SAUDAÇÕES E BOAS VINDAS

LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO! PARA SEMPRE SEJA LOUVADO!

Caríssimos e amados irmãos e irmãs em Nosso Senhor Jesus Cristo! Sêde BEM-VINDOS!!! Através do CATECISMO, das HOMILIAS DOMINICAIS e dos SERMÕES, este blog, com a graça de Deus, tem por objetivo transmitir a DOUTRINA de Nosso Senhor Jesus Cristo. Só Ele tem palavras de vida eterna. Jesus, o Bom Pastor, veio para que Suas ovelhas tenham a vida, e com abundância. Ele é a LUZ: quem O segue não anda nas trevas.

Que Jesus Cristo seja realmente para todos vós: O CAMINHO, A VERDADE, A VIDA, A PAZ E A LUZ! Amém!

domingo, 29 de setembro de 2019

EXPLICAÇÃO DO 16º DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES



S. Lucas, XIV, 1-11

"Quem se humilha será exaltado".

 Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!


O Santo Evangelho de hoje oferece-nos dois pontos de meditação: a cura do homem hidrópico em dia de sábado; e a parábola para ensinar a humildade. Consideremos este último.

Para estarmos enraizados na caridade, é indispensável que o estejamos igualmente na humildade, pois só quem é humilde é capaz de amar verdadeiramente a Deus e ao próximo. Nosso Senhor Jesus Cristo dá-nos uma lição prática de humildade, condenando a caça aos primeiros lugares.

 Não se sabia então o que era a humildade. Jesus mostra aos fariseus as humilhações do orgulho e as vantagens da humildade. No céu, como na terra, os humildes terão sempre o primeiro lugar. Os verdadeiros humildes não se enganam sobre o sentido desta parábola. Chamados ao primeiro lugar no banquete que Deus dá aos seus futuros eleitos, no grande vestíbulo da Igreja, eles vão, de si mesmos, colocar-se no último, onde se acham mais a vontade para cuidar da sua salvação eterna. À hora da morte, virá então dizer-lhe o Pai de família - "Amigo, assenta-te mais para cima".

   Ouçamos o comentário de São Bernardo: "Coloquemo-nos no último lugar, pois nenhum prejuízo nos pode vir pelo fato de nos humilharmos e nos julgarmos inferiores ao que na realidade somos. Todavia é um dano terrível e um mal enorme querermos nos elevar nem que seja uma só polegada acima do que somos, e preferir-nos a uma só pessoa. Assim como para passar por uma porta muito baixa não nos prejudica inclinarmo-nos demasiadamente, mas prejudica-nos muitíssimo levantarmo-nos um só dedo acima da trave; de igual modo não há motivo para temermos humilhar-nos demasiado, mas devemos temer e aborrecer o mais pequeno movimento de presunção". 
   
A humildade reside propriamente no coração, isto é, na vontade. Jesus exorta-nos a aprender d'Ele que é humilde de coração. Santa Teresa d'Ávila diz  que a humildade é a verdade. Sem dúvida, porque ela nos faz ver o nosso nada e a nossa profunda abjeção, ou seja, o que realmente corresponde à realidade. O conhecimento próprio é, na verdade, uma preparação para a humildade propriamente dita. Para haver a VIRTUDE DA HUMILDADE, é necessário, além da verdade (adequação de uma coisa com a razão) que haja justiça comutativa, que manda dar, ou atribuir  a cada um o que realmente lhe é devido. Portanto, além da razão humana é mister entrar a fé. Para que alguém seja humilde de coração é preciso que aceite como devidas a si, que é um nada pecador, as humilhações. Assim desprezamos a nós mesmos com toda sinceridade de nosso coração. Somos dignos de desprezo e devemos amar a nossa abjeção para que sobressaia mais a grandeza de Deus. Ademais, devemos desejar que todo mundo entre nos mesmos sentimentos a nosso respeito, e nos julgue como nos julgamos a nós mesmos. E a humildade em sumo grau só existe quando nos alegramos de que todos os homens se comportam para conosco, segundo o desprezo que lhes inspiramos. Quem chega a este grau de humildade, não se contenta de sofrer com paciência os opróbrios, mas recebe-os com alegria, e até os busca com o ardor que os mundanos empregam em buscar as honras e o renome. Os santos (porque os que possuem este grau de humildade são santos) amam as humilhações evidentemente não porque são em si amáveis, mas porque os tornam semelhantes ao Filho de Deus aniquilado por amor de nós. O outro motivo: é porque as humilhações nos dão o meio de testemunharmos a Jesus o nosso amor e de merecer o seu amor.

Deus antes da Encarnação não podia se humilhar: porque a verdade é que Ele é o Sumo Bem, é a própria Perfeição, é a própria Santidade. Daí, Lhe é devida toda honra e glória. Mas, fazendo-se homem como que se aniquilou, e além disso tomou a forma de servo, e fez-se obediente até à morte e morte de cruz. E cada um dos mistérios da vida de Jesus é uma prova de seu amor à abjeção: nascimento, circuncisão, fuga para o Egito, trinta anos passados na obscuridade. E na sua Paixão mostrou que o Seu desejo de humilhações não tinha limites.

