SAUDAÇÕES E BOAS VINDAS

LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO! PARA SEMPRE SEJA LOUVADO!

Caríssimos e amados irmãos e irmãs em Nosso Senhor Jesus Cristo! Sêde BEM-VINDOS!!! Através do CATECISMO, das HOMILIAS DOMINICAIS e dos SERMÕES, este blog, com a graça de Deus, tem por objetivo transmitir a DOUTRINA de Nosso Senhor Jesus Cristo. Só Ele tem palavras de vida eterna. Jesus, o Bom Pastor, veio para que Suas ovelhas tenham a vida, e com abundância. Ele é a LUZ: quem O segue não anda nas trevas.

Que Jesus Cristo seja realmente para todos vós: O CAMINHO, A VERDADE, A VIDA, A PAZ E A LUZ! Amém!

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Páginas Históricas do Concílio Vaticano II - ( 26ª )

O ESQUEMA SOBRE A IGREJA NO MUNDO MODERNO

   No Concílio, nenhum esquema foi assunto de tantas conversações como o esquema sobre a Igreja no mundo moderno. (...)

   (...) O novo esquema estava inteiramente nas mãos dos que determinavam a política da Aliança Europeia. 

   Eles tinham escolhido para secretário um liberal, o Padre Häring C.SS.R., professor de teologia moral. (...).

   (...) Mons. Heenan, Arcebispo de Westminster, que na época já tinha fundado o grupo de oposição conhecido pelo nome de "Conferências de São Paulo", declarou que o esquema era "indigno de um Concílio Ecumênico da Igreja". Ele propôs que o esquema fosse retirado da Comissão que se ocupara dele e confiado a outra comissão a ser constituída imediatamente. "Posteriormente", disse, "após três ou quatro anos, a quarta e última sessão do Concílio poderia ser convocada para a discussão de todos os problemas sociais". Predisse que o Concílio, que tinha passado tanto tempo a discutir "subtilezas teológicas", se tornaria "objeto de chacota do mundo se se atirasse agora, de olhos fechados, a um debate sobre a fome no mundo, a guerra nuclear e a vida de família". Também chamou a atenção para o fato de que, conforme as instruções, enquanto se deveria discutir o esquema, o suplemento não deveria sê-lo. "Mas" disse, "se não examinarmos cuidadosamente os dois documentos, a intenção do Concílio deverá ser interpretada perante o mundo pelos peritos que ajudaram os padres da comissão a redigir os documentos. Deus nos livre que isto aconteça! Tenho muito medo dos peritos, quando se deixa que eles expliquem o que os bispos querem dizer (...) Não adianta nada falar de um Colégio de Bispos se peritos, em artigos, livros e conferências, contradizem e ridicularizam o que grupo de bispos ensina (...) As teorias de um ou dois teólogos não devem ser confundidas com o consenso geral dos teólogos (...) Somente um "consenso geral", disse, tinha uma autoridade particular. (...)

   O Patriarca maronita Meouchi considerou que a estrutura do esquema carecia de lógica, que seu estilo era incerto e continha repetições. Segundo ele, o esquema dava impressão de que a Igreja havia sido instituída para se ocupar de boas obras e assuntos sociais, econômicos e políticos, e, de mais a mais, parecia pressupor uma concepção da História onde não havia lugar para a Providência. Ele insistia por uma revisão radical do texto.

   (...) Em 30 de dezembro a Comissão de Coordenação decidiu que o suplemento, ao menos no essencial, seria incluído no esquema. (...)

   A batalha tinha sido longa e dura, porém, mais uma vez os liberais, com a assistência dos Moderadores, tinham conseguido obter o que queriam. 

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Páginas Históricas do Concílio Vaticano II - ( 25ª )

O ESQUEMA SOBRE A REVELAÇÃO DIVINA

   (...) Mons. Compagnone, Bispo de Anagni, disse que era preciso não se afastar da doutrina do Concílio de Trento e do primeiro Concílio do Vaticano, que esclareciam ser a Tradição mais "extensiva" que a Sagrada Escritura, e que a Revelação estava contida não somente na Sagrada Escritura mas também na Tradição. (...)

   O Coetus Internationalis Patrum dirigiu a seus componentes uma crítica de dez páginas ao esquema, como uma carta de esclarecimento, declarando que, em consciência, se poderia votar em favor do esquema na quarta sessão, contanto que fossem feitas as correções indicadas. O Grupo insistia para que as correções fossem apresentadas antes de 31 de janeiro, prazo máximo, pois a experiência demonstrava que "as sugestões e correções enviadas às Comissões conciliares não tinham quase peso algum quando não eram apoiadas pelo maior número possível de assinaturas".

   Mas este esforço foi vão, pois, apesar do anúncio ter sido feito na aula conciliar, a Comissão de Teologia não procedeu a revisão alguma. 

   (...) As restrições diziam respeito sobretudo às relações entre Escritura e Tradição(art. 9), à inerrância da Escritura (art. 11) e à historicidade dos Evangelhos (art. 19). Desde o começo, estes três pontos tinham se revelado particularmente espinhosos, por causa da diversidade das escolas de pensamento teológico, da variedade de posições indicadas pelos estudos bíblicos modernos e das ocorrências ecumênicas. (...)

   (...) Uma emenda preparada pelo Coetus Internationalis Patrum tinha sido apresentada por 158 Padres Conciliares, visando substituir as palavras em litígio por "a história verídica e sincera", ou "uma narração histórica verdadeira". Os autores desta emenda sustentavam que um escritor pode ser sincero mesmo escrevendo um conto ou romance, e que o esquema limitava a verdade dos Evangelhos ao que se dizia de "Jesus", ao passo que deveria estar dito claramente que o que os Evangelhos traziam de outras pessoas era igualmente, sob o aspecto histórico, verídico e sincero. Oitenta e cinco outros Padres Conciliares haviam sugerido substituir as palavras "sobre Jesus, fatos verdadeiros e sinceros", por "verdades objetivas quanto à exatidão histórica dos fatos".

   No entanto, mais uma vez a Comissão de Teologia decidiu nada mudar no texto. (...)

   Como era de se esperar, tais decisões suscitaram grande decepção nos grupos minoritários interessados, tanto dentro quanto fora da Comissão. Protestos não demoraram a chegar ao Sumo Pontífice por diversas vias. Alguns especialistas sustentavam que o esquema continha graves erros doutrinários. Bispos reclamavam com insistência uma intervenção por parte da autoridade do Papa.(...)

   (...) Em 8 de outubro o Sumo Pontífice tinha recebido do Coetus Internationalis Patrum um memorando sobre o artigo 11. Diziam os autores que as palavras "a verdade relativa à salvação" tinham sido deliberadamente introduzidas para limitar a inerrância da Escritura às questões sobrenaturais concernentes à fé e à moral, o que estava em aberta oposição ao ensino constante da Igreja e estimulava os exegetas a se tornarem cada vez mais audaciosos. Outras reações provocadas por este artigo, representando os mais variados matizes de opinião, chegaram ao Papa tanto espontaneamente quanto por solicitação dele próprio. (...)

   (...) Em 18 de outubro, em carta dirigida ao Cardeal Ottaviani, presidente da Comissão de Teologia, o Cardeal Cicognani, Secretário de Estado, incluía outras observações do Sumo Pontífice sobre os três artigos em litígio, e informava ao Cardeal da intenção que tinha o Papa de reunir novamente a Comissão . Explicava ele que essas observações não tinham por objeto "alterar substancialmente o próprio esquema ou o trabalho da Comissão, mas antes melhorá-lo em certos pontos de grande importância doutrinal". 

sábado, 14 de dezembro de 2013

Páginas Históricas do Concílio Vaticano II - ( 24ª )

   "Nenhum texto foi submetido a tantas revisões pelo Concílio como o esquema sobre a liberdade religiosa. Antes de sua promulgação (sob forma de declaração) em 7 de dezembro de 1965, véspera do encerramento do Concílio, seis diferentes projetos tinham sido propostos, e um dos bispos americanos disse que sem seu apoio 'este documento nunca teria chegado à aula'. (...)

   O Cardeal Silva Henríquez, Arcebispo de Santiago do Chile, falando em nome de 58 bispos da América Latina, disse que o grande valor da declaração 'vinha de que ela era apresentada não como capitulo de um esquema, mas como uma declaração independente destinada a toda a humanidade'.'Eis aí,' disse, 'uma das razões particulares para que eles aprovassem o texto'. Não seria possível existir verdadeiro movimento ecumênico na América Latina, acrescentou, enquanto os cristãos não católicos não tomassem consciência do fato de que 'nós reconhecemos e defendemos sinceramente esta liberdade fundamental'.

   O orador seguinte foi o Cardeal Ottaviani. Ele disse que a declaração enunciava um princípio que sempre fora reconhecido, isto é, que ninguém pode ser constrangido em matéria de religião. Mas tinham exagerado em dizer que quem obedecia à consciência 'era digno de honra'. Melhor seria dizer que era digno de tolerância ou de respeito e caridade. Afirmou que 'o princípio segundo o qual todo indivíduo tem o direito de seguir a própria consciência deve pressupor que esta consciência não seja contrária ao direito divino'. Faltava no texto 'uma afirmação explícita e solene do primeiro e autêntico direito à liberdade religiosa, que pertence objetivamente aos que aderem à verdadeira religião revelada'. Seu direito, disse, é ao mesmo tempo objetivo e subjetivo, ao passo que aqueles que estão no erro possuem apenas um direito subjetivo. O Cardeal acrescentou que era 'extremamente grave' declarar que toda espécie de religião era livre de se propagar. 'Disto resultaria um evidente perigo para as nações onde a religião católica é aquela à qual o conjunto da população adere'. Disse, igualmente, que um Concílio Ecumênico não podia ignorar o fato 'de que os direitos da verdadeira religião estão fundamentados não somente em direitos puramente naturais, mas também, em um grau bem mais alto, nos direitos decorrentes da Revelação'.

   O Cardeal Ruffini, Arcebispo de Palermo, observou que, embora existisse uma só verdadeira religião, o mundo estava mergulhado nas trevas e no erro e, como consequência, era preciso praticar a tolerância e a paciência. Era importante estabelecer adequadamente a distinção no texto, para não haver o perigo de o Concílio parecer homologar o indiferentismo religioso e nada dizer além do que disseram as Nações Unidas em sua Declaração Universal dos Direitos do Homem em 1948. Acrescentou que certas frases do texto deixavam entender que o Estado não tinha o direito de favorecer determinada religião; se era assim, as concordatas assinadas entre a Santa Sé e a Itália, Portugal, Espanha e República Dominicana deveriam ser revistas. 

   O Cardeal Quiroga y Palacios, Arcebispo de Santiago de Compostela, pediu que o texto fosse inteiramente revisado. A julgar pelo estilo e linguagem adotados, a preocupação dominante parecia ser a de favorecer a união com os irmãos separados, sem que fossem levados suficientemente em conta os gravíssimos perigos a que, com isto, estariam expostos os fiéis católicos. Afirmou que o texto estava repleto de ambiguidades, que nele se pregava uma nova doutrina em prejuízo da doutrina tradicional, e o Concílio se via convidado a dar sua aprovação àqueles liberalismo que a Igreja tinha tantas vezes condenado.

