SAGRADA FAMÍLIA
S. Lucas II, 42-52 (Para não me alongar demais, não transcrevo aqui o
Evangelho).
"Tendo Jesus completado doze anos, subiu com seus pais a Jerusalém
etc.: Todos os homens deviam apresentar-se no Templo, três vezes por
ano, isto é, por ocasião da Páscoa, de Pentecostes e da festa dos Tabernáculos.
As mulheres, ainda que não fossem obrigadas pela Lei, costumavam ir ao Templo
por devoção, ao menos pela festa da Páscoa. Os filhos começavam a ser obrigados
na idade dos doze anos, época em que se tornavam "filhos da Lei".
Assim, tendo atingido os doze anos, Jesus, para nos dar
exemplo de submissão às prescrições divinas, foi a Jerusalém com seus pais.
Enquanto Deus, Jesus não estava obrigado, mas submete-se com humildade, para
edificação nossa, à observância da lei. Seguindo a vontade de Deus Pai, Jesus
ia tornar célebre para sempre esta primeira Páscoa histórica da sua vida. Ia
erguer uma ponta do véu que nos ocultava a sua sabedoria infinita e a sua
divindade; ia, outrossim, santificar sua Mãe e S. José por uma provação de três
dias; e finalmente, com sua obediência inefável e a sua vida de trabalho, ia
pôr os fundamentos da sociedade e das famílias cristãs.
Eis o que disse o Papa Leão XIII ao instituir a festa da
Sagrada Família neste domingo (1º depois da Epifania): "Os pais de família têm em S. José um modelo
admirável de vigilância e solicitude paterna; as mães podem admirar na Virgem
Santíssima um exemplo insigne de amor, de respeito e de submissão; os filhos
têm em Jesus, submisso a seus pais, um exemplo divino de obediência; os nobres
aprenderão, olhando para esta família de sangue real, a moderação na
prosperidade e a dignidade nas aflições; os ricos aprenderão a ter mais em
conta as virtudes do que as riquezas; os operários e todos os que sofrem,
devido à sua condição pobre, terão motivo e ocasião de alegrar-se pela sua
sorte em vez de entristecer-se, porque têm de comum com a Sagrada Família as
fadigas e os cuidados da vida cotidiana".
Acabados os dias da festa, quando voltaram, ficou o Menino Jesus em
Jerusalém, sem que seus pais o soubessem etc. Geralmente os habitantes
de um mesmo lugar iam em caravana composta de dois grupos: um de homens e outro
de mulheres e quando saíam do Templo, faziam-no por duas portas diferentes. Os meninos podiam ir em um ou em outro. Por
isto pôde acontecer que, ao saírem de Jerusalém, não notassem que Jesus não
estava no meio da caravana de Nazaré.
Mas, fazemos a mesma pergunta que sua Mãe Santíssima Lhe fez: Por que é
que Jesus agiu desta maneira? É óbvio, Jesus procede assim, não por
desobediência, mas para cumprir a vontade de seu Pai e cuidar dos seus
interesses. Deus resolvera manifestar desde então seu Filho aos sacerdotes e
doutores da lei. Queria, outrossim,
ensinar-nos a renunciar à carne e ao sangue, a pôr de lado a afeição dos pais,
apesar das dores do sacrifício recíproco, desde que se trate de obedecer a Deus
e de consagrar-se ao seu serviço.
Podemos também indagar o porquê da aflição de Maria
Santíssima: afinal ela sabia que seu Filho era Deus, infinitamente sábio e todo
poderoso. Todavia, esta ausência súbita e inesperada era para ela um mistério,
cujo verdadeiro motivo não podia penetrar. Caríssimos, admiremos este secreto e
maravilhoso proceder de Deus com Maria e José. Aflige-os, não para os punir,
porque não são culpados de qualquer falta, mas porque os ama. Era como se lhes
dissesse ainda com mais verdade do que o Arcanjo Rafael disse a Tobias: "Porque eras aceito a Deus, por isso
foi necessário que a tribulação te provasse".
Quantas vezes, miseráveis pecadores como somos, perdemos a
Jesus por nossa culpa, pelo pecado; ou então, por vezes, em castigo de alguma
negligência ou infidelidade às graças, Jesus retira-se ou esconde-se. E quantos
não sentem dor por isso e não procuram a Jesus. E por que não nos humilhamos
profundamente, e não redobramos de devoção e de fervor para procurar a Jesus? Ó
Maria Santíssima aumentai em mim a amor ao vosso divino Filho!
E aconteceu que, depois de três dias, encontraram-No no Templo, sentado
entre os doutores, ouvindo-os e interrogando-os etc. Comumente os
discípulos ficavam sentados em esteiras aos pés dos doutores que ficavam
orgulhosamente em seus tronos. Mas, provavelmente, estupefatos e maravilhados
da sabedoria e das respostas daquele menino, os doutores deram-Lhe a honra de
se assentar no meio deles. Jesus, que é a fonte de toda a ciência, de toda a
luz, assim nos ensina a humildade e a modéstia como diz S. Gregório: "O
Menino Jesus é encontrado entre os doutores não ensinando". Interrogava
também aos doutores, parecendo querer instruir-se a si mesmo, e também para nos
ensinar a consultar a Igreja. S. Lucas não diz qual foi o assunto ali tratado.
Mas declarará a sua Mãe que deve empregar-se nos negócios de seu Pai.
Certamente falava do Messias, da época da sua vinda já que os doutores não
aproveitaram das consultas bíblicas e da solução transmitida por eles mesmos aos Reis Magos. Mostraram o
verdadeiro caminho, mas eles mesmos não o seguiram. Agora Jesus mesmo antes de
sua vida pública já quer mostrar-lhes que Ele é o Messias. Evidentemente, Jesus
queria dispor os corações dos sacerdotes e dos doutores a desejarem e a
receberem esse Messias cujo nascimento já sabiam e cuja sabedoria divina
perceberam naquele Menino muito acima dos comuns dos homens. Caríssimos,
tenhamos cuidado em utilizar melhor as graças de Deus.
Disse-Lhe sua Mãe: Filho, por que nos fizeste isto? Eis que teu pai e
eu te procurávamos cheios de aflição". José e Maria ficaram
admirados porque Jesus ainda não havia manifestado assim em público sua
sabedoria. Mas José não fala. Maria, porém, com a autoridade e ternura de mãe é
que fala. Admiramos o respeito e a deferência de Maria para com seu santo
Esposo, nomeando-o em primeiro lugar e dando-lhe o título de pai de Jesus e de
chefe da família. Na verdade, José, externa e legalmente era considerado como
pai de Jesus Cristo. A palavra da
santíssima Mãe de Jesus não é de censura; é um grito do coração, todo cheio de
confiança e de abandono, de humildade e de ternura; é uma espécie de queixa
afetuosa sobre a longa ausência de Jesus, para exprimir a sua pena e a de José.
Respondeu-lhes Ele: Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo
ocupar-me das coisas de meu Pai? É
evidente que a resposta de Jesus não inclui censura, mas apenas admiração. Se
Maria e José sabiam que Ele era o Messias, Filho de Deus, que veio ao mundo
cumprir a vontade de seu Pai, era natural que O encontrassem no Templo, ocupado
nas coisas referentes a Deus. Estas são as primeiras palavras de Jesus,
conservadas nos evangelhos. Nelas manifesta diretamente sua divindade. Por elas
dá a conhecer àqueles que O cercam no Templo, e a nós todos, o fim da sua
missão sobre a terra, e ensina-nos que os interesses de Deus e o seu agrado
devem estar acima de qualquer consideração humana. Algumas vezes Deus fala à
alma dos filhos e os chama para si. Nesse caso os pais não devem opor-se à
vocação celeste, nem têm o direito de fazê-lo.
E eles (Maria e José) não entenderam o que lhes disse: Porque,
na verdade, ainda não sabiam que Jesus devia abandonar tudo, para cuidar
unicamente da glória de seu Pai.
Desceu com eles e veio para Nazaré, e lhes era submisso. Sua Mãe
conservava todas estas coisas em seu coração. Jesus crescia em sabedoria, em
estatura e em graça diante de Deus e diante dos homens: Sendo Deus,
Jesus obedecia a seus pais. Que exemplo para os filhos! Por sua vez, Sua Mãe
conservava todas estas coisas no coração, para meditá-las, e pautar por elas
todos os atos da sua vida. Jesus crescia em sabedoria ... e em graça: Como
Deus, possuía todos os conhecimentos e a plenitude da graça. Crescendo, ia aos
poucos manifestando estes dons, o que causava aos homens a impressão de
desenvolvimento progressivo. Enquanto homem, Jesus Cristo foi adquirindo
conhecimentos experimentais do mundo que o cercava e neste sentido houve
verdadeiro crescimento.
JESUS, MARIA E JOSÉ, SALVAI AS FAMÍLIAS! Amém!
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