Caríssimos, vejamos a excelência da humildade: considerada em si mesma e considerada em seus frutos.

EM SI MESMA A HUMILDADE É EXCELENTE: Basta explicarmos um pouco mais as noções sobre a humildade que acima demos. A humildade é a verdade, mas não já a verdade puramente especulativa, mas a que passa da inteligência para o coração. A inteligência mostra o que realmente somos e o coração dirige e santifica os afetos do coração. E assim, se reinar em mim a verdade, nunca entrará em mim a vaidade. Depois, a humildade é a justiça, pela qual se deve dar a cada um o que lhe pertence, "cuique suum". A pessoa humilde compreende este oráculo do Senhor: "Isto diz o Senhor: Não se glorie o sábio no seu saber, nem se glorie o forte na sua força, nem se glorie o rico nas suas riquezas; porém, aquele se gloria glorie-se em me conhecer e em saber que eu sou o Senhor" (Jeremias. IX, 23 e 24). Se a pessoa humilde obteve algum sucesso, e praticou algum bem, atribui-o Àquele que dá a vontade e o poder. Quanto a ela, só fez o que devia fazer, e ainda se examina se o fez bem. Sabe, também, o que lhe é devido por tantas faltas que cometeu, e que comete ainda todos os dias; sabe de quantos crimes seria capaz, se a mão do Senhor a não amparasse.
A humildade é, outrossim, toda a religião. Pois é por ela que a pessoa humilde adora e ora, esperando tudo só de Deus. É a humildade que obedece, sujeitando a vontade. A castidade é a humildade da carne que ela sujeita ao espírito; a mortificação exterior é a humildade dos sentidos; a penitência é a humildade de todas as paixões, que ela sacrifica. A fé é a humildade da razão, que renuncia aos seus próprios pensamentos e se inclina ante os pensamentos de Deus.

A EXCELÊNCIA DA HUMILDADE CONSIDERADA EM SEUS FRUTOS: a graça, a paz, a glória presente e a eterna.

 A GRAÇA: Deus dá a sua graça aos humildes. A oração do humilde penetra as nuvens e chega até o trono do Altíssimo. Assim como o ímã atrai o ferro, assim a humildade atrai a graça.
 A PAZ: Primeiramente, a paz com Deus. Se o humilde pecou, consegue logo o perdão e torna Deus propício a ele, já que a humildade tem este privilégio de tudo reparar. Diz Davi no Salmo L, 19: "Deus nunca despreza um coração contrito e humilhado". Temos um exemplo muito claro disto no Livro  I Reis XXI, 29: "O Senhor dirigiu sua palavra a Elias tesbita, dizendo: Não viste Acab humilhado diante de mim? Porque ele, pois, se humilhou, em atenção a mim, não farei vir aquele mal enquanto ele viver". A paz com o próximo: Pois o humilde procura sempre o último lugar, esquece-se de si para só pensar nos outros. Sendo filha da caridade, a humildade suaviza e une os corações. A paz consigo mesmo: É o que Jesus disse: "Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas". Segundo Santo Agostinho, a paz é a tranquilidade da ordem; ora, nada há mais em ordem do que uma alma humilde. Há, pois, ordem quando cada coisa está em seu devido lugar. Donde, o humilde não conhece as perturbações provocadas pela soberba.

A GLÓRIA PRESENTE E A ETERNA: "Quem se humilha será exaltado", garantiu o Divino Mestre. Sim, o homem mais verdadeiramente grande é aquele que cumpre melhor o seu fim, que é glorificar a Deus. Poderá haver maior glória do que ser semelhante a Nosso Senhor Jesus Cristo?! E não há melhor meio de ser semelhante a Ele, do que sendo humilde, e como Jesus, amar as humilhações. Temos tanta inclinação para a grandeza, e aqui está, caríssimos, a nossa verdadeira grandeza: imitarmos a Jesus. JESUS, MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO! FAZEI O MEU CORAÇÃO SEMELHANTE AO VOSSO". Amém!

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

SÃO CIPRIANO E SANTA JUSTINA


No dia 26 de setembro, a santa Igreja comemora S. Cipriano e Santa Justina, que foram martirizados no mesmo dia no ano de 304. Aqui falamos do Cipriano feiticeiro que se converteu. Nasceu em Antioquia na Fenícia. Seus pais eram pagãos e feiticeiros e em todos os segredos da superstição e feitiçarias  introduziram Cipriano. Entregou sua alma ao demônio e tornou-se muito rico e mestre em todas as artes diabólicas da feitiçaria. Obviamente, inimigo figadal da Religião Católica. Entregou-se a uma vida a mais depravada possível. Enforcava crianças inocentes e oferecia o seu sangue como holocausto ao demônio. Nas entranhas ainda palpitantes dos inocentes procurava conhecer os segredos do futuro. Com malefícios diabólicos conseguia seduzir as donzelas. Mas Cipriano, que cresceu achando que o demônio era o maior e invencível começou a perceber que deveria haver alguém mais poderoso porque nunca conseguira seduzir as jovens que praticavam o Catolicismo que ele odiava e vivia insultando. Todos os artifícios diabólicos malogravam diante das jovens cristãs.