   O Cardeal Bueno y Monreal, Arcebispo de Sevilha, disse que todo o texto estava penetrado de dupla ambiguidade. Somente a Igreja Católica recebera de Cristo o mandado de pregar a todas as nações. Objetivamente falando, nenhuma outra doutrina religiosa tinha o direito de se propagar. No domínio social, toda liberdade está sujeita a limitações decorrentes dos direitos e liberdades dos outros, bem como das exigências da lei e da ordem. Sustentou que o direito de pregar sua própria religião era válido só na medida em que dizia respeito aos que livremente tinham optado por escutar, mas não para os que não queriam escutar. Aqueles que não estavam dispostos a aceitar a propagação de falsas religiões ou ensinamentos morais nefastos, sem dúvida alguma tinham o direito de requerer que esta propagação pública não fosse autorizada. (...)

   À medida que terminava o primeiro dia de discussão sobre a liberdade religiosa, ficava claro que este não era um assunto de que o Concílio pudesse tratar apressadamente.

   O Cardeal Browne, da Cúria, disse, que a declaração não podia ser aprovada como estava. Ele foi apoiado por Mons. Parente, Arcebispo-membro da Cúria, que se baseou no fato de que no texto os direitos de Deus estavam subordinados aos direitos e à liberdade do homem; seria uma lástima, disse, que a Igreja fizesse uso de seu magistério extraordinário para proclamar a absoluta liberdade religiosa.

   O Padre Fernández, Superior Geral dos Dominicanos, sustentou que o texto devia ser inteiramente corrigido, pois estava contaminado de naturalismo.

   Mons. Carlo Colombo, decano da Faculdade de Teologia do grande Seminário de Milão, disse que a declaração sobre a liberdade religiosa era 'da mais alta importância', não somente em razão de suas consequências práticas, mas também, e talvez sobretudo, em razão do juízo que dela fariam os homens cultos. Eles veriam aí uma chave para abrir a possibilidade de um diálogo entre a doutrina católica e a mentalidade moderna. Pediu que o conteúdo doutrinal do texto fosse mais desenvolvido e mais bem estruturado, principalmente no que dizia respeito às referências feitas aos principais fundamentos do doutrina católica em matéria de liberdade religiosa. Disse ele que, em essência, o texto apresentava 'uma aplicação nova de princípios imutáveis'. O que Mons. Colombo dizia era considerado de grande importância, pois era o teólogo pessoal do Papa. 

  Logo após sua intervenção, votou-se o encerramento do debate. Contudo, na Congregação Geral seguinte, quatro novos oradores tomaram a palavra em nome de setenta e tantos Padres Conciliares. Todos eles falaram de modo enérgico em favor do texto, alegando que uma simples declaração sobre a liberdade religiosa não era suficiente, e que os fundamentos doutrinários deviam ser expostos. 

   Assim terminou a discussão sobre a liberdade religiosa. Mais uma vez o Secretariado para a União dos Cristãos pôs-se a preparar nova revisão. Era o terceiro projeto; seria preciso um quarto, um quinto, depois um sexto, para que o documento estivesse pronto para ser promulgado."

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Páginas Históricas do Concílio Vaticano II - ( 23ª )

   "O Cardeal Siri, Arcebispo de Gênova, trabalhando em colaboração com Mons. Rossi, professor em seu grande seminário, preparou e mandou imprimir numerosos comentários e observações sobre os esquemas; esses documentos foram largamente difundidos entre os elementos conservadores da hierarquia italiana e das hierarquias de língua espanhola e portuguesa, da Europa e da América Latina.

   (...) Mons. Proença Sigaud, Arcebispo de Diamantina, no Brasil, fundou e dirigiu a Coetus Internationalis Patrum (Grupo Internacional de Padres), apresentando - com a Cúria Romana - como o máximo de conservadorismo e como o freio dos elementos progressistas do Concílio, e que foi muito maltratado na imprensa, em revistas e livros, mesmo sendo sua finalidade fazer ouvida a voz das minorias conservadoras. 

   Durante as duas primeiras sessões, Mons. Proença Sigaud organizou conferências semanais, mas os membros italianos se retiraram quando correu o boato de que Mons. Capovilla, Secretário particular de João XXIII, tinha declarado que não consideraria ofensivas ao Papa eventuais críticas dirigidas contra a Cúria Romana. Novo esforço veio do número de votos dos que se pronunciaram contra a fusão do esquema sobre a Santíssima Virgem Maria com o esquema sobre a Igreja, o que provava, segundo Mons. Proença Sigaud, que um número bastante grande de Padres Conciliares 'se esforçava por orientar o Concílio na linha doutrinal tradicionalmente seguida pela Igreja'. Mas não se achou cardeal algum que tivesse a audácia de dar à organização o apoio que lhe era necessário, até que em 29 de setembro de 1964, durante a terceira sessão, o Cardeal Santos, Arcebispo de Manilha, aceitou ser o seu porta-voz no Sacro Colégio.

   O grupo então comprou uma pequena impressora rotativa offset, que foi instalada perto do Vaticano, e recrutou pessoal de escritório. Três dias depois de sua entrevista com o Cardeal Santos, Mons. Proença Sigaud publicou um boletim anunciando que o Coets Internationalis Patrum organizaria, toda terça-feira à noite, uma conferência aberta a todos os Padres Conciliares. Tais reuniões teriam por objetivo 'estudar, com a ajuda de teólogos, os esquemas do Concílio à luz da doutrina tradicional da Igreja e dos ensinamentos dos Sumos Pontífices'. As reuniões eram patrocinadas pelos cardeais Santos, Ruffini, Siri, Larraona e Browne. 

   O Coetus Internationalis Patrum não demorou a se tornar tão ativo e a exercer tal influência que a Aliança Europeia ficou indignada; segundo um dos cardeais da aliança, Mons. Proença Sigaud 'estava bom para ser enviado para a Lua', e a Katholische Nachrichten Agentur, agência de imprensa católica subvencionada pelos bispos alemães, o qualificou de arqui-conservador e o acusou, bem como aos membros de seu grupo, de trabalhar ocultamente contra os objetivos do Concílio. Apesar disto, uma onda quase ininterrupta de circulares, comentários sobre os esquemas, intervenções e emendas afluíam de sua pena e da dos bispos e teólogos que ele tinha reunido. Muito tempo antes de um esquema vir à discussão, já estava definido um programa de ação esclarecendo os aspectos do esquema que convinha apoiar ou combater, nas intervenções orais ou escritas. 

   Em 9 de novembro de 1963, durante a segunda sessão, Mons. Carli, Bispo de Segni, um dos membros mais ativos do grupo, preparou para o Sumo Pontífice uma carta na qual lhe suplicava 'que pedisse aos Cardeais Moderadores que se abstivessem inteiramente de intervir publicamente em seu próprio nome, tanto dentro como fora da aula conciliar'. Dizia que, aos olhos de todos, eles apareciam como 'os intérpretes do pensamento do Sumo Pontífice' e se suspeitava que pendiam 'para certa direção bem precisa'. Mas o Cardeal Ruffini o desaconselhou de enviar a carta, e ele não a remeteu.

   O Padre Ratzinger, teólogo pessoal do Cardeal Frings, estando um dia à mesa com um grupo, disse que os liberais, depois de alcançarem a maioria nas comissões, tinham pensado ter as mãos livres no Concílio, mas que as intervenções e votos começavam a lhes mostrar que suas proposições se chocavam com certa resistências que as Comissões deveriam levar em conta por ocasião das revisões dos esquemas. Ratzinger ignorava que Mons. Proença Sigaud estava sentado a pouca distância dele, rindo disfarçadamente ao perceber um representante da Aliança Europeia reconhecer publicamente o fato". 

   N.B.: Numa conversa que certa vez tive com D. Antônio de Castro Mayer, de santa memória,  especialmente sobre o Concílio Vaticano II, Sua Excelência deixou bem claro o seguinte (embora não me lembre exatamente das suas próprias palavras): "Pela graça de Deus, nós Padres do Concílio, conservadores, (Coetus Internationalis Patrum) fizemos o que pudemos, e saímos do Concílio com dois sentimentos: primeiro com a consciência tranquila do que fizemos durante o Concílio, e saímos do Concílio com a obrigação em consciência de procurar nos anteciparmos aos progressistas, procurando dar a interpretação tradicional naquilo que fosse possível e afastar os nossos fiéis dos efeitos daquelas coisas que víamos serem perniciosas. Inclusive, diante das ideias progressistas dominantes no Concílio (arredondando os números: eram 2000 liberais contra 200 conservadores) alguns conservadores quiseram simplesmente abandonar o Concílio, mas D. Antônio e D. Lefebvre acharam melhor permanecer e lutar o quanto pudessem durante o Concílio e depois dele, procurar desfazer na medida do possível as interpretações desastrosas encubadas nas inúmeras ambiguidades.  Foi também o que eles aconselharam a alguns que quiseram abandonar o Concílio. 

   

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Páginas Históricas do Concílio Vaticano II - ( 22ª )

   "Em 5 de março, L'Osservatore Romano anunciou a criação de um 'Conselho para a aplicação da Constituição sobre a Sagrada Liturgia', prometida pelo Papa em seu Motu proprio. O novo órgão compreendia 42 pessoas representando 26 países, e era presidido pelo Cardeal Lercaro. Muitos padres que tinham sido membros da Comissão de Liturgia estavam incluídos; o secretário era o Padre Bugnini, C.M., que tinha assumido a mesma função na Comissão Pre-Conciliar de Liturgia. 

   O nome mais surpreendente na lista de membros era o de Mons. Felici, que tinha revisado tão completamente o Motu proprio, causando forte comoção entre os bispos e colocando o Sumo Pontífice em grande embaraço. Que fizera ele para merecer tomar parte nessa comissão? Era canonista, e não liturgista. A verdade é que sua nomeação era obra do padre Bunigni, que o julgava merecedor de recompensa pelo que fizera em favor do esquema no primeiro estágio de sua elaboração em 1962, quando o Cardeal Gaetano Cicognani , irmão mais velho do Secretário de Estado (tinha 80 anos), e presidente da Comissão Pré-Conciliar de Liturgia, hesitara em dar sua necessária aprovação. Poderosos elementos conservadores da Congregação dos Ritos insistiam para que ele se recusasse a assinar. Mons. Felici, que regularmente prestava contas a João XXIII sobre o estado de avanço dos esquemas e sua difusão, explicara ao Papa a dificuldade em que se encontrava, uma vez que, embora a maioria exigida da Comissão já tivesse aprovado o esquema, ele não podia expedi-lo sem a assinatura do Cardeal Cicognani. Antes que sua audiência tivesse terminado, uma tática tinha sido estabelecida.
   João XXIII chamou seu Secretário de Estado e lhe suplicou que fosse procurar o seu irmão [c.Cicognani] e só voltasse depois que o esquema estivesse devidamente assinado. Em 1º de fevereiro de 1962, o Secretário de Estado foi então procurá-lo no escritório; no corredor encontrou Mons. Felici e o Padre Bunigni, e informou a seu irmão sobre o desejo do Sumo Pontífice. Mais tarde, um especialista da Comissão Pré-Conciliar de Liturgia afirmou que o velho Cardeal estava a ponto de chorar, agitava o documento dizendo 'querem me forçar a assinar isto, não sei o que fazer'. Depois colocou o texto sobre sua mesa, tomou uma caneta e assinou. Quatro dias mais tarde, estava morto. 

