S. Lucas, XIV, 1-11
"Quem se humilha
será exaltado".
Caríssimos
e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!
Para estarmos enraizados na caridade, é indispensável
que o estejamos igualmente na humildade, pois só quem é humilde é capaz de amar
verdadeiramente a Deus e ao próximo. Nosso Senhor Jesus Cristo dá-nos uma lição
prática de humildade, condenando a caça aos primeiros lugares.
Não se sabia então o que era a humildade. Jesus mostra aos
fariseus as humilhações do orgulho e as vantagens da humildade. No céu, como na
terra, os humildes terão sempre o primeiro lugar. Os verdadeiros humildes não
se enganam sobre o sentido desta parábola. Chamados ao primeiro lugar no
banquete que Deus dá aos seus futuros eleitos, no grande vestíbulo da Igreja,
eles vão, de si mesmos, colocar-se no último, onde se acham mais a vontade para
cuidar da sua salvação eterna. À hora da morte, virá então dizer-lhe o Pai de
família - "Amigo, assenta-te mais para cima".
Ouçamos o comentário de São Bernardo:
"Coloquemo-nos no último lugar, pois nenhum prejuízo nos pode vir pelo
fato de nos humilharmos e nos julgarmos inferiores ao que na realidade somos.
Todavia é um dano terrível e um mal enorme querermos nos elevar nem que seja
uma só polegada acima do que somos, e preferir-nos a uma só pessoa. Assim como
para passar por uma porta muito baixa não nos prejudica inclinarmo-nos
demasiadamente, mas prejudica-nos muitíssimo levantarmo-nos um só dedo acima da
trave; de igual modo não há motivo para temermos humilhar-nos demasiado, mas
devemos temer e aborrecer o mais pequeno movimento de presunção".
A humildade reside propriamente no coração, isto é, na
vontade. Jesus exorta-nos a aprender d'Ele que é humilde de coração. Santa
Teresa d'Ávila diz que a humildade é a
verdade. Sem dúvida, porque ela nos faz ver o nosso nada e a nossa profunda
abjeção, ou seja, o que realmente corresponde à realidade. O conhecimento
próprio é, na verdade, uma preparação para a humildade propriamente dita. Para
haver a VIRTUDE DA HUMILDADE, é necessário, além da verdade (adequação de uma
coisa com a razão) que haja justiça comutativa, que manda dar, ou atribuir a cada um o que realmente lhe é
devido. Portanto, além da razão humana é mister entrar a fé. Para que alguém
seja humilde de coração é preciso que aceite como devidas a si, que é um nada
pecador, as humilhações. Assim desprezamos a nós mesmos com toda sinceridade de
nosso coração. Somos dignos de desprezo e devemos amar a nossa abjeção para que
sobressaia mais a grandeza de Deus. Ademais, devemos desejar que todo mundo
entre nos mesmos sentimentos a nosso respeito, e nos julgue como nos julgamos a
nós mesmos. E a humildade em sumo grau só existe quando nos alegramos de que
todos os homens se comportam para conosco, segundo o desprezo que lhes
inspiramos. Quem chega a este grau de humildade, não se contenta de sofrer com
paciência os opróbrios, mas recebe-os com alegria, e até os busca com o ardor
que os mundanos empregam em buscar as honras e o renome. Os santos (porque os
que possuem este grau de humildade são santos) amam as humilhações
evidentemente não porque são em si amáveis, mas porque os tornam semelhantes ao
Filho de Deus aniquilado por amor de nós. O outro motivo: é porque as
humilhações nos dão o meio de testemunharmos a Jesus o nosso amor e de merecer
o seu amor.
Deus antes da Encarnação não podia se humilhar: porque a
verdade é que Ele é o Sumo Bem, é a própria Perfeição, é a própria Santidade.
Daí, Lhe é devida toda honra e glória. Mas, fazendo-se homem como que se
aniquilou, e além disso tomou a forma de servo, e fez-se obediente até à morte
e morte de cruz. E cada um dos mistérios da vida de Jesus é uma prova de seu
amor à abjeção: nascimento, circuncisão, fuga para o Egito, trinta anos
passados na obscuridade. E na sua Paixão mostrou que o Seu desejo de
humilhações não tinha limites.