Morava também em Antioquia uma jovem cristã muito fervorosa, embora seus pais fossem pagãos. Chamava-se Justina e era de uma beleza encantadora de corpo e muito mais de espírito. Com suas orações, penitências e bons exemplos convertera toda sua família. Daí o ódio maior do demônio contra ela. O demônio incutiu no coração de um jovem pagão chamado Agládio, uma paixão violenta por Justina. Não podendo, porém, cativar-lhe a afeição, inspirado certamente pelo Asmodeu, recorreu aos artifícios mágicos de Cipriano. Justina passou a sofrer terrivelmente os acessos diabólicos, mas, pela oração e pelo sinal da cruz, debelou a todos. Foi assaltada por tentações as mais horríveis contra a santa pureza. Mas, recorrendo sempre à Rainha das Virgens, saiu vitoriosa das insídias do inimigo.

Nisso, o feiticeiro Cipriano começou a duvidar do poder dos demônios. Justina rezava pela sua conversão. Cipriano tomou a resolução de se livrar do demônio e tomar conhecimento da origem de toda aquela fortaleza de Justina. O demônio evidentemente não queria perder sua presa, instrumento utilíssimo para perder almas que ele odeia, porque remidas com o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Que fez o espírito das trevas? Incutiu em Cipriano uma tristeza profunda para levá-lo ao desespero e ao suicídio, pretendendo tirar-lhe o tempo de chegar ao conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas, Deus, Pai todo-poderoso e infinitamente bondoso, enviou a Cipriano um sacerdote chamado Eusébio. As orações, conselhos e as palavras de conforto deste santo homem fizeram com que Cipriano não desfalecesse no meio do caminho. O Padre Eusébio entrou um dia na igreja conduzindo pela mão a Cipriano. Grande foi a surpresa dos fiéis quando viram o grande e terrível feiticeiro entrar na igreja acompanhado do sacerdote. Nem o bispo queria acreditar na sinceridade desta conversão. Cipriano, porém, na presença de todo povo, queimou todos os livros cabalísticos e de magia negra. Fez mais, distribuiu a sua grande fortuna entre os pobres. Então, depois de devidamente instruído, e tendo abjurado a feitiçaria foi batizado. Junto com ele foi batizado também Agládio.

Justina, vendo as maravilhas da divina graça, cortou a sua linda cabeleira e pelo voto de virgindade perpétua dedicou-se ao serviço de Deus. Justina sempre rezava para que Cipriano perseverasse. Realmente a conversão de Cipriano foi sincera e constante. Reparou seu terrível passado com muita penitência e praticou as mais belas virtudes. Assim foi ordenado sacerdote e depois sagrado Bispo.

Mas veio a perseguição de Diocleciano. Cipriano e Justina foram acusados de praticar o Cristianismo. Cipriano sofreu atrozmente. Também Justina foi cruelmente flagelada. E ambos finalmente condenados à decapitação. Há em Roma uma igreja dedicada a estes dois santos mártires e lá estiveram por algum tempo os seus restos mortais, mas que hoje se encontram na igreja de São João de Latrão em Roma.

Caríssimos, acabamos de ver um exemplo do poder da graça de Deus. Na verdade, na expressão de Santo Agostinho, o demônio é um cão amarrado que só morde em quem chega perto dele.

Infelizmente, hoje há inúmeras almas entregues ao demônio. Ele as domina. Há 43 anos, quando neo-sacerdote ainda, quis conversar comigo em particular um homem verdadeiramente estranho. Disse-me ele: Desde criança que sigo o Espiritismo, e agora, se eu quiser conseguir o máximo, terei que entregar minha alma ao demônio. Que você acha? Dei-lhe muitos bons conselhos. Saiu da igreja e nunca mais vi. Mais recentemente, conversei com uma moça que dizia estar se convertendo de uma seita satânica. Só Deus sabe! Fiz-lhe muitas perguntas. Entre outras coisas ela me disse que seduziu algumas pessoas para às práticas diabólicas, entre elas, a de matar crianças inocentes e oferecer seu sangue ao demônio. Fiquei achando estar diante do próprio demônio, tal a frieza com que contava estas coisas. E pior: falou que sentia certa saudade daquelas cerimônias diabólicas. Perguntei como era possível os satanistas cometerem tamanhos crimes e não serem presos. Ela disse que o demônio ocultava tudo. Esta moça é do Mato Grosso do Sul e também nunca mais a vi, nem quero, a menos que já se tenha convertido verdadeiramente.


Caríssimos leitores, precisamos, como Santa Justina, rezar muito, fazer penitência, dar o bom exemplo, ter uma devoção verdadeira e terna a Nossa Senhora, a São Miguel Arcanjo e ao nosso Anjo da Guarda. Amém!

