SAUDAÇÕES E BOAS VINDAS

LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO! PARA SEMPRE SEJA LOUVADO!

Caríssimos e amados irmãos e irmãs em Nosso Senhor Jesus Cristo! Sêde BEM-VINDOS!!! Através do CATECISMO, das HOMILIAS DOMINICAIS e dos SERMÕES, este blog, com a graça de Deus, tem por objetivo transmitir a DOUTRINA de Nosso Senhor Jesus Cristo. Só Ele tem palavras de vida eterna. Jesus, o Bom Pastor, veio para que Suas ovelhas tenham a vida, e com abundância. Ele é a LUZ: quem O segue não anda nas trevas.

Que Jesus Cristo seja realmente para todos vós: O CAMINHO, A VERDADE, A VIDA, A PAZ E A LUZ! Amém!

sábado, 30 de janeiro de 2016

FAZER ATOS PERFEITOS DE AMOR A DEUS

  ATO DE PERFEITO AMOR A DEUS

"Conhecemos e cremos no amor que Deus tem por nós. Deus é amor; quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus nele"... "Nós, portanto, amemos a Deus, porque Deus nos amou primeiro" (1 S. João, IV, 16 e 19). 

 Primeiramente um esclarecimento: Habitualmente, em nosso amor de Deus há mistura de amor puro e de amor de esperança, o que quer dizer que amamos a Deus por Si mesmo, porque é infinitamente bom, e também porque é a fonte de nossa felicidade. Estes dois motivos não se excluem, pois Deus quis que em O amar e glorificar encontrássemos a nossa felicidade. Não nos inquietemos, pois, desta mistura, e, pensando no céu, digamo-nos somente que a nossa felicidade consistirá em possuir a Deus, em O ver, amar e glorificar; então o desejo e a esperança do céu não impedem que o motivo dominante das nossas ações seja verdadeiramente o amor de Deus.
   O Ato de Amor a Deus é a maior e mais preciosa ação que se possa ser feito, tanto no céu como na terra. A alma que faz mais Atos de Amor a Deus, é a alma mais amada por Deus no céu e na terra. O Ato de Amor a Deus é o mais poderoso e eficaz meio para chegar bem depressa, e facilmente, a mais íntima união com Deus, à mais alta santidade e à maior paz da alma. (Beato Olier).
   O Ato de perfeito Amor a Deus realiza imediatamente o mistério da união da alma com Deus. E se esta alma fosse culpada dos maiores erros, ainda que numerosos, adquiriria imediatamente a Graça de Deus com este Ato, com a condição de desejar se confessar o quanto antes. Não pode comungar antes da confissão. Mas queremos dizer que feito o Ato de perfeito Amor a Deus, a alma por mais pecadora é perdoada por este Ato e se morrer antes de se confessar não vai para o inferno. Está salva.
   Este ato purifica a alma dos pecados veniais, das imperfeições, dá o perdão do pecado, dá também a remissão da pena por todos os pecados e restitui os méritos perdidos. O Ato perfeito de Amor a Deus torna a dar a alma imediatamente, a inocência batismal. É este ato o meio eficaz para converter os pecadores, salvar os moribundos, libertar as almas do Purgatório, e para consolar os que sofrem, para ajudar os Padres, para ser útil às almas e à Igreja.
   Um Ato perfeito de Amor a Deus aumenta a glória exterior do próprio Deus, da Santíssima Virgem e de todos os Santos do Paraíso; soergue todas as almas do Purgatório; obtém acréscimo da graça para todos os fiéis sobre a terra, reprime o poder maligno do inferno sobre as criaturas. O menor Ato de amor a Deus chega como bênção e graça até o selvagem que mora na última choupana abandonada nos limites da terra.
   O Ato de Amor a Deus é o mais poderoso meio de evitar o pecado, de vencer as tentações e também para adquirir todas as virtudes e merecer todas as graças.
   "O menor Ato de perfeito Amor a Deus tem mais efeito, mais merecimento e mais importância, que todas as boas obras em conjunto". (São João da Cruz) É óbvio que São João da Cruz está se referindo às obras boas mas não feitas com perfeito amor a Deus.
   O Ato de Amor a Deus é a ação mais simples, mais fácil, mais curta ou rápida que se pode fazer, pois basta dizer com toda simplicidade: "Meu Deus, eu Vos amo".
   É tão fácil fazer um Ato de Amor a Deus. Pode-se realizá-lo a todo momento, em todas as circunstâncias, no meio do trabalho, entre a multidão humana, seja qual for o lugar, e num instante de tempo. O Bom Deus está sempre presente, ouvindo, esperando afetuosamente colher do coração da criatura essa expressão de amor. Ele deseja somente que a alma que faz um Ato de Amor conserve-se atenta um momento para poder Ele, Deus responder-lhe por sua vez: "Eu também te amo; Eu te amo muito!"