Caríssimos, vejamos a excelência da humildade: considerada
em si mesma e considerada em seus frutos.
EM SI MESMA A HUMILDADE É EXCELENTE: Basta explicarmos um
pouco mais as noções sobre a humildade que acima demos. A humildade é a
verdade, mas não já a verdade puramente especulativa, mas a que passa da
inteligência para o coração. A inteligência mostra o que realmente somos e o
coração dirige e santifica os afetos do coração. E assim, se reinar em mim a
verdade, nunca entrará em mim a vaidade. Depois, a humildade é a justiça, pela
qual se deve dar a cada um o que lhe pertence, "cuique suum". A
pessoa humilde compreende este oráculo do Senhor: "Isto diz o Senhor: Não se glorie o sábio no seu saber, nem se
glorie o forte na sua força, nem se glorie o rico nas suas riquezas; porém,
aquele se gloria glorie-se em me conhecer e em saber que eu sou o Senhor" (Jeremias.
IX, 23 e 24). Se a pessoa humilde obteve algum sucesso, e praticou algum bem,
atribui-o Àquele que dá a vontade e o poder. Quanto a ela, só fez o que devia
fazer, e ainda se examina se o fez bem. Sabe, também, o que lhe é devido por
tantas faltas que cometeu, e que comete ainda todos os dias; sabe de quantos
crimes seria capaz, se a mão do Senhor a não amparasse.
A humildade é, outrossim, toda a religião. Pois é por ela
que a pessoa humilde adora e ora, esperando tudo só de Deus. É a humildade que
obedece, sujeitando a vontade. A castidade é a humildade da carne que ela
sujeita ao espírito; a mortificação exterior é a humildade dos sentidos; a
penitência é a humildade de todas as paixões, que ela sacrifica. A fé é a
humildade da razão, que renuncia aos seus próprios pensamentos e se inclina
ante os pensamentos de Deus.
A EXCELÊNCIA DA HUMILDADE CONSIDERADA EM SEUS FRUTOS: a
graça, a paz, a glória presente e a eterna.
A GRAÇA: Deus dá a
sua graça aos humildes. A oração do humilde penetra as nuvens e chega até o
trono do Altíssimo. Assim como o ímã atrai o ferro, assim a humildade atrai a
graça.
A PAZ: Primeiramente,
a
paz com Deus. Se o humilde pecou, consegue logo o perdão e torna Deus
propício a ele, já que a humildade tem este privilégio de tudo reparar. Diz
Davi no Salmo L, 19: "Deus nunca
despreza um coração contrito e humilhado". Temos um exemplo muito
claro disto no Livro I Reis XXI, 29: "O Senhor dirigiu sua palavra a Elias
tesbita, dizendo: Não viste Acab humilhado diante de mim? Porque ele, pois, se
humilhou, em atenção a mim, não farei vir aquele mal enquanto ele viver". A paz com o próximo: Pois o humilde
procura sempre o último lugar, esquece-se de si para só pensar nos outros.
Sendo filha da caridade, a humildade suaviza e une os corações. A paz
consigo mesmo: É o que Jesus disse: "Aprendei
de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas
almas". Segundo Santo Agostinho, a paz é a tranquilidade da ordem;
ora, nada há mais em ordem do que uma alma humilde. Há, pois, ordem quando cada
coisa está em seu devido lugar. Donde, o humilde não conhece as perturbações
provocadas pela soberba.
A GLÓRIA PRESENTE E A ETERNA: "Quem se humilha será
exaltado", garantiu o Divino Mestre. Sim, o homem mais verdadeiramente
grande é aquele que cumpre melhor o seu fim, que é glorificar a Deus. Poderá
haver maior glória do que ser semelhante a Nosso Senhor Jesus Cristo?! E não há
melhor meio de ser semelhante a Ele, do que sendo humilde, e como Jesus, amar as
humilhações. Temos tanta inclinação para a grandeza, e aqui está, caríssimos, a
nossa verdadeira grandeza: imitarmos a Jesus. JESUS, MANSO E HUMILDE DE
CORAÇÃO! FAZEI O MEU CORAÇÃO SEMELHANTE AO VOSSO". Amém!
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