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

MÊS DA BÍLIA

MÊS DA BÍBLIA

                                                                                                                                          Dom Fernando Arêas Rifan*
        
       Setembro é o mês da Bíblia e, no próximo domingo, dia 29, celebraremos o dia nacional da Bíblia, dedicado a despertar e promover entre os fiéis o conhecimento e o amor dos Livros Sagrados, a Palavra de Deus escrita, redigida sob a moção do Divino Espírito Santo, motivando-os para sua leitura cotidiana, atenta e piedosa e, ao mesmo tempo, premunindo-os contra os erros correntes com relação à Bíblia mal interpretada.
        “Na Igreja, veneramos extremamente as Sagradas Escrituras, apesar da fé cristã não ser uma ‘religião do Livro’: o cristianismo é a ‘religião da Palavra de Deus’, não de ‘uma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo’” (Bento XVI - Verbum Domini, 7)
          É de São Jerônimo, o grande tradutor dos Livros Santos, a célebre frase: “Ignorar a Sagrada Escritura é ignorar o próprio Cristo”. Portanto, o conhecimento e o amor às Escrituras decorrem do conhecimento e do amor que todos devemos a Nosso Senhor. 
          O ponto central da Bíblia, convergência de todas as profecias, é Jesus Cristo. O Antigo Testamento é preparação para a sua vinda e o Novo, a realização do seu Reino. “O Novo estava latente no Antigo e o Antigo se esclarece no Novo” (Santo Agostinho).
         Dizemos que a Bíblia é um livro divino e humano: inspirada por Deus, mas escrita por homens, por Deus movidos e assistidos enquanto escreviam. 
        A Bíblia não é um livro só, mas um conjunto de 73 livros, redigidos por autores diferentes, em épocas, línguas, estilos e locais diversos, num espaço de tempo de cerca de mil e quinhentos anos. Sua unidade se deve ao fato de terem sido todos eles inspirados por Deus, seu autor principal e garantia da sua inerrância.
        Mas a Bíblia não é um livro de ciências humanas. Por isso a Igreja Católica reprova a leitura fundamentalista da Bíblia, que teve sua origem na época da Reforma Protestante e que pretende dar a ela uma interpretação literal em todos os seus detalhes, o que não é correto.
        Além disso, a Bíblia não é um livro fácil de ser lido e interpretado. São Pedro, falando das Epístolas de São Paulo, nos diz que “nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam, para a sua própria ruína, como o fazem também com as demais Escrituras” (II Pd 3, 16).
Daí a advertência do mesmo São Pedro: “Sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal. Porque jamais uma profecia foi proferida por efeito de uma vontade humana. Homens inspirados pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus” (2Pd 1, 20-21).  Assim, o ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita (a Bíblia Sagrada) ou transmitida oralmente (a Sagrada Tradição) foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo, que disse aos Apóstolos e seus sucessores “até a consumação dos séculos”: “Ide e ensinai a todos os povos tudo o que vos ensinei... quem vos ouve a mim ouve”.

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
http://domfernandorifan.blogspot.com.br/

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Espírito de Pobreza dos Primeiros Cristãos

   Os primeiros cristãos, primícias da Igreja nascente, levaram ao auge a perfeição evangélica e deram o exemplo de uma incomparável união, de uma completa abnegação e sublime caridade. Viviam como se fossem um só coração e uma só alma. Tudo que cada um tinha era possuído em comum. Vendiam as suas fazendas e os seu bens e distribuíam-nos por todos, segundo a necessidade que cada um tinha. A comunhão de bens realizada pela fé destes primeiros cristãos dava aos Apóstolos a administração e o domínio das coisas temporais. 
   Desde modo se acha constituída a propriedade eclesiástica no próprio berço da Igreja. 
  Dentre os que venderam os seus bens para fazer comum o valor deles, cita a Sagrada Escritura por exemplo, um levita, natural de Chipre, chamado José, que recebeu o sobrenome de Barnabé e que, pouco tempo depois, elevando à dignidade de Apóstolo, veio a ser companheiro de São Paulo. 
   São Lucas nos Atos dos Apóstolos fala-nos de um outro fiel chamado Ananias, que vendeu um campo e trouxe aos Apóstolos só uma parte do preço, fazendo-lhes crer que o trazia todo. São Pedro disse-lhe: "Ananias, por que tentou Satanás o teu coração para que tu mentisses ao Espírito Santo e reservastes parte do preço do campo? Porventura não te era livre ficar com ele e ainda hoje, depois de vendido, não era teu o preço?" Essas palavras de São Pedro mostram que o crime não consistia no direito exclusivo de propriedade nem no de reservar para si a totalidade ou parte do que lhe pertencia, mas na mentira do discípulo que, depois de afirmar que dava todos os seus bens, como os outros, retinha uma parte por espírito de cobiça e avareza. Ricos com o que conservavam em seu poder Ananias e sua esposa Safira vinham a sê-lo muito mais adquirindo o direito de participar do tesouro comum da Igreja.
   Essa criminosa especulação foi o segundo atentado contra os bens da Igreja e dos pobres. O primeiro cometera-o Judas Iscariotes que roubava o que recolhia para os pobres. Como se vê, a oblação foi livre e santa desde o princípio da pregação evangélica e é o que estabelece uma diferença essencial entre o Evangelho e o comunismo. "O comunismo, diz o Padre Rivaux, é a exaltação até ao delírio de todos os apetites materiais e de todos os desejos grosseiros. A comunhão evangélica é a abnegação, a imolação do orgulho e da carne. Do Evangelho ao comunismo há a distância do céu ao inferno".
   O Apóstolo Judas Iscariotes, que seria o traidor, antes de trair a Jesus, já traía os pobres porque, como diz claramente o Santo Evangelho, este infeliz apóstolo, se tornara ladrão: era encarregado de recolher os dízimos ou as esmolas para os pobres; e no entanto retinha uma parte para si.
   A Santa Igreja, desde o início se preocupou com os pobres e também com o exemplo de Jesus e dos Apóstolos, os clérigos, embora não façam voto de pobreza (a menos que seja também religioso), devem, no entanto ter o espírito de pobreza, evitar o luxo, e sobretudo não ter apego aos bens materiais. Assim, é completamente contrário ao espírito do Santo Evangelho, uma preocupação demasiada com o dízimo, máxime, se este é empregado, para luxo pessoal, e não para a ornamentação e decoro da igreja para maior honra de Deus, Nosso Senhor. Mas o destino precípuo das esmolas dos fiéis é a ajuda aos pobres. 