   O Ato de amor não requer esforço nem inteligência. Não interrompe a atividade, não exige fórmulas particulares.
   O Ato de Amor não é um ato de sentimento; é um ato da vontade. Elevado infinitamente acima da sensibilidade e é também imperceptível aos sentidos. Basta que a alma diga ou mesmo exprima sem palavras ao bom Deus: "Meu Deus, eu Vos amo!"
   Na dor sofrendo em paz e com paciência, a alma manifesta seu Ato de Amor deste modo: "Eu Vos amo Meu Deus, por isto sofro tudo por amor a Vós!"
   Em meio aos trabalhos e preocupações exteriores, no cumprimento do dever cotidiano: "Meu Deus, eu vos amo, trabalho comVosco, para Vós, por Vosso Amor".
   Na solidão, no isolamento, na imolação, na desolação: "Obrigado, meu Deus, sou assim mais semelhante a Jesus. Basta-me amar-Vos muito!"
   Por ocasião de defeitos, mesmo graves: "Meu Deus, sou fraco, perdoai-me. Recorro a Vós, refugio-me em Vós porque Vos amo muito!"
   Nas alegrias, nas horas de felicidade: "Meu Deus, obrigado por este dom. Eu Vos amo".
   Quando a última hora se aproximar: "Obrigado, meu Deus por tudo. Amei-Vos sobre a terra; espero amar-Vos para sempre no Paraíso!"
   Pode-se fazer o Ato de Amor a Deus de mil modos diversos. Mas ele é realizado de modo particular pela vontade sempre disposta a cumprir a Santa Vontade de Deus, de qualquer modo que ela se apresente e nos seja manifestada.
   Faz-se o Ato de Amor a Deus, também, quando se cumpre mesmo uma pequenina obrigação, quando se sofre uma bem pequena pena ou frui-se qualquer ventura ou alegria, tudo por seu Amor.
   "Para o bom Deus, vale mais apanhar um alfinete do chão por seu Amor, do que realizar ações notáveis por outros objetivos, ainda que honestos", - diz um santo.
   Faz-se Atos de Amor a Deus todas as vezes que se Lhe diz pela vontade: "Meu Deus, eu Vos amo".
   Uma pobre alma, ignorada de todos, pode fazer por dia 10.000 Atos de Amor a Deus. Na realidade, uma alma simples, e que vive no meio do mundo, e no meio da agitação e das preocupações, pode repetir cada dia 10.000 vezes: "Meu Deus, eu Vos amo".
   A ALMA PODE FAZER O ATO DE AMOR A DEUS EM TRÊS GRAUS DE PERFEIÇÃO.
   1º) - Vontade de sofrer quaisquer penas e até mesmo a morte para não ofender gravemente o Senhor. "Meu Deus, antes morrer que cometer um pecado mortal".
   2º) - Vontade de sofrer qualquer pena e até mesmo a morte de preferência a consentir num pecado venial. "Meu Deus, antes morrer que ofender-Vos, mesmo levemente".
   3º) - Vontade de escolher sempre o que for mais agradável a Deus. "Meu Deus, uma vez que Vos amo, quero somente o que quereis".
   Cada um destes três atos contém um Ato perfeito de Amor a Deus.
   Santo não é quem faz milagres, tem êxtases ou visões, mas quem faz mais Atos de Amor a Deus no decorrer do dia.
   Santo não é quem nunca consente num pecado, mas quem faz pecados por fraqueza mas logo se reergue e encontra em sua própria fraqueza nova razão de amar ainda mais o bom Deus e de se abandonar melhor nos braços divinos.
   Santo não é quem se flagela, usa de fortes mortificações ou que foge ao mundo, ou que realiza obras notáveis que maravilham os homens, mas quem diz maior número de vezes e com mais amor ao bom Deus: "Meu Deus, eu Vos amo muito, e por vosso amor, quero florescer onde me semeastes".
   Santo é quem repete com maior vontade e maior número de vezes o Ato de Amor pela jornada diária afora: "Meu Deus, eu Vos amo muito".
   A alma mais simples e escondida, ignorada de todos, mas que faz o maior número de Atos de Amor a Deus, é muito mais útil às almas e à Igreja do que aquelas que fazem grandes obras com menor amor.
   As obras grandiosas e maravilhosas de alguns santos tiveram muito valor justamente porque tiveram como motivo o grande amor a Deus que lhes inflamava a alma.
   Esta postagem é um folheto distribuído por Religiosas no alto da "Escada Santa" em Roma. Foi traduzido para o português e publicado em 1958. Recebeu para tanto o Nihil obstat do Cônego Vital B. Cavalcanti ( Censor ad hoc); e o "imprimatur" = pode imprimir-se - foi dado pelo Mons. Caruso , Vigário Geral no Rio de Janeiro.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

