S. Mateus VIII 1-13
Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!
Havendo Jesus descido do monte, grande multidão de povo O seguiu. Após
o sermão da montanha, Jesus Cristo opera dois milagres: a cura do leproso e a
de um paralítico, servo do Centurião de Cafarnaum. Diremos uma palavra de cada
um deles e procuraremos tirar as lições que nos oferecem. Devemos sempre dar
ações de graças pela descida de Jesus do mais alto dos Céus para nossa
salvação! O VERBO DE DEUS SE FEZ CARNE E HABITOU ENTRE NÓS.
Este leproso é a humanidade repugnante e desfigurada para a
qual o Salvador se digna descer. Na verdade, é para ela que o Filho de Deus, o
Verbo Eterno, saindo das profundezas de sua eternidade, se inclina ao vir à
terra. Se Ele não tivesse descido, jamais a humanidade teria podido subir até
lá.
A lepra foi sempre considerada pelos Santos Padres e
oradores sacros como a imagem do pecado. Objeto de horror pelos homens, os
leprosos eram isolados da humanidade (hoje, graças a Deus, com o tratamento, é
uma doença controlável e não mais contagiosa). O pecador também é objeto de
horror para Deus e para os anjos. Separado da comunhão dos Santos nesta vida, ver-se-á separado na outra, de sua
bem-aventurada companhia. No entanto, ó cristãos, se sois acometidos desta
horrível lepra do pecado, não deveis desesperar. Vamos considerar o duplo
exemplo que o Evangelho deste domingo põe diante de nossos olhos, exemplo de
humildade e de confiança da parte do leproso, exemplo de bondade e de
misericórdia da parte do Salvador. E que a cura miraculosa do doente, vos faça
pressagiar para vós uma cura semelhante.
O leproso vem a Jesus e se lança aos seus pés dizendo-Lhe:
"Senhor, se quereis, podeis curar-me". Que humildade! Ele se ajoelha,
adora, mostra suas chagas a Jesus, e isto diante de uma multidão que não tem
por ele senão horror e aversão. Que confiança! Pede com um inteiro abandono à
vontade de Deus. É como se ele dissesse: Sei, Senhor, que o vosso poder é
grande e a vossa misericórdia também. Não quero senão o que Vós quereis. Sois o
médico celeste; sabeis o que convém a este pobre doente: "Si vis, potes me mundare". Devemos
observar que o leproso não pede que Jesus o toque. Mas Jesus em sua bondade vai
além do desejo do pobre doente: toca-o e diz-lhe: "Eu quero, sê
limpo". E incontinente ficou o leproso curado.
Jesus tocou a lepra física para mostrar que Ele veio para
tocar também a lepra moral, para colocar a mão sobre nossas chagas, sobre as
chagas que o pecado nos fez. Sob a impressão desta mão divina, a graça se
espalha pelo mundo todo, aos pagãos como aos Judeus, aos pecadores mas também
aos justos. Jesus Cristo cura todas nossas enfermidades morais como cura
outrossim nossas enfermidades físicas. Para a cura das enfermidades físicas,
Ele exige uma fé grande e firme; para a cura das enfermidades morais, exige,
além da fé, uma grande humildade e um arrependimento sincero e profundo. E
neste último caso exige que mostremos nossa lepra, isto é, nossos pecados aos
sacerdotes através de uma confissão sincera e íntegra.
Caríssimos, meditemos agora no segundo milagre: a cura do
paralítico, servo do Centurião. Quando Jesus entrou em Cafarnaum, um Centurião
aproxima-se d'Ele e diz-Lhe: "Senhor, um servo meu jaz em casa paralítico
e sofre cruelmente". Jesus diz-lhe: "Eu irei e o curarei". Mas o
Centurião Lhe respondeu: "Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha
casa, mas dizei somente uma palavra e meu servo recuperará a saúde. Eu sou um
homem que devo obedecer a autoridade superior e tenho soldados sob meu comando.
Se digo a este: Vai, ele vai; ou a outro: Vem, e ele vem; ou a meu servo: Faze
isto, ele faz".
