SAUDAÇÕES E BOAS VINDAS

LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO! PARA SEMPRE SEJA LOUVADO!

Caríssimos e amados irmãos e irmãs em Nosso Senhor Jesus Cristo! Sêde BEM-VINDOS!!! Através do CATECISMO, das HOMILIAS DOMINICAIS e dos SERMÕES, este blog, com a graça de Deus, tem por objetivo transmitir a DOUTRINA de Nosso Senhor Jesus Cristo. Só Ele tem palavras de vida eterna. Jesus, o Bom Pastor, veio para que Suas ovelhas tenham a vida, e com abundância. Ele é a LUZ: quem O segue não anda nas trevas.

Que Jesus Cristo seja realmente para todos vós: O CAMINHO, A VERDADE, A VIDA, A PAZ E A LUZ! Amém!

domingo, 26 de janeiro de 2020

EXPLICAÇÃO DO EVANGELHO DO 3º DOMINGO DEPOIS DA EPIFANIA


S. Mateus VIII 1-13

Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

Havendo Jesus descido do monte, grande multidão de povo O seguiu. Após o sermão da montanha, Jesus Cristo opera dois milagres: a cura do leproso e a de um paralítico, servo do Centurião de Cafarnaum. Diremos uma palavra de cada um deles e procuraremos tirar as lições que nos oferecem. Devemos sempre dar ações de graças pela descida de Jesus do mais alto dos Céus para nossa salvação! O VERBO DE DEUS SE FEZ CARNE E HABITOU ENTRE NÓS.

Este leproso é a humanidade repugnante e desfigurada para a qual o Salvador se digna descer. Na verdade, é para ela que o Filho de Deus, o Verbo Eterno, saindo das profundezas de sua eternidade, se inclina ao vir à terra. Se Ele não tivesse descido, jamais a humanidade teria podido subir até lá.

A lepra foi sempre considerada pelos Santos Padres e oradores sacros como a imagem do pecado. Objeto de horror pelos homens, os leprosos eram isolados da humanidade (hoje, graças a Deus, com o tratamento, é uma doença controlável e não mais contagiosa). O pecador também é objeto de horror para Deus e para os anjos. Separado da comunhão dos Santos nesta vida,  ver-se-á separado na outra, de sua bem-aventurada companhia. No entanto, ó cristãos, se sois acometidos desta horrível lepra do pecado, não deveis desesperar. Vamos considerar o duplo exemplo que o Evangelho deste domingo põe diante de nossos olhos, exemplo de humildade e de confiança da parte do leproso, exemplo de bondade e de misericórdia da parte do Salvador. E que a cura miraculosa do doente, vos faça pressagiar para vós uma cura semelhante.

O leproso vem a Jesus e se lança aos seus pés dizendo-Lhe: "Senhor, se quereis, podeis curar-me". Que humildade! Ele se ajoelha, adora, mostra suas chagas a Jesus, e isto diante de uma multidão que não tem por ele senão horror e aversão. Que confiança! Pede com um inteiro abandono à vontade de Deus. É como se ele dissesse: Sei, Senhor, que o vosso poder é grande e a vossa misericórdia também. Não quero senão o que Vós quereis. Sois o médico celeste; sabeis o que convém a este pobre doente: "Si vis, potes me mundare". Devemos observar que o leproso não pede que Jesus o toque. Mas Jesus em sua bondade vai além do desejo do pobre doente: toca-o e diz-lhe: "Eu quero, sê limpo". E incontinente ficou o leproso  curado.

Jesus tocou a lepra física para mostrar que Ele veio para tocar também a lepra moral, para colocar a mão sobre nossas chagas, sobre as chagas que o pecado nos fez. Sob a impressão desta mão divina, a graça se espalha pelo mundo todo, aos pagãos como aos Judeus, aos pecadores mas também aos justos. Jesus Cristo cura todas nossas enfermidades morais como cura outrossim nossas enfermidades físicas. Para a cura das enfermidades físicas, Ele exige uma fé grande e firme; para a cura das enfermidades morais, exige, além da fé, uma grande humildade e um arrependimento sincero e profundo. E neste último caso exige que mostremos nossa lepra, isto é, nossos pecados aos sacerdotes através de uma confissão sincera e íntegra.

Caríssimos, meditemos agora no segundo milagre: a cura do paralítico, servo do Centurião. Quando Jesus entrou em Cafarnaum, um Centurião aproxima-se d'Ele e diz-Lhe: "Senhor, um servo meu jaz em casa paralítico e sofre cruelmente". Jesus diz-lhe: "Eu irei e o curarei". Mas o Centurião Lhe respondeu: "Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa, mas dizei somente uma palavra e meu servo recuperará a saúde. Eu sou um homem que devo obedecer a autoridade superior e tenho soldados sob meu comando. Se digo a este: Vai, ele vai; ou a outro: Vem, e ele vem; ou a meu servo: Faze isto, ele faz".

Centurião era um oficial  que comandava 100 soldados. O procedimento deste oficial, embora pagão, faz sobressair três virtudes: a humildade, julgando-se indigno de receber Jesus em sua casa. Sua fé no poder sobre-humano do Salvador: acredita que do mesmo modo como ele obedece à palavra dos oficiais superiores e com sua palavra de centurião dá ordens aos simples soldados, também a palavra extraordinária de Jesus tem o poder de operar as transformações que quiser. E finalmente brilham neste Centurião as virtudes da caridade e compaixão para com seu empregado. O quadro patético que ele faz do estado do doente parece indicar que ele fala de seu filho e não de seu simples servo. Caríssimos, diante de sentimentos tão virtuosos e excelentes, Jesus imediatamente se dispõe a ouvir sua súplica: "Eu irei e o curarei".

Este Centurião está mais próximo da verdade do que os próprios Judeus. Era gentio e, no entanto, mostra mais fé do que  o povo escolhido de Israel. "Ele merece, diz S. Agostinho, receber, já neste mundo, na casa de seu coração Aquele que ele não ousa receber em sua casa de pedra e barro. Não há dúvida que o Centurião tenha se tornado um dos mais fiéis e dos mais zelosos discípulos de Jesus". 

Jesus, ouvindo as palavras do Centurião, enche-Se de admiração e disse: "Na verdade vos digo: Não encontrei fé tão grande entre os filhos de Israel". E Jesus depois acrescenta: "Digo-vos também que virão muitos do Oriente e do Ocidente e se assentarão à mesa junto com Abraão, Isaac e Jacó, no reino do céu. Mas os filhos do reino serão lançados às trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes". Jesus compara aqui o Reino do Céu a um banquete posto em sala profusamente iluminada. A ele são chamados todos os povos, ao passo que muitos descendentes de Abraão, filhos da casa, serão, por sua incredulidade, expulsos de lá e lançados às trevas que reinam do lado de fora. Estas trevas são a imagem do inferno com seus tormentos, sobretudo da privação da visão beatífica de Deus, que é a Luz, a Beleza e o Bem infinitos.   

Caríssimos, a Santa Madre Igreja também admira a fé e a humildade do Centurião. Na presença do Salvador na Eucaristia, no momento em que Ele está prestes em fazer sua entrada nas almas pela comunhão, a Igreja emprega as palavras do oficial romano e as coloca nos lábios de seus padres e de seus milhares de fiéis: "Domine, non sum dignus ut intres sub tectum meum, sed tantum dic verbum et sanabitur anima mea". Que honra para o Centurião que não tinha recebido as promessas, nem as preparações, nem as graças especiais do povo judeu, e cuja fé se mostrara no entanto tão superior àquela desta nação rebelde em um tão grande número de seus filhos!

Nós somos, caríssimos, pela antiguidade da fé, dada uma vez por todas (S. Judas Tadeu, vers. 3), pela multidão inumerável de benefícios com que Deus nos favoreceu em todos os países onde brilhou a pregação do Evangelho no decurso destes 2000 mil anos, que foram regados pelo sangue dos mártires, nós, digo, estamos de alguma maneira em uma situação análoga àquela em que se encontraram os Judeus no tempo de Nosso Senhor. As graças de Deus nos preveniram e fomos delas cumulados. Podemos verdadeiramente ser considerados OS FILHOS DO REINO. Pois bem! Devemos temer merecer por causa de nossas infidelidades reiteradas, por nossas resistências obstinadas, que os estrangeiros vindos do Oriente e do Ocidente, nos sejam preferidos. Devemos temer que eles sejam admitidos ao reino do céu, e nós rejeitados.


Ó Senhor, que a vossa misericórdia nos preserve de tamanha desgraça! Sim, é verdade que nossa alma está enferma na casa de nosso corpo. Ela  está doente da doença do pecado, doença do orgulho, doença da luxúria, doença da avareza, doença da inveja, doença do ódio. Ela perdeu suas forças sob a ação dessas paixões funestas, dessas febres cruéis; ela está paralítica, tetânica e sofre horrivelmente, sem movimento para o bem, sem vida para a virtude. Senhor, uma só palavra vossa poderá curá-la. Não somos dignos, mas por vossa misericórdia, todos os obstáculos serão retirados, e Vós podeis vir à nossa alma e ela estará salva. Amém!

HOMILIA - 3º Domingo depois da Epifania

   Leituras: Epístola de São Paulo Apóstolo aos Romanos, XII, 16-21.
                    

   Continuação do Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus segundo São Mateus, VIII, 1-13:

Na parte superior, vemos o Centurião
pedindo a Jesus a cura de seu servo
paralítico.
   Depois que Jesus desceu do monte, muita gente o acompanhou. E eis que, vindo um leproso, o adorava dizendo:  "Senhor, se queres, podes limpar-me".E Jesus estendendo a mão, tocou-o, dizendo: "Pois, eu quero, fica limpo". E logo ficou limpa toda a sua lepra. Então lhe disse Jesus: "Vê, não o digas a ninguém; mas vai mostra-te ao sacerdote, e faze a oferta que ordenou Moisés, para lhes servir de testemunho a eles". E tendo entrado em Cafarnaum, chegou-se ao pé dele um centurião, fazendo-lhe esta súplica e dizendo: "Senhor, o meu criado jaz em casa doente duma paralisia, e padece muito com ela". E Jesus respondeu-lhe: "Eu irei e curá-lo-ei". E respondendo o centurião disse: "Senhor, eu não sou digno de que entres na minha casa; dize, porém, uma só palavra, e o meu criado será salvo. Pois também eu sou homem sujeito a outro, que tenho soldados às minhas ordens, e digo a um: Vai acolá, e ele vai; e a outro: Vem cá, e ele vem; e ao meu servo: Faze isto, e ele faz". E Jesus ouvindo-o falar assim, admirou-se e disse para os que o seguiam: "Em verdade, vos afirmo que não achei tamanha fé em Israel. Digo-vos, porém, que virão muitos do oriente e do ocidente, e se sentarão à mesa com Abraão e Isaac e Jacó no reino dos Céus; e os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes". Então disse Jesus ao Centurião: "Vai, e faça-se segundo tu creste". E naquela mesma hora ficou são o criado. 