   [Pode ter sido coincidência, mas, na verdade, questão de consciência é o que mais afeta uma pessoa convicta e sincera. Acho até que, se o Cardeal Cicognani, que tinha merecido em outros tempos, toda confiança de Pio XII, se pudesse adivinhar o efeito desastroso da reforma litúrgica que estamos presenciando, teria morrido, não 4 dias depois, mas sim naquele mesmo momento em que foi obrigado a assinar]. 
   [O autor Padre Ralph Wiltgen fez esta digressão para contar este caso triste do velho Cardeal Cicognani].  

sábado, 7 de dezembro de 2013

Páginas Históricas do Concílio Vaticano II - ( 21ª )

   "Em 29 de janeiro de 1964, L'Osservatore Romano publicou um Motu Proprio de Paulo VI, onde está dito que em substância não era possível dar efeito imediato a todas as partes da Constituição sobre a Liturgia, uma vez que era preciso preparar novos livros litúrgicos; uma comissão especial seria nomeada para isto. [ndr.: I maginem que até hoje ainda há discussões sobre traduções!!! E não se resolvem! E em se tratando de línguas vivas (o latim é língua morta) estão sempre mudando e sofrendo deturpações]. 

   No dia seguinte, L'Osservatore Romano publicou um comentário de um liturgista beneditino, Dom Marsili. Ele falava da grande decepção que lhe causava o Motu proprio, que 'embora aparentemente pondo fim a vacatio legis, na realidade não fazia senão prolongá-la'. 

   Pouco tempo depois, tive oportunidade de encontrar Dom Marsili, para quem o Motu proprio era um 'desastre'. Enquanto a Constituição sobre a Liturgia era tão ampla, tão liberal, 'eis que o Papa fechou as portas' disse, 'com o seu Motu proprio'. Ele acrescentou que todos os membros da Comissão de Liturgia sabiam que tinham sido preparadas, para o Papa, três versões diferentes do documento. A que finalmente lhe fora apresentada tinha sido inteiramente modificada por Mons. Felici, que em certos pontos chegava a contradizer a Constituição tal como fora promulgada. Infelizmente, confiando no Secretário Geral, Paulo VI autorizara a publicação do texto.

   Durante as vinte e quatro horas que se seguiram à publicação do Motu proprio, houve um pandemônio nos escritórios da Secretaria de Estado. Chamadas telefônicas, telegramas e cabogramas se sucediam ininterruptamente, provindo de bispos e Conferências Episcopais do mundo inteiro, falando de sua perplexidade ou sua irritação. Mons. Dell'Aqua, da Secretaria de Estado, diria mais tarde que jamais esse dicastério conhecera, em toda a sua história, um dia semelhante. A situação se agravou ainda mais, quando, em 31 de janeiro, L'Osservatore Romano publicou, em italiano, uma tradução do Motu proprio que não correspondia ao texto latino publicado dois dias antes. 

   Talvez a maior crítica que se fazia ao Motu proprio era que ele não autorizava a introdução da língua vulgar na liturgia a partir de 16 de fevereiro de 1964. Os jornais não tardaram a relatar que, sem se preocupar com isto, a hierarquia francesa se adiantava. A hierarquia alemã enviou imediatamente a Roma um de seus principais liturgistas, Mons. Wagner, para ver o que tinha acontecido. O Cardeal Lercaro, Arcebispo de Bolonha, não escondeu seu descontentamento e anunciou que viria a Roma para ver o Papa. 

   Enquanto isso, os juristas do Vaticano lutavam para encontrar uma saída para o impasse. A solução que escolheram foi informar a todas as Conferências Episcopais, por meio dos núncios ou delegados apostólicos, que o Motu proprio publicado no L'Osservatore Romano fora revogado, e que outra versão estava sendo preparada para ser publicada nos Acta Apostolicae Sedis, único jornal oficial da Santa Sé. (Sabe-se que, juridicamente um documento só é promulgado oficialmente quando aparece nos Acta Apostolicae Sedis).

   E 2 de março, o texto oficial do Motu proprio, tal como devia aparecer nos Acta Apostolicae Sedis, foi publicado em brochura destinada aos bispos. Ele havia tido pelo menos quinze revisões. Numerosos Padres Conciliares viram nessas poucas folhas de papel o sinal de sua vitória sobre a Cúria Romana". 

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Páginas Históricas do Concílio Vaticano II - ( 20ª )

   "A votação definitiva se deu em 4 de dezembro, dia do encerramento da segunda sessão, na presença de Paulo VI. Em sua alocução, o Sumo Pontífice sublinhou que o primeiro esquema discutido no Concílio tinha sido sobe a Sagrada Liturgia, e que o assunto 'em certo sentido era de fato o primeiro, em razão de sua excelência intrínseca e de sua importância para a vida da Igreja'. A nova Constituição sobre a Liturgia, disse ele, simplificaria os ritos litúrgicos, tornando-os acessíveis aos fiéis, e adaptaria a língua utilizada à que eles têm o costume de falar. Não se tratava absolutamente de empobrecer a liturgia, disse o Papa: 'Ao contrário, nós queremos tornar a liturgia mais pura, mais autêntica, mais de acordo com a Fonte da verdade e da graça, mais apropriada a se tornar o patrimônio espiritual do povo'.

   Enquanto isso, os boletins de votação tinham sido distribuídos: os Padres Conciliares eram solicitados a se pronunciarem a favor ou contra a Constituição sobre a sagrada liturgia. Como o escrutínio se fazia mecanicamente, os resultados não demoraram a ser proclamados: 2.147 votos a favor e 4 contra. O anúncio foi acolhido por uma tempestade de aplausos.

   O Sumo Pontífice levantou-se então e proclamou solenemente a Constituição, utilizando para isto uma fórmula diferente da que tinha sido empregada no primeiro Concílio do Vaticano. Desta vez, o destaque tinha sido posto principalmente sobre o papel dos bispos: 'Em nome da Santíssima e Indivisível Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo. Foi do agrado dos Padres Conciliares devidamente reunidos neste santo e universal Concílio, o segundo do Vaticano, aprovar os decretos cuja leitura acaba de ser feita. E pela autoridade apostólica que nos foi conferida por Cristo, juntamente com os Veneráveis Padres, Nós os aprovamos, determinamos e decretamos no Espírito Santo, e ordenamos que, para a glória de Deus, seja promulgado o que assim foi estabelecido pelo Concílio'. Mais uma vez, os aplausos encheram a Basílica. 

   Alguns, entre os quais Mons. Zauner, tinham pensado que o Santo Padre faria a Constituição entrar imediatamente em vigor. Ao contrário do que se esperava, foi anunciado que haveria uma vacatio legis -  suspensão da lei - até 16 de fevereiro de 1964, primeiro domingo da Quaresma. Nesse intervalo, o Papa faria saber de que modo deveria ser dada sequência às diversas disposições da Constituição. Esta vacatio legis permitiria aos bispos informar os padres e os leigos de suas dioceses a respeito das próximas modificações."

 Ainda serão feitas mais duas postagens sobre este assunto do Esquema sobre a Liturgia. 

Páginas Históricas do Concílio Vaticano II - ( 19ª )

ESQUEMA SOBRE A LITURGIA

   "Mons. Zauner, Bispo de Linz, era o liturgista mais conhecido entre todos os Padres Conciliares. Membro da Comissão de Liturgia, era lógico que fosse escolhido para fazer o relatório sobre o trabalho desta comissão, em agosto de 1963, na Conferência de Fulda. (...)

   Em uma entrevista que me concedeu, [diz o Padre Ralph Wiltgen] após a votação, Mons. Zauner disse que a Constituição sobre a Sagrada Liturgia enunciava quatro grandes princípios. 'O primeiro, disse, é que o culto divino deve ser uma ação comunitária; em outras palavras, o padre deve fazer tudo o que faz com a participação ativa do povo e nunca só'. Segundo ele, o uso da língua vulgar era condição necessária para esta participação. 
   Segundo princípio: os fiéis deveriam ser enriquecidos diretamente pela Sagrada Escritura e não apenas pelos sermões. 'Toda função litúrgica, inclusive, o rito do matrimônio, comportará, de agora em diante, leituras da Sagrada Escritura'. 
   Terceiro princípio: o culto litúrgico não devia somente ajudar os fiéis  a rezar, mas também ensiná-los. Mons. Zauner disse que isto tinha uma importância particular nos territórios de missão, onde o padre não pode visitar suas paróquias senão raramente. Era igualmente necessário nos países onde é rigorosa a perseguição, sendo a instrução religiosa frequentemente proibida fora da Missa. Nas sociedades livres, percebia-se a mesma necessidade: o ritmo de vida é tão rápido que, se os fiéis não receberem instrução na Missa, muitas vezes acabam não tendo tempo para recebê-la.
   Quarto princípio valia especialmente para os países de missão. 'Nos lugares onde os costumes tribais não contêm elementos supersticiosos', disse Mons. Zauner, 'eles podem, de agora em diante, ser introduzidos na liturgia'. Este processo, chamado de adaptação, 'só pode ser feito por uma Conferência Episcopal assistida por especialistas das regiões linguísticas interessadas. É necessário a aprovação da Santa Sé antes que tal medida seja posta em prática'. 

   Mons. Zauner acrescentou que estava 'extremamente satisfeito' com a Constituição sobre a Liturgia, e que ele nunca tinha ousado esperar 'que pudesse ir tão longe'. 

   N. B. Uma árvore má, enquanto não for cortada, continuará a dar maus frutos, e adubada como está, que será da verdadeiramente SAGRADA Liturgia?!!!

   Contra fatos não há argumentos. Eis um exemplo!