AÇÃO DIVINA NO ESTABELECIMENTO DA IGREJA

Artigo extraído do TRATADO DE HISTÓRIA ECLESIÁSTICA de autoria do Padre Rivaux, V. I.

   "É impossível não reconhecer o dedo de Deus, vendo a Igreja, saída do presépio de Belém, do Calvário, do cenáculo, subir assim gloriosa ao trono dos Césares, depois de três séculos de lutas, de perseguições e de suplícios horrorosos, e apesar do grande número e poder de seus inimigos. (...).

   "No grande e porfiado combate que a filosofia travou com o cristianismo, ela foi fortemente coadjuvada por todas as paixões do coração humano. A sujeição aos sentidos produziu sempre uma grande oposição às verdades morais e intelectuais. É a eterna luta, o combate mortal da carne contra o espírito. Ora, na época em que a religião cristã apareceu sobre a terra, "o gênero humano, diz um autor, só vivia pelos sentidos. Não havia outra religião senão a volúpia; e as seitas mais severas na sua origem, degenerando brevemente de uma austeridade factícia, tinham chegado por um transtorno de ideias, que passou para a sua linguagem, a ponto de identificar a virtude com o vício. Por isso todas as paixões se arremessaram com furor contra o cristianismo. A avareza incitou contra ele os sacerdotes idólatras; o orgulho, os sábios, a política, os imperadores e seu exemplo aos povos. Numa palavra, foi o gigantesco e infernal combate de todos os vícios contra a virtude, de todas as infâmias contra a honra, de todas as seduções contra à inocência, de todas as mentiras contra a verdade, etc.

   "O que prova quanto as paixões humanas eram hostis ao cristianismo é a guerra universal e cruel que lhe declararam todas as classes da sociedade pagã Reis, povos, cortesões, filósofos, tudo o que tinha uma espada, um cetro, uma pena, algum poder, lançou-se sobre os cristãos como sobre os inimigos do gênero humano. Não respeitaram nem a idade nem o sexo; cobriram as praças públicas, as estradas, os mesmos campos e lugares desertos de instrumentos de tortura, de cavaletes, de fogueiras, de cadafalsos. Juntavam os jogos à carnificina; de todos os lados corriam a gozar da agonia e da morte dos cristãos, que eram degolados. Por espaço de trezentos anos, este bárbaro grito: Aos leões os cristãos! fez exultar de alegria uma população ébria de sangue e, durante todo esse tempo, o império romano inventou toda sorte de suplícios contra os fiéis. Foi, diz um consciencioso historiador, uma carnificina que durou séculos.

