S. João II, 1-11
Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!
Aldeia de Caná na atualidade |
Celebraram-se umas bodas em Caná de Galileia, e achava-se ali a Mãe de
Jesus. E também Jesus foi convidado, com seus discípulos, para as bodas. Logo
após o Batismo e os 40 dias de recolhimento, oração e penitência numa montanha
perto de Jericó, depois de permitir ao demônio que O tentasse por três vezes,
Jesus Cristo inicia sua vida pública que vai prolongar-se por três anos apenas.
Já tinha em torno de si alguns discípulos, levados a Ele pelo testemunho de Seu
Precursor, João Batista. Estando assim nos inícios de sua carreira evangélica,
não havia feito ainda nenhum milagre para atestar sua missão. Jesus começa na
pequena aldeia de Caná, perto de Nazaré, a série brilhante e ininterrupta de
milagres que doravante encherá sua vida, e oferecerá ao mesmo tempo sólidos
fundamentos à nossa fé e úteis instruções para nossos costumes.
Caríssimos, afim de melhor acolher e compreender os
ensinamentos desta narração evangélica, consideremos sucessivamente os diversos
personagens desta cena de Caná.
Primeiramente consideremos os ESPOSOS. Sua conduta é
inteiramente digna de elogio. Pois convidam a Jesus e Maria para seu casamento.
Hoje, infelizmente são raríssimos os noivos que convidam Jesus e Maria para
suas núpcias. Em se tratando de algo tão sério, tão importante do qual depende
a sorte da vida inteira e até de gerações futuras, quantos são aqueles noivos
que levam em conta os conselhos, os mandamentos e a doutrina de Nosso Senhor
Jesus Cristo? O Divino Mestre santificou a virgindade ao abraçá-la Ele mesmo e
nascendo de uma virgem. Santificou, outrossim, o matrimônio elevando-o à
dignidade de sacramento, honrando-o com Sua presença e com o seu primeiro
milagre, com o qual aliás, mostra o poder de intercessão de sua Mãe Santíssima,
e confirma seus primeiros discípulos na fé. Com a presença de Jesus e Maria,
tudo nestas bodas é inteiramente puro, calmo, digno e santo. Nada de enfeites
imodestos, nada de modas imorais, nada de palavras licenciosas, nada de gritos
desordenados, nada de danças, nada de dissipação extravagante. Tudo transcorre
com ordem, paz e caridade. Os convivas sabem que Jesus e Maria estão lá,
vêem-Nos, ouvem sua voz e se edificam com Sua conversação. Mas nos casamentos
em que Jesus e Maria são simplesmente banidos, reina, ao invés, o espírito
pagão e assim, como aconteceu com os sete primeiros esposos de Sara, filha de
Raguel, quem tem todo poder é o Asmodeu, inimigo das almas.
Consideremos agora, MARIA SANTÍSSIMA. O que nela aparece em
primeiro lugar é sua bondade, bondade esta que brilha com uma espontaneidade e um desvelo admiráveis.
Sem que ninguém disso se advertisse, Maria percebe onde se encontra a
necessidade e conseqüente vexame dos noivos. E sem que ninguém o peça, solícita,
bondosa, compassiva, volta-se para seu Filho e Lhe diz ao ouvido estas
palavras: "Não têm vinho". Jesus
deixa claro que não é ainda chegada a hora de Ele começar a fazer milagres: "Mulher (em aramaico: 'já mara' que
quer dizer SENHORA) que temos Eu e tu com isso? (Outra expressão tipicamente hebraica e que se encontra em várias
passagens do Antigo Testamento). E assim poder-se-ia traduzir:
"Senhora, que motivo nos leva a ti e a mim a falar deste assunto?' E
devemos levar em conta o gesto, o tom de voz e outras circunstâncias que a
completavam, os quais desconhecemos, mas podemos supor. Aliás, pela ordem que
Maria dá aos serventes logo em seguida, mostra que ela bem entendeu que seu
Filho iria fazer o milagre. Quem melhor poderia penetrar no Coração de Jesus
senão sua Mãe Santíssima! O fato é que
não podemos concordar com aqueles protestantes que concluem que o próprio Jesus
tratava Maria como uma mulher como as outras. Isto constitui inclusive uma
grande ofensa ao próprio Jesus: sendo Deus não foi Ele que deu os dez
mandamentos, inclusive o quarto? Infelizmente o desconhecimento da língua
hebraica e aramaica da parte da maioria dos protestantes aumenta o perigo de
falsas interpretações da Bíblia.
Por outro lado as palavras de Jesus foram ditas com toda
certeza para fazer sobressair o poder de intercessão de sua Mãe amabilíssima.
No Templo depois de recordar os direitos do Pai celeste, Jesus obedece aos pais
terrenos; aqui, depois de recusar atender ao apelo de Sua Mãe, antecipa sua
hora e faz o milagre, transformando a água em vinho. A primeira vista parece
haver uma contradição entre o que o
Menino Jesus disse à sua Mãe lá no Templo e o que realiza aqui. É óbvio que não
pode haver contradição no falar e agir de Jesus. O fato é que Jesus, como Ele
mesmo declarou alhures, nunca fazia sua própria vontade mas sim a de Seu Pai
Eterno. Assim a explicação é que o Pai havia determinado deste toda eternidade
que Jesus não deveria negar nada à sua Mãe Santíssima.
Disse sua Mãe aos servidores: Fazei tudo o que Ele (Jesus) vos disser.
Maria Santíssima quer nos ajudar com seus pedidos e com seu crédito junto de
seu Filho. Ela quer mesmo prevenir muitas vezes, nossos pedidos, mas com uma
condição: que façamos tudo o que o Seu Filho mandar, isto é, que executemos Sua
vontade. E o que Ele quer é que façamos tudo que depende de nós, que nos
apliquemos à obra de nossa salvação o concurso de nossa fraqueza, que
coloquemos a água nas talhas de nossos corações, nestes corações de pedra (como
os chama a S. Escritura) a água de nossas lágrimas, a água insípida da
mortificação, do trabalho constante, do dever obscuro. E esta água
transformar-se-á em vinho, e esta fraqueza será transformada em força, e nós
mesmos, como os convivas de Caná, ficaremos admirados de encontrar em nós, em
lugar de nossa miséria e de nossa covardia , uma fortaleza e uma generosidade
das quais nunca nos julgaríamos capazes.
Além da bondade, vemos em Maria um poder extraordinário
junto ao Coração de seu Filho. Ela pede um milagre de primeira ordem e para
simplesmente livrar os esposos de Caná de um vexame. Pede sem ansiedade, sem
inquietação, mesmo sem insistência, tão segura está do poder e do beneplácito
de Seu Filho para com ela. Na verdade, Nossa Senhora não pede propriamente,
apenas demonstra o desejo que tem em ver o seu Filho operar um milagre para
livrar de um embaraço os neo-esposos de Caná.
Em Caná, além da bondade e poder, vemos brilhar em Maria a
sua glória. Assim, não é pelo pedido de Maria que Jesus, escondido durante
trinta anos na obscuridade de uma vida humilde e comum, se mostra enfim o que
é, e manifesta este poder divino que estava até então tão cuidadosamente oculto
n'Ele? Não é, pois, pelo prece de Maria que Ele começa as funções de seu
ministério público; deste ministério que vai se tornar tão fecundo em ensinamentos
e prodígios; que Ele estabelece sua missão, que Ele ganha a confiança de seus
discípulos e os prende definitivamente à sua pessoa?
Agora, caríssimos, contemplemos JESUS! Aqui nas Bodas de
Caná Jesus nos ensina uma coisa, a maior, a mais bela, a mais augusta que
possamos aprender: é que Ele é Deus, Filho de Deus. Com efeito, tudo em seu
semblante, em suas palavras, em sua conduta, atesta Deus todo poderoso e a
própria sabedoria. Ele diz: "Minha hora não é ainda chegada". Se faz
o milagre é porque, como ficou explicado acima, para obedecer a um decreto do Pai, isto é, que
nada negasse à Sua Mãe. Fala com calma e dignidade: "Enchei de água estas
talhas até às bordas e levai-a ao mestre-sala". Jesus queria que seus
milagres provassem a sua missão divina e contribuíssem para a estabelecer aos
olhos dos homens. Para tanto Ele dá ao milagre de Caná todas as garantias e
toda autenticidade de que é susceptível. Ele espera para que a necessidade seja
bem constatada. Ele faz encher as talhas de água até às bordas, afim de que a
água apareça aos olhares dos convivas; Ele ordena aos servidores que busquem a
água e a levem ao mestre-sala. A este último, com efeito, é que pertence o
direito de constatar oficialmente a qualidade do licor que o poder de Jesus tinha
substituído à água das talhas, e atestar assim solenemente o milagre.
Caríssimos, o milagre de Caná figura o milagre mais
retumbante e sobretudo mais cheio de amor que nos oferece a Eucaristia. Nela
Jesus opera a mais maravilhosa mudança, pois transforma o pão e o vinho em seu
Corpo e em seu Sangue, e isto sem que Ele visivelmente coloque a mão, mas pelo
ministério de seus servidores e de seus padres.
Onipotente e eterno Deus, que governais igualmente o céu e a
terra, com a vossa Providência, escutai, benigno, as súplicas de vosso povo, e
concedei às famílias de nossos tempos, a
vossa paz; e que a indissolubilidade que estabelecestes para o sacramento do
matrimônio não seja destruída pelos homens. Amém!
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