Centurião era um oficial
que comandava 100 soldados. O procedimento deste oficial, embora pagão,
faz sobressair três virtudes: a humildade, julgando-se indigno de receber Jesus
em sua casa. Sua fé no poder sobre-humano do Salvador: acredita que do mesmo
modo como ele obedece à palavra dos oficiais superiores e com sua palavra de
centurião dá ordens aos simples soldados, também a palavra extraordinária de
Jesus tem o poder de operar as transformações que quiser. E finalmente brilham
neste Centurião as virtudes da caridade e compaixão para com seu empregado. O
quadro patético que ele faz do estado do doente parece indicar que ele fala de
seu filho e não de seu simples servo. Caríssimos, diante de sentimentos tão
virtuosos e excelentes, Jesus imediatamente se dispõe a ouvir sua súplica:
"Eu irei e o curarei".
Este Centurião está mais próximo da verdade do que os
próprios Judeus. Era gentio e, no entanto, mostra mais fé do que o povo escolhido de Israel. "Ele merece,
diz S. Agostinho, receber, já neste mundo, na casa de seu coração Aquele que
ele não ousa receber em sua casa de pedra e barro. Não há dúvida que o
Centurião tenha se tornado um dos mais fiéis e dos mais zelosos discípulos de
Jesus".
Jesus, ouvindo as palavras do Centurião, enche-Se de
admiração e disse: "Na verdade vos digo: Não encontrei fé tão grande entre
os filhos de Israel". E Jesus depois acrescenta: "Digo-vos também que
virão muitos do Oriente e do Ocidente e se assentarão à mesa junto com Abraão,
Isaac e Jacó, no reino do céu. Mas os filhos do reino serão lançados às trevas
exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes". Jesus compara aqui o Reino
do Céu a um banquete posto em sala profusamente iluminada. A ele são chamados
todos os povos, ao passo que muitos descendentes de Abraão, filhos da casa,
serão, por sua incredulidade, expulsos de lá e lançados às trevas que reinam do
lado de fora. Estas trevas são a imagem do inferno com seus tormentos,
sobretudo da privação da visão beatífica de Deus, que é a Luz, a Beleza e o Bem
infinitos.
Caríssimos, a Santa Madre Igreja também admira a fé e a
humildade do Centurião. Na presença do Salvador na Eucaristia, no momento em
que Ele está prestes em fazer sua entrada nas almas pela comunhão, a Igreja
emprega as palavras do oficial romano e as coloca nos lábios de seus padres e
de seus milhares de fiéis: "Domine,
non sum dignus ut intres sub tectum meum, sed tantum dic verbum et sanabitur
anima mea". Que honra para o Centurião que não tinha recebido as
promessas, nem as preparações, nem as graças especiais do povo judeu, e cuja fé
se mostrara no entanto tão superior àquela desta nação rebelde em um tão grande
número de seus filhos!
Nós somos, caríssimos, pela antiguidade da fé, dada uma vez
por todas (S. Judas Tadeu, vers. 3), pela multidão inumerável de benefícios com
que Deus nos favoreceu em todos os países onde brilhou a pregação do Evangelho
no decurso destes 2000 mil anos, que foram regados pelo sangue dos mártires,
nós, digo, estamos de alguma maneira em uma situação análoga àquela em que se
encontraram os Judeus no tempo de Nosso Senhor. As graças de Deus nos preveniram
e fomos delas cumulados. Podemos verdadeiramente ser considerados OS FILHOS DO
REINO. Pois bem! Devemos temer merecer por causa de nossas infidelidades
reiteradas, por nossas resistências obstinadas, que os estrangeiros vindos do
Oriente e do Ocidente, nos sejam preferidos. Devemos temer que eles sejam
admitidos ao reino do céu, e nós rejeitados.
Ó Senhor, que a vossa misericórdia nos preserve de tamanha
desgraça! Sim, é verdade que nossa alma está enferma na casa de nosso corpo.
Ela está doente da doença do pecado,
doença do orgulho, doença da luxúria, doença da avareza, doença da inveja,
doença do ódio. Ela perdeu suas forças sob a ação dessas paixões funestas,
dessas febres cruéis; ela está paralítica, tetânica e sofre horrivelmente, sem
movimento para o bem, sem vida para a virtude. Senhor, uma só palavra vossa
poderá curá-la. Não somos dignos, mas por vossa misericórdia, todos os
obstáculos serão retirados, e Vós podeis vir à nossa alma e ela estará salva.
Amém!
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