   Há alguns anos, visitou-me um padre missionário da Colômbia, o Revmo. Padre José Luis Pivel. Contou-me o seguinte: Em um lugar (não me lembro mais) ele passou algum tempo pregando e celebrando entre os índios. Celebrava a Missa Nova. Pois bem! No final das Missões o cacique ao agradecer-lhe, teve a sinceridade de dizer o que realmente sentiu: Sr. padre, desculpe-me, mas não gostei de sua missa. Por aqui, faz já alguns anos, passaram outros missionários e a missa deles era diferente. Gostava delas!!! É que aquela Missa dos outros missionários tinha mistério, e a sua missa, padre, não tem mistérios. E o Padre José Luis Pivel, me disse que, a partir de então, não celebrou mais a Missa Nova. E eu disse pra ele sorrindo: Quer dizer então, que o sr. foi converter os indígenas, e deu-se o contrário! Ele disse-me: "É verdade! Por isso é que estou aqui para ver se consigo entrar na Administração Apostólica para continuar a celebrar a Missa Tradicional mas com a aprovação da Santa Sé". Infelizmente não foi recebido.  

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Páginas Históricas do Concílio Vaticano II - ( 18ª )

   "Cartas dirigidas ao Papa por bispos e por Conferências Episcopais inteiras propuseram que fossem feitas novas eleições para presidentes, secretários e membros de todas as comissões. O objetivo visado era aumentar o número de liberais dentro de cada comissão; a Aliança Europeia já tinha o controle da maioria do Concílio, e só se sentia segura se somente ela tivesse então a oportunidade de ganhar nas comissões todas as cadeiras ocupadas por conservadores, bastando que para isso tivesse oportunidade. (...) Foi também proposto o aumento do número de componentes de cada comissão, o que permitiria reforçar bastante cada subcomissão e acelerar os trabalhos das comissões.

   Em 21 de novembro, na 72ª Congregação Geral, o Secretário Geral anunciou que o Papa decidira autorizar que o número de membros de cada comissão fosse aumentado de 25 para 30... (...)

   A expressão de sentido mais rigoroso do comunicado feito pelo Secretário Geral, era esta: "É muito desejável que várias conferências se reúnam e apresentem uma lista em conjunto". (...)

   A Aliança Europeia se pôs em ação para estabelecer uma lista internacional imbatível. Esta tarefa estava grandemente facilitada pelo fato de, nesse ínterim, a Aliança Europeia se ter tornado uma Aliança Mundial. De fato, as origens da Aliança Mundial remontam do começo da primeira sessão, e desde então ela não cessara de estar sob a influência da Aliança Europeia.

   Durante a primeira sessão, a Aliança Mundial fora constituída por um grupo quase clandestino de seis arcebispos e bispos, representando Conferências Episcopais Nacionais, Regionais ou Continentais, que se reuniam periodicamente . A partir do começo da segunda sessão, eles se julgaram bastante fortes para agir de modo mais aberto; toda sexta-feira à tarde reuniam-se na Domus Mariae, e seu número passou de 24 arcebispos e bispos, representando cerca de 65 Conferências Episcopais. Mons. Veuillot, coadjutor do Arcebispo de Paris, presidia as reuniões cada vez que se encontrava em Roma.

   (...) Ninguém tinha dúvida a respeito da orientação que o Concílio iria tomar. Curiosamente, Paulo VI demorou seis semanas para tornar conhecidos os nomes que ele tinha escolhido para participar de cada comissão. 

   N.B.: Nosso Senhor Jesus Cristo disse que uma árvore má não pode dar frutos bons. 

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Páginas Históricas do Concilio Vaticano II - ( 13ª )

N.B. Continuaremos a extrair do Livro "O RENO SE LANÇA NO TIBRE" (Autor: Ralph Wiltgen S.V.D.) "As Páginas Históricas do Concílio Vaticano II". Tínhamos parado na 12ª. 

   "O Cardeal Alfrink, Arcebispo de Utrecht, falando em nome dos bispos holandeses, observou que, se a colegialidade era um direito divino, seguia-se que o Colégio Episcopal tinha precedência sobre a Cúria, e que esta não tinha o direito de se interpor entre o Papa e os bispos...
   "O Cardeal Spellman, Arcebispo de Nova Iorque, chamou a atenção para as interpretações dos debates conciliares. frequentemente falaciosas e nefastas ao bem das almas, que artigos de jornais ou de periódicos forneciam. 'A autoridade do Papa é plena e suprema', disse. 'Não é nem necessário nem essencial que ele a partilhe com os bispos, mas ele poderia fazê-lo se lhe agradasse'. Sendo a Cúria Romana, de fato, instrumento executivo do Papa, só ele é competente para julgá-la e reformá-la. Segundo o Cardeal, 'ele já mostrou intenção de fazer isto'. ...

   "Sua Beatitude Ignace Pierre XVI, Patriarca Armênio de Cilícia, residente em Beirute, exortou os Padres Conciliares 'a serem objetivos e calmos na apresentação das observações que tinham a fazer, sobre a forma atual da administração da Igreja, a não perder de vista os méritos dos colaboradores do Sumo Pontífice e a tomar cuidado para evitar todo escândalo'...

   "O público teve certa dificuldade para compreender como podia acontecer que os bispos criticassem de modo tão acerbo a Cúria Romana, que durante tantos decênios, gerações e séculos, tinha prestado tantos serviços a esses mesmos bispos, ao Papa e à Igreja". 

terça-feira, 29 de outubro de 2013

A LIBERDADE HUMANA - ( 4 )

   Continuação dos excertos da Encíclica "Libertas Praestantissimum":

  17. Liberalismo radical.

   "E, com efeito, o que são os partidários do Naturalismo e do Racionalismo em filosofia, os fautores do Liberalismo o são na ordem moral e civil, pois que introduzem nos costumes e na prática da vida os princípios postos pelos partidários do Naturalismo. - Ora, o princípio de todo o racionalismo é a supremacia da razão humana, que recusando a obediência devida à razão divina e eterna e pretendendo não depender senão de si mesma, se arvora em princípio supremo, fonte e juiz da verdade. Tal é a pretensão dos sectários do Liberalismo: não há, na vida prática, nenhum poder divino ao qual se tenha de obedecer, mas cada um é para si sua própria lei. Daí procede essa moral que se chama independente, e que, sob a aparência da liberdade, afastando a vontade da observância dos preceitos divinos, conduz o homem a uma licença ilimitada.

   E o que, finalmente, resulta disto, principalmente nas sociedades humanas, é fácil de ver; porque uma vez fixada essa convicção no espírito de que ninguém tem autoridade sobre o homem, a consequência é que a causa eficiente da comunidade civil e da sociedade deve ser procurada, não num princípio exterior ou superior ao homem, mas na livre vontade de cada um, e que o poder público dimana da multidão como sendo a sua primeira fonte; além disso, tal como a razão individual é para o indivíduo a única lei que regula a vida particular, a razão coletiva deve sê-lo para a coletividade na ordem dos negócios públicos; daí o poder pertence ao número, e as maiorias criam o direito e o dever. 

   18. Mas a oposição de tudo isto com a razão ressalta suficientemente do que dissemos. Efetivamente, pretender que não há nenhum laço entre o homem ou a sociedade civil e Deus criador e, por conseguinte, supremo legislador de todas as coisas, repugna absolutamente à natureza, e não somente à natureza do homem, mas à de todo o ser criado; pois, todo o efeito está necessariamente unido por algum laço à causa de que procede; e convém a toda a natureza e pertence à perfeição de cada uma que permaneça no lugar e no plano que lhe é marcado pela ordem natural, isto é, que o ser inferior se submeta e obedeça àquele que lhe é superior. 

   19. Mas, ainda, tal doutrina traz o maior dano tanto ao indivíduo como à sociedade. Realmente, se o home faz depender só e unicamente do juízo da razão humana o bem e o mal; o honesto e o desonesto já não diferem na realidade, mas somente na opinião e no juízo de cada um; o que agrada será permitido. Desde que se admita semelhante doutrina moral, que não basta para reprimir ou pacificar os movimentos desordenados da alma, dá-se acesso a todas as corrupções da vida. Nos negócios públicos, o poder de governar separa-se do princípio verdadeiro e natural que lhe dá toda a sua força para procurar o bem comum; a lei que determina o que se deve fazer e o que é necessário evitar é abandonada aos caprichos da maioria, que é o mesmo que preparar o caminho à dominação tirânica. Quando se repudia o poder de Deus sobre o homem e sobre a sociedade humana, é natural que a sociedade deixe de ter religião, e tudo o que toca à religião torna-se desde então objeto da mais completa indiferença. Armada, pois, da ideia da soberania, a multidão facilmente entrará no caminho da sedição e das desordens, e, não existindo já o freio do dever e da consciência, nada mais resta do que a força, que é bem fraca, por si só, para conter as paixões populares. Temos a prova disto nessas lutas quase diárias empenhadas contra os Socialistas e outras seitas sediciosas que trabalham há tempo para arrastar o Estado até aos seus alicerces. Julguem, pois, e digam os que possuem a justa inteligência das coisas, se tais doutrinas aproveitam à liberdade e dignidade do homem, ou se não são antes dela a destruição completa. 

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A LIBERDADE HUMANA - ( 3)

   Continuação dos excertos da Encíclica "Libertas Praestantissimum": 
   
   12. A lei eterna, norma e regra da liberdade.

   "Numa sociedade de homens a liberdade digna deste nome não consiste em fazer tudo o que nos apraz: isso seria uma confusão extrema no Estado, uma perturbação que conduziria à opressão. A liberdade consiste em que, com o auxílio das leis civis, possamos mais facilmente viver segundo as prescrições da lei eterna. E para aqueles que governam, a liberdade não é o poder de mandarem ao acaso e segundo seu bel-prazer: isso seria uma desordem não menos grave e extremamente perigosa para o estado; mas a força das leis humanas consiste em que elas sejam olhadas como uma derivação de lei eterna e que não há nenhuma das suas prescrições que não seja contida nela como no princípio de todo direito. Santo Agostinho disse com muita sabedoria (De lib. Arb., lib I, c. 4, n.. 15): "Eu penso, e vós bem vedes também, que, nesta lei temporal, nada há de justo e de legítimo que os homens não tenham ido haurir da lei eterna". Suponhamos, pois, uma prescrição dum poder qualquer que esteja em desacordo com os princípios da reta razão e com os interesses do bem público: não teria força alguma de lei, porque não seria uma regra de justiça e afastaria os homens do bem, para o qual a sociedade foi formada.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                  
   13. Por sua natureza, pois, e sob qualquer aspecto em que seja considerada, quer nos indivíduos, quer nas sociedades, e entre os superiores não menos que entre os subordinados, a liberdade humana supõe a necessidade de obedecer a uma regra suprema e eterna; e esta regra não é outra senão a autoridade de Deus impondo-nos as sua ordenações ou as suas proibições, autoridade soberanamente justa que, longe de destruir ou de diminuir, de qualquer modo, a liberdade dos homens, a protege e a leva à perfeição, porque a verdeira perfeição de todo o ser é tender e atingir o seu fim: ora, o fim supremo, para o qual deve tender a liberdade humana, é Deus. 

sábado, 26 de outubro de 2013

A LIBERDADE HUMANA - ( 2 )

   Continuação da Encíclica "Libertas Praestantissimum".