   "Que opôs a religião cristã a esses diversos e tão terríveis ataques? À arrogância dos filósofos, à sua razão cheia de orgulho e de independência, opôs a estultícia e o escândalo da cruz: são as próprias palavras de São Paulo;; porque, aos olhos dos judeus e dos pagãos, o cristianismo era uma verdadeira estultícia: era uma estultícia a pobreza, a abnegação, a fé nos mais incompreensíveis mistérios, na divindade de um homem, de um crucificado. Sim, era uma estultícia aos olhos de uma razão cega e orgulhosa; mas, para o homem esclarecido pelas luzes do céu, é, diz o grande Apóstolo, o milagre da força de Deus e a obra-prima da sua sabedoria. Como para acabar de humilhar e de confundir o orgulho dos sábios do século, Deus fez que os homens que eles mais desprezavam lhes impusessem essa doutrina revoltante. "Escolheu, diz São Paulo, as coisas mais fracas do mundo para destruir as que são grandes" O método de ensino foi tão extraordinário como a doutrina e os mestres. Desprezavam os recursos da sabedoria humana para agradar e persuadir. Falavam sem estudo nem arte. Exuberavam de gozo quando o seu ensino lhes atraia o desdém, as afrontas, a perseguição e a morte. Gloriavam-se da sua fraqueza e ignorância. Alegravam-se de ser a abjeção do mundo. Gabavam-se de não conhecer, de não saber senão a estultícia da cruz. "Glorio-me e folgo, exclamava o mais célebre dentre eles, na minha fraqueza, nas afrontas, nas perseguições e na tribulação; porque só sou forte quando pareço fraco. Deus nunca permita que eu me glorie senão na cruz de Cristo! Eu professo não saber outra coisa senão a Jesus, e Jesus crucificado" Eis aqui o que o cristianismo ofereceu à erudição e soberba da filosofia pagã. Era impossível apresentar-lhe coisa mais insensata na aparência, mais humilhante e revoltante.

   O que ele opôs a todas as paixões do coração humano, desencadeadas contra ele, não era menos capaz de a irritar. "Armado de uma cruz de madeira, diz um autor, viram-no caminhar no meio dos gozos embriagantes e das religiões dissolutas de um mundo envelhecido na corrupção. Às esplêndidas festas do paganismo, às lindas imagens de uma encantadora mitologia, à cômoda licenciosidade da moral filosófica, a todas as seduções das artes e dos lazeres, opôs o espetáculo da dor, graves e lúgubres cerimônias, as lágrimas da penitência, ameaças terríveis, tremendos mistérios, o pavoroso fausto da pobreza, o saco, a cinza e todos os símbolos de um absoluto desapego e de uma profunda consternação; porque foi isto o que o mundo pagão viu a princípio no cristianismo". "Nascidos para as alegrias celestes, diz Santo Agostinho, não devemos celebrar os prazeres mortais; pois isto é uma linguagem bárbara que o homem aprende sobre a terra, mas de que o cristão nunca deve usar" "A religião cristã, diz o P. Lacordaire, é  uma religião de crucifixão; vem do Calvário. Conhece-se que ela custou lágrimas e sangue; e, em toda parte onde há um verdadeiro cristão, deve haver penitência e circuncisão do coração". "Bem-aventurados os pobres, os que choram e os que sofrem e são injustamente perseguidos! Desgraçados aqueles que fazem consistir a sua felicidade nos prazeres deste mundo! amai os que vos odeiam, abençoai os que vos amaldiçoam. Se vos ferirem na face direita, oferecei também a outra. Todo aquele que quiser ser discípulo de Jesus Cristo renuncie a si mesmo e tome a sua cruz todos os dias. Velai e orai, Se o vosso olho direito vos servir de escândalo, arrancai-o; e, se é a vossa mão, cortai-a, etc.": eis o Evangelho. "Eu mortifico a minha carne, dizia o grande Apóstolo, e escravizo-a; porque todos os que são de Jesus Cristo crucificaram a sua própria carne e os seus apetites, etc." cumpre que a impureza nem sequer seja nomeada entre os cristãos; a cruz de Jesus Cristo deve bastar para os deliciar. Se o sensualismo deveu estremecer e revoltar-se, foi decerto ao ouvir semelhante linguagem.