domingo, 15 de setembro de 2019

FESTA DE NOSSA SENHORA DAS DORES

 
 Jesus Cristo, Nosso Senhor, associou sua Mãe Santíssima a todas as suas glórias e grandezas e por isso fê-la também companheira de todos os seus sofrimentos. Jesus quis que Sua Mãe fosse Rainha dos Mártires. Belíssima gema faltaria na sua coroa se não tivesse a dor. Foi Rainha da dor e do martírio. E seu martírio durou toda a sua vida. Sabia-o ela muito bem pelas santas profecias do Velho Testamento a respeito do Messias, que era o seu Filho. Quanto sofreu com a ingratidão, a traição, o abandono, o desamor de que foi alvo o seu Filho: Belém, Egito, Nazaré, Jerusalém, o presépio e Calvário, o Templo, o palácio de Herodes e de Pilatos, são todos lugares onde o seu coração se despedaçou tantas vezes!

   Primeiro, consideremos as dores de Maria Santíssima na sua parte natural e humana e, depois na sua parte divina e sobrenatural.

   1º - Dor humana e natural: A dor corresponde ao amor. Em outras palavras: onde há mais amor, maior a dor. O amor de Maria Santíssima era um amor de Mãe. Caríssimos, com isto está tudo dito! Amor de mãe é o amor mais puro, mais nobre, menos egoísta que na terra existe. Por isso Deus não quis que tivéssemos mais do que uma; ela só basta para encher toda a nossa existência de carinhos inefáveis; de beijos terníssimos, de um amor que enche plenamente o nosso coração. Como ama uma mãe! E como amaria a Santíssima Virgem a seu Filho! Basta pensarmos que Deus pôde preparar para si a sua Mãe. Empregou com certeza todo seu amor e todo seu poder para preparar um coração que amasse sem limite o Filho de Deus que era também o Seu Filho! Daí, caríssimos, podemos imaginar qual não seria a dor de Maria Santíssima na perda de seu Filho, único, o melhor de todos, que amava a sua mãe como nenhum filho amou a sua. E Jesus morreu não por uma enfermidade, por um acidente infeliz, mas por traição, ingratidão, enorme e horrível injustiça e que tudo isto foi realizado no meio de atrocíssimos tormentos e na presença desta mãe amorosíssima! 

Dor divina e sobrenatural: Caríssimos, se já foi difícil, para não dizer impossível, formarmos uma ideia inteiramente adequada da dor natural e humana de Nossa Senhora por ter presenciado as dores e morte atrocíssimas de seu divino Filho, como poderemos avaliar devidamente sua dor sobrenatural? Primeiro, quem conheceu, como Maria Santíssima, que o seu Filho era Deus? E quem conheceu Deus como ela? Sobretudo quem O amou como ela? Como sentiria, portanto, as ofensas, os insultos, os tormentos que os homens deram a Jesus? Se, como Mãe, todas as dores de Jesus, se repercutiam no seu coração, que seria como Mãe de Deus? Os mártires sofriam com alegria abraçados ao crucifixo. Os penitentes e os eremitas são alentados pela vista da imagem de Jesus Crucificado. Para Maria, porém, a vista de Jesus Crucificado, era precisamente o seu maior tormento. O mesmo que ia consolar a outros, era o verdugo do coração da Mãe. As dores de Maria Santíssima, não foram físicas, mas por isso mesmo, foi mais intensa a sua dor por ser toda ela interna, puramente espiritual!

   Caríssimos, não poderia terminar sem destacar um detalhe: é que Maria Santíssima fez a vontade do Pai Eterno. Deus Pai queria que Ela oferecesse o seu Filho em sacrifício para salvar os seus outros filhos que somos nós. E ela ofereceu o seu Coração Imaculado para ser transpassado de dor, para que justamente desta ferida aberta nascêssemos todos nós, os filhos de sua dor!. Para nos salvar, Deus não perdoou o seu próprio Filho. Também Maria Santíssima fez o mesmo! E assim ela esteve ao pé da cruz, morta de dor, desejando a morte de seu Filho Jesus, para dar-nos a vida eterna. Quanto amor! Mas também quanta dor! Ah! caríssimos, quanto custamos a Maria Santíssima ser filhos seus! Então, amemo-la mesmo à custa dos nossos sofrimentos e, se for da vontade de Deus, até da nossa própria vida. Quem não amar a Jesus, seja anátema; e quem não ama a Maria Santíssima é porque não ama a Jesus. 

AS SETE DORES DE MARIA SANTÍSSIMA

   Na sexta-feira da 1ª Semana da Paixão a Santa Madre Igreja faz a Comemoração das Sete Dores de Nossa Senhora, e no dia 15 de setembro celebra a Festa de Nossa Senhora das Dores. 

   Em primeiro lugar, lembremos sucintamente estas sete dores de Maria Santíssima: 
  1. A PROFECIA DE SIMEÃO: "Eis aqui está posto este Menino como alvo a que atirará a contradição: e uma espada de dor transpassará até a tua alma" (São Lucas II, 34).
  2. A FUGIDA DE JESUS PARA O EGITO: "Foi, então que o anjo apareceu em sonhos a José com a ordem: Levanta-te, toma o menino e sua mãe, e foge para o Egito" (São Mateus II, 13).
  3. PERDA DE JESUS NO TEMPLO: "Seus pais iam todos os anos a Jerusalém, para a festa da Páscoa. Quando estava com doze anos, subiram a Jerusalém, por ocasião daquela solenidade, segundo o costume. Passados os dias da festa, quando voltaram, ficou em Jerusalém o menino Jesus, sem que seus pais o notassem. Julgando que ele estivesse na comitiva, caminharam um dia inteiro. Mas quando o procuraram entre os parentes e conhecidos e não o encontraram, voltaram a Jerusalém, à sua procura. Depois de três dias o encontraram no templo,... E sua mãe lhe disse: 'Filho, por que procedeste assim conosco? Teu pai e eu te procurávamos, cheios de aflição" (São Lucas II, 41-48).
  4. ENCONTRO COM JESUS CAMINHANDO COM A CRUZ AOS OMBROS PARA O CALVÁRIO: Sabemo-lo pela Tradição que o Apóstolo São João assim anunciara a Maria: "Ah! Mãe dolorosa, já vosso Filho foi condenado à morte; já o levam para o Calvário carregando ele mesmo a cruz aos ombros, saiu para aquele lugar que se chama Calvário (São João XIX, 17). Se quereis vê-lo, Senhora, e dar-lhe o último adeus, vinde comigo à rua por onde deve passar". 
  5. MORTE DE JESUS: "Estava de pé junto à cruz de Jesus, sua Mãe" (S. João XIX, 25). "Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo a quem amava, disse a sua mãe: 'Mulher, eis o teu filho'. Depois disse ao discípulo: 'Eis tua mãe' (S. João XIX, 26 e 27).
  6. A LANÇADA E A DESCIDA DA CRUZ: "Vieram os soldados e quebraram as pernas do primeiro e do outro, que tinham sido crucificados com ele. Quando se aproximaram de Jesus, viram que já estava morto e por isso não quebraram as pernas. Mas um dos soldados penetrou-lhe o lado com a lança. Imediatamente saiu sangue e água" (S. João XIX, 32-34). 
  7. SEPULTURA DE JESUS: "Depois disto, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus, mas ocultamente por medo dos judeus, pediu a Pilatos que o deixasse levar o corpo de Jesus. Pilatos deu permissão. Ele foi e tomou o corpo de Jesus. Nicodemos, aquele que antes tinha ido procurar Jesus à noite, veio também, trazendo cerca de cem libras de um mistura de mirra e de aloés. Tomaram o corpo de Jesus e envolveram-no em lençóis com perfumes, de acordo com o modo de sepultar seguido pelos judeus. Havia um jardim no lugar onde Jesus foi crucificado. E no jardim havia um sepulcro novo, no qual ainda ninguém tinha sido sepultado. Ali puseram Jesus, por causa da preparação dos judeus, pois o sepulcro ficava próximo" (S. João XIX, 38-42). 

sábado, 14 de setembro de 2019

FESTA DA EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ

   De grande veneração goza a Cruz que serviu de altar no grande sacrifício que Jesus Cristo ofereceu no monte Calvário ao Pai Celestial. Daí a Santa Liturgia chama-a Santa Cruz ou Santo Lenho. E celebra-a em duas datas: no dia 03 de maio é a Festa da Invenção (=encontro da Santa Cruz); e no dia 14 de setembro, celebra-se a Festa da Exaltação da Santa Cruz. 

   Eis um resumo histórico: Era o ano de 610. Era rei da Pérsia o bárbaro Chosroes II. Fizera guerra contra o império oriental romano. Heráclio, então governador da África, fez proposta de paz a Chosroes. Este não aceitou, e, orgulhosamente disse: "Os Romanos não terão paz, enquanto não adorarem o sol, em vez de um homem crucificado". Heráclio, no entanto, colocando toda confiança em Deus, em 622 marchou contra a Pérsia. Saiu vitorioso.  Chosroes foi morto pelo próprio filho, Este celebrou a paz com o rei Heráclio. E uma da primeiras condições desta paz foi a restituição do Santo Lenho, que anteriormente havia sido roubado e levado para a Pérsia. 

   Uma vez livre do jugo dos Persas, Heráclio resolveu a solene transladação do Santo Lenho para Jerusalém. Na primavera do ano de 629, com grande comitiva, foi a Cidade Santa, levando consigo a preciosa relíquia. Foi uma grandíssima festa! Em procissão soleníssima foi levada a Santa Cruz, para ser depositada na Igreja do Santo Sepulcro, no monte Calvário. O Imperador tinha reservado para si a honra de a carregar. Chegado que foi à porta da cidade que conduz ao Gólgota, como retido por forças invisíveis, Heráclio não pôde dar mais um passo adiante. O Patriarca Zacarias, que presidia à Procissão, como por inspiração divina, disse ao Imperador "Senhor! Lembrai-vos de que Jesus Cristo era pobre, quando vós andais vestido de púrpura; Jesus Cristo levava uma coroa de espinhos, quando na vossa cabeça vejo brilhar uma coroa preciosíssima; Jesus Cristo andava descalço, quando vós usais calçado finíssimo". Heráclio, com humildade aceitou o aviso do patriarca. Tirou a coroa, trocou o manto imperial  por uma túnica pobre, substituiu o rico calçado por sandálias e, tomando novamente o Santo Lenho, sem dificuldade o levou até a última estação. Lá chegado, todo o povo se acercou da grande relíquia, venerando-a com muita fé. Muitos doentes recuperaram a saúde. O dia 14 de setembro de 629 foi de triunfo e da mais santa alegria. 

São Paulo dizia: "Prego a Cristo Crucificado,  que é escândalo para os judeus e loucura para os pagãos"  (1Cor. I, 23). Nada mais salutar para a alma do que a meditação da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus. Três coisas, no entanto, nos impedem de compreender esta verdade: o orgulho, a distração, a imortificação. O orgulho porque obscurece a fé: não queremos que Deus tenha mais bondade do que podemos compreender. a distração: porque nos impede aprofundar coisa alguma; a imortificação: porque admite-se dificilmente o que é incompatível com uma vida tíbia e sensual que não se quer deixar. 

   Senhor! Vós dignai-Vos inspirar-me a resolução de meditar muitas vezes a vossa Paixão e Morte, e eu tomo-a, com a Vossa graça. Na meditação da Vossa Cruz, ó Divino Salvador, poderei santificar a minha vida e acharei ali o motivo e modelo de todas as virtudes; acharei ali as mais sólidas consolações, e amando-Vos. acharei a incomparável alegria de Vos ganhar almas. Amém!

   

domingo, 1 de setembro de 2019

HOMILIA DOMINICAL - 12º Domingo depois de Pentecostes

   Leituras: Segunda Epístola ao Coríntios, capítulo 3, versículo 4-9.
                   Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas, 10, 23-27. 


   
   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

   O Divino Mestre acabara de dizer aos seus discípulos: "Alegrai-vos por ter os vossos nomes escritos nos Céus!" E um doutor da Lei, para tentar a Jesus, perguntou-Lhe: "Mestre, que devo fazer para possuir a vida eterna?" Que pergunta importante, capital! No entanto, o doutor da Lei fê-la com má intenção: queria armar uma cilada ao Salvador e esperava obrigá-Lo a dizer algo contrário às tradições recebidas, para assim poder acusá-Lo. "O orgulho, diz São Gregório Magno, é o sinal mais certo da condenação de uma alma". 
   Nosso Senhor, Sabedoria infinita, para mostrar a inutilidade da insidiosa pergunta do doutor e a sua má fé, coloca-o na obrigação de ser ele mesmo, doutor da Lei, a dar a resposta: "Vós, doutor da Lei, encarregado de explicá-la aos outros, dizei-me, que está escrito na Lei? Como ledes vós"? 
  Caríssimos e amados irmãos, prouvera a Deus que antes de fazer ou empreender qualquer coisa, perguntássemos a nós mesmos: "Que está escrito na Lei de Deus e da Santa Igreja"? Quais são os meus deveres de estado diante de Deus? Evitaríamos, sem dúvida, muitas faltas!
   Mas voltemos ao doutor da Lei. Este escriba não teve mais que repetir os dois preceitos fundamentais que Moisés tinha dado aos Israelitas: "Amarás o Senhor, teu Deus, e o próximo como a ti mesmo". Fê-lo como quem conhece a sua cartilha, e merece a felicitação de Jesus. Mas sentia-se humilhado; necessitava justificar a sua atitude diante do público. - Amar o próximo, está bem; isso já todos nós sabíamos. "Mas quem é o meu próximo"? 
Jericó, cidade das palmeiras e flores, no fundo vê-se o deserto que se
estende até Jerusalém, num percusso de 38 Km.
   De Jericó a Jerusalém é um terrível deserto. É uma subida abrupta, montanhosa, acidentada, ladeada de barrancos, uma subida de uns trinta e oito quilômetros,  cujos extremos apresentam uns mil metros de desnível. Jericó é um oásis, a cidade mais antiga do mundo (várias vezes reconstruída) e também a mais baixa do mundo, a 340 metros abaixo do nível do mar. Pois bem, Jesus situa a sua parábola do bom Samaritano neste cenário. 
   Nosso Senhor Jesus Cristo, a Sabedoria eterna, graças a uma inexcedível mestria, vai obrigar o legista a confessar uma coisa que parecia um absurdo na boca de um doutor da lei. "Israelita que matar um pagão, dizia o Talmud - não merece a morte, porque o pagão não é próximo" E um samaritano? Os judeus tinham um ódio e desprezo profundos por eles. Tanto assim, que, quando os doutores do templo quiserem exprimir todo o ódio que tinham a Jesus, chamar-lhe-ão samaritano. 
   Contada a parábola, só faltava tirar a moral da história: - "Qual dos três, perguntou Jesus ao doutor, é, na tua maneira de ver, o próximo daquele que caiu na mão dos ladrões? Não havia dúvida possível, mas o escriba absteve-se, com muita habilidade, de pronunciar o nome odioso: - "O que se compadeceu dele -responde" - "Então vai, exclamou Jesus secamente - e faze tu o mesmo". Como se dissesse: Tem presente sr. doutor da lei, que a lei da caridade deve-se observar em relação a todos: judeus e pagãos, descendentes de Abraão e samaritanos. Jesus não se quer limitar a oferecer uma descrição bonita ou a dar uma lição teórica: "Faze tu o mesmo". Na verdade a ideia não tem valor nenhum se não se transforma em vida. Faze tu o mesmo, ainda que se trate de um infiel, de um inimigo, de um samaritano. 
   A parábola do bom Samaritano é o quadro mais belo e mais perfeito que se poderia fazer do amor do próximo. O Samaritano um homem por terra, mortalmente ferido. Para ter o amor do próximo, para praticar esta virtude, é preciso primeiro ver, não desviar os olhos da miséria que se nos apresenta. Não basta; é preciso ainda saber ver, deter-se um instante no caminho, considerar e compreender os males alheios, e não fazer como o sacerdote e o levita, que viram e passaram. Depois é preciso ter compaixão, aproximar-se, pelo coração, daqueles que sofrem, não limitar-se a uma compaixão estéril, mas imitar o Samaritano, dar como ele, em favor do próximo, tempo, dinheiro, trabalho, a sua própria pessoa, em uma palavra, dedicar-se como uma boa mãe. 

    Caríssimos e amados fiéis em Nosso Senhor Jesus Cristo, a parábola do Samaritano tem ainda uma explicação que lhe deram os Santos Padres, e que não convém deixar em silêncio. Explicam eles: - O homem que caiu em poder dos ladrões, é o pecador abandonado, semi-morto, na estrada da vida, moralmente ferido pelo demônio em suas faculdades naturais, e por ele despojado dos bens sobrenaturais. O sacerdote e o levita que passam sem socorrê-lo, é a Sinagoga tão somente preocupada com a leitura da Santa Escritura, lendo-a sem compreendê-la, estudando-a sem praticá-la. O Samaritano, é Nosso Senhor Jesus Cristo que desce da Jerusalém celeste e atravessa a terra coberta de demônios que invadiram a criação inteira. Jesus viu a humanidade despojada da graça e semi-morta, teve compaixão do seu estado, aproximou-se, e, abrindo o vaso precioso da sua santa Humanidade ferida pelos nossos crimes, dele tirou o óleo das suas lágrimas e o vinho do seu sangue, para curar-lhe as chagas. Depois, tomou nos braços o pobre pecador, o fez subir à sua própria cruz, e o conduziu à hospedaria que é a sua Igreja. Passou à cabeceira do enfermo uma primeira noite, e, no dia seguinte, na manhã da sua ressurreição, chamou o estalajadeiro, os ministros da Igreja, e lhe disse: Cuidai bem desse enfermo. Eis aqui dois dinheiros - o Evangelho e os Sacramentos; com esses recursos cuidai do seu completo restabelecimento e, quando voltar - no dia do juízo - então te pagarei todo o restante do vosso trabalho.

   Caríssimos, terminemos com uma oração de Santa Catarina de Sena: " Ó Cristo, doce Jesus, concedei-me esta santa caridade a fim de perseverar no bem e de jamais me afastar dele, pois quem possui a caridade está fundado em Vós, rocha viva e, segundo os Vossos exemplos, aprende de Vós a amar o seu Criador e o seu próximo. Em Vós, ó Cristo, leio a regra e a doutrina que me convém guardar, porque Vós sois o caminho, a verdade e a vida; lendo em Vós, poderei seguir o caminho reto e atender somente à honra de Deus e à salvação do próximo". Amém!