   "Se, pois, a lei é necessária ao homem, é no seu mesmo livre arbítrio, isto é, na necessidade que tem de não se pôr em desacordo com a reta razão, que é preciso procurar, como na sua raiz, a causa primeira. E nada se pode dizer ou imaginar de mais absurdo e mais contrário ao bom senso do que esta asserção: o homem, sendo livre por natureza, deve estar isento de toda a lei. Se assim fosse, resultaria que é necessário, para a liberdade não estar de acordo com a razão, quando a verdade é inteiramente o contrário, isto é, o homem deve estar sujeito à lei precisamente porque é livre por natureza. Assim, pois, é a lei que guia o homem nas suas ações e é ela também que, pela sanção das recompensas e das penas, o leva a praticar o bem e o afasta do pecado. 

   Tal é, acima de todas, a lei natural que está escrita e gravada no coração de cada homem, porque é a razão mesma do homem que lhe ordena a prática do bem e lhe interdiz o pecado. Mas esta prescrição da razão humana não poderia ter força de lei, se ela não fosse órgão e intérprete duma razão mais alta, à qual nosso espírito e a nossa liberdade devem obediência. Sendo, na verdade, a missão da lei impor deveres e atribuir direitos, a lei assenta completamente sobre a autoridade, isto é, sobre um poder verdadeiramente capaz de estabelecer esses deveres e de definir esses direitos, capaz também de sancionar as suas ordens por castigos e recompensas; coisas todas que não poderiam evidentemente existir no homem, se ele desse a si próprio, como legislador supremo, a regra dos seus próprios atos. Disto se conclui, pois, que a lei natural outra coisa não é senão a LEI ETERNA gravada nos seres dotados de razão, inclinando-os para o ato e o fim que lhes convenha; e este não é senão a razão eterna de Deus, Criador e Governador do mundo.

   A esta regra de nossos atos, a estes freios ao pecado, a bondade de Deus quis ajuntar certos auxílios, singularmente próprios para defender e guiar a vontade do homem. Sobressai, no primeiro lugar destes auxílios, o poder da graça divina, a qual esclarecendo a inteligência e inclinando incessantemente para o bem moral a vontade salutarmente reforçada e fortificada, torna ao mesmo tempo mais fácil e mais seguro o exercício da nossa liberdade natural. E seria afastar-se completamente da verdade imaginar que, por meio desta intervenção de Deus, os movimentos da vontade perdem a sua liberdade; porque a influência da graça divina alcança o íntimo do homem e se harmoniza com a sua propensão natural, pois que tem a sua fonte n'Aquele que é o autor da nossa alma e da nossa vontade e move todos os seres duma maneira conforme à natureza deles. Pode mesmo dizer-se que a graça divina, como observa o Doutor Angélico, por isso mesmo que dimana do autor da natureza é maravilhosa e naturalmente apta para proteger todas as naturezas individuais e para conservar a cada uma o seu caráter, a sua ação, a sua energia".  

A LIBERDADE HUMANA - ( 1 )

  Postaremos alguns excertos da Encíclica "Libertas Praestantissimum" de Leão XIII.

  "Liberdade, outra coisa não é senão a faculdade de escolher entre os meios que conduzem a um fim determinado. É neste sentido que aquele que tem a faculdade de escolher uma coisa entre algumas outras, é senhor de seus atos. Ora, toda a coisa aceita com o fim de obter por ela uma outra, pertence ao gênero do bem que se chama útil; e tendo o bem como característica operar propriamente sobre o apetite, é mister concluir daí que o livre arbítrio é a característica da vontade, ou antes é vontade mesma, enquanto nos seus atos ela tem a faculdade de escolher. Mas é impossível à vontade mover-se, se o conhecimento da inteligência, como uma luz, não a esclarece primeiramente: isto é, que o bem desejado pela vontade é necessariamente o bem quanto conhecido pela razão. E isto tanto mais que, em toda a volição, a escolha é sempre precedida dum juízo sobre a verdade dos bens e sobre a preferência que devemos conceder a um deles sobre os outros. Ora, julgar é da razão, não da vontade; não se pode razoavelmente duvidar disto. Admitido, pois, que a liberdade reside na vontade, que por sua natureza é um apetite obediente à razão, segue-se que ela, como a vontade, tem por objeto um bem conforme à razão.

   Todavia, não possuindo cada uma destas faculdades a perfeição absoluta, pode suceder, e sucede frequentemente, que a inteligência proponha à vontade um objeto que, em lugar duma bondade real, não tem senão a aparência, uma sombra de bem, e que a vontade contudo se aplique. Mas assim como o poder enganar-se, e enganar-se realmente, é uma falta que acusa a ausência da perfeição integral na inteligência, assim também aderir a um bem falso e enganador, ainda que seja um indício do livre arbítrio, constitui contudo um defeito da liberdade, como a doença o é da vida. Igualmente a vontade, só pelo fato de que depende da razão, desde que deseja um objeto que se afaste da reta razão, cai num vício radical que não é senão a corrupção e o abuso da liberdade. Eis porque Deus, a perfeição infinita, que, sendo soberanamente inteligente e a bondade por essência, é também soberanamente livre, não pode de nenhuma forma querer o mal moral. E o mesmo sucede com os bem-aventurados do céu, graças à intuição que têm do soberano bem. É esta a justíssima observação que Santo Agostinho e outros faziam contra os Pelagianos: "Se a possibilidade de enganar-se no bem fosse da essência da perfeição da liberdade, então Deus, Jesus Cristo, os Anjos, os Bem-aventurados, entre os quais este poder não existe, ou não seriam livres ou, pelo menos, o não seriam tão perfeitamente como o homem em seu estado de prova e de imperfeição". - O Doutor Angélico ocupou-se frequente e longamente desta questão; e da sua doutrina resulta que a faculdade de pecar não é uma liberdade, mas uma escravidão. Muito sutil é a sua argumentação sobre as palavras do Senhor Jesus: "Aquele que comete o pecado é escravo do pecado" (São João VIII, 34). "Todo ser é o que lhe convém segundo sua natureza. Logo, quando se move por um agente exterior, não age por si mesmo, mas pelo impulso de outrem, o que é próprio de escravo. Ora, segundo a natureza, o homem é racional. Por isso quando se move segundo a razão, é por um movimento próprio que ele se move, e opera por si mesmo, o que é essência da liberdade; mas, quando peca, procede contra a razão, e então é como se fosse posto em movimento por um outro e sujeito a uma dominação estranha. É por isto que aquele que comete o pecado é escravo do pecado". 

   Sendo tal a condição da liberdade humana, era necessário ministrar-lhe auxílios e socorros capazes de dirigir todos os seus movimentos para o bem e de desviá-los do mal. Sem isto, a liberdade teria sido para o homem uma coisa muito prejudicial. E primeiramente era-lhe necessária uma LEI, isto é, uma norma do que era preciso fazer e omitir. (...) Mas os seres que gozam de liberdade têm por si mesmos o poder de operar ou não, proceder de tal ou qual forma, visto que o objeto da sua vontade não o escolhem senão quando intervenha o juízo da razão. Este juízo diz-nos não somente o que é o bem em si ou o que é o mal, mas  também o que é bom e por conseguinte se deve realizar, ou o que é mau e por conseguinte se deve evitar. É, com efeito, a razão que prescreve à vontade o que ela deve procurar ou de que deve fugir para que o homem possa um dia atingir esse fim supremo, para o qual deve dirigir todos os seus atos, Ora, esta ordenação da razão é o que se chama lei". 

Continua no próximo post.

sábado, 31 de agosto de 2013

O SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA

   A oblação do altar reproduz e renova a imolação do Calvário para perpetuar a sua recordação e nos aplicar os seus frutos. 
   Daríamos tudo para ter estado ao pé da Cruz com a Virgem Maria, São João e Maria Madalena! 
  Durante a Santa Missa devemos unir-nos a Cristo, mas a Cristo imolado. Já tivemos ocasião de provar que na Missa temos Jesus ressuscitado, glorioso, impassível e imortal. Mas vimos outrossim que ali está Cristo imolado, segundo a expressão do Espírito Santo no Apocalipse V, 6: "Agnus tanquam occisus", isto é, O Cordeiro Vivo mas como se estivesse imolado. Em outras palavras: temos o Cordeiro oferecido como vítima; e é ao Seu sacrifício que Jesus nos quer associar. 
   
   "Vede depois da consagração" - diz D. Marmion - "o sacerdote, apoiando as mãos juntas no altar (gesto que significa a união do sacerdote e de todos os fiéis com o sacrifício de Cristo), faz esta oração: 'Nós Vos suplicamos, Deus todo-poderoso, que ordeneis que todas estas coisas sejam levadas ao Vosso altar sublime, à presença da Vossa divina Majestade'. 

   "A Igreja põe aqui em relação dois altares: o da terra e o do céu; não porque no santuário dos céus haja um altar material; mas é que a Igreja quer indicar que há só um sacrifício: a imolação que misticamente se realiza na terra é uma só com a oblação que Jesus Cristo, nosso Pontífice, faz de Si mesmo no seio do Pai, a quem oferece por nós as satisfações da Sua Paixão. 'Estas coisas, diz Bossuet, são na verdade o corpo e o sangue de Jesus, mas são este corpo e este sangue com todos nós, com nossos votos e orações  e tudo isto junto forma uma mesma oblação'.

   "Assim, neste momento solene, somos introduzidos "no Santuário da Divindade"; mas somo-lo por Jesus e com Ele; e ali, diante da Majestade infinita, na presença de toda a corte celestial, somos apresentados com Cristo ao Pai para que o Pai 'nos cumule de todas as graças e bênçãos celestes'.

   "Oh! Se a nossa fé fosse viva, com que respeito assistiríamos a este Santo Sacrifício! Com que cuidado procuraríamos purificar-nos de qualquer mancha, a fim de sermos menos indignos de entrar, após o nosso chefe, no Santo dos Santos, para ali sermos, com Cristo, 'hóstia viva'! Como muito bem diz São Gregório, Jesus Cristo só será nossa hóstia quando nos oferecermos a nós mesmos, para participarmos, pela nossa generosidade e pelos nossos sacrifícios, na Sua vida de imolação. 

   No próximo post, se Deus quiser falaremos da Comunhão. 

sábado, 10 de agosto de 2013

A EUCARISTIA: Mistério de Fé

   A Santa Igreja intercalou na fórmula da consagração do cálice estas palavras: "Mysterium fidei" (Mistério de fé). Quer assim nos ensinar que a Eucaristia é o mistério por excelência de nossa fé. Na verdade é um mistério que, mais do que os outros, se furta a toda a lei natural. Outrossim, contém em sua sacramentalidade os demais mistérios.  Vejamos neste post estes dois pontos: 
   
   1-  Em cada mistério de Nosso Senhor Jesus Cristo se encontra alguma sombra para a nossa fé ser meritória. Esta fé, porém, é sempre ajudada por uma luz que brilha nos mistérios: em todos eles vemos manifestar-se a inefável união da Divindade com a Humanidade. Por exemplo, no presépio, vemos apenas um menino; sem a fé, não reconheceríamos n'Ele o Filho de Deus; mas ouvimos o voz dos Anjos do céu celebrar a vinda do Salvador; vemos também uma estrela maravilhosa conduzir a Seus pés os reis do Oriente. - No Batismo de Jesus, vemos apenas um homem que se submete a um rito de penitência; mas do Céu ouve-se a voz do Pai Eterno que proclama ser aquele homem o Seu Filho muito amado, em quem pôs as Suas complacências. - No Tabor, na Transfiguração, a fé tem um poderoso auxílio: a glória da Divindade que penetra a Humanidade de Jesus reflete-se nela. -  Em contrapartida, no Calvário, a Divindade está velada, quando Jesus morre na cruz; o Centurião, no entanto, proclama que Ele é o Filho de Deus; a própria natureza, pelas perturbações que sofre naquele instante único, presta solene homenagem ao seu Criador. - Na Ressurreição, Jesus resplandece de glória; mas, ao mesmo tempo, prova aos Apóstolos que é sempre o mesmo, homem perfeito e Deus perfeito; deixa que Lhe toquem, come com eles, mostra-lhes as cicatrizes das chagas para lhes provar que não é um espírito, mas o mesmo Jesus com quem viveram três anos. 
   No mistério da Eucaristia, porém, a Divindade e a Humanidade, em vez de se revelarem, desaparecem ambas dos nossos sentidos. Na Eucaristia só a fé pura tem lugar, baseada unicamente na palavra de Jesus - "Este é o meu corpo, este é o meu sangue". 


 2- A Eucaristia é também um "mistério de fé" por excelência porque contém em si os demais mistérios. Com efeito, na Santíssima Eucaristia estão a Encarnação e a Redenção, pois que o pão e o vinho contêm o Filho de Deus humanado para nos remir. Aqui está a Trindade, pois que na Eucaristia encontramos não só a humanidade do Salvador como a sua divindade. Aqui está a Graça, pois que o Sacramento é a fonte transbordante e principal de nossa vida sobrenatural. Aqui está a Igreja, pois que a Eucaristia é por excelência o tesouro do Corpo Místico, o centro do culto, o Sacramento da unidade dos fiéis. Aqui estão os Novíssimos, pois que a Eucaristia é penhor da ressurreição e da glória futura. Como dizia Pio XII, a Eucaristia é "a cúpula e como que o centro da religião cristã".
   Assim, sob forma real embora sacramental, a Eucaristia enfeixa a economia inteira de nossa salvação. 
   Terminemos este artigo com as palavras de Leão XIII: "Nada mais apto a reconduzir aos espíritos o vigor e o fervor da fé, que o mistério eucarístico, propriamente chamado o mistério da fé; por uma especial abundância e variedade de milagres, ele sozinho contém tudo o que está acima da natureza". 

sábado, 6 de julho de 2013

AVISO

   OS MEUS BLOGS ESTARÃO EM RECESSO DE 10/07/2013 A 10/08/2013. Se Deus quiser, e com Sua graça, estarei fazendo o Retiro de Santo Inácio de Loiola. Peço as suas orações. Deus lhes pague!

sábado, 8 de junho de 2013

AMOR COM AMOR SE PAGA

   Diz Santa Teresa d'Ávila: "Sempre que pensarmos em Cristo, recordemo-nos do amor com que nos fez tantas mercês... pois o amor atrai amor". Para nos incitar ao amor, a Igreja propõe-nos a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Diz na sua Liturgia: "Quem não pagará com amor a quem tanto nos amou? Quem entre os Seus remidos não O amará" (Hino de Laudes). E para nos impelir cada vez mais a dar amor por amor, põe nos lábios de Jesus estas palavras sublimes da Sagrada Escritura: "Amei-te com um amor eterno e, por isso, atraí-te cheio de compaixão; e também: "Filho, dá-Me o teu coração". Eis em que consiste a verdadeira devoção ao Sagrado Coração: corresponder ao amor, "dar amor por amor", na expressão de Santa Margarida Maria. "Corresponder incessantemente com amor a quem tanto nos amou", como escreve Santa Teresa Margarida do Coração de Jesus. 
   A nossa vida espiritual depende, em grande parte da ideia que fazemos de Deus. Se, como o servo preguiçoso do Evangelho (Mt. 25, 14-30), fazemos de Deus uma ideia acanhada e mesquinha, em vez de nos sentirmos estimulados a amá-Lo e a entregar-nos generosamente ao Seu serviço, ficaremos frios, preguiçosos, calculadores, enterraremos também nós o talento recebido do nosso Pai celestial; se se abstêm do pecado, é só por temor do castigo; se rezam ou fazem alguma obra boa, é só em vista do interesse próprio e, por isso, não há neles ímpeto algum de generosidade e de amor. Quando, pelo contrário, a alma começa a ter a intuição de que "Deus é caridade" (I Jo. 4, 8), a penetrar no mistério do amor infinito que  a envolve, e a compreender o amor de Deus, o amor de Jesus para com ela, tudo então muda de aspecto porque "o amor atrai o amor". A devoção ao Sagrado Coração , deve produzir em nós este efeito, isto é, fazer-nos compreender cada vez melhor "amor de Cristo que excede toda a ciência" (Efésios 3, 19). Meditando e contemplando  o Coração de Jesus trespassado por nosso amor, aprenderemos a ciência do amor, ciência que nenhum livro terreno nos pode ensinar, mas que se aprende somente no livro aberto do Coração de Cristo, Nosso Senhor e Mestre. 
  Ó JESUS QUE TANTO ME AMASTES, TORNAI-ME CAPAZ DE CORRESPONDER AO VOSSO AMOR. AMÉM!

quinta-feira, 30 de maio de 2013

OO ESPÍRITO SANTO E A ORAÇÃO - ( 2 )

   "A oração profunda é um contato íntimo da alma com Deus. Mas quem poderá ensinar ao homem, tão rude e material, a delicadeza requerida para tratar intimamente com o Rei do céu e da terra? Não haverá nunca cerimonial nem livro devoto capaz de regular dignamente as relações íntimas de amizade entre o Criador e a criatura. Mas há um Mestre cuja competência é plenamente adequada a esse fim e cujo ensinamento está ao alcance de toda a alma cristã. 
   
   Este Mestre é o Espírito Santo: 'O Espírito  ajuda também a nossa fraqueza, porque não sabemos o que havemos de pedir como convém; mas o mesmo Espírito ora por nós com gemidos inexplicáveis' (Rom. 8, 26). Realidade consoladora para a alma que tem o sentido da sua impotência e da sua incapacidade para tratar com Deus, para a alma que sente a necessidade de uma oração proporcionada à bondade infinita daquele Deus que nos amou até Se fazer um de nós e, ao mesmo tempo, adequada à soberana majestade, à transcendência infinita do Altíssimo. E eis que o Espírito Santo alterna na alma sentimentos de plena confiança e de profunda adoração, de amizade amorosa e de reconhecimento da suprema grandeza de Deus. O Espírito Santo repete em nós: Pai, e ainda: Vós somente sois o Santo, o Senhor, o Altíssimo'. Mesmo quando estamos na aridez, quando o coração está frio e a mente obscurecida, o Espírito Santo ora em nós e podemos oferecer sempre a Deus a Sua oração. Esta é a oração mais verdadeira, mais preciosa, que será certamente ouvida, porque o Espírito Santo não pode inspirar-nos sentimentos e desejos contrários ao beneplácito divino, mas 'pede segundo Deus' (Ib. 27). (P. Gabriel de Sta M. Madalena, O.C. D.  - INTIMIDADE DIVINA). 

quarta-feira, 29 de maio de 2013

O ESPÍRITO SANTO E A ORAÇÃO - ( 1 )

   "As nossas relações com Deus são essencialmente relações de filhos; devem portanto ser relações de plena confiança e intimidade, visto que não somos estranhos, mas pertencemos à família de Deus (Ef. 2, 19). Por isso a nossa oração deveria ser a expressão dos sentimentos de um filho que gosta de conversar cordialmente com o seu pai e que se lança nos seus braços com um abandono total. Mas, infelizmente, somos sempre pobres pecadores, e a consciência das nossas misérias e infidelidades, procura paralisar este impulso filial, gerando na alma um certo temor que muitas vezes faz vir espontaneamente aos lábios o grito de São Pedro: 'Retira-te de mim, Senhor, pois eu sou um homem pecador' (Lc. 5, 8). Isto  acontece sobretudo quando a alma atravessa períodos obscuros de lutas, de tentações, de dificuldades que tentam lançá-la na agitação e na perturbação. Mas eis que um dia, durante a oração, a alma se recolhe sob a influência de uma luz nova que afugenta todo o temor; não é um pensamento novo, mas uma persuasão nova e íntima, que lhe faz sentir profundamente que é filha de Deus e que Deus é seu Pai. É a influência do dom de piedade, posto em ato pelo Espírito Santo. Já São Paulo dizia aos primeiros cristãos: 'Não recebestes o espírito da escravidão para estardes novamente com temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, mercê do qual clamamos 'Abba Pai!' É o próprio Espírito que atesta ao nosso espírito que somos filhos de Deus (Rom. 8, 15 e 16). É pois o Espírito Santo que infunde na alma este profundo sentimento de filial piedade, de plena confiança no Pai celeste. Ele próprio, com gemidos inenarráveis, vai murmurando em nós: 'Pai!' 'Deus mandou aos vossos corações o Espírito do Seu Filho que clama 'Abba, Pai!' (Gál. 4, 6). Assim a alma sente-se transformada e as suas relações com Deus tornam-se verdadeiramente filiais'.  

sexta-feira, 24 de maio de 2013

O CAMINHO DA CRUZ - ( 2 )

Santa Teresinha santificou-se abraçando, por amor
a Jesus, a cruz de cada dia, de cada momento. 
"Exercitando-nos corajosamente na renúncia, pomo-nos no caminho da conformidade com Jesus crucificado; mas também nisto as nossas iniciativas não são proporcionadas ao fim a atingir: as renúncias e as mortificações praticadas por nós são insuficientes para nos despojarem a fundo do homem velho, para nos revestirem de Cristo e Cristo crucificado. Eis porque o Espírito Santo, depois de nos ter impelido para o caminho da cruz com as Suas inspirações tendentes a fazer-nos abraçar, por amor de Deus, as coisas ásperas e penosas à natureza, Se encarrega Ele próprio de completar a nossa purificação. E fá-lo, submetendo-nos a provas interiores e exteriores. Ele - diz São João da Cruz - com o Seu 'divino fogo de amor... está ferindo a alma, gastando e consumindo-lhe as imperfeições de seus maus hábitos. Esta é a operação do Espírito Santo que dispõe a alma para a divina união e transformação de amor em Deus'. Por conseguinte não podemos pensar que a ação do Espírito Santo em nós seja sempre consoladora, antes pelo contrário! E de resto, o sofrimento é necessário não só para a nossa purificação, mas também para nos associar à obra redentora de Jesus: quanto mais avançarmos no caminho da cruz, tanto mais nos santificaremos e poderemos exercer na Igreja um fecundo apostolado. É pois evidente: o Espírito Santo, para nos santificar, não pode conduzir-nos por outro caminho senão pelo da cruz. Devemos secundar a Sua direção, procurando acima de tudo abraçar de bom grado quanto de amargo e de penoso encontrarmos na nossa vida de cada dia. Por vezes despraza-se a cruz das dificuldades quotidianas para amar uma cruz longínqua que talvez nunca chegue a vir; não devemos andar à busca da nossa cruz em sofrimentos extraordinários que raramente ou talvez nunca encontraremos, mas no dever, na vida, nas dificuldades, nos sacrifícios de cada dia, de cada momento; temos aqui riquezas inexauríveis, basta que as saibamos descobrir à luz da fé. O Espírito Santo ajuda-nos a reconhecer e impele-nos a abraçar esta cruz de cada dia; a abraçar e não a suportar, o que significa aceitar e oferecer ativamente, dizendo com todo o coração: 'sim, eu quero, ainda que me pareça ficar esmagado'. 

quinta-feira, 23 de maio de 2013

O CAMINHO DA CRUZ - ( 1 )


 "Devemos estar bem convencidos de que, se o Espírito Santo trabalha nas nossas almas, para nos assemelhar a Cristo, não pode fazê-lo senão levando-nos a seguir o caminho da cruz. Jesus é Jesus crucificado; não pode haver, portanto, conformidade com Ele senão mediante a cruz; e jamais se entrará na profundidade da vida espiritual a não ser entrando no mistério da cruz. Santa Teresa de Jesus ensina que até as mais altas graças contemplativas são dadas às almas, exatamente para as tornar mais capazes de levar a cruz. 'Assim como Sua Majestade não nos pode fazer maior mercê do que dar-nos um a vida conforme à que viveu o Seu Filho tão amado, assim tenho por certo serem estas mercês para fortalecer a nossa fraqueza e para O poder imitar no muito padecer'. Sim, a conformidade com Jesus crucificado, vale e importa mais do que todas as graças místicas! Toda a vida espiritual é dominada pela cruz, e como a cruz está no centro da história do mundo, assim está no centro da história de cada alma. A cruz deu-nos a vida e a cruz imprimirá em nós os traços da mais perfeita semelhança com Jesus: quanto mais participarmos da Sua cruz, tanto mais seremos semelhantes a Ele e cooperaremos na obra da Redenção. 

   A necessidade da cruz para alcançar o céu e a santidade é evidente: não se pode abraçar a vontade de Deus, sempre e em todas as circunstâncias, sem negar a vontade própria; não é possível conformar-se em tudo com Jesus 'que não teve nesta vida outro gosto nem quis ter senão o de fazer a vontade de Seu Pai (S. João da Cruz), sem renunciar às próprias satisfações egoístas. E tudo isto significa: desapego, cruz, sacrifício, negação de si mesmo. Significa metermo-nos no caminho que nos foi indicado pelo próprio Jesus: 'Se alguém quer vir após de mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me' (Mt. 16, 24). Ora é para este caminho que o Espírito Santo nos impele e convida. Quando nos surpreendermos à busca das coisas mais fáceis, mais cômodas, mais honrosas, quando nos apercebermos de que estamos a satisfazer o nosso amor próprio, a nossa vanglória, ou quando nos virmos apegados à nossa vontade, digamos então a nós mesmos que tudo isto está muito longe de ser inspirado pelo Espírito Santo e que, pelo contrário, impede a Sua ação em nós". (P. Gabriel de Sta. M. Madalena, INTIMIDADE DIVINA). 

sexta-feira, 17 de maio de 2013

ALGUMAS PÁGINAS HISTÓRICAS DO CONCÍLIO VATICANO II - 12ª página

   "Um bom número de bispos religiosos, bem como certos superiores gerais, tinham preparado intervenções a favor da inclusão, no esquema sobre a Igreja, de um capítulo especial consagrado à vida religiosa; e tinham notificado, em tempo hábil, seu desejo de tomar a palavra. Mas, dia após dia, prosseguiu o debate e os Cardeais Moderadores não lhes concediam a palavra. 

   Em 30 de outubro, a assembleia votou o encerramento dos debates, mas muitos daqueles que se tinham inscrito invocaram a regra que permitia a qualquer um falar depois do encerramento, contanto que cinco Padres Conciliares apoiassem seu pedido.

   Por ocasião da 59ª Congregação Geral em 31 de outubro, o Moderador era o Cardeal Döpfner. Antes de deixar qualquer um vir ao microfone, ele anunciou que grande número de Padres Conciliares se queixava de que o Concílio estava andando muito lentamente. A fim de que fosse salvaguardado o direito à palavra daqueles que tinham obtido cinco assinaturas, e que fosse ao mesmo tempo satisfeito o desejo geral da assembleia de encerrar o debate e de avançar os trabalhos, ele pedia aos oradores "que limitassem suas observações ao assunto estudado, evitassem repetições, se restringissem a oito minutos em lugar dos dez habituais e não esquecessem que as declarações não feitas na aula conciliar mas submetidas por escrito, tinham igual peso perante as comissões."

   A última recomendação, à qual o próprio Cardeal não se submeteu, foi continuamente observada por Mons. Felici, Secretário Geral, que, em razão de seu cargo, havia renunciado a exercer o direito de intervenção na aula conciliar.

   O Cardeal Döpfner interveio constantemente no curso das declarações pronunciadas pela manhã, para lembrar aos Padres Conciliares os pontos que ele havia mencionado. Pelo menos três oradores foram interrompidos duas vezes. Três outros o foram uma vez, ou ouviram dizer ao terminar, que o que acabavam de dizer não tinha relação com o assunto tratado. Inúmeros Padres Conciliares não conseguiam compreender a pressa com que o Cardeal estava procedendo e o modo aparentemente arbitrário pelo qual ele limitava o tempo concedido aos oradores. 

   (...) Bispos religiosos que aguardavam para tomar a palavra não foram chamados ao microfone. Em vez deles, outros Padres Conciliares que só se tinham inscrito naquela manhã, foram chamados. Os Padres reduzidos assim ao silêncio ficaram tão indignados que decidiram enviar ao Cardeal Döpfner uma advertência privada, esclarecendo que não deixariam a coisa passar em branco e, se não houvesse uma modificação, requereriam a abertura de um inquérito oficial. Mas logo que procuraram entrar em contato, souberam que ele tinha viajado a Capri para um longo fim de semana, e que só voltaria na tarde de 4 de novembro. 

   Ao voltar, o Cardeal Döpfner encontrou uma mensagem dos Padres Conciliares ofendidos. Ele os chamou todos ao mesmo tempo, desculpou-se do que tinha acontecido, prometeu que tal coisa não se repetiria mais, e lhes pediu para renunciar a seu direito de falar. Os Padres recusaram. Ele então aceitou ler um resumo de suas declarações na aula conciliar, pedindo-lhes indicarem os pontos que consideravam essenciais. Na 62ª Congregação Geral, em 7 de novembro, fez um texto extremamente breve, obscuro e inexato em vários tópicos.

   O resultado imediato foi que sete bispos, pertencentes a outras tantas ordens religiosas, se reuniram para estabelecer uma tática destinada a neutralizar o elemento alemão e belga, que eles consideravam estar exercendo uma "ditadura" sobre o Concílio". 

sexta-feira, 10 de maio de 2013

ALGUMAS PÁGINAS HISTÓRICAS DO CONCÍLIO VATICANO II - 10ª página

   O ESQUEMA SOBRE A SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA.

   "Segundo o Padre Rahner, cujos comentários escritos foram distribuídos a todos os participantes da conferência, o esquema, tal como estava redigido, era uma "fonte de vivas preocupações" para ele e para os padres Grillmeier e Semmelroth, bem como para o Padre Ratzinger, que também o haviam examinado sob o especto teológico. Afirmava ele que, sob o ponto de vista ecumênico, se aquele texto fosse aprovado "causaria um mal incalculável, em relação tanto aos Orientais como aos Protestantes".  

     Em 27 de outubro, Mons. Grotti, servita, Bispo Titular de Tunigaba, prelado do Acre e Purus, no Brasil, distribuiu uma refutação a todos os argumentos apresentados em favor de uma fusão dos dois esquemas. Quanto ao argumento segundo o qual um esquema separado sobre a Santíssima Virgem seria considerado como definidor de coisas novas, ele fazia observar aos Padres Conciliares que eles tinham diante de si muitos outros esquemas, no entanto ninguém imaginava ver aí algo que fosse novo. Objetava-se também que seria honrar mais a Maria que a Cristo; ora, claramente saltava do texto que Maria não estava "nem acima de Cristo, nem contra Ele". Os excessos de piedade marial não constituíam argumento válido contra um esquema separado, mas, ao contrário, pelejavam em favor dele, uma vez que é mais fácil apresentar com clareza a verdade em um esquema separado. "O ecumenismo consiste em confessar ou em esconder a verdade?  - perguntou ele. O Concílio deve explicar a doutrina católica ou a de nossos irmãos separados? (...) Esconder a verdade nos agride e agride os que estão separados de nós. Agride-nos porque fazemos papel de hipócritas. Agride os que estão separados de nós, porque assim eles parecem fracos e susceptíveis de serem ofendidos pela verdade". Mons. Grotti concluiu sua refutação com um apelo: "Façamos a distinção entre os dois esquemas. Professemos abertamente a nossa Fé. Sejamos doutores dos que estão na Igreja, ensinando-lhes com clareza, e não escondendo a verdade". 

   Em 29 de outubro foi submetida à votação a seguinte questão: "É do agrado dos Padres Conciliares que o esquema sobre a Santíssima Virgem Maria, Mãe da Igreja, seja revisto de modo a se tornar o capítulo VI do esquema sobre a Igreja?" A apuração dos escrutínio apresentou 1.114 votos a favor da fusão dos dois esquemas; a maioria requerida era de 1.097. O Padre Rahner e a Aliança Europeia o tinham arrebatado por 17 votos. 

sábado, 4 de maio de 2013

ALGUMAS PÁGINAS HISTÓRICAS DO CONCÍLIO VATICANO II - 10ª página

   Continua a Padre Ralph Wiltgen  S. V. D. no seu livro "O RENO SE LANÇA NO TIBRE": 


   "Durante uma entrevista exclusiva que aceitou me conceder, Mons. Marcel Lefebvre disse não acreditar que as poderosas Conferências Episcopais pudessem constituir ameaça ao papado, mas que via nelas uma ameaça ao magistério e à responsabilidade pastoral dos bispos tomados individualmente. Falava com conhecimento de causa, visto que fundou, ao longo dos onze anos em que foi legado Apostólico para a África de Língua Francesa (1948-1959), as Conferências Episcopais Nacionais de Madagascar; de Brazaville, no Congo; de Camarões e da África Ocidental Francesa. Era fácil perceber, dizia, que "em uma Conferência Episcopal Nacional, três, quatro ou cinco bispos teriam mais influência do que os outros e assumiriam o controle das manobras". Ele via nisto "um perigo para a autoridade magisterial e pastoral de cada bispo, que é por instituição divina o doutor e pastor de seu rebanho". Referindo-se expressamente à Assembleia de Cardeais e Arcebispos da França, ele chamou atenção para o fato de que acontecia a esta assembleia publicar uma declaração comum sobre questões sociais ou pastorais: "Fica então muito difícil a um bispo se dissociar da posição que foi tomada publicamente, e ele termina simplesmente reduzido ao silêncio". Eis, aí, para Mons. Lefebvre, "um poder novo e indesejável colocando-se acima do bispo diocesano".
   E foi mesmo mais longe, dizendo-me que havia aí "uma nova forma de coletivismo invadindo a Igreja". A tendência que então prevalecia na aula conciliar era, segundo ele, conceder às Conferências Episcopais tanta autoridade que "cada bispo veria tão reduzida sua possibilidade de governar a própria diocese que ele perderia toda iniciativa". É certo que um bispo tinha o direito de contradizer a uma Conferência Episcopal Nacional, "mas em um caso assim, seu clero e os leigos acabariam divididos, não sabendo se deveriam seguir o bispo ou a Conferência Episcopal".
   Mons. Lefebvre me garantiu que estava em ação uma influência limitadora: "Os grupos minoritários das diversas nações não se fazem escutar como deveriam, contentam-se em calar e seguir as próprias Conferências Episcopais Nacionais". Segundo ele, o que era necessário para "este Concílio Católico", não era um agrupamento de Padres Conciliares em bases nacionais ou linguísticas como estava acontecendo até agora, "mas um agrupamento internacional (...) por escolas de pensamento e tendências particulares". Então seria possível conhecer o pensamento dos bispos, em vez de ver o que as nações pensam. "Pois são os bispos, e não as nações, que formam o Concílio".

   O Padre Congar, O. P., ilustre teólogo francês, admitiu que as Conferências Episcopais suscitavam um problema difícil, que afetava a Igreja em pontos vitais. Tais conferências, declarou, não deviam enfraquecer a responsabilidade pessoal dos bispos, impondo as normas de uma organização paralela para não acabarem chegando onde não deviam, a ponto de pôr em perigo a unidade católica. 

   Mais uma vez, o Concílio encontrava-se ante um conflito. 

quinta-feira, 2 de maio de 2013

ALGUMAS PÁGINAS HISTÓRICAS DO CONCÍLIO VATICANO II - 9ª página

   "Na 44ª Congregação Geral, realizada em 9 de outubro, Mons. Proença Sigaud, Arcebispo de Diamantina (Brasil) que se qualificava a si mesmo como tradicionalista, pediu um cuidado todo especial com a exposição sobre a colegialidade episcopal. Disse que um estudo comparado dos artigos 12, 13 e 16 do esquema dava a impressão de que se ensinava uma "nova doutrina" - a saber, que os Doze, com Pedro à sua frente, constituíam, no sentido estrito, um colégio verdadeiro e permanente, e isto "por instituição divina". Ele temia graves consequências. "Se os bispos e o Papa constituem, por instituição divina, um colégio verdadeiro e permanente, seque-se que a Igreja deve ser habitual e ordinariamente (e não extraordinariamente) regida pelo Papa com o Colégio de Bispos. Em outros termos, o governo da Igreja, por instituição divina, não seria monárquico ou pessoal, mas colegiado". Ora, na história da Igreja, o exercício pelos bispos de sua autoridade colegial como nos Concílios Ecumênicos, constitui um acontecimento pouco frequente e deve, em consequência, ser olhado como um governo não ordinário, mas extraordinário, da Igreja Universal.

   "A Igreja tinha tradicionalmente ensinado, continuou Mons. Proença Sigaud, que todo bispo, logo que era designado pelo Papa, "recebia o cargo - e com ele a autoridade necessária - de exercer o ofício episcopal sobre os fiéis a ele confiados, nos limites do território que lhe era designado pela autoridade competente". Enfatizou que era importante distinguir entre os atos realizados coletivamente pelos bispos e os atos realizados colegialmente. Como exemplo de ato coletivo, citou as decisões tomadas por uma reunião de bispos da mesma província ou da mesma região; não era o caso de se dizer que aí eles recebiam sua eficácia da instituição divina, nem que era um ato colegial. Tais decisões tinham apenas "uma eficácia jurídica", isto é, só seriam obrigatórias em uma diocese se aprovadas pelo Romano Pontífice, que lhes conferia força de lei em virtude de seu poder pleno e universal, ou quando o bispo da diocese em questão, em virtude de sua própria jurisdição o aprovasse dando-lhe força de lei na sua diocese. 

   Segundo Mons. Proença Sigaud, convinha evitar dois "perigosos precipícios": em primeiro lugar "devemos evitar estabelecer uma espécie de instituição mundial, uma espécie de concílio ecumênico permanente, para o qual alguns bispos seriam eleitos ou delegados por outros, e que se desincumbiriam das funções do colégio episcopal inteiro. Deste modo, eles realizariam de modo habitual e ordinário, com o Romano Pontífice, atos verdadeiramente colegiados (?), cuja eficácia se estenderia, por instituição divina, à Igreja Universal". Um organismo assim seria uma espécie de "parlamento mundial" no seio da Igreja. Ora, Cristo não estabeleceu, com certeza, nada de semelhante, pois, durante vinte séculos, nem os Romanos Pontífices nem os bispos tiveram disto o menor conhecimento. "Ao contrário", acrescentou ele, "é evidente a todos que Cristo Nosso Senhor conferiu o supremo governo da Igreja à pessoa de Pedro, para que o exercesse no início e, depois, seus sucessores, o fizessem". 
   Outro perigo a evitar: a criação de "uma espécie de concílio nacional ou regional permanente, no qual certo número de bispos de uma nação ou de uma região tomaria decisões jurídicas ou doutrinárias. Na prática, o Romano Pontífice não teria condições de recusar seu consentimento a esses julgamentos e, consequentemente, todos os bispos da mesma nação e da mesma região se veriam ligados a elas". Era evidente que "tais órgãos acarretariam inconvenientes muito sérios para o exercício do poder ordinário supremo do Santo Padre, bem como para o exercício do poder ordinário de cada bispo". 

   Mal Mons. Proença Sigaud voltara a seu lugar, recebeu um bilhete de Mons. Carli, Bispo de Segni, cumprimentando-o por sua intervenção. Isto foi o começo de uma sólida amizade entre os dois prelados. A seguir, Mons. Proença Sigaud apresentou Mons. Carli a Mons. Marcel Lefebvre, Arcebispo Titular de Sinnada, na Frígia, e Superior Geral dos Padres do Espírito Santo. Os dois Arcebispos tinham se encontrado desde a primeira semana da primeira sessão, e tinham formado um piccolo comitato (pequeno comitê) visando fazer oposição a certas ideias que consideraram extremas e que, segundo eles, eram impostas a muitos Padres Conciliares por poderosas Conferências Episcopais, sobretudo as da Aliança Europeia. Então convidaram Mons. Carli a fazer parte da sua "micro-aliança", e ele aceitou. O Cardeal Döpfner admitiu, mais tarde, que não havia no Concílio um bispo a quem ele mais temesse do que Mons. Carli". 

terça-feira, 30 de abril de 2013

ALGUMAS PÁGINAS HISTÓRICAS DO CONCÍLIO VATICANO II - ( 8 )

   "Com uma política precisa, definida em Munique e em Fulda, que podia ser revista nas reuniões semanais realizadas no Collegio dell'Anima; com 480 páginas de comentários e esquemas de substituição; com um Padre Conciliar de língua alemã em cada comissão; com o Cardeal Frings na Presidência do Concílio e o Cardeal Döpfner fazendo parte ao mesmo tempo da Comissão de Coordenação e dos Moderadores - nenhuma outra Conferência Episcopal estava tão bem armada para assumir e conservar a direção da segunda sessão.
   Neste ponto, era clara a feição que as discussões tomariam. Uma forte influência alemã se faria sentir em quase todas as discussões de declarações de alguma importância. Em cada comissão conciliar os membros especialistas alemães e austríacos articulariam perfeitamente a apresentação das conclusões a que tinham chegado nas Conferências de Munique e de Fulda. Graças a estas duas conferências, graças às mudanças radicais introduzidas pelo Papa no Regimento Interno, graças à sua escolha dos cardeais Döpfner, Suenens e Lercaro para Moderadores, estava garantido o controle por parte da Aliança Europeia. 
   Em sua alocução inaugural de 29 de setembro de 1963, Paulo VI enumerou os quatro objetivos básicos do II Concílio do Vaticano: 
  • maior tomada de consciência, por parte da Igreja, de sua natureza específica. 
  • renovação interna da Igreja;
  • promoção da unidade dos cristãos;
  • promoção do diálogo com o homem moderno.
A seguir, o Sumo Pontífice dirigiu-se aos observadores: "É com toda reverência que nos dirigimos agora aos delegados das comunidades cristãs separadas da Igreja Católica, por elas enviados para assistir, como observadores, a estas solenes sessões. É para nós um consolo saudá-los de todo coração. Nós lhes agradecemos por terem vindo. Por meio deles queremos dirigir uma mensagem de amor paterno e fraterno às veneráveis comunidades cristãs que aqui representam".
   "Nossa voz treme, nosso coração se comove ante o duplo pensamento de indizível consolação e dulcíssima esperança que nos causa a presença deles, e de amargura e tristeza que nos causa tão longa separação". (...) "Deste Concílio, de onde ela contempla a universalidade do mundo, a Igreja dirige o olhar para além das terras cristãs, para outras religiões que conservam o senso e a noção de Deus uno, criador, providente, supremo e transcendente à natureza das coisas, que Lhe rendem culto por atos de sincera piedade e que desses usos e opiniões fazem derivar regras morais e sociais. Por certo, a Igreja Católica, não sem dor, vê, nestas religiões, lacunas, defeitos e erros, mas não pode impedir-se de voltar para elas seu pensamento, para fazê-las saber quanta estima sente por tudo quanto vê nelas de verdadeiro, de bom, de humano". 
  
   A preocupação principal da segunda sessão, explicou o Papa, devia ser "examinar a natureza íntima da Igreja e propor, na medida do possível, em linguagem humana, uma definição que seja a mais apropriada para revelar-lhe a constituição verdadeiramente fundamental e para explicar sua multiforme missão de salvação". Disse não haver razão para se espantar de que, depois de vinte séculos, a Igreja Católica ainda precisasse elaborar uma definição mais precisa de sua verdadeira natureza, profunda e complexa. Sendo um "mistério", uma realidade toda impregnada da Divina Presença", ela é "sempre suscetível de uma nova e mais penetrante inquirição".