   A Igreja, a todo o poder do império romano levantado contra ela, nada opôs que não fosse fraco aos olhos do mundo. Caminhando ao longo do mar da Galileia, Jesus encontrou uns pescadores enxugando as suas redes: "Vinde após mim, disse-lhes Ele, e farei que sejais pescadores de homens"; e os mandou percorrer todo o mundo: euntes docete omnes gentes. E que autoridade, humanamente falando, deu-lhes ele para isso? a autoridade de uma homem que, vivendo somente trinta e três anos, passou trinta na obscuridade, na oficina de um carpinteiro; obscuridade que desacreditou a sua própria palavra, a ponto de o impedir de converter os seus à sua doutrina, o que lhe atraiu a morte mais ignominiosa. Do alto de um patíbulo, ele deixa os seus Apóstolos, homens sem instrução nem influência, encarregados de converter o mundo pagão à adoração e partilha da sua cruz. Eles ousam tentar a empresa. A Etiópia, a Índia, a Grécia, tão sábia, e Roma, tão guerreira, receberam esses embaixadores de nova espécie. Afiguremo-nos Pedro e Paulo, com um bordão na mão, abandonando a Síria e chegando a Roma, com todas as exterioridades da mendicidade. Vendo essas elevadas torres, esses suntuosos palácios, no meio dos cantos  de triunfo, das legiões dos procônsules, que saem desses soberbos pórticos para ir dar leis ao mundo, no meio do fausto dos grandes, ao estrondo das festas, das danças  dos dissolutos prazeres da mocidade romana, perguntai a esses dois judeus que vão fazer a Roma. Nós vamos, responder-vos-ão eles, opor-nos a essas festas e a esses prazeres; pregar a humildade aos altivos Césares, a mortificação e a continência a essa brilhante e voluptuosa mocidade, e fazê-los adorar o Cristo, que acabam de crucificar na Judeia. Perguntai-lhes: que recurso têm para operar essa pasmosa revolução? Nenhuns temos. Somos uns pobres e ignorantes pescadores, e é a primeira vez que deixamos as nossas redes. Esperais ao menos que algum grande conquistador auxilie a vossa empresa? Não o esperamos. Ademais, o Mestre, que nos envia, tendo-nos visto uma vez puxar da espada para o defender, mandou-no-la embainhar e recomendou-nos que, quando nos maltratassem, nos retirássemos em paz. Mas tendes recompensas para os que vos ouvirem? Nenhuma temos que dar neste mundo; os que nos ouvirem não devem esperar, assim como nós, ser mais felizes que o nosso Mestre, que não tinha onde pousar a sua cabeça, etc.

   Se um incrédulo dos nossos dias fosse testemunha dessa conversação, teria acolhido os dois Apóstolos com o mais desdenhoso sorriso; e, se fosse poderoso, ter-lhes-ia feito vestir a túnica da ignomínia, como Herodes obrou com Jesus, e os teria entregue à irrisão de todo o império.

   "E, contudo, diz o P. Ravignan, esses doze pescadores mudaram a face do mundo, e a sua religião venceu; foi, é e dura; não devia, não podia existir nem durar, porque era loucura, e loucura contrária a todas as paixões" "Admirável contraste!, diz outro autor: no mesmo tempo, Sêneca, filósofo eloquente e rico, educa um novo imperador; e Pedro, pescador da Galileia, pobre e sem valimento, educa um novo gênero humano. O discípulo de Sêneca foi Nero; o de Pedro é o mundo cristão".

   Concluamos, pois: as ilusões e os excessos do paganismo foram coisas humanas e naturais. O cego e fatal império do maometismo é coisa humana, é o serralho e o alfanje, é a força bruta e alguns rasgos de eloquência. A bandeira hasteada por Lutero é coisa humana, é o orgulho e o amor da independência. A filosofia delirante é coisa humana também. Mas eu procuro o homem e a natureza no estabelecimento do cristianismo; mostrai-mo; a força? não; o gênio? tampouco; as paixões? ainda menos. Não há milagres no estabelecimento do cristianismo? Seja. então admitis o que é impossível, o que é inexplicável, o que é superior às forças da natureza e da humanidade. Remetei-vos ao tempo, aos lugares, aos homens, às coisas de então e direis necessariamente, com um moderno e sábio historiador dos Césares: "Quanto a mim, está demonstrado que, humanamente falando, o cristianismo não podia, não devia começar". "Ou o cristianismo se estabeleceu por milagres, dizia Santo Agostinho, e então é divino; ou se estabeleceu sem eles, e então admite-se o maior de todos os milagres", isto é, a conversão do mundo por doze pescadores desaprovados pelo céu e repelidos pelo universo. "O Evangelho, diz Bayle, pregado por homens pobres, sem estudo nem eloquência, cruelmente perseguidos e privados de todo o auxílio humano, não deixou de se estabelecer em pouco tempo por toda a terra. É este um fato que ninguém pode negar e que prova que é obra de Deus".

   Logo, por confissão de todos, o dedo de Deus está aqui. Segundo a palavra do profeta, "o Cordeiro veio a ser o Dominador, e o leão da tribo de Judá venceu". A vós, Senhor, toda a gratidão, todo o amor e toda a glória, porque a religião é obra evidentemente vossa! A Domino factum est istud!


N. B. : No Seminário um dos meus professores afirmava que o TRATADO DE HISTÓRIA ECLESIÁSTICA  de autoria do Padre Rivaux era a melhor que ele conhecia. A Editora PINUS reeditando esta obra monumental, prestou um grandioso serviço à Santa Igreja e consequentemente às almas. Assim, aconselho que, quem puder, adquira esta obra em três volumes. 

   

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Página da História do Concílio Vaticano II

   (...) Entre as numerosas comissões e secretarias que ele (João XXIII) instituiu em 5 de junho de 1960, para empreender a tarefa imediata de preparar o Concílio, figurava um Secretariado para a União dos Cristãos. Tinha por finalidade estabelecer contatos com os Ortodoxos, os Velhos Católicos, os Anglicanos e os Protestantes, e convidá-los a enviar representantes oficiais ao Concílio. (...) Havendo no mundo milhares de igrejas separadas, era impossível convidar cada uma delas a se fazer representar no Concílio. O Cardeal Bea [encarregado]  resolveu entrar em contato com as comunidades mais numerosas, e convidá-las e enviar delegações que pudessem representar todas as igrejas a elas filiadas. Assim, foram enviados convites à Federação Luterana Mundial, à Aliança Mundial das Igrejas Reformadas e Presbiterianas, à Convenção Mundial das Igrejas de Cristo (Discípulos de Cristo), ao Comitê Mundial dos Amigos (Quakers), ao Conselho Mundial dos Metodistas, à Associação Internacional pelo Cristianismo Liberal e pela Liberdade Religiosa, ao Conselho Ecumênico das Igrejas, ao Conselho das Igrejas Australianas, e a outros grupos. 
   Mons. Heean, Arcebispo de Liverpool e membro do Secretariada para a União dos Cristãos, dizia em 1962: "Não será exagerado dizer que a personalidade do Papa modificou a atitude dos não-católicos da Inglaterra com relação ao Vaticano. No linguajar de nosso tempo, poderíamos dizer que o Papa João deu aos protestantes uma "nova imagem" da Igreja Católica(...) 
   O Cardeal Bea convidou o Arcebispo de Cantuária a enviar uma delegação representando a Igreja Anglicana. O convite foi aceito. A seguir ele dirigiu ao Patriarca Ecumênico Atenágoras, de Constantinopla, proposta para o envio de uma delegação que representasse os diversos ramos da Igreja Ortodoxa. [A Russa não aceitou]. (...)

   O assunto do comunismo não foi ventilado diretamente... 

   (...) O Cardeal Bea exprimiu publicamente sua satisfação ante as reações dos observadores delegados. 
   O Sr. Cullmann, professor nas universidades de Basileia e de Paris, que era hóspede do Secretariado para a União dos Cristãos, concedeu uma longa entrevista coletiva no fim da sexta semana da primeira sessão, a fim de expor as próprias reações e as de outros "convidados e observadores". Disse que receberam todos os textos do Concílio, que lhes era permitido assistir a todas as Congregações Gerais, que podiam comunicar seus pontos de vista nas reuniões semanais especiais do Secretariado, que estavam em contato pessoal com os Padres Conciliares, especialistas e outras personalidades romanas. Disse que as atividades do Secretariado para a União dos Cristãos "lhes mostrava diariamente quanto era verdade que sua existência contribuía para a aproximação de todos". 
   Sublinhou que se tiravam conclusões errôneas da presença, no Concílio, de observadores e convidados. Cartas que recebia, tanto de católicos como de protestantes, pareciam indicar que seus autores julgavam ser a finalidade do Concílio chegar à união entre a Igreja Católica e as outras igrejas cristãs. Tal não era, disse, o fim imediato do Concílio e ele receava que muitos dos que pensavam assim acabassem decepcionados depois do encerramento do Concílio, ao constatar que as igrejas continuavam distintas. (...)
   Para se preparar para as Congregações Gerais, os observadores estudavam os esquemas lhes eram distribuídos. "Faziam anotações", disse, "fazíamos comparações com a Escritura, com os escritos dos Padres da Igreja e com as decisões dos Concílios anteriores. Evidentemente, reagíamos de formas muito diversas aos esquemas que nos foram sendo comunicados: apreciamos uns, desgostamos de outros; alguns nos parecem encorajadores, outros decepcionantes".
   O professor Cullmann observou que todo futuro historiador do II Concílio do Vaticano deveria mencionar "a importância ecumênica" da cantina que havia sido instalada para todos os membros do Concílio. "Ela não somente nos proporciona refrigerantes, disse, como também nos permite de modo absolutamente único, encontrar bispos do mundo inteiro de uma forma que seria impossível em outra circunstância (...) E se o diálogo prosseguir entre as duas partes, no espírito que nos animou até aqui isto, será um elemento de unidade que poderá trazer novos frutos"

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

CONFISSÃO: uma Direção Espiritual com S. Francisco de Sales

   A confissão é um sacramento de misericórdia. É, na verdade, um tribunal, mas um tribunal em que o próprio réu se acusa não para ser condenado, mas para ser perdoado. Devemos por isso aproximar-nos dele com uma piedosa alegria e inteira confiança. São Francisco de Sales ensina-nos que, para os que se confessam todos os oito dias, bastam uns 15 minutos de exame de consciência, e pede menos para o ato de contrição. 
   Quanto às faltas leves esquecidas, eis aqui uma profunda observação do nosso santo: Não devemos inquietar-nos, quando não nos lembramos das faltas, para as confessarmos; porque não é crível que uma alma que faz muitas vezes o seu exame o não faça de modo que se lembre das suas faltas graves. Não devemos ser tão delicados, que queiramos confessar tantas pequenas imperfeições, tantas faltas leves; um ato de humildade interior, um suspiro basta para as apagar. Não digais que tendes pecados ocultos que não confessais. Isso é um artifício do demônio para vos inquietar. Recordai-vos ainda de que a acusação minuciosa das vossas faltas não é o que as apaga, assim como uma enumeração exata das dívidas não paga nada ao credor. Um exame longo cansa o espírito. 
   Ouçamos S. Francisco de Sales: "Quando não virdes claramente que destes alguma espécie de assentimento aos acessos de cólera ou de qualquer outra tentação, deveis dizê-lo no vosso entretenimento (direção) espiritual, afim de serdes instruído de como haveis de proceder; mas não o deveis dizer a modo de acusação. Porque se dizeis: acuso-me de ter tido durante dois dias grandes motivos de cólera, mas não consenti neles, dizeis as vossas virtudes em vez de dizerdes os vossos defeitos. Se estiverdes na dúvida de ter cometido alguma falta, deveis examinar seriamente se essa dúvida tem fundamento, e então falar dela com simplicidade. No caso contrário, deveis calar-vos, ainda que sintais por isso algum pesar."
   Outro aviso do nosso santo: "Não somos obrigados a confessar os pecados veniais; mas quando os confessamos devemos ter a resolução de nos emendarmos deles, aliás seria um abuso confessá-los."
   Caríssimos! Depois da confissão, ficai tranquilos. É-vