis, junto com o trabalho e as penas da vida, religiosamente aceitas e suportados por amor a Jesus Crucificado.
  6. enfim, a Santa Igreja, no santo tempo da quaresma, estabeleceu práticas mais frequentes e especialíssimas, seguidas geralmente da bênção do Santíssimo; convém assistir a essas instruções, e assim reanimar-se na fé e na vida cristã; padres zelosos costumam pregar retiros fechados e também abertos para todo povo. Tudo isto serve também de preparação para à comunhão pascal através de uma confissão, a melhor possível.
     Nosso Senhor Jesus Cristo dizia aos seus discípulos: "O mundo se há de alegrar e vós estareis na tristeza; mas a vossa tristeza mudar-se-á em alegria e esta alegria ninguém vo-la poderá tirar" (São João, XVI, 20, 22). Ai vai, pois, um sinal de predestinação e penhor de felicidade eterna: chorar e gemer com Cristo no Calvário para podermos regozijar-nos e reinar com Cristo ressuscitado. Os verdadeiros cristãos não o ignoram; por isso, santificam no recolhimento, na oração e nas lágrimas da penitência, o santo tempo da Quaresma , e mais especialmente os dias da Semana Santa; sepultam com Nosso Senhor Jesus Cristo, no túmulo, seus pecados e sua concupiscência, e levantam-se com Ele, na alegria, nos transportes da sua Ressurreição. 

domingo, 23 de fevereiro de 2020

HOMILIA DOMINICAL - DOMINGO DA QUINQUAGÉSIMA

   Leituras: Primeira Epístola de São Paulo Apóstolo aos Coríntios 13, 1-13.
                  Continuação do Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas 18, 31-43: 


   "Naquele tempo, tomou Jesus consigo os doze, e disse-lhes: Eis que subimos a Jerusalém, e cumprir-se-á tudo o que os Profetas escreveram acerca do Filho do homem. Porque aos gentios há de ser entregue, e será escarnecido, açoitado, e cuspido; e havendo-O açoitado, matá-Lo-ão, e ao terceiro dia ressuscitará. Eles nada entenderam, pois esse discurso era para eles obscuro; e não entendiam o que lhes dizia. E aconteceu que, chegando Ele perto de Jericó, estava um cego sentado junto ao caminho, a mendigar. E ouvindo muita gente passar, perguntou que era aquilo. Disseram-lhe que passava Jesus Nazareno. Ele clamou, dizendo: Jesus, Filho de Davi, tende piedade de mim. E os que iam adiante o repreendiam, para que se calasse. Ele, porém, cada vez mais clamava: Filho de Davi, tende piedade de mim. Jesus parou e mandou que o trouxessem à sua presença. E, quando ele se aproximou, interrogou-o com estas palavras: Que queres que te faça? Ele respondeu: Senhor, que eu veja. E Jesus lhe disse: Vê, a tua fé te salvou. E logo o cego viu, e O foi seguindo, glorificando a Deus. E todo o povo, vendo isto, rendeu louvores a Deus".

   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

   Quantos maus cristãos renovam nestes dias de carnaval o deicídio do povo judeu! São Paulo diz que muitos crucificam Jesus de novo em si mesmos. Para reconduzir esses pobres desvairados a melhores sentimentos, para os desviar de tais orgias, excessos, e para os impelir à penitência, é que a Igreja, como boa Mãe, lhes apresenta o quadro abreviado das dores e dos tormentos do Homem-Deus, de que eles são a causa; e acrescenta a narração da cura do cego, a fim de os impelir a suplicarem, do mesmo modo, a cura da sua cegueira espiritual. Oxalá todos a ouçam e a regozijem  com a sua docilidade. 
   Felizes os cristãos que nestes dias fazem o Santo Retiro! É na solidão e no recolhimento interior que devemos meditar e saborear a Paixão. "Nada me encanta tanto, dizia São Francisco de Assis, como a lembrança da Paixão do Salvador; e, mesmo que eu vivesse até ao fim do mundo, não teria necessidade de outra leitura". 
   O anúncio da Paixão é também uma dupla prova da divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo: mostra que Ele sabia antecipadamente todos os tormentos e todas ignomínias da sua Paixão, e que ia ao encontro dela por sua livre vontade; depois, deixava claro que vinha cumprir as profecias, e principalmente as de Davi (Salmos XV e XXI), e também as de Isaías (L, 6 e LIII).
   Notemos que Jesus Cristo prediz também a sua Ressurreição. Esta profecia era como um raio de luz destinado a temperar a dor dos Apóstolos e a fortalecê-los. Diz Santo Agostinho que Jesus quis mostrar-nos com a sua Paixão, o que temos de sofrer por amor da verdade; e, com a sua Ressurreição, fez-nos ver o que devemos esperar na vida eterna. 
    Mas, infelizmente, quantos cristãos à semelhança dos Apóstolos, não compreendem nada das dores e da cruz de Jesus Cristo! As palavras de penitência, de mortificação, de renúncia causam-lhes perturbações e espanto. Lembremo-nos das palavras de São Paulo: "Se sofrermos com Jesus, seremos também glorificados com Ele". Diz Santo Agostinho: "Toda vida do cristão sobre a terra, se vive segundo o Evangelho, é uma cruz contínua". 

   Caríssimos, passemos para a outra parte bem distinta do santo Evangelho de hoje: a cura do cego de Jericó. 
Um cego sentado à beira do caminho, a mendigar   : é a figura dos pecadores que, cegos pelas suas faltas, já não veem a fealdade do mal nem a beleza do bem; que estão despojados de toda a riqueza espiritual, reduzidos à pobreza mais extrema , e privados da amizade de Deus; que mendigam os prazeres e os bens tão enganadores do mundo, especialmente nestes dias de mais pecado, que é o carnaval; estão sentados miseravelmente à borda do grande caminho da perdição e da morte eterna, e não pensam em erguer-se nem em converter-se. Se a graça de Jesus Cristo não viesse procurá-los, ali permaneceriam até à morte.
   O cego, uma vez curado, seguiu a Jesus. Seguir a Jesus é amá-Lo de todo o nosso coração, é prender-nos a Ele irrevogavelmente; é amar o próximo por Deus e procurar fazer-lhe todo o bem; é imitar Jesus em tudo, e conformar o nosso procedimento pelo seu; é observar os seus preceitos e os da sua Igreja, é reproduzir em nós a sua vida e as suas virtudes. 

   Fazei, Senhor, que Vos sigamos sempre assim, durante a nossa vida aqui na terra, a fim de que mereçamos ver-Vos, possuir-Vos e amar-Vos para sempre no Reino da Vossa Glória. Amém!

domingo, 16 de fevereiro de 2020

DOMINGO DA SEXAGÉSIMA - HOMILIA DOMINICAL

   Leituras: Segunda Epístola de São Paulo aos Coríntios, 11, 19-33 e 12, 1-9.
              Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas, 8, 4-15.

  "Naquele tempo, tendo-se reunido uma grande multidão, como tivessem ido a Jesus os habitantes de várias cidades, propôs-lhes Ele esta parábola: Saiu o semeador a semear sua semente; e ao semeá-la, parte caiu junto ao caminho e foi pisada, e as aves do céu a comeram. Outra parte caiu sobre a pedra, e quando nasceu, secou logo, por não haver umidade. Outra parte caiu entre espinhos, e os espinhos, nascendo com ela, a sufocaram. E outra parte caiu em boa terra, e depois de nascer, deu fruto, cento por um. Dito isto, clamou: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Seus discípulos perguntaram-Lhe, pois, que significava essa parábola. E Ele lhes respondeu: A vós é dado conhecer o Mistério do Reino de Deus, porém aos outros se fala em parábolas, para que olhando, não vejam, e ouvindo, não entendam. Este é, pois, o sentido da parábola: A semente é a palavra de Deus. Os que estão ao longo do caminho, são os que a ouvem, mas vindo depois o diabo, tira-lhes a palavra do coração, para que se não salvem, crendo nela. Os de sobre a pedra, são os que recebem com gosto a palavra, quando a ouviram. porém estes não têm raízes: até certo tempo creem, mas, no tempo da tentação, desviam-se. A que caiu entre os espinhos: são estes os que ouviram, porém indo, afogam-se com cuidados, riquezas e deleites da vida, e não dão fruto. E a que caiu em boa terra: são os que, ouvindo a palavra, guardam-na com o coração bom e perfeito e dão fruto na paciência". 

   Caríssimos e amados leitores em Nosso Senhor Jesus Cristo!


  É a parábola do semeador. De todas as parábolas de Nosso Senhor Jesus Cristo, é uma das mais importantes e instrutivas; porque contém em figura o mistério da Encarnação, a obra da pregação evangélica e toda a economia da nossa salvação. Faz-nos ver, de um lado, a bondade inefável de Deus abaixando-se até nós, e semeando a sua palavra e a sua graça com uma liberalidade sem limites; e, do outro lado, a dureza e ingratidão dos homens, dos quais a maior parte são infiéis e inutilizam os dons de Deus. Mostra ainda a sua importância o cuidado caritativo de Nosso Senhor em explicá-la por si mesmo aos seus discípulos, o que só fez com esta e com a parábola da cizânia.
   Quem é o semeador? É o próprio Verbo, o Filho de Deus. Desceu à terra para semear em nossos corações e fecundá-los, para lançar neles a semente do seu Evangelho, isto é, para   revelar-nos os mistérios do reino dos Céus, para derramar em nós as suas graças e as suas misericórdias e para transformar os homens, de terrenos estéreis que eram, em homens celestes, capazes de produzirem frutos de santidade dignos da vida eterna.


   Qual é a semente? Jesus no-lo diz: É a palavra de Deus. É Nosso Senhor, pois que o Verbo de Deus é, ao mesmo tempo, semeador e semente depositada nos sulcos das nossas almas. Ele se semeia por assim dizer a si mesmo em nós, pela sua doutrina divina, pelas suas santas inspirações, pelos seus Sacramentos, sobretudo pela adorável Eucaristia. Nosso Senhor é ainda semeado pela pregação dos Apóstolos e de todos os seus sucessores legítimos de todos os tempos e de todos os lugares, isto é, pelo ensino, legislação e Liturgia da Igreja Católica; pelos bons livros e pelos exemplos dos santos. Quem poderia exprimir o preço e a virtude desta divina semente? que graça e que força íntima e oculta ela possui para regenerar o mundo e santificar os homens! foi por esta palavra que Deus tudo criou do nada. Foi ela que extirpou os vícios grosseiros do paganismo e que fez florir por toda a parte as belas virtudes do Cristianismo. Ela conserva sempre a mesma eficácia soberana; e, se é mais ou menos frutuosa, isso provém das nossas disposições.
   Justamente os diferentes terrenos significam os corações dos homens que recebem a palavra divina, com muito diversas disposições. A semente que cai ao longo do caminho, segundo explica o próprio Jesus, designa aqueles que ouvem a palavra; mas em seguida vem o demônio e lhes retira essa palavra do coração.
  Essa classe de pessoas é a das almas dissipadas, levianas, frívolas, preguiçosas; corações indiferentes, semelhantes a uma estrada larga, onde o ruído é  ensurdecedor, o terreno muito batido e endurecido sob os pés dos viandantes que passam em todos os sentidos. A palavra de Deus depressa é calcada e esmagada pelas paixões más, o orgulho, os ressentimentos, os ódios, etc... Ou não é acolhida por essas almas dissipadas e endurecidas, ou só é ouvida com desdém e indiferença. O demônio rouba esta semente, semelhante nisto às aves do céu, que, no tempo das sementeiras, comem os grãos que não ficam cobertos pela terra. 
   A semente que cai sobre terreno pedregoso, explica Jesus, designa aqueles que, tendo ouvido a palavra de Deus, a recebem com alegria; mas, como não têm raízes, não creem senão por algum tempo e, no momento da tentação, retiram-se e sucumbem.
   Essa classe de homens é a das almas superficiais que, ouvindo a palavra de Deus, a recebem com alegria, isto é, começam a converter-se, formam as mais belas e úteis resoluções, e parecem prontas a tudo para Deus. Mas falta-lhes vontade firme e séria: não há nelas senão veleidade, presunção e inconstância; não têm raízes bastante profundas; não são bem arraigadas na fé. Não têm suficiente fundo de humildade, de desconfiança de si mesmas e de confiança em Deus. Por isso, a mais pequena tentação as abala; as cruzes desta vida, as tribulações, algumas leves perseguições pela justiça e pela fé, as prostram e fazem perecer a sua virtude sem raízes; sucumbem, deixam o caminho direito, e acabam por se afastar miseravelmente.
   A semente que cai entre os espinhos, explica Jesus, figura aqueles que ouviram a palavra, mas indo, em pouco tempo esta palavra é abafada pelos cuidados e embaraços do mundo, pela ilusão das riquezas, pelos prazeres do mundo e pelas outras paixões, de sorte que não produzem fruto nenhum.
   Esta categoria é a das almas divididas, embaraçadas pelos prazeres e pelos cuidados excessivos dos bens da terra; que quereriam servir ao mesmo tempo a Deus,  ao prazer e ao  dinheiro. Esta sede insaciável das riquezas, das honras e dos prazeres abala a boa semente nestes corações carnais ou terrestres, isto é, destrói neles todos os bons sentimentos, a vontade de trabalhar na salvação, e mesmo todos os pesares ou remorsos que a palavra de Deus faz brotar neles.
   A semente que cai em terra boa, segundo a explicação de Nosso Senhor Jesus Cristo, são aqueles que tendo ouvido a palavra, a conservam num coração bom e excelente, e produzem frutos pela paciência.
   A esta categoria pertencem as almas bem preparadas, as almas humildes e piedosas, libertas dos laços do pecado, cheias de generosidade, desapegadas das coisas do mundo e ávidas de agradar a Deus, de O servir e de O glorificar. Estas almas ouvem a palavra de Deus com atenção, respeito e amor.
   Produzem frutos pela paciência, isto é, são obrigados, para se santificarem, a vigiar, trabalhar, sofrer, combater sem cessar, porque esta é a nossa condição neste mundo.
   Umas  produzem trinta por um, outras sessenta, outras cem, segundo a proporção dos talentos e das graças recebidas, ou segundo a perfeição da cultura, ou segundo os diversos graus da sua caridade para com Deus.
   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo! Tomemos a resolução de ler e escutar doravante a palavra divina sempre com mais atenção e devoção a fim de que nos guarde, nos santifique e nos torne dignos da recompensa do Céu. Felizes os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática! Amém!

  

domingo, 9 de fevereiro de 2020

EXPLICAÇÃO DO EVANGELHO DO DOMINGO DA SEPTUAGÉSIMA

 
             S. Mateus, 20, 1-16.

   "Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos esta parábola: O Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que saiu ao romper da manhã a contratar operários para a sua vinha. Tendo ajustado com alguns por um dinheiro ao dia, mandou-os para a sua vinha. Saindo perto da hora terceira, viu outros que estavam ociosos na praça. E disse-lhes: Ide vós também, para minha vinha, e dar-vos-ei o que for justo. E eles foram. Saiu outra vez perto da sexta e da nona hora, fez o mesmo. E saindo quase à undécima hora, ainda achou outros por ali, e disse-lhes: por que ficais aqui ociosos todo o dia? Responderam-lhe eles: porque ninguém nos contratou. Ele lhes disse: Ide vós também para a minha vinha. Caindo já a tarde, disse o Senhor da vinha a seu feitor: Chama os trabalhadores e paga-lhes a diária, a começar dos últimos até os primeiros. Chegando, pois, os que tinham vindo perto da undécima hora, cada um recebeu um dinheiro. vindo, depois, os primeiros, julgaram que haviam de receber mais; receberam, porém, um dinheiro cada um. Tomando-o murmuravam contra o pai de família, dizendo: Estes últimos trabalharam uma hora, e os igualastes conosco que suportamos o peso e o calor do dia. Ele, porém, respondendo a um deles, disse: Amigo, não te faço injustiça: não te ajustaste comigo por um dinheiro? Toma o que é teu e vai-te; pois quero dar a este último tanto quanto a ti. Porventura não é lícito a mim fazer o que eu quiser [dos meus bens]? Ou é invejoso o teu olho porque eu sou bom? Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros, os últimos, porque muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos". 

   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

   Neste mundo nos manda Deus trabalhar na sua vinha para merecermos o salário, isto é, a recompensa prometida, a felicidade do Céu. Esta vinha do Senhor é a nossa alma, que Ele pode seguramente chamar sua, porque ela Lhe pertence por todos os títulos. Foi Ele quem a plantou. Tendo-a o demônio assolado e devastado, Ele resgatou-a, não com ouro ou prata, mas com o seu sangue precioso e restaurou-a com infinitos cuidados. Deus plantou-a e regou-a, resta-nos cooperar e acabar o resto do trabalho para que produza frutos.

   A vinha, sendo a mais preciosa das árvores pelo seu fruto, e dele tirando o seu valor, é também de todas as árvores a que exige mais cuidados e trabalhos. A nossa alma em virtude da sua origem divina e do seu destino sublime, é a mais preciosa coisa do mundo.

   Os cuidados que exige a vinha são a figura dos cuidados que devemos ter com a nossa alma:
1º - Cavá-la e adubá-la. Relativamente à alma, quer isto dizer que deve ser cultivada com a prática das virtudes: humildade, compunção e penitência.

2º - Podá-la, isto é, libertá-la de todos os ramos inúteis que absorvem e esgotam a seiva sem proveito. Para a alma é renunciar a tudo o que é supérfluo e prejudicial, quer para ela, quer para os outros com quem se convive. É o trabalho custoso da mortificação, da abnegação e do sacrifício. E é um trabalho de sempre.

3º - Especá-la, isto é, escorá-la para evitar que as tempestades a derrubem, tanto mais que as cepas, por sua natureza, não têm consistência para se conservarem direitas. Para a alma o Senhor dignou-se multiplicar-lhe os sustentáculos, ou sejam, a fé e confiança em Deus, a lembrança da Cruz e Paixão de Jesus e os Sacramentos.

4º - Cercá-la com um muro para a preservar do assalto dos ladões e dos animais. Para a alma isso significa a observação da lei de Deus, a vigilância contínua, a fuga das ocasiões perigosas, a modéstia, a mortificação dos sentidos, a oração, a devoção a Nossa Senhora.

5º - Chuva e o sol que dependem não da vontade do viticultor, mas do céu. Do mesmo modo é necessário que desça até à alma o orvalho celeste, isto é, a graça de Deus, a suave influência do sol, isto é, a infusão do Espírito Santo, do amor divino. E isto depende da nossa vontade, do nosso fervor na oração e na frequência dos Sacramentos.

   Em compensação, o Pai de família nos dará, na tarde do nosso dia, o justo salário que merecemos.
   Ao contrário, a vinha estéril, quer dizer, a alma infiel, deve recear que Deus execute a sua ameaça e lhe recuse a chuva fecunda da sua graça e das suas bênçãos.

   Uma vinha abandonada enche-se em pouco tempo de silvas e só dá cachos azedos. Assim é a alma; se é mal cultivada ou abandonada, depressa se enche de defeitos, de vícios, de toda a espécie de pecados e ficará incapaz de produzir bom fruto.

   Ao contrário, uma vinha bem cultivada dá uvas suculentas, o melhor talvez de todos os frutos. Do mesmo modo, uma alma bem cuidada produz a virtude por excelência, a caridade, que é o vínculo da perfeição e a plenitude de toda a lei. Depois a caridade, por sua vez, produz todas as virtudes cristãs.

   Irmãos caríssimos, possivelmente passamos muitos anos em dissipação espiritual, apressemo-nos a recuperar e reparar algum deste tempo perdido. Talvez que esta homilia seja o supremo apelo divino, o convite da undécima hora.

   Pelas entranhas de misericórdia do Senhor Deus, reflita cada um, vença as suas repugnâncias e queira, com a graça poderosa e infalível de Deus, ser do pequeno número dos eleitos. Amém!
  

  

HOMILIA DOMINICAL - Domingo da Septuagésima - Explicação da Epístola

   Tradução literal da Primeira Epístola de São Paulo Apóstolo aos Coríntios, IX, 24-27 e X, 1-5, da Vulgata Latina de São Jerônimo:


   "Irmãos: Não sabeis que os que correm no estádio, todos correm em verdade, mas um só leva o prêmio? Correi, pois, de tal maneira que o alcanceis. Todos aqueles que lutam na arena, de tudo se abstêm. E eles em verdade o fazem só para receberem uma coroa corruptível, e nós uma incorruptível. Eu pois assim corro, não como ao acaso: assim combato, não como ferindo o ar: antes castigo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que não suceda que, depois de ter pregado aos outros, eu mesmo seja reprovado. Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais todos estiveram debaixo da nuvem e todos passaram o mar, e todos foram batizados em Moisés, na nuvem, e no mar, todos comeram o mesmo manjar espiritual, e beberam a mesma bebida espiritual (porque bebiam da pedra espiritual que os seguia, e a pedra era Cristo), mas da maior parte deles não se agradou Deus".

   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

 Vamos dar agora a tradução explicativa desta mesma Epístola da Santa Missa deste Domingo da Septuagésima: 

O quadro catequético representa em cima a alma que se converte e luta contra
suas paixões para se conservar na graça de Deus; em baixo a alma que não se
converte e/ou não luta contra suas paixões e defeitos e assim vive no pecado
mortal. 
   Meus irmãos, não sabeis que de todos aqueles que se alistam nas corridas do estádio, um só é que recebe o prêmio de campeão? Assim também não penseis que todos os que entram a fazer parte da Igreja serão salvos, mas somente aqueles que fizerem por onde o merecerem. Comportai-vos, portanto, de tal modo que possais conseguir o prêmio eterno no Céu. Ainda. Que fazem aqueles que lutam na arena? Eles abstêm-se de todos os prazeres, para alcançar uma honra de campeão que afinal acaba, uma coroa de louros que murcham. Quanto mais nos devemos abster nós, os cristãos, de todas os prazeres do mundo e da carne, em vista de uma glória eterna, uma coroa de perfeição e santidade que dura para sempre. Tal é também o meu procedimento. Eu não corro ao acaso, sem conhecer a meta à qual me dirijo; nem luto batendo no ar; e, sim, como um lutador que deseja derrubar o seu adversário. Ora, o meu adversário é o meu corpo com sua concupiscência. Por isso, castigo-o, com penitência e o reduzo à obediência do espírito, receando que, depois de haver pregado aos outros o caminho da salvação, eu mesmo seja condenado. É inútil, portanto, esquivar-se a essa luta contra si mesmo, apenas confiando nos dons de Deus. Deus exige também a nossa parte, a nossa colaboração. Com efeito, observai os antigos judeus no deserto. Todos foram protegidos, sob a nuvem  que os defendia contra os raios do sol durante o dia e os iluminava durante a noite, todos receberam uma espécie de batismo de Moisés representado na nuvem e no mar; todos comeram do prodigioso maná e todos beberam da água milagrosa que jorrou da pedra (a qual era figura de Jesus que na Pessoa do Filho de Deus estava entre eles, acompanhando-os). Pois bem, a maior parte deles pereceram no deserto, sem entrarem na terra prometida. (O mesmo vos poderá acontecer, negando-vos Deus a entrada no reino dos céus se, apelando unicamente para os dons de Deus, e pelo único fato de pertencerem a única verdadeira Igreja, vos recusardes a lutar contra os maus instintos do vosso corpo). 

  Caríssimos e amados fiéis, terminemos com esta oração: Infundi em nós, ó Jesus, nova força a fim de recomeçarmos com mais coragem a marcha que nos deve levar à conquista da incorruptível coroa da santidade. Com as palavras de Santa Teresa Margarida do Coração de Jesus a Vós me dirijo: "Para vencer a repugnância da minha natureza, prometo-Vos declarar uma guerra sem tréguas contra mim mesmo; as armas para o combate serão: a oração, a presença de Deus e o silêncio. Mas, ó meu Amor, Vós conheceis bem a minha incapacidade no manejo destas armas. Não obstante, armar-me-ei com as armas duma confiança absoluta em Vós, paciência, humildade e conformidade ao Vosso querer divino, unidas a uma suma diligência... E quem me ajudará a combater numa guerra contínua contra tantos inimigos que pelejam contra mim? Ah! bem vejo que Vós, ó meu Deus, quereis ser o meu capitão e, arvorando o estandarte da cruz, amorosamente me dizeis: - Vem após mim e não duvides" (Espiritualidade, páginas. 323 e 324). Amém!

   

   

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

SERMÃO: NOSSA SENHORA, CONSOLADORA DOS AFLITOS

Consolatrix aflictorum! Ora pro nobis!
Consoladora dos aflitos! Rogai por nós!

   Consoladora dos aflitos! A quem não arrebata este título que soa tão bem e sempre soará aos ouvidos humanos! Porque na verdade, caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo, quem há que não precise de consolação ou que presuma que não há de vir a precisar dela um dia? A aflição, a dor, o sofrimento apresentam-se-nos a todas as horas e debaixo de mil formas e é este o apanágio mais seguro e certo da humanidade. Desde que pelo pecado original se converteu em vale de lágrimas para o homem a terra que devia começar a ser o seu paraíso de flores, os espinhos são a primeira coisa que o infeliz colhe durante sua breve passagem por ela. Calca -os picantes e dolorosos, o potentado como o mendigo, o sábio como o rude, sem que nesse ponto haja condição de pessoas que possam considerar-se privilegiadas.
   Quem não buscar na Religião a sua única consolação e alívio, em vão os procurará noutra parte. Vejamos, então, segundo o ensinamento das Sagradas Escrituras a origem e a razão de ser do sofrimento. Desde o momento em que da fronte do primeiro homem rolou o diadema da justiça original com o primeiro pecado, entrou o sofrimento no mundo. A grande sentença da justiça eterna de Deus retumbou pelos horizontes do Éden: "De ora em diante, disse Deus a Adão, comerás com o suor de teu rosto o pão de cada dia. A dor misturar-se-á com todos os dias da tua existência. Tu és pó, e em pó tu hás de tornar".
   A dor! Eis a estranha palavra que de agora em diante ressoará na vida de todos os homens. Eis a origem universal da dor - o pecado. O homem que recebeu de Deus a liberdade para ser mais feliz merecendo para o céu, abusou desta liberdade e tornou-se infeliz pelo pecado. Mas Deus, como Pai amoroso que se inclina sobre seus filhos para derramar-lhes bálsamo nos corações dilacerados, ofereceu logo remédio para a dor, não eliminando-a da face da terra, mas transformando-a em meio de purificação e consecução da felicidade eterna. Logo depois da culpa de nossos primeiros pais, prometera um Salvador, que veio ao mundo não para eliminar a dor, mas Ele mesmo sofreu e morreu antes de entrar na Glória e assim nos deu a possibilidade, de sofrendo juntamente com Ele, podermos entrar também no céu.
   Caríssimos e amados irmãos, a dor tem, portanto, a sua razão de ser: É meio de purificação, é meio de conversão, é meio de aperfeiçoamento pela semelhança que nos dá com Jesus Cristo, e outrossim, é graça de predileção. Consideremos estes vários pontos.
   Primeiramente, o sofrimento, as doenças, as aflições, podem ser um castigo de pecados pessoais, e um meio de purificação e conversão. Eis um fato evangélico: o paralítico da piscina Probática. Subiu Jesus a Jerusalém. E lá ao lado do Templo havia uma piscina probática, chamada Betsaida, que quer dizer "das ovelhas", porque era aí que se lavavam as ovelhas e demais vítimas destinadas ao sacrifício. Era cercada de cinco pórticos e sob estes pórticos jazia uma grande multidão de enfermos, cegos, coxos e paralíticos que esperavam o movimento das águas, porque um anjo do Senhor descia a esta piscina em certos tempos e a água se agitava. Aquele que nela entrasse primeiro, depois do movimento da água, ficava curado de qualquer enfermidade que padecesse. Ali se achava um homem que estava enfermo havia 38 anos. Jesus vendo-o disse-lhe: "Queres ficar são?" "Senhor, respondeu-Lhe o enfermo, não tenho ninguém que me lance na piscina quando a água se agita, e enquanto eu vou indo, desce outro antes de mim". Disse-lhe Jesus: "Levanta-te, toma o teu leito e anda". E este homem ficou curado no mesmo instante. O paralítico vai depois ao templo dar graças a Deus por ter sido curado e recebido o perdão de seus pecados. Jesus o encontrou lá no templo e disse-lhe: "Eis que estás curado, mas não tornes a pecar, para que te não suceda alguma coisa pior". Estas palavras de Jesus provam que a longa enfermidade daquele homem era um castigo de seus pecados precedentes. Aliás, a Sagrada Escritura no livro do Eclesiástico capítulo XXXVIII, 15 diz:"Aquele que peca na presença de quem o criou,  virá a cair nas mãos do médico".
   Todavia, nem sempre se pode dizer que a doença é um castigo, mas é uma provação, uma ocasião para Deus Nosso Senhor mostrar o seu poder, sua bondade e por conseguinte sua Glória como aconteceu a Jó, Tobias e ao cego de nascimento. Sobre este último, lemos no Evangelho de São João IX, 1 e seguintes: Passando Jesus, viu um homem cego de nascimento. Perguntaram os discípulos: "Mestre quem pecou? Este homem ou os seu pais, para nascer cego?" Uma pergunta meio sem pé e sem cabeça. Mas Jesus bondosamente como sempre, respondeu: "Não nasceu cego porque ele ou seus pais tivessem pecado, mas para que se manifestassem nele as obras de Deus".
   Na verdade, para todos os homens, o sofrimento não deixa de ser uma graça de purificação. Quem pode gabar-se de ser inocente? Todos nós deveríamos dizer com Santo Agostinho: "Aqui, Senhor, na terra, queimai, cortai, mas poupai-me na eternidade".
   Nas provações devemos ver não a mão dos homens que nos afligem mas a mão de Deus que se serve deles para nos afligir. Vede Jó, a perda dos bens, a morte dos filhos, a doença, foram a consequência da malícia do demônio. No entanto, Jó não diz: o demônio me tirou tudo, mas Deus me despojou de tudo. Lemos na Bíblia que um servo do Rei Davi, chamado Semei, atirou-lhe pedras e o insultou. Abissai outro servo de Davi, indignado disse: "Eu irei e matarei este cão morto, qu insulta o meu rei. Davi respondeu: "Deixai-o maldizer conforme a permissão do Senhor, talvez o Senhor olhe para minha aflição e me dê bens pelas maldições que sofri neste dia".
   Deus, caríssimos irmãos, condena a malícia da má obra, mas reverte o efeito desta malícia em benefício de seus escolhidos.
   O sofrimento é também muitas vezes uma graça de conversão. Há realmente muitos que se convertem na doença. Para muitos pecadores, é o último recurso da misericórdia divina para dobrá-los.
   O sofrimento é também uma graça de aperfeiçoamento. "A tribulação, diz São Paulo, produz a paciência, a paciência produz a constância, e a constância produza a  fé e a caridade". (Rom. V, 3).
   Para ser justo e por ser justo Deus manda sofrimento. É o que Deus declara ao santo homem Tobias através do anjo São Rafael: " Porque eras agradável a aceito do Senhor, foi preciso seres provado pela aflição."
   Donde o sofrimento é uma graça de predileção. Que herança Deus preparou neste mundo a seu amantíssimo Filho? A pobreza, a humilhação, a morte mais cruel. Que herança Nosso Senhor deixou aos Apóstolos? "Sereis perseguidos e chorareis. Felizes sereis quando vos perseguirem, vos caluniarem. Alegrai-vos porque será grande a vossa recompensa no céu". Por uma curta e passageira tribulação um peso imenso de glória e felicidade por toda a eternidade.
   Que herança deixa Jesus à Sua Mãe Santíssima? Ele deixou os momentos tristes do Calvário. Reserva para ela esta hora de supremas amarguras. Ah! compreendemos: É porque Ele desejava dar muito maior glória à sua Mãe no seio da eternidade!.
  
   Deus como Pai cheio de misericórdia e bondade que é, mesmo permitindo os sofrimentos para nosso bem, não deixa de nos prodigalizar um consolo para nossas aflições. Como um pai que se sente forçado a castigar o filho para o seu bem, mas depois, sente pena e procura, de alguma maneira, suavizar o castigo, recorrendo ao carinho da mãe, assim, comparando dentro das devidas proporções, Deus age para conosco. E como está tão alto, infinitamente acima de nós, seu coração misericordioso dá-nos a Virgem Mãe, para consolação de nossas almas. E o provamos pelas Sagradas Escrituras e a experiência no-lo confirma.
   Abramos as primeiras páginas da Bíblia: Sobre aquele quadro fatídico e tenebroso em que Deus castigou nossos primeiros pais e amaldiçoou a serpente infernal, causadora do pecado, Deus lançou um raio de luz e de esperança. "Porei inimizades, disse Deus à serpente, entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela. E ela te esmagará a cabeça". (Gen. III, 15). E quem poderá ser esta mulher privilegiada, vencedora eterna da serpente e do pecado, senão Aquela que trouxe à terra o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo!
    Consideremos outra passagem da Sagrada Escritura (Is. VII, 1 e seg.): Quando Acaz, rei de Jerusalém, e todo o seu povo ficou com o coração agitado como se agitam as árvores das selvas com o ímpeto do vento por causa da ameaça de  guerra dos reis de Israel aliados com o rei da Síria, Deus, através do profeta Isaías, mandou dizer a Acaz que ele com o seu povo não se afligisse porque os inimigos seriam vencidos. E Deus mandou Acaz pedir um sinal como prova desta vitória e da paz. Algo extraordinário que lhe garantisse a tranquilidade. Por causa de sua incredulidade Acaz não quis pedir. Então, Deus mesmo lhe deu o grande sinal, algo extraordinário: "Eis que uma Virgem conceberá e dará a luz um filho e o seu nome será Emanuel". Quem é esta Virgem que deu a luz ao Príncipe da paz, senão a Sempre Virgem Maria Santíssima como atesta o próprio Evangelista São Mateus, I, 22. É a consoladora dos aflitos.
    Há outra passagem da Sagrada Escritura muito conhecida dos todos os carmelitas: 1 Reis, XVIII, 41 e segs. Houve em Israel uma terrível seca de três anos e meio e a consequente fome. O profeta Elias sobe o monte Carmelo e lobriga ao longe uma nuvenzinha, nuvem esta que vai crescendo e logo se desfaz em copiosa chuva. De quem esta nuvem é figura? Senão de Maria Santíssima, pois que os santos patriarcas da Antiga Lei, na aflição em que viviam entre o paganismo pediam ansiosamente a Deus, que as nuvens chovessem o justo, o Salvador: "Rorate coeli desuper, et nubes pluant justum". ( Isaias, XLV, 8): "Derramai, ó céus, lá dessas alturas o vosso orvalho, e as nuvens façam chover o Justo". Qual é esta benéfica nuvem que nos trouxe o Salvador: Maria Santíssima. Nossa Senhora do Monte Carmelo! Consoladora dos aflitos! Rogai por nós!
   Mas esta mística nuvem se desfez em uma chuva de lágrimas no alto de um outro monte: no Monte Calvário. Foi ali que Maria mereceu em toda plenitude o título de consoladora das nossas dores. Ninguém poderá consolar realmente aos que sofrem se não houver provado o cálice das amarguras humanas. Não houve decepção humana, não houve angústia humana, não houve ingratidão humana, não houve incompreensão humana, não houve sofrimento que a Virgem não provasse desde Belém até o alto do Calvário. As coroas todas que cingiram a sua fronte augusta a colocaram imensamente acima de nós, mas a coroa de espinhos que o Calvário lhe teceu a aproximou imensamente de nós. Fez com que ela fosse nossa Mãe pelo dom do sofrimento. Vendo extinguir-se a Vida que ela gerou sem dor, deu-nos a vida, gerando-nos na dor.
   Ah! caríssimos e amados irmãos, como é real o papel de Nossa Senhora na missão augusta de lenir os sofrimentos e consolar as aflições. Todos nós que sofremos, podemos abrir o coração como um livro de testemunhos e ler o depoimento de nossa alma escrito com a tinta das próprias lágrimas. Ter Nossa   querida Mãezinha do Céu no fundo do coração é rasgar o manto tenebroso do próprio infortúnio para que o seu olhar materno derrame bálsamo nas feridas mais ocultas e pungentes das nossas almas.
   Há quase 63 anos uma senhora   muito devota da Virgem Mãe de Deus teve o seu segundo filhinho quando o primogênito ainda não tinha  completado 11 meses. Sentiu grande aflição em ver a criança tão pequena e fraquinha. E mais aflição ainda ao ver que suas orelhinhas eram sem nenhuma consistência e portanto caídas. Fez de uma meia uma toquinha bem apertada. Mas qual não era sua angústia em ver que, ao tirar a toquinha, as orelhinhas do filho caím novamente. Foi aos médicos. Hoje não teriam dificuldade nenhuma; mas há  60 anos atrás a medicina neste ponto não tinha muito recurso. Disseram, para grande tristeza daquela angustiada mãe, que não havia jeito. Confiando em Nossa Senhora, Consoladora dos aflitos, fez uma novena a Nossa Senhora das Graças. No último dia da novena o menino estava curado, com as orelhinhas normais. Este menino, 26 anos depois, foi ordenado padre. E não teria podido sê-lo se Nossa Senhora não o tivesse curado. Hoje, pela graça de Deus este padre é usuário de dois blogs onde procura fazer o maior bem possível às almas. E este padre, é  o  mesmo que vos escreve. Ó minha Mãe do Céu, puxai minhas orelhas por eu não corresponder devidamente a tantos benefícios, ajudai-me e protegei-me!
   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo! Navegamos num grande e tenebroso mar, que é o mundo, à procura do novo mundo que é o céu, a pátria do repouso eterno. Mas não esqueçamos nunca que Maria Santíssima é a ponte mística por Deus mesmo estendida entre o paraíso que perdemos e o Paraíso que esperamos. Na verdade a viagem é longa e penosa. Quantas tempestades, quantos naufrágios. Caríssimos fiéis, no meio dos perigos, das angústias, consoante o conselho de São Bernardo, recorramos sempre à Maria.
   Se as tempestades das tentações se levantarem, se os escolhos das tribulações vos ameaçarem, erguei os olhos para a Estrela do Mar.
Digamos, inspirados em S. Bernardo:
   Se as vagas da soberba, da cólera, da inveja vos sacudirem, se os prazeres da carne agitarem o barco de vossa alma, se a enormidade de vossos pecados vos perturbar, pensai em Maria, ou antes, lançai-vos em seus braços. Levados e protegidos por Ela, triunfareis de todos os perigos, vencereis todos os obstáculos, saireis incólumes de todas as tentações, e chegareis seguramente às praias de Eterna Bem-aventurança. Assim seja!
  
  
  
  

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

MATÉRIA E FORMA, EFEITOS, MINISTRO E SUJEITO DO SACRAMENTO DA ORDEM

   I - MATÉRIA E FORMA:
   1º) Matéria: A) Na Igreja Latina, confere-se a Ordem - a) por meio da IMPOSIÇÃO DAS MÃOS, e b) por meio da apresentação dos objetos a serem utilizados nas funções sagradas da Ordem que se recebe: livro dos Evangelhos para o diaconato; cálice e patena para o Presbiterato; oferta da Cruz, do anel e da mitra para o Episcopado. B) Na Igreja Grega, faz-se apenas a imposição das mãos.
   2º) Forma: A forma consiste nas palavras que o Bispo pronuncia, enquanto impõe e faz o ordenando tocar os objetos que hão de servir para as funções da ordem conferida.

   II - EFEITOS DO SACRAMENTO DA ORDEM:
   1) A Ordem confere "o poder de consagrar, de oferecer e de administrar o Corpo e o Sangue de Cristo, de perdoar e reter os pecados" (Conc. de Trento ses. XXIII, cap. I) - "Todo pontífice, diz São Paulo, foi estabelecido em favor dos homens no que diz respeito ao culto de Deus, a fim de oferecer dons e sacrifícios pelos pecados". (Heb. V, 1). Ora, já que em o Novo Testamento há somente um sacrifício, o do Corpo e Sangue de Jesus Cristo, é sobretudo para celebrar a Eucaristia que os padres recebem o Sacerdócio.
   2) A Ordem concede um aumento da graça santificante, visto ser sacramento de vivos.
 3) Graça sacramental própria deste sacramento: o direito de receber os socorros atuais necessários para o bom desempenho das funções sagradas. Estes auxílios hão de variar conforme as disposições do sujeito.
   4) Finalmente a Ordem imprime na alma caráter indelével. Um padre nunca deixará de ser padre. A pena de suspensão, deposição, ou degradação tira-lhe o direito de exercer suas funções, mas não pode apagar o caráter que recebeu, nem o priva do poder de ordem, inseparável do caráter. Portanto, o padre interdito, suspenso, consagraria validamente o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo. Um bispo apóstata ou deposto administraria validamente os sacramentos da Confirmação e da Ordem. Procederiam, no entanto, de modo gravemente ilícito, cometendo sacrilégios.

   III - MINISTRO:
   1º) Para a validade: a) só o Bispo é ministro ordinário do Sacramento da Ordem. b) Um simples sacerdote, com delegação do Sumo Pontífice, pode ser ministro extraordinário da tonsura, da ordens menores e do subdiaconato.
    2º) Para a liceidade, o bispo deve: a) ter jurisdição sobre os candidatos que ordena; b) observar todas as normas canônicas, sendo que as principais fixam o tempo, o lugar e o sujeito da ordenação.

   IV - SUJEITO DO SACRAMENTO DA ORDEM:
   1º) SUJEITO: Só o homem batizado pode receber as Ordens.
   2º) CONDIÇÕES EXIGIDAS: A) Para a validade: a) pertencer ao sexo masculino; b) Ter sido batizado. Além disso, devem ter a intenção, pelo menos habitual, de receber o sacramento.
                                                     B) Para a liceidade: será ordenado licitamente apenas o sujeito que, além do estado de graça, necessário para qualquer sacramento de vivos, a) tiver as devidas qualidades, a juízo do Bispo (por exemplo: ter a vocação sacerdotal, ter sido crismado, possuir a ciência e piedade requeridas, ter recebido as ordens inferiores, ter observado os intervalos entre a recepção de cada ordem); b) estiver isento de toda a irregularidade e impedimento.

"DEPOIS DE DEUS, O SACERDOTE É TUDO... DEIXAI UMA PARÓQUIA VINTE ANOS SEM  PADRE E AÍ SE ADORARÃO OS ANIMAIS" (Santo Cura d'Ars).

domingo, 2 de fevereiro de 2020

HOMILIA DOMINICAL - 4º Domingo depois da Epifania

   Leituras: Epístola aos Romanos, 13, 8-10; Evangelho segundo São Mateus, 8, 23-27.

   Caríssimos e amados leitores em Nosso Senhor Jesus Cristo!

   Esta barca agitada pela tempestade é uma das mais perfeitas imagens da Igreja, que transporta sobre o mar deste mundo os discípulos e servos de Jesus. O divino Mestre está lá também, realmente presente, mas oculto e parecendo dormir.
   Quantas e quantas vezes, desde 20 séculos, a Igreja tem visto a sua existência ameaçada pelas tempestades! Quantas perseguições, ou cruentas e declaradas, ou surdas e hipócritas! Mas devemos ter fé porque Jesus disse: "Eu estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos". De fato, a Igreja conhece o poder d'Aquele que vela, quando parece dormir. A Igreja é indefectível, malgrado todas as borrascas: perseguições sangrentas e/ou heresias e cismas. As portas do inferno jamais prevalecerão contra a Igreja de Cristo!
   Esta barca é também figura de nossa pobre alma, tantas vezes batida por toda espécie de tempestades, durante a viagem no mar perigoso deste mundo. Abandonados a nós mesmos, pereceríamos infalivelmente. Mas se Jesus está conosco e é a nosso favor, que receio podemos ter? Felizes as almas que trazem Jesus consigo e sabem recorrer a Ele!
   Caríssimos e amados irmãos, as tempestades que acometem a nossa alma são muitas e variadas. São exteriores ou interiores. Entre as exteriores podemos enumerar: as doenças mais imprevistas, longas, dolorosas, dispendiosas; o luto, a perda dos que nos são caros, cuja morte nos enche de grande tristeza; a perda dos bens de fortuna, que nos precipita na miséria ou em dificuldades; calúnias, ódios, processos injustos, vinganças a que nos encontramos expostos, ainda que inocentes etc., etc.
   Tempestades interiores: as tentações; e mais ordinariamente o demônio deixa em paz os seus escravos. "Os cães não mordem nas pessoas da casa" diz São Francisco de Sales. Podemos ainda enumerar: os escândalos, as seduções do mundo, com as suas máximas falsas, as suas ilusões e os seus prazeres; as nossas paixões que rugem no íntimo do nosso ser e tentam revoltar-se contra o espírito, para nos arrastar ao mal, principalmente o orgulho, a ira, a ambição, a impureza.
   O espírito de fé diz-nos, entretanto, que qualquer luta ou tempestade da vida é sempre querida, permitida ou pelo menos não impedida por Deus. Como dizia Santa Teresinha: "Tudo é graça, tudo é fruto do amor infinito de Deus". Deus é Pai que nos prova unicamente porque nos ama.

Lago de Genesaré, 13km de largura e 20 km de comprimento

   As tempestades da nossa vida fazem que reconheçamos a nossa fraqueza e nos obrigam a recorrer a Jesus; porque sem Ele o que seria de nós?!  No meio das tempestades rezamos com mais fervor; praticamos as virtudes mais sublimes: a fé, a confiança em Deus, a submissão à Sua vontade, a paciência e a caridade. As provações servem para, nesta vida, expiarmos as nossas faltas e as nossas imperfeições e merecermos uma coroa melhor no céu. E sobretudo nos tornam mais semelhantes a Jesus.
   Assim, fazendo da nossa parte o que pudermos, ponhamos toda a nossa confiança em Jesus e apressemo-nos a recorrer a Ele com fé e amor. Caríssimos, não deixemos passar uma tão bela ocasião de praticar a humildade, a penitência, a paciência e de aumentar assim os nossos méritos para o céu.
   Irmãos caríssimos, não esqueçamos que, mesmo nestas tempestades, Jesus não teve em vista senão um maior bem para nós; agradeçamos-Lhe com toda a nossa alma; conservemo-nos sempre em união com Ele e seremos auxiliados. Jesus, o importante é que estejais no coração de cada um de nós! Amém!

EXPLICAÇÃO DA EPÍSTOLA DO 4º DOMINGO DEPOIS DA EPIFANIA


Romanos XIII, 8-10
"A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor mútuo, porque aquele que ama o próximo, cumpriu a lei. Em verdade, estes mandamentos: - "Não cometerás adultério; não matarás; não furtarás; não dirás falso testemunho; não cobiçarás" - e qualquer outro mandamento, todos se resumem nesta palavra: amará o teu próximo com a ti mesmo. O amor do próximo não faz o mal. Logo, o amor é o complemento da lei".


Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

São Paulo começa ensinando que, quem ama o próximo por amor a Deus cumpre, não somente a lei da caridade, senão também toda a lei de Deus, isto é, cumpre todos os mandamentos.

Na verdade, o amor do próximo, longe de ser de natureza diferente do amor de Deus é, uma única e mesma coisa. Não há, pois, separação entre esse dois sentimentos, sendo o amor do próximo o transbordar do próprio amor de Deus.  Como já ensinara o Divino Mestre, o amor verdadeiro se manifesta sobretudo em relação aos inimigos. Portanto o motivo do amor  verdadeiro ao próximo não pode se basear em motivos puramente humanos, ou seja, simpatia, beleza, interesse, liame de sangue etc. Seria amor puramente humano. E como disse Jesus: isto até os pagãos fazem. Portanto o amor verdadeiro é sobrenatural porque tem por motivo o amor de Deus. Por exemplo como fazer o bem a estranhos, e mais, como perdoar e fazer bem aos inimigos que nos odeiam. Só o amor de Deus nos pode levar a isto! Foi assim que Jesus fez, e assim os santos O imitaram. É o amor de Deus que me impele a amar o que o mundo rejeita. É o amor de Deus que me mostra em cada coração um templo do Espírito Santo, ou que possa vir a sê-lo. Assim o amor de Deus e o amor do próximo vêm, pois, a ligar-se de tal forma que lá não existe o primeiro onde falta o segundo. É no amor de Deus, que o amor do próximo tem seu motivo e sua fonte. E se quisermos saber se temos o lídimo amor a Deus, é só verificarmos se amamos o próximo verdadeira e desinteressadamente.


O afeto que liga dois corações não se revela apenas na íntima satisfação por ele experimentada  ou, então, na tristeza que os martiriza na separação, e sim, acima de tudo, no respeito, nos favores, nos sacrifícios, nos auxílios mutuamente dados e recebidos. Hoje infelizmente reina o egoísmo. Mas ama verdadeiramente quem deseja o bem da pessoa amada, e até se sacrifica em benefício dela, sempre por amor a Deus e para imitar a Jesus Cristo, Nosso Senhor. Quem tem este amor sobrenatural ao próximo cumpre toda lei, isto é, observa todos os mandamentos. Amém!