   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!


   O Santo Evangelho de hoje relata-nos dois milagres: a cura de um homem leproso; e a do servo do Centurião. Com a graça de Deus, vamos fazer algumas reflexões sobre ambos.

   O pobre leproso do Evangelho, tendo ouvido falar dos milagres de Jesus, foi ao seu encontro e prostrando-se humildemente a seus pés, diz-lhe com fé admirável: "Senhor, se quereis, podeis curar-me". Súplica breve, simples, comovente, cheia de fé, de humildade e de submissão à vontade de Jesus. Eis o comentário de São João Crisóstomo: "Ele não diz: se pedires a Deus; mas se quereis, podeis curar-me. Também não diz: Senhor, curai-me; mas abandona-se inteiramente a Jesus, considerando-o como Senhor e Mestre soberano de todas as coisas, que conhece, muito melhor do que ele próprio, os seus verdadeiros interesses".

   Caríssimos, oh! se soubéssemos orar como este leproso! Quantas graças alcançaríamos!

   Quanto às graças espirituais, isto é, quando pedimos coisas que se referem à glória de Deus e à salvação da nossa alma, tenhamos confiança firme e inteira de que seremos ouvidos por Jesus. Quando se trata de graças temporais, peçamos; mas, quanto à oportunidade, entreguemo-nos à vontade de Deus: "Senhor, se quereis..."

   Jesus estende a mão em sinal do seu poder; e toca o leproso com essa mão divina para nos mostrar como é que a sua humanidade santa, unida à divindade, se torna o instrumento abençoado das maiores maravilhas. E ao mesmo tempo afirma-lhe: "Eu o quero, fica limpo!" O efeito é produzido imediatamente: "e naquele instante as sua lepra foi curada".


   Passemos ao segundo milagre: A súplica do Centurião (que era pagão, mas admirava a religião e até tinha edificado à sua custa, a sinagoga da cidade) é perfeita sob o ponto de vista da fé e confiança na bondade e no poder de Jesus. Observemos que ele não pede a Jesus, como outros, que vá a sua casa e imponha as mãos sobre o seu servo e o cure. Mas, como tinha feito Maria Santíssima nas bodas de Caná, como farão mais tarde as irmãs de Lázaro, limita-se a expor ao Salvador o miserando estado do seu doente.

   E este Centurião dá-nos um exemplo belíssimo de caridade: ensina aos amos como devem tratar paternalmente os seus servos, a solicitude e bondade de que os devem cercar nas suas doenças.

   E disse-lhe Jesus: "Eu irei e curá-lo-ei". E é aqui que resplandecem a humildade e a fé deste Centurião diante de tanta condescendência e bondade de Jesus: "Senhor,eu não sou digno de que entreis em minha casa; mas dizei uma só palavra e meu servo ficará curado..." Ele, pobre pecador e pagão, não se julga digno de receber em sua casa a visita de Jesus, que considera como um grande Profeta, como um Deus. E além disto ele julga desnecessária a ida de Jesus; porque basta um simples ato da vontade de Jesus, uma simples palavra sua, para que seu servo seja curado. Assim comenta Santo Agostinho: "Este bom centurião proclamando-se indigno, tornou-se digno de receber Jesus Cristo, não somente em sua casa, mas em seu coração"  - "E por esta admirável humildade, acrescenta São João Crisóstomo, mereceu o reino do Céu". Podemos acrescentar que mereceu também que a sua piedosa resposta, inserida pela Santa Madre Igreja nas preces litúrgicas, fosse recitada todos os dias no Santo Sacrifício da Missa, antes da comunhão do sacerdote e antes da dos fiéis.

  Um dia, Santa Catarina de Sena, absorta na sua profunda indignidade, não ousava aproximar-se da santa Mesa e dizia a seu divino Esposo: "Senhor, bem vedes, eu não sou digna de vos receber em meu pobre coração". "É certo, respondeu-lhe Jesus com amor inefável, mas eu sou digno de entrar nele"!

   Ó bom Jesus, tende compaixão da minha triste miséria! Com mais fundamento do que a vossa serva, eu reconheço que não sou digno de vos receber. Mas vós sois infinitamente bom e misericordioso; dizei uma só palavra: "Quero limpar-te", e minha pobre alma será purificada. Depois vinde fortificá-la, consolá-la, enchê-la da vossa graça e do vosso amor, a fim de que seja transformada em vós, e não mais viva senão para Vós! Amém!

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

20 de janeiro: São Sebastião - Mártir (+ 287)

Extraído do Livro "NA LUZ PERPÉTUA", autor: Pe. João Batista Lehmann, S. V. D.

   Nascido em Narbone, na Gália, recebeu Sebastião a educação em Milão, terra natal de sua mãe. Cristão, nunca se envergonhou de sua religião. Vendo as grandes tribulações que os cristãos sofriam, as perseguições atrozes de que eram vítimas, alistou-se nas legiões do imperador, com a intenção de mitigar os sofrimentos dos seus irmãos em Cristo. A figura imponente, a prudência e bravura do jovem tanto agradaram ao imperador, que o nomeou comandante da guarda imperial. Nesta posição elevada, Sebastião se tornou o grande benfeitor dos cristãos encarcerados. Tendo entrada franca em todas as prisões, lá ia visitar as pobres vítimas do rancor e ódio pagão, e com palavras e dádivas consolava e animava os candidatos ao martírio. Dois irmãos, Marco e Marceliano, não se acharam com coragem de afrontar os horrores da tortura e, aconselhados pelos pais e parentes, resolveram-se a sacrificar aos deuses. Mal teve ciência disto, Sebastião procurou-os e com sua palavra cheia de fé, reanimou os desfalecidos e vacilantes, levando-os a perseverar na religião e antes sacrificar tudo que negar a fé. Profunda comoção apoderou-se de todos que assistiram a esta cena. Marco e Marcelino cobraram ânimo e prometeram a Sebastião fidelidade na fé até à morte. Uma das pessoas presentes era Zoé, esposa do funcionário imperial Nicostrato. Esta pobre mulher estava muda há seis anos. Impressionada pelo que presenciara, prostrou-se aos pés de Sebastião, procurando por sinais interpretar o que lhe desejava dizer. Sebastião fez o sinal da Cruz sobre ela e imediatamente Zoé recuperou o uso da língua. Ela e o marido converteram-se ao Cristianismo. Este exemplo foi imitado pelos pais de Marco e Marceliano, pelo carcereiro Cláudio e mais dezesseis pessoas. Todos receberam o santo Batismo das mãos do sacerdote Policarpo, na casa de Nicostrato.
   A conversão destas pessoas, em circunstâncias tão extraordinárias, chamou a atenção do prefeito de Roma, Cromâncio. Sofrendo horrivelmente de reumatismo, e sabendo que o pai de Marco e Marceliano pelo Batismo tinha ficado curado do mesmo mal, manifestou o desejo de conhecer a religião cristã. Sebastião deu-lhe as instruções necessárias, batizou-o, com seu filho, Tibúrcio e curou-o da doença. Tão grato ficou Cromâncio, que pôs em liberdade os cristãos encarcerados seus escravos, e renunciou ao cargo de prefeito. Retiraram-se da cidade para sua casa de campo, deu agasalho aos cristãos, acossados pela perseguição. 
   Esta recrudesceu de uma maneira assustadora. O santo Papa Caio aconselhou os cristãos que se sentiam com pouco ânimo de sofrer o martírio, que se retirassem da cidade antes da tempestade se desencadear. O mesmo conselho deu a Sebastião. Este, porém, nada disto quis saber e declarou preferir ficar em Roma, para animar e defender os irmãos nas grandes aflições. "Pois bem, meu filho - disse-lhe o Papa - fica na arena da luta, representando o defensor da Igreja de Cristo, sob o título de capitão imperial".
   Muito tempo não levou, e Diocleciano soube, por uns cristãos apóstatas, que Sebastião era cristão, e grandes serviços prestava aos outros cristãos encarcerados. Diocleciano repreendeu-o, e apelou para os sentimentos de honra de capitão, pois que tão mal agradecia os benefícios e distinções recebidas. Sebastião com respeito, mas também com franqueza se defendeu, apresentando os motivos que o determinaram a seguir a religião cristã e a socorrer os pobres perseguidos. O imperador, porém, insistiu na exigência, recorrendo a promessas, elogios e ameaças, para conseguir de Sebastião que abandonasse a religião de Cristo. Todas as argumentações e tentativas de Diocleciano esbarraram de encontro à vontade inflexível do militar. Sem mais delongas, deu ordem aos soldados que amarrassem os chefe a uma árvore e o asseteassem. A ordem foi cumprida imediatamente. Os soldados despiram-no, ataram-no a uma árvore e atiraram-lhe setas em tanta quantidade quanto acharam necessárias, para matar um homem e deixaram a vítima neste mísero estado, supondo-o morto.
  Alta noite chegou-se Irene, mulher do mártir Castulo, ao lugar da execução, para tirar o corpo de Sebastião e dar-lhe sepultura. Com grande admiração, encontrou-o ainda com vida. Sem demora deu providências para que o mártir fosse levado para sua casa, onde o tratou com todo o desvelo.
   Apenas restabelecido, o herói procurou o imperador e, sem pedir audiência, apresentou-se-lhe, acusando-o de grande injustiça, por condenar inocentes, como eram os cristãos, a sofrer e morrer. Diocleciano, a princípio, não sabia o que pensar e dizer pois tinha por certo que Sebastião não mais existia entre os vivos. Perguntando-lhe quem era, Sebastião disse-lhe: "Sou Sebastião e do fato de eu estar vivo, devias concluir que é poderoso o Deus, a quem adoro, e que não fazes bem em perseguir-lhe os servos". Diocleciano enfureceu-se com esta resposta e ordenou aos soldados que levassem a Sebastião ao foro e lá, na presença de todo o povo, o matassem com paus e bolas de chumbo. Os algozes cumpriram também esta ordem e, para subtrair o cadáver à veneração dos cristãos, atiraram-no à cloaca máxima. Uma piedosa mulher, Santa Luciana, porém, achou-o, tirou-o da imundície, e sepultou-o aos pés de São Pedro e São Paulo. Assim aconteceu em 287. Mais tarde, no ano de 680, as relíquias foram solenemente transportadas para uma basílica, construída por Constantino. Naquela ocasião grassava em Roma a peste, que vitimou muita gente. A terrível epidemia desapareceu na hora daquela transladação, e esta é a razão por que os cristãos veneram em São Sebastião o grande padroeiro contra peste. Em outras ocasiões se verificou o mesmo fato; assim no ano de 1575 em Milão, e 1599 em Lisboa, ficando estas duas cidades livres da peste pela intercessão do glorioso mártir São Sebastião.

REFLEXÕES
   São Sebastião vivia no meio de pagãos. Soldados e oficiais do exército romano eram sua companhia cotidiana. Inabalável na fé, não se deixava influir pelas opiniões, sarcasmos, críticas e calúnias daqueles que não eram cristãos. O mundo contemporâneo tem muitos sinais característicos do paganismo. Difícil é para um católico que pela posição social deve estar em contato contínuo com os pagãos modernos, conservar-se firme na fé e nos bons costumes. Muitos transigem, não achando força bastante para resistir às tentações perturbadoras, ou para enfrentar opiniões e ataques contra a religião. Preferem curvar-se, intimidados pelo respeito humano. Não imites este exemplo. Se todos forem adorar os bezerros de ouro, deves ir a Jerusalém, para adorar teu Deus, como fez o piedoso Tobias, que forçosamente havia de viver entre os infiéis. Se os outros querem trilhar o caminho do pecado, fica firme na prática da virtude, ou dize com o virtuoso Matatias: "Ainda que todas as gente obedeçam ao rei Antíoco, de tal sorte que cada um se aparte do jugo da lei do país e consinta nos mandamentos do rei: eu e meus filhos e meus irmãos obedeceremos à lei do nosso país. Deus de tal sorte nos defenda: nenhuma conveniência temos em deixar a lei, e as ordenanças de Deus". (1Macabeus, II, 19). 

domingo, 19 de janeiro de 2020

2º DOMINGO DEPOIS DA EPIFANIA

   Leituras: Epístola de São Paulo aos Romanos, 12, 6-16; 
                   Evangelho segundo São João, 2, 1-11.

 
"Naquele tempo, celebraram-se umas bodas em Caná de Galileia, e achava-se ali a Mãe de Jesus. E também Jesus foi convidado, com seus discípulos, para as bodas. Faltando o vinho, a Mãe de Jesus disse-lhe: Eles não têm mais vinho. Respondeu-lhe Jesus: Senhora, que nos importa isso, a Mim e a ti? Ainda não chegou a minha hora. Disse sua Mãe aos servidores: Fazei tudo quanto Ele vos disser. Ora, havia ali seis talhas de pedra destinadas às purificações usadas entre os judeus, cada uma das quais comportando duas ou três medidas [cerca de 40 litros]. Disse-lhe Jesus: enchei de água estas talhas. E encheram-nas até às bordas. E Jesus disse-lhes: Tirai agora e levai ao mestre-sala. E levaram. Assim que o mestre-sala provou a água transformada em vinho, sem saber de onde era, embora o soubessem os serventes que haviam tirado a água, chamou o mestre-sala o esposo, e disse-lhe: Todo homem põe primeiro o bom vinho, e quando já se tem bebido, põe então o inferior; mas tu guardaste o bom vinho até agora. Este foi o primeiro dos milagres que Jesus fez em Caná de Galileia; e manifestou sua glória e seus discípulos creram n'Ele". 

   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

Atual Caná da Galileia
   A Liturgia da Santa Madre Igreja começa a falar da vida pública de Nosso Senhor Jesus Cristo. É o primeiro milagre de Jesus, que se deu numas bodas em Caná, pequena aldeia que fica a cerca de 15 km de Nazaré.
   A primeira coisa que o Santo Evangelista ressalta é que nestas bodas se achavam presentes Maria Santíssima e seu divino Filho Jesus acompanhado de alguns discípulos.
   Jesus queria honrar com a sua presença o casamento, futuro sacramento, que purificará a fonte da vida e fundará a família cristã; e ensinar-nos que ele vem de Deus, é bom, digno de respeito e santo; e glorificá-lo com o seu primeiro milagre.
   Infelizmente, quantos cristãos, ou que se dizem tais, repelem a presença de Jesus, recusam a intervenção de Maria Santíssima, no ato aliás tão solene do casamento, e que tantas graças requer para completa felicidade da família! Todo casamento contraído fora da presença de Jesus, e sem a intervenção da sua Igreja, é não somente escandaloso e infeliz, mas ainda fonte perene de inúmeros pecados.

   Felizes os cristãos que têm o cuidado de convidar Jesus e Maria para as suas bodas, preparando-as e celebrando-as em santas disposições! Serão cumulados das graças e das bênçãos mais abundantes. Mas, ai! quantos consideram o matrimônio como um negócio inteiramente humano; quantas más intenções, imodéstias, quantos pecados lamentáveis que precedem, acompanham e seguem este ato tão importante da sua vida! É por isso que são tão poucos os casamentos verdadeiramente abençoados por Deus, e que uma maldição divina parece pesar sobre tantas famílias.
   Caríssimos e amados irmãos, consideremos agora Maria Santíssima nestas santas bodas de Caná da Galiléia. Mãe solícita,  percebe que o vinho vai faltar; e na sua bondade compassiva quer poupar aos esposos a vergonha e aos convivas a privação. Ela sabe que seu filho é o Filho de Deus, e assim cheia de fé, dirige-se a Jesus, cujo poder conhece. Expõe o embaraço iminente daqueles noivos e daquela pobre gente Àquele cuja bondade iguala o poder: "Eles não têm vinho". Palavra, ou antes prece misteriosa, cheia de eficácia sobre o Coração de Jesus, que, em atenção a sua Mãe, vai antecipar a hora dos seus milagres.
   Jesus entende que sua Mãe confia que Ele sendo o Messias, o Filho de Deus, pode fazer um milagre. E Jesus vai fazê-lo. Deixa claro, no entanto, que ainda não era a hora determinada pelo Seu Pai para dar início aos seus milagres. Disse isto para ressaltar o poder de intercessão de Sua Mãe Santíssima. Mas não havia dito no templo entre os doutores que Ele devia obedecer a Seu Pai, ocupando-se em fazer as coisas em obediência a Ele? Sim. Se Jesus antecipa a sua hora de começar a fazer milagres é porque o Seu Pai também determinou que Ele não negasse nada a Sua Mãe. Aqui, portanto, estava igualmente obedecendo ao Seu Pai. É da vontade de Deus que Jesus ceda sempre à intercessão de Maria Santíssima.
   Esta explicação se harmoniza, não somente com outras passagens similares da Escritura, mas ainda com o Espírito de São João, cujo fim era provar a Divindade de Jesus. Além disso o procedimento da Santíssima Virgem mandando aos servos que obedecessem a Jesus, não obstante sua resposta aparentemente negativa, confirma esta explicação que, aliás, só encontra oposição na má fé e ignorância de certos hereges.
   Que felicidade para os esposos de Caná o terem convidado Maria! Ela começa, então, em favor deles, aquele inefável mistério de intercessão, cujos resultados são tão proveitosos para nós, e que, de resto, é tão conforme ao plano divino, segundo a feliz expressão de São Bernardo: "Assim foi da vontade de Deus que tudo recebêssemos através de Maria Santíssima".
   Qual de nós hesitará, pois, em pôr sua confiança em Maria Santíssima e em implorá-la em todas as necessidades? Se ela intercedeu com tanta bondade por estes esposos, sem ter sido rogada, que não fará por aqueles seus filhos que recorrem a ela com tanta fé e amor?
   Ó Maria, boa e terna Mãe, vede a minha profunda miséria espiritual e dizei por mim a Jesus: "Ele não tem vinho", só tem a água da tibieza. Jesus que nada pode recusar-nos, fará em meu favor um novo milagre; dar-me-á graça e perdão, luz e força, mudará a minha água de tibieza no vinho delicioso da devoção e amor!
   Outro resultado deste primeiro milagre de Jesus foi fortalecer a fé nascente dos seus discípulos. Alguns, com efeito, já O seguiam mais ou menos, reconhecendo nele um profeta como João Batista. Mas, depois deste prodígio, consideraram-no como o Messias predito pelos Profetas; sentiram crescer a sua fé e ficaram mais bem dispostos para aceitar a doutrina de Jesus e pô-la em prática.
   Graças Vos dou, ó Jesus, por todas estas lições preciosas, que Vos dignastes dar-nos hoje. Ajudai-nos com a Vossa santa graça a aproveitá-las bem, a amar-Vos cada vez mais, e a viver unicamente para Vós. Amém!
  

EXPLICAÇÃO DO EVANGELHO DO 2º DOMINGO DEPOIS DA EPIFANIA


S. João II, 1-11

Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

Aldeia de Caná na atualidade
Celebraram-se umas bodas em Caná de Galileia, e achava-se ali a Mãe de Jesus. E também Jesus foi convidado, com seus discípulos, para as bodas. Logo após o Batismo e os 40 dias de recolhimento, oração e penitência numa montanha perto de Jericó, depois de permitir ao demônio que O tentasse por três vezes, Jesus Cristo inicia sua vida pública que vai prolongar-se por três anos apenas. Já tinha em torno de si alguns discípulos, levados a Ele pelo testemunho de Seu Precursor, João Batista. Estando assim nos inícios de sua carreira evangélica, não havia feito ainda nenhum milagre para atestar sua missão. Jesus começa na pequena aldeia de Caná, perto de Nazaré, a série brilhante e ininterrupta de milagres que doravante encherá sua vida, e oferecerá ao mesmo tempo sólidos fundamentos à nossa fé e úteis instruções para nossos costumes.

Caríssimos, afim de melhor acolher e compreender os ensinamentos desta narração evangélica, consideremos sucessivamente os diversos personagens desta cena de Caná.

Primeiramente consideremos os ESPOSOS. Sua conduta é inteiramente digna de elogio. Pois convidam a Jesus e Maria para seu casamento. Hoje, infelizmente são raríssimos os noivos que convidam Jesus e Maria para suas núpcias. Em se tratando de algo tão sério, tão importante do qual depende a sorte da vida inteira e até de gerações futuras, quantos são aqueles noivos que levam em conta os conselhos, os mandamentos e a doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo? O Divino Mestre santificou a virgindade ao abraçá-la Ele mesmo e nascendo de uma virgem. Santificou, outrossim, o matrimônio elevando-o à dignidade de sacramento, honrando-o com Sua presença e com o seu primeiro milagre, com o qual aliás, mostra o poder de intercessão de sua Mãe Santíssima, e confirma seus primeiros discípulos na fé. Com a presença de Jesus e Maria, tudo nestas bodas é inteiramente puro, calmo, digno e santo. Nada de enfeites imodestos, nada de modas imorais, nada de palavras licenciosas, nada de gritos desordenados, nada de danças, nada de dissipação extravagante. Tudo transcorre com ordem, paz e caridade. Os convivas sabem que Jesus e Maria estão lá, vêem-Nos, ouvem sua voz e se edificam com Sua conversação. Mas nos casamentos em que Jesus e Maria são simplesmente banidos, reina, ao invés, o espírito pagão e assim, como aconteceu com os sete primeiros esposos de Sara, filha de Raguel, quem tem todo poder é o Asmodeu, inimigo das almas.

Consideremos agora, MARIA SANTÍSSIMA. O que nela aparece em primeiro lugar é sua bondade, bondade esta que brilha  com uma espontaneidade e um desvelo admiráveis. Sem que ninguém disso se advertisse, Maria percebe onde se encontra a necessidade e conseqüente vexame dos noivos. E sem que ninguém o peça, solícita, bondosa, compassiva, volta-se para seu Filho e Lhe diz ao ouvido estas palavras: "Não têm vinho". Jesus deixa claro que não é ainda chegada a hora de Ele começar a fazer milagres: "Mulher (em aramaico: 'já mara' que quer dizer SENHORA) que temos Eu e tu com isso? (Outra expressão tipicamente hebraica e que se encontra em várias passagens do Antigo Testamento). E assim poder-se-ia traduzir: "Senhora, que motivo nos leva a ti e a mim a falar deste assunto?' E devemos levar em conta o gesto, o tom de voz e outras circunstâncias que a completavam, os quais desconhecemos, mas podemos supor. Aliás, pela ordem que Maria dá aos serventes logo em seguida, mostra que ela bem entendeu que seu Filho iria fazer o milagre. Quem melhor poderia penetrar no Coração de Jesus senão sua Mãe Santíssima!  O fato é que não podemos concordar com aqueles protestantes que concluem que o próprio Jesus tratava Maria como uma mulher como as outras. Isto constitui inclusive uma grande ofensa ao próprio Jesus: sendo Deus não foi Ele que deu os dez mandamentos, inclusive o quarto? Infelizmente o desconhecimento da língua hebraica e aramaica da parte da maioria dos protestantes aumenta o perigo de falsas interpretações da Bíblia.

Por outro lado as palavras de Jesus foram ditas com toda certeza para fazer sobressair o poder de intercessão de sua Mãe amabilíssima. No Templo depois de recordar os direitos do Pai celeste, Jesus obedece aos pais terrenos; aqui, depois de recusar atender ao apelo de Sua Mãe, antecipa sua hora e faz o milagre, transformando a água em vinho. A primeira vista parece haver uma contradição entre  o que o Menino Jesus disse à sua Mãe lá no Templo e o que realiza aqui. É óbvio que não pode haver contradição no falar e agir de Jesus. O fato é que Jesus, como Ele mesmo declarou alhures, nunca fazia sua própria vontade mas sim a de Seu Pai Eterno. Assim a explicação é que o Pai havia determinado deste toda eternidade que Jesus não deveria negar nada à sua Mãe Santíssima.

Disse sua Mãe aos servidores: Fazei tudo o que Ele (Jesus) vos disser. Maria Santíssima quer nos ajudar com seus pedidos e com seu crédito junto de seu Filho. Ela quer mesmo prevenir muitas vezes, nossos pedidos, mas com uma condição: que façamos tudo o que o Seu Filho mandar, isto é, que executemos Sua vontade. E o que Ele quer é que façamos tudo que depende de nós, que nos apliquemos à obra de nossa salvação o concurso de nossa fraqueza, que coloquemos a água nas talhas de nossos corações, nestes corações de pedra (como os chama a S. Escritura) a água de nossas lágrimas, a água insípida da mortificação, do trabalho constante, do dever obscuro. E esta água transformar-se-á em vinho, e esta fraqueza será transformada em força, e nós mesmos, como os convivas de Caná, ficaremos admirados de encontrar em nós, em lugar de nossa miséria e de nossa covardia , uma fortaleza e uma generosidade das quais nunca nos julgaríamos capazes.

Além da bondade, vemos em Maria um poder extraordinário junto ao Coração de seu Filho. Ela pede um milagre de primeira ordem e para simplesmente livrar os esposos de Caná de um vexame. Pede sem ansiedade, sem inquietação, mesmo sem insistência, tão segura está do poder e do beneplácito de Seu Filho para com ela. Na verdade, Nossa Senhora não pede propriamente, apenas demonstra o desejo que tem em ver o seu Filho operar um milagre para livrar de um embaraço os neo-esposos de Caná.

Em Caná, além da bondade e poder, vemos brilhar em Maria a sua glória. Assim, não é pelo pedido de Maria que Jesus, escondido durante trinta anos na obscuridade de uma vida humilde e comum, se mostra enfim o que é, e manifesta este poder divino que estava até então tão cuidadosamente oculto n'Ele? Não é, pois, pelo prece de Maria que Ele começa as funções de seu ministério público; deste ministério que vai se tornar tão fecundo em ensinamentos e prodígios; que Ele estabelece sua missão, que Ele ganha a confiança de seus discípulos e os prende definitivamente à sua pessoa?

Agora, caríssimos, contemplemos JESUS! Aqui nas Bodas de Caná Jesus nos ensina uma coisa, a maior, a mais bela, a mais augusta que possamos aprender: é que Ele é Deus, Filho de Deus. Com efeito, tudo em seu semblante, em suas palavras, em sua conduta, atesta Deus todo poderoso e a própria sabedoria. Ele diz: "Minha hora não é ainda chegada". Se faz o milagre é porque, como ficou explicado acima,  para obedecer a um decreto do Pai, isto é, que nada negasse à Sua Mãe. Fala com calma e dignidade: "Enchei de água estas talhas até às bordas e levai-a ao mestre-sala". Jesus queria que seus milagres provassem a sua missão divina e contribuíssem para a estabelecer aos olhos dos homens. Para tanto Ele dá ao milagre de Caná todas as garantias e toda autenticidade de que é susceptível. Ele espera para que a necessidade seja bem constatada. Ele faz encher as talhas de água até às bordas, afim de que a água apareça aos olhares dos convivas; Ele ordena aos servidores que busquem a água e a levem ao mestre-sala. A este último, com efeito, é que pertence o direito de constatar oficialmente a qualidade do licor que o poder de Jesus tinha substituído à água das talhas, e atestar assim solenemente o milagre.

Caríssimos, o milagre de Caná figura o milagre mais retumbante e sobretudo mais cheio de amor que nos oferece a Eucaristia. Nela Jesus opera a mais maravilhosa mudança, pois transforma o pão e o vinho em seu Corpo e em seu Sangue, e isto sem que Ele visivelmente coloque a mão, mas pelo ministério de seus servidores e de seus padres.


Onipotente e eterno Deus, que governais igualmente o céu e a terra, com a vossa Providência, escutai, benigno, as súplicas de vosso povo, e concedei às famílias de  nossos tempos, a vossa paz; e que a indissolubilidade que estabelecestes para o sacramento do matrimônio não seja destruída pelos homens. Amém! 

domingo, 12 de janeiro de 2020

EXPLICAÇÃO DO EVANGELHO DO PRIMEIRO DOMINGO DEPOIS DA EPIFANIA


 SAGRADA FAMÍLIA

S. Lucas II, 42-52  (Para não me alongar demais, não transcrevo aqui o Evangelho).

"Tendo Jesus completado doze anos, subiu com seus pais a Jerusalém etc.: Todos os homens deviam apresentar-se no Templo, três vezes por ano, isto é, por ocasião da Páscoa, de Pentecostes e da festa dos Tabernáculos. As mulheres, ainda que não fossem obrigadas pela Lei, costumavam ir ao Templo por devoção, ao menos pela festa da Páscoa. Os filhos começavam a ser obrigados na idade dos doze anos, época em que se tornavam "filhos da Lei".

Assim, tendo atingido os doze anos, Jesus, para nos dar exemplo de submissão às prescrições divinas, foi a Jerusalém com seus pais. Enquanto Deus, Jesus não estava obrigado, mas submete-se com humildade, para edificação nossa, à observância da lei. Seguindo a vontade de Deus Pai, Jesus ia tornar célebre para sempre esta primeira Páscoa histórica da sua vida. Ia erguer uma ponta do véu que nos ocultava a sua sabedoria infinita e a sua divindade; ia, outrossim, santificar sua Mãe e S. José por uma provação de três dias; e finalmente, com sua obediência inefável e a sua vida de trabalho, ia pôr os fundamentos da sociedade e das famílias cristãs.

Eis o que disse o Papa Leão XIII ao instituir a festa da Sagrada Família neste domingo (1º depois da Epifania): "Os pais de família têm em S. José um modelo admirável de vigilância e solicitude paterna; as mães podem admirar na Virgem Santíssima um exemplo insigne de amor, de respeito e de submissão; os filhos têm em Jesus, submisso a seus pais, um exemplo divino de obediência; os nobres aprenderão, olhando para esta família de sangue real, a moderação na prosperidade e a dignidade nas aflições; os ricos aprenderão a ter mais em conta as virtudes do que as riquezas; os operários e todos os que sofrem, devido à sua condição pobre, terão motivo e ocasião de alegrar-se pela sua sorte em vez de entristecer-se, porque têm de comum com a Sagrada Família as fadigas e os cuidados da vida cotidiana".

Acabados os dias da festa, quando voltaram, ficou o Menino Jesus em Jerusalém, sem que seus pais o soubessem etc. Geralmente os habitantes de um mesmo lugar iam em caravana composta de dois grupos: um de homens e outro de mulheres e quando saíam do Templo, faziam-no por duas portas diferentes.  Os meninos podiam ir em um ou em outro. Por isto pôde acontecer que, ao saírem de Jerusalém, não notassem que Jesus não estava no meio da caravana de Nazaré.  Mas, fazemos a mesma pergunta que sua Mãe Santíssima Lhe fez: Por que é que Jesus agiu desta maneira? É óbvio, Jesus procede assim, não por desobediência, mas para cumprir a vontade de seu Pai e cuidar dos seus interesses. Deus resolvera manifestar desde então seu Filho aos sacerdotes e doutores da lei.  Queria, outrossim, ensinar-nos a renunciar à carne e ao sangue, a pôr de lado a afeição dos pais, apesar das dores do sacrifício recíproco, desde que se trate de obedecer a Deus e de consagrar-se ao seu serviço.
Podemos também indagar o porquê da aflição de Maria Santíssima: afinal ela sabia que seu Filho era Deus, infinitamente sábio e todo poderoso. Todavia, esta ausência súbita e inesperada era para ela um mistério, cujo verdadeiro motivo não podia penetrar. Caríssimos, admiremos este secreto e maravilhoso proceder de Deus com Maria e José. Aflige-os, não para os punir, porque não são culpados de qualquer falta, mas porque os ama. Era como se lhes dissesse ainda com mais verdade do que o Arcanjo Rafael disse a Tobias: "Porque eras aceito a Deus, por isso foi necessário que a tribulação te provasse".

Quantas vezes, miseráveis pecadores como somos, perdemos a Jesus por nossa culpa, pelo pecado; ou então, por vezes, em castigo de alguma negligência ou infidelidade às graças, Jesus retira-se ou esconde-se. E quantos não sentem dor por isso e não procuram a Jesus. E por que não nos humilhamos profundamente, e não redobramos de devoção e de fervor para procurar a Jesus? Ó Maria Santíssima aumentai em mim a amor ao vosso divino Filho!

E aconteceu que, depois de três dias, encontraram-No no Templo, sentado entre os doutores, ouvindo-os e interrogando-os etc. Comumente os discípulos ficavam sentados em esteiras aos pés dos doutores que ficavam orgulhosamente em seus tronos. Mas, provavelmente, estupefatos e maravilhados da sabedoria e das respostas daquele menino, os doutores deram-Lhe a honra de se assentar no meio deles. Jesus, que é a fonte de toda a ciência, de toda a luz, assim nos ensina a humildade e a modéstia como diz S. Gregório: "O Menino Jesus é encontrado entre os doutores não ensinando". Interrogava também aos doutores, parecendo querer instruir-se a si mesmo, e também para nos ensinar a consultar a Igreja. S. Lucas não diz qual foi o assunto ali tratado. Mas declarará a sua Mãe que deve empregar-se nos negócios de seu Pai. Certamente falava do Messias, da época da sua vinda já que os doutores não aproveitaram das consultas bíblicas e da solução transmitida  por eles mesmos aos Reis Magos. Mostraram o verdadeiro caminho, mas eles mesmos não o seguiram. Agora Jesus mesmo antes de sua vida pública já quer mostrar-lhes que Ele é o Messias. Evidentemente, Jesus queria dispor os corações dos sacerdotes e dos doutores a desejarem e a receberem esse Messias cujo nascimento já sabiam e cuja sabedoria divina perceberam naquele Menino muito acima dos comuns dos homens. Caríssimos, tenhamos cuidado em utilizar melhor as graças de Deus.

Disse-Lhe sua Mãe: Filho, por que nos fizeste isto? Eis que teu pai e eu te procurávamos cheios de aflição". José e Maria ficaram admirados porque Jesus ainda não havia manifestado assim em público sua sabedoria. Mas José não fala. Maria, porém, com a autoridade e ternura de mãe é que fala. Admiramos o respeito e a deferência de Maria para com seu santo Esposo, nomeando-o em primeiro lugar e dando-lhe o título de pai de Jesus e de chefe da família. Na verdade, José, externa e legalmente era considerado como pai de Jesus Cristo.  A palavra da santíssima Mãe de Jesus não é de censura; é um grito do coração, todo cheio de confiança e de abandono, de humildade e de ternura; é uma espécie de queixa afetuosa sobre a longa ausência de Jesus, para exprimir a sua pena e a de José.
Respondeu-lhes Ele: Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?  É evidente que a resposta de Jesus não inclui censura, mas apenas admiração. Se Maria e José sabiam que Ele era o Messias, Filho de Deus, que veio ao mundo cumprir a vontade de seu Pai, era natural que O encontrassem no Templo, ocupado nas coisas referentes a Deus. Estas são as primeiras palavras de Jesus, conservadas nos evangelhos. Nelas manifesta diretamente sua divindade. Por elas dá a conhecer àqueles que O cercam no Templo, e a nós todos, o fim da sua missão sobre a terra, e ensina-nos que os interesses de Deus e o seu agrado devem estar acima de qualquer consideração humana. Algumas vezes Deus fala à alma dos filhos e os chama para si. Nesse caso os pais não devem opor-se à vocação celeste, nem têm o direito de fazê-lo.

E eles (Maria e José) não entenderam o que lhes disse: Porque, na verdade, ainda não sabiam que Jesus devia abandonar tudo, para cuidar unicamente da glória de seu Pai.

Desceu com eles e veio para Nazaré, e lhes era submisso. Sua Mãe conservava todas estas coisas em seu coração. Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e diante dos homens: Sendo Deus, Jesus obedecia a seus pais. Que exemplo para os filhos! Por sua vez, Sua Mãe conservava todas estas coisas no coração, para meditá-las, e pautar por elas todos os atos da sua vida. Jesus crescia em sabedoria ... e em graça: Como Deus, possuía todos os conhecimentos e a plenitude da graça. Crescendo, ia aos poucos manifestando estes dons, o que causava aos homens a impressão de desenvolvimento progressivo. Enquanto homem, Jesus Cristo foi adquirindo conhecimentos experimentais do mundo que o cercava e neste sentido houve verdadeiro crescimento.


JESUS, MARIA E JOSÉ, SALVAI AS FAMÍLIAS! Amém!

SAGRADA FAMÍLIA - 1º Domingo depois da Epifania

  Foi postado em 2012.

 Leituras: Epístola aos Colossenses, 3, 12-17; Evangelho segundo São Lucas 2, 42-52.

   "E quando Jesus teve doze anos, subiram eles (Jesus e seus pais) a Jerusalém segundo o costume daquela festa. E acabados aqueles dias, ao regressarem, ficou o Menino Jesus em Jerusalém, sem que os seus pais dessem por isto. Julgando que Ele vinha com os da comitiva, caminharam um dia inteiro, e O procuravam entre os parentes e conhecidos. Mas não O achando, voltaram a Jerusalém para O procurar. Aconteceu que, depois de passados três dias, O acharam no templo, sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. E todos os que O ouviam, pasmavam de sua sabedoria e de suas respostas. Vendo-O, ficaram admirados. E disse-Lhe sua Mãe: Filho, por que nos fizeste isso? Eis que teu pai e eu Te procurávamos cheios de aflição. E Ele lhes disse: Por que me buscáveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai? Eles não entenderam o que Ele lhes disse. Então desceu com eles e veio para Nazaré; e lhes era submisso. Sua Mãe conservava todas essas coisas em seu coração. Entretanto, Jesus crescia em sabedoria, em idade e graça diante de Deus e dos homens."

   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

   1 -   " - Hoje - e pela última vez no ciclo do ano litúrgico - a Igreja apresenta-nos o mistério da vida humilde e escondida de Jesus. Um sentido de profunda intimidade e de ternura caracteriza a festa de hoje e transparece na liturgia: "... é doce para nós recordar a casinha de Nazaré e a vida modesta que ali se leva... Nela aprende Jesus o humilde ofício de José, e, na sombra cresce em idade, mostrando-Se feliz por partilhar o trabalho de carpinteiro. "Que o suor banhe os meus membros - diz Jesus - antes que sejam banhados com a efusão do meu sangue, e esta pena sirva de expiação para o gênero humano" (Breviário). Eis-nos dentro da casinha de Nazaré; à vista de tanta humildade, que oculta a infinita grandeza de Jesus, digamos também nós com o texto sagrado: "Vós sois verdadeiramente um Rei escondido, ó Deus Salvador, Rei de Israel" (ib.).
   A liturgia de hoje salienta sobretudo um dos aspectos típicos da vida humilde deste Deus escondido: a obediência. "Mesmo sendo o Filho de Deus,... aprendeu a obedecer;... humilhou-se a Si mesmo, fazendo-Se obediente até à morte" (Breviário): esta é a obediência que acompanhou Jesus desde Belém até ao Calvário. Mas o Evangelho de hoje (Luc. 2, 42-52) quer especialmente sublinhar a obediência de Jesus em Nazaré e fá-lo com uma frase realmente bela: "era-lhes submisso". Perguntemos com São Bernardo: "Quem obedece?" "A  quem obedece?" E o Santo responde-nos: um Deus aos homens; sim, Deus a quem estão sujeitos os anjos, está sujeito a Maria, e não só a Maria, mas também a José. É uma humildade sem exemplo. Homem, aprende a obedecer; pó da terra, aprende a humilhar-te; pó, aprende a submeter-te. Um Deus sujeita-Se aos homens e tu, procurando dominar os homens, pões-te acima do teu Autor?"

   2 - "Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?" Jesus tão humilde, tão submisso, não hesita em responder deste modo a Maria que docemente O repreende por Se ter demorado no templo sem o seu conhecimento nem o de José, enquanto eles, angustiados, há três dias O andavam procurando.
   Estas são as primeiras palavras de Jesus que nos refere o Evangelho e por Ele pronunciadas para declarar a Sua missão e afirmar a supremacia dos direitos de Deus. Apenas adolescente, Jesus ensina-nos que primeiro devemos ocupar-nos de Deus e das coisas de Deus; que é necessário dar sempre a Deus o primeiro lugar e a primeira obediência, ainda que seja preciso sacrificar os direitos da natureza e do sangue. Não é virtude, antes é muitas vezes pecado, aquela condescência para com os parentes e amigos que nos faz descurar ou simplesmente retardar o cumprimento da vontade de Deus.
   Dar primazia aos deveres para com Deus não significa, porém, descuidar os que temos para com o próximo. Também para estes e particularmente para os que dizem respeito à família, a festa deste dia chama a nossa atenção. Hoje, com efeito, a Igreja convida-nos a modelar a nossa vida de família - quer seja família natural ou religiosa, quer de qualquer outro agrupamento - segundo o exemplo da família de Nazaré e na Epístola (Col. 3, 12-17) mostra-nos as virtudes que com esse fim devemos praticar: "Revesti-vos de entranhas de misericórdia, de benignidade, de humildade, de modéstia, de paciência; sofrendo-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente".
  
   Colóquio - Ó Jesus, como gosto de Vos contemplar pequenino na pobre casinha de Nazaré junto de Maria e de José! Na Vossa vida, tão singela e humilde, em tudo semelhante à de qualquer menino da Vossa idade, Vós, esplendor do Pai, não quisestes coisa alguma que Vos distinguisse entre os filhos dos homens; Vós, sabedoria incriada, quisestes aprender de Maria e de José, criaturas Vossas, as coisas mais elementares e simples da  vida. José ensinava-vos a manejar os instrumentos de trabalho, e Vós observáveis com atenção, aprendíeis e obedecíeis; Maria ensinava-Vos os hinos sagrados e narrava-Vos as Escrituras e Vós, que sois o único verdadeiro "Mestre" e a mesma verdade, escutáveis em atitude de humilde discípulo. Nenhum dos Vossos conhecidos ou compatrícios podiam supor quem Vós éreis realmente: todos Vos tomavam por filho do carpinteiro e não faziam mais caso de Vós que dum pequeno aprendiz de oficina.
   Só Maria e José sabiam, conheciam por revelação divina que Vós éreis o Filho do Altíssimo, o Salvador do mundo e sabiam-no mais pela fé que pela experiência. A Vossa conduta habitual ocultava aos seus olhos a Vossa grandeza e a Vossa divindade, de tal maneira que, quando, sem darem por isso, ficastes no templo entre os doutores, não puderam compreender o motivo dessa estranha atitude.
   Isso, porém, não passou de um instante porque depressa voltastes à Vossa humilde vida oculta: viestes com eles e éreis-lhes submisso. E assim, dia após dia, até à idade dos trinta anos.
   Ó meu dulcíssimo Senhor, fazei que ao menos eu possa imitar um pouco a Vossa infinita humildade. Vós que, sendo Criador, quisestes obedecer às Vossa criaturas, ensinai-me a baixar a minha soberba cabeça e a obedecer voluntariamente aos meus superiores. Vós que descestes do céu à terra, concedei-me a graça de me humilhar e descer de uma vez, do pedestal do meu orgulho. Como suportar, meu Deus e Criador, ver-Vos fazer tão pequeno e humilde, quando eu, nada e pecado, me sirvo do que recebi para me elevar acima dos outros e preferir-me ainda aos que me são superiores?"
   (Extraído do livro "INTIMIDADE DIVINA"  do P. Gabriel de S.ta M. Madalena, O. C. D.)

  
  

   

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

A EPIFANIA

Livro "INTIMIDADE DIVINA" do P. Gabriel de S.ta M. Madalena, O. C. D.

   Ó pequenino Jesus, em Vós reconheço o Rei dos céus e da terra: fazei que eu Vos possa adorar com a fé e o amor dos Magos.

   1- "Hoje o mundo reconheceu Aquele que a Virgem deu à luz... Hoje refulge a festa da Sua manifestação" (BR.). Hoje Jesus manifesta-Se ao mundo como Deus.
   O Intróito da Missa introduz-nos diretamente neste espírito, apresentando-nos Jesus na majestade real da Sua divindade: "Eis que veio o soberano Senhor: Ele tem nas Suas mãos o cetro, o poder e o império". A Epístola (Is. 60, 1-6) prorrompe num hino de glória anunciando a vocação dos gentios à fé; também eles reconhecerão e adorarão em Jesus o seu Deus. "Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque veio a tua luz... E as nações caminharão à tua luz e os reis ao resplendor da tua aurora... Todos virão de Sabá trazendo ouro e incenso e publicando os louvores do Senhor". Já não se vê, à volta do presépio, a humilde presença dos pastores, mas o faustoso cortejo dos Magos que vieram do Oriente como representantes dos povos pagãos e de todos os reis da terra, para prestarem homenagem ao Deus Menino.
   Epifania (ou Teofania) quer dizer "manifestação de Deus"; e esta manifestação de Deus vemo-la realizada em Jesus que hoje Se manifesta ao mundo como seu Deus e Senhor. Já um primeiro prodígio, o da nova estrela aparecida no Oriente, revelara a Sua divindade; mas à recordação deste milagre que ocupa o primeiro lugar na liturgia deste dia, a Igreja junta mais dois: a água convertida em vinho nas bodas de Caná, e o Batismo de Jesus no rio Jordão, enquanto um voz, vinda do céu, atesta: "Este é meu Filho muito amado". "Três milagres ilustram o santo dia que hoje celebramos", canta a Antífona do Magnificat: três milagres que devem dispor-nos para reconhecer e adorar com fé viva, no Menino Jesus, o nosso Deus, o nosso Rei.

   2 - "Vimos a Sua estrela no Oriente e viemos com presentes adorar o Senhor". Nestes versículos da Missa de hoje está sintetizada a conduta dos Magos. Ver a estrela e pôr-se a caminho foi obra de um momento. Não duvidaram porque a sua fé era firme, segura e inteira. Não hesitaram perante a fadiga do longa viagem, porque o seu coração era generoso. Não deixaram para mais tarde, porque a sua alma estava pronta.
   No céu das nossas almas também aparece freqüentemente uma estrela: uma inspiração íntima e clara de Deus, que nos convida a um ato de generosidade, de desprendimento, a uma vida de maior generosidade, de desprendimento, a uma vida de maior intimidade com ele. Devemos saber sempre seguir a nossa estrela com a fé, com a generosidade e com a prontidão dos Magos. Seguida assim, conduzir-nos-á sem dúvida ao encontro do Senhor, far-nos-á achar Aquele que procuramos. Os Magos perseveraram na sua busca mesmo quando a estrela desapareceu aos seus olhos; da mesma forma devemos nós perseverar no bem mesmo através das trevas interiores: é a prova da fé, que somente se pode superar com um intenso exercício de fé pura e nua. Sei que Deus assim o quer, sei que Deus me chama e isto basta: Scio cui credidi et certus sum (II Tim. I, 12); sei quem é aquele em quem acreditei e aconteça o que acontecer nunca poderei duvidar d'Ele.
   Com estas disposições vamos com os Magos ao presépio. "E assim como aqueles ofereceram, dos seus tesouros, místicos dons ao Senhor, saibamos nós também tirar dos nossos corações dons dignos de Deus". (BR.)
   (...) Quereis, ó Jesus, que também eu leve ao Vosso presépio os presentes dos Magos: o incenso da oração, a mirra da mortificação e do sofrimento generosamente abraçado por Vosso amor, o ouro da caridade; caridade que faça o meu coração todo e exclusivamente Vosso... (...) Que brilhe também para mim hoje a Vossa estrela e me indique o caminho que a Vós conduz; que o dia de hoje seja igualmente para mim uma verdadeira Epifania, uma nova manifestação ao meu entendimento e ao meu coração. Quem mais Vos conhece, mais Vos ama, ó Senhor; e eu só desejo conhecer-Vos para Vos amar e me dar a Vós com uma generosidade cada vez maior.

FESTA DA EPIFANIA

LEITURAS: Epístola, Profeta Isaías 60, 1-6.
                      Evangelho segundo São Mateus 2, 1-12: 

   "Tendo Jesus nascido em Belém de Judá, nos dias do Rei Herodes, eis que do Oriente vieram uns Magos a Jerusalém, perguntando: Onde está o recém-nascido Rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-Lo. Ouvindo isto, o rei Herodes turbou-se e com ele toda Jerusalém. E convocando todos os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo, indagava deles onde Cristo nasceria. E eles disseram: Em Belém de Judá, porque assim está escrito pelo Profeta: E tu, Belém. terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá; porque de ti sairá o Guia, que há de governar o meu povo de Israel. Então Herodes chamando secretamente os Magos, inquiriu cuidadosamente deles o tempo em que lhes aparecera a estrela. E enviando-os a Belém, disse-lhes: Ide e perguntai diligentemente pelo Menino, e assim que O achardes, avisai-me para que eu vá também e O adore. Tendo eles ouvido as palavras do rei, foram-se. E eis que a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até que chagando, parou sobre o lugar em que estava o Menino. Vendo a estrela, ficaram possuídos de grandíssima alegria. E entraram na casa, e, prostrando-se, O adoraram. E abertos os seus tesouros ofereceram-Lhe como presentes ouro, incenso e mirra. E, sendo avisados em sonho que não voltassem a Herodes regressaram por outro caminho a seu país".

  Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

   Hoje celebra a Santa Madre Igreja a grande Festa da Epifania, palavra de origem grega que significa manifestação. São Paulo, referindo-se ao Natal de Jesus, disse na Epístola a Tito III, 4: "Manifestou-se a benignidade e a humanidade de Deus, nosso Salvador". O Verbo de Deus se fez carne, e habitou entre nós. Primeiro manifestou-se aos pobres e humildes pastores através de um Anjo. Depois manifestou-se aos povos gentios na pessoa dos Magos através de uma estrela.
   Mas quem eram estes Magos? A palavra Mago não deve ser tomada no mau sentido que hoje tem. Então significava pessoa poderosa, honrada com o sacerdócio no seu país e muito considerada pela sua ciência, principalmente pelos seus conhecimentos de astronomia. A tradição apresenta-no-los como reis. O texto sagrado na verdade não diz quantos eram. Mas a tradição aponta três e dá-lhes os nomes de Melchior, Baltasar e Gaspar. Diz ainda a tradição que eles foram mais tarde batizados e elevados ao episcopado pelo Apóstolo São Tomé, e finalmente martirizados. As suas relíquias são conservadas e honradas na Catedral de Colônia na Alemanha. O texto sagrado diz simplesmente que vinham do Oriente. Mas de que parte do Oriente? Uns autores assinalam a Caldeia, outros a Arábia, outros ainda a Pérsia. Muitos acham que eram descendentes de Balaão. Provavelmente chegaram a Jerusalém pouco antes ou pouco depois da Purificação.
 
   Mas, caríssimos e amados irmãos, o mais importante é o exemplo belíssimo de fidelidade à graça que  os Magos nos oferecem. "Vimos a estrela e viemos". Esta estrela é o sinal da graça, é a inspiração de Deus. Os Magos seguem, portanto, a luz da graça com prontidão e com grande constância. Quantos viram a estrela  e se contentaram com admirar o seu brilho, sem tratarem de descobrir o seu mistério? Quantos certamente compreenderam em vão o ensinamento que lhes dava? Só os Magos se aproveitaram da graça oferecida a todos. Deus chama-os ao berço de Seu Filho; obedecerão, quaisquer que sejam os sacrifícios que lhes pedir: Sacrifício de seu descanso: que fadigas preveem numa tão longa viagem e em semelhante estação! Sacrifício das suas inclinações mais queridas: família, pátria, amigos. Sacrifício da sua reputação: eles eram tidos por sábios, e o seu proceder é qualificado de loucura. E tudo isto fazem homens que são noviços na fé! Que lição para aqueles que são mestres, pregadores, guardas da fé! Os sacerdotes judeus que instruem a Herodes e aos Magos, onde se deve ir para achar o Salvador do Mundo e eles mesmos não vão. Mostram o caminho da verdade e não o seguem!.
   Os Magos seguem a luz da graça com prontidão. Apenas viram a estrela e ouviram a voz interior, apressam-se a obedecer. Vimos, graça que alumia e fala ao coração; e viemos, é a correspondência a essa graça. Nenhum intervalo entre conhecer o dever e cumpri-lo. Passam num instante da convicção ao desejo, do desejo à resolução, da resolução à prática. É nisto mesmo, diz Santo Tomás que consiste a verdadeira devoção. Que sabedoria há nesta prontidão, que perigos nas demoras da indolência! Se os Magos demorassem sua partida por alguns dias, teriam achado o adorável Menino? Quando Deus fala, uma simples irresolução é uma infidelidade, a menor demora um perigo. A graça tem o seu tempo. Diferir obedecer-lhe, é correr o risco de nunca lhe obedecer; perdida a ocasião, voltará ela? Terá Deus obrigação de esperar que eu queira receber os dons do seu amor? Não é a mim que me compete esperar que Ele se digne concedermos? Ó Jesus, aquele que cede à vossa graça senão o mais tarde possível, mostra bem que só cede com repugnância. Sua obediência é uma flor murcha.

   Os Magos seguem a luz da graça com grande constância. Como nada pôde impedir que tomassem a resolução que Deus queria, também nada os desanima na sua execução. Quantos obstáculos porém, quantas contradições capazes de destruir uma resolução menos firme! Tinham andado uma grande parte do caminho, estavam perto de Jerusalém; de repente a estrela desaparece: ei-los sem guia num país estrangeiro; quantos motivos de temor! Pensam acaso em voltar para a sua terra? Não, continuam a caminhar, apoiando-se não já no que veem, mas no que viram; a verdade é imutável, como o mesmo Deus: Se no meio de Jerusalém encontram um povo indiferente que mostra não se importar com o seu Rei e Salvador recém-nascido; se os doutores e sacerdotes lhes declaram friamente o lugar do seu nascimento, e não falam em ir com eles adorá-Lo; se Herodes se contenta com enviá-los para que O procurem, tudo isto os espanta, sem dúvida e os aflige, mas não os desalenta.
   As provações fazem parte essencial do plano divino. As obras de Deus só florescem à sombra da árvore da cruz. Devo conservar-me sempre pronto a seguir a vontade de Deus, apenas a estrela da fé ma tiver feito conhecer.
   Ó meu Deus, eu quero obedecer à vossa graça, sem escusas, sem demoras, sem cansaços, seguindo pelo caminho dos vossos mandamentos, pois sei perfeitamente que só neles se encontra a verdadeira vida.
    Com Santo Ambrósio digamos a Jesus: "Oh!  que bom Mestre eu sirvo"! Oh! como é bom procurá-Lo a ele unicamente, e servi-Lo de todo o nosso coração! Oh! como um homem, repousando no seio da Providência, está justamente em paz e em toda a segurança! Que não devo eu esperar da sua bondade, se não ponho obstáculo algum à sua graça? Amém!

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

ABUSO DA MISERICÓRDIA DE DEUS


"E não digas: A misericórdia do Senhor é grande, ele se compadecerá da multidão dos meus pecados. Porque a sua misericórdia e a sua justiça estão perto uma da outra, e ele olha para os pecadores na sua ira" (Eclesiástico V, 6 e 7).

Não podemos duvidar que a misericórdia divina é infinita. Devemos igualmente estar convencidos pelo próprio Espírito Santo que Deus é justo. Não podemos entender "misericórdia",  como se fosse sinônimo de IMPUNIDADE. Não se admite isso nem em se tratando da Justiça Humana, quanto mais da Divina! Assim, ao terminar a parábola da dracma perdida, parábola esta que o Divino Salvador fez para mostrar a Misericórdia de Deus, conclui com estas palavras: "Haverá alegria no céu entre os anjos de Deus por um só pecador que faça penitência". Se não podemos deixar de ver aí a misericórdia divina, também não podemos fechar os olhos para a condição indispensável para que ela se efetue: "QUE FAÇA PENITÊNCIA". Seria até blasfêmia ou, pelo menos, chegaria às raias dela, dizer que Deus, em sua misericórdia perdoa sempre, com arrependimento ou sem ele, com conversão de vida ou sem ela.

São Paulo afirma categoricamente falando aos romanos; e, dados os escândalos oficiais das nações, é bom citarmos todo o contexto: "Pelo que Deus os  abandonou aos desejos do seu coração, à imundície; de modo que desonraram os seus corpos em si mesmos, eles que trocaram a verdade de Deus pela mentira e que adoraram e serviram a criatura de preferência ao Criador, que é bendito por todos os séculos. Amém. Por isso Deus entregou-os a paixões de ignomínia. Efetivamente, as suas próprias mulheres mudaram o uso natural em outro uso, que é contra a natureza, e, do mesmo modo, também os homens, deixando o uso natural da mulher, arderam nos seus desejos mutuamente, cometendo homens com homens a torpeza e recebendo em si mesmos a paga que era devida ao seu desregramento. Como não procuraram conhecer a Deus, Deus abandonou-os a um sentimento depravado, para que fizessem o que não convém, cheios de toda a iniquidade, de malícia, de fornicação, de avareza, de maldade, cheios de inveja, de homicídios, de contendas, de engano, de malignidade, mexeriqueiros, detratores, odiados por Deus, injuriadores, soberbos, altivos, inventores de maldades, desobedientes aos pais, insensatos, sem lealdade, sem afeto, sem lei, sem misericórdia. Os quais, tendo conhecido a justiça de Deus, não compreenderam que os que fazem tais coisas são dignos de morte; e não somente quem as faz, mas também quem aprova aqueles que as fazem" (Rom. I, 24- 32). E logo no capítulo II, 4-9: "Ou desprezaste as riquezas da sua bondade e paciência e longanimidade: Ignoras que a bondade de Deus te convida à penitência? Mas com a tua dureza e coração impenitente acumulas para ti um tesouro de ira no dia da ira e da manifestação do justo juízo de Deus, que há de dar a cada um segundo as suas obras: a vida eterna aos que, perseverando na prática do bem, buscam a glória, a honra e a imortalidade; ira e indignação aos que são pertinazes, não dóceis à verdade, mas dóceis à injustiça".

Diz Santo Agostinho que o demônio seduz os homens por duas maneiras: "Com desespero e com esperança. Depois que o pecador cometeu o delito, arrasta-o ao desespero pelo temor da justiça divina; mas, antes de pecar, excita-o a cair em tentação pela esperança na divina misericórdia". E o adverte: "Depois do pecado tenha esperança na divina misericórdia; antes do pecado tema a justiça divina". Caríssimos, na verdade não merece a misericórdia de Deus aquele que ser serve da mesma para ofendê-Lo. Daí dizer Santo Afonso: "A misericórdia é para quem teme a Deus e não para o que dela se serve com o propósito de não temê-Lo". Diz ainda um autor: "Aquele que ofende a justiça, pode recorrer à misericórdia; mas a quem pode recorrer o que ofende a própria misericórdia?" Santa Brígida dizia que os pecadores só pensam na misericórdia. São Basílio também dizia o mesmo: "Os pecadores só querem considerar a metade: o Senhor é bom; mas também é justo. Não queiramos, continua o santo, considerar unicamente uma das faces de Deus". "Tolerar quem se serve da bondade de Deus para mais O ofender, fora antes injustiça que misericórdia", diz também S. João d'Ávila. Maria Santíssima disse: "Et misericordia ejus timentibus eum" (São Lucas, I, 50).  "Acautelai-vos  -  diz S. João Crisóstomo  -  quando o demônio (não Deus) vos promete a misericórdia divina com o fim de que pequeis" (Hom. 50, ad populum Antiochenum). "Quem ofende a Deus, fiado na esperança de ser perdoado, é um escarnecedor e não um penitente", diz Santo Agostinho. São Paulo afirma: "De Deus não se pode zombar" (Gál. VI, 7). Mas seria zombar de Deus o querer ofendê-Lo sempre que quiséssemos e desejar, a seguir, o paraíso. Quem semeia pecados, não pode esperar outra coisa que o eterno castigo no inferno. "Em realidade, aquilo que o homem semear, isso também colherá. Aquele que semeia na sua carne, da carne colherá corrupção; mas o que semeia no Espírito, colhera do Espírito a vida eterna" (Gálatas VI, 7-9).  

O rei Manassés pecou; converteu-se em seguida, e Deus lhe perdoou. Mas para Amon, seu filho, que, vendo quão misericordiosamente seu pai havia conseguido o perdão, entregou-se à má vida com a esperança de também ser perdoado, mas para ele não houve misericórdia. Deus, na verdade vai à procura do pecador com toda solicitude; espera com toda paciência a sua conversão; se o pecador se converte, perdoa-o com toda misericórdia a tal ponto que nem se lembra mais das suas ofensas, e  há alegria até entre os anjos.  Se o pecador, porém, não se converte e até abusa desta paciência e misericórdia divinas, então, além de não ser perdoado, seus castigos serão maiores, porque desprezou a justiça e abusou da misericórdia.

Deus tem paciência e espera; mas, se o pecador não aproveitá-las para se converter e fazer penitência, chega afinal a hora da justiça e então, Deus não espera mais e castiga. Diz Santo Afonso de Ligório: "Deus aguarda o pecador a fim de que se emende (Isaías, XIX, 18); mas, quando vê que o tempo concedido para os pecados só serve para multiplicá-los, vale-se desse mesmo tempo para empregar a justiça" (Lam. I, 15). Deus, ou envia a morte ao pecador, ou o priva das graças abundantes (que sempre concede aos que aproveitam de sua misericórdia) e só lhe deixa a graça suficiente com que o pecador se poderia salvar, mas não se salva, porque estas graças DE SI SUFICIENTES, tornam-se, por culpa do pecador, INEFICAZES. Quando um pecador chega a perder o temor de Deus, não sente mais remorsos, seu coração já está empedernido, sua consciência já está cauterizada, aí só há trevas em sua alma e despreza a graça de Deus e só ama o que deveria odiar. Entrega-se inteiramente às suas paixões e assim morre. Muitas vezes, Deus nem os castiga neste mundo, porque esta vida de pecados é o seu maior castigo. Pode haver coisa mais terrível para um doente do que quando o médico diz (com sorriso forçado): não é caso de cirurgia, não precisa fazer mais dieta, nem precisa tomar mais remédio, pode ir para casa. É tão terrível que o médico não diz o motivo para o paciente. Mas chama os parentes e diz: infelizmente não há mais nada a fazer, é um câncer em fase terminal.

Se aquela figueira, encontrada estéril por seu dono, não desse fruto depois do ano concedido como prazo para cultivá-la, quem ousaria esperar que se lhe desse mais tempo e não fosse cortada. Santo Agostinho comenta: "Ó árvore infrutuosa! O golpe de derrubada não foi desferido mas diferido. Mas não creias mais segura, porque serás cortada! A pena foi adiada mas não suprimida. Se tornares a abusar da misericórdia divina, o castigo te atingirá: serás cortado. Esperas, portanto, que o próprio Deus te envie ao inferno? Mas, se te envia, já o sabes, jamais haverá remédio para ti. O Senhor se cala, mas não para sempre. Quando chega a hora da justiça, quebra o silêncio. "Isto fizeste, eu calei-me. Pensaste iniquamente que eu seria como tu; arguir-te-ei e porei (tudo) diante de teu rosto" (Salmo 49, 21).


Pelos merecimentos de vossa morte, ó caríssimo Redentor, concedei-me amor tão fervoroso que convosco me una estreitamente e jamais possa desprender-me de Vós. Ajudai-me, ó Virgem Maria, por vossa intercessão; alcançai-me a santa perseverança e ao amor para com Cristo Jesus. Amém!  

A CIRCUNCISÃO DO MENINO JESUS E PRIMEIRO DIA DO ANO

   Leituras: Epístola de São Paulo Apóstolo a Tito II, 11-15.
                   Continuação do Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas, II, 21:


 "Naquele tempo, depois que se completaram os oito dias para o Menino ser circuncidado, puseram-Lhe o nome de Jesus, como Lhe havia chamado o Anjo, antes que fosse concebido no seio materno".

   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

   Circuncisão era uma cerimônia humilhante e dolorosa, ordenada por Deus a Abraão e aos seus descendentes, para constituir o selo da sua aliança com eles e um como sinal distintivo de um povo eleito. Diz assim o Livro do Gêneses no capítulo XVII, 9-12: "Disse mais Deus a Abraão: Tu. pois, guardarás a minha aliança, tu e os teus descendentes depois de ti, nas suas gerações. Eis o meu pacto, que haveis de guardar entre mim e vós, e a tua posteridade depois de ti: Todos os homens entre vós serão circuncidados; circundareis a carne do vosso prepúcio, para que seja o sinal da aliança entre mim e vós. O menino de oito dias será circuncidado entre vós, todos os homens nas vossas gerações...".
   Prescrita na época em que todos os povos se entregavam ao pecados da impureza e da idolatria, a circuncisão era: 1º - um símbolo de consagração a Deus e um ato de reconhecimento da sua soberania; 2º - um sinal do pecado, e ao mesmo tempo uma espécie de tributo ou satisfação para expiá-lo; 3º - um testemunho perpétuo da maldição das gerações humanas, e da necessidade de cortar o que pelas paixões sensuais  o pecado introduzir;  4º - enfim, um símbolo de fé e de esperança no Messias prometido, que havia de vir a resgatar o homem da escravatura do pecado, e a santificar a natureza humana. 
   A circuncisão não podia por si mesma perdoar o pecado: significava somente a fé. Diz Santo Tomás: "Na circuncisão se conferia a graça enquanto era sinal da paixão futura". Era uma figura do Batismo. Impunha-se um nome à criança, em recordação da mudança de nome que Deus prescreveu a Abraão, ordenando-lhe a circuncisão (Conf. Gêneses, XXVII, 5). 

   Mas, que faz Jesus Cristo no mistério da Circuncisão? Humilha-se, padece, salva, e recebe o nome de Jesus. 
   1- HUMILHA-SE: Divindade, santidade, geração inefável e eterna de seu Pai, geração milagrosa no seio virginal de Maria Santíssima: todos estes títulos isentavam o Salvador da circuncisão, e pareciam proibir-Lhe que se sujeitasse a ela, e, contudo, sujeita-se. O que tornava esta lei infinitamente humilhante para o Homem-Deus, é que ela supunha o pecado naquele que era circuncidado. O pecado e a santidade, o pecado e a divindade, que coisas mais incompatíveis? Mas o Filho de Deus fez-se homem para nos salvar do pecado. Quer repará-lo de um modo superabundante; por conseguinte é necessário que ele se revista, que sofra a vergonha que lhe está anexa. Desde então desparecem todas as suas grandezas; já não Lhe é permitido valer-se dos direitos de sua santidade e divindade, nem opor à lei as preeminências da sua origem. 
   Jesus tomou sobre Si todos os pecados da Humanidade. Diz São Paulo: "Aquele que não tinha conhecimento do pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nos tornássemos nele justiça de Deus" (II Cor. V, 21).  É, já na circuncisão que se realiza este prodígio de humildade.

   2- SOFRE: Desde o primeiro momento de sua conceição, e durante todo o tempo que passara no seio de Maria Santíssima, Jesus não cessava de se oferecer a seu Pai, como Cordeiro que havia de tirar os pecados do mundo. Era a oblação do sacrifício; mas, agora vai começar a imolação. É cortada sua carne inocente, e seu sangue corre. Ei-lo já sacerdote e vítima; derramando seu próprio sangue entra no santuário. "O pouco sangue que derrama hoje, diz Bossuet, promete a Deus o restante". 
   Sua circuncisão é o prelúdio e a aceitação solene de sua morte na Cruz. É como se ouvíssemos o Menino Jesus dizendo: Meu Pai, tendes agora em quem vingar a vossa glória ofendida; feri o Vosso Filho, mas poupai os homens!

   3- SALVA: A quem? A todos os filhos de Adão, se quiserem, visto que Ele vem oferecer a todos abundantes meios de santificação e salvação. Salva-nos dos nossos pecados, porque os expia; das nossas desobediências, com sua sujeição às leis que não Lhe dizem respeito; da nossa soberba, com as maiores humilhações, descendo tanto, quanto um Homem-Deus pode descer, até à semelhança do pecado; dos nossos prazeres sensuais, padecendo em tão tenra idade. 

   4- RECEBE O NOME DE JESUS:  Nome de paz e de amor, de conquista e de triunfo; nome poderoso que dissipa os receios, reanima as esperanças, acalma as tempestades da alma, suspende os esforços do demônio. O primeiro, o mais nobre, o mais suave, o mais amável de todos os nomes. Como diz São Bernardo: "O nome de Jesus é mel para os lábios, é melodia para os ouvidos e é júbilo para o coração". 

   
   Caríssimos e amados leitores! De coração, desejo a todos um 2020 santo e feliz, com graças abundantes e escolhidas de Nosso Senhor Jesus Cristo através de Sua Mãe Santíssima. Permitam-me um só conselho deste sacerdote amigo: Como resolução para este ano: Fé e devoção ao Santo Sacrifício da Missa. Vamos nos esforçar para fazer todos os dias orações para que o Brasil nunca mais caia nas mãos de esquerdistas.

 ORAÇÃO DO PRIMEIRO DIA DO ANO

   "Ó Deus eterno e onipotente, com a Vossa graça damos princípio a este novo ano! Que será de nós no seu decurso? Passá-lo-emos santamente? Chegaremos até seu fim? Só Vós o sabeis, Senhor. A nós só cumpre entregá-lo totalmente em Vossas mãos, confiando unicamente na Vossa misericórdia. Começamo-lo oferecendo-vos as mais devotas e fervorosas homenagens do nosso coração, como as primícias deste novo ano.
  Nós Vos adoramos, Vos louvamos e Vos bendizemos, ó fonte de todo bem. Desejamos que sejais adorado, louvado e engrandecido por todas as criaturas. Consagramo- Vos o nosso corpo, a nossa alma, todos os nossos sentidos, todas as nossas faculdades e potências, e toda a nossa vida. Nós Vos oferecemos todos os nossos pensamentos, afetos, palavras e obras. Oh! quem nos dera passar este ano em perfeito holocausto à Vossa divina glória! Tais são nossos desejos. Mas, Senhor, Vós bem sabeis quão fracos e mesquinhos somos.
   Dignai-Vos, pois, derramar sobre nós a torrente de Vossas graças, para que, com elas fortificados, superemos os  obstáculos, vençamos as dificuldades e só vivamos para a Vossa honra e glória, e para a santificação de nossas almas. Virgem Santíssima, São José, anjo da nossa guarda, todos os santos e santas da corte do céu, intercedei por nós no decurso deste novo ano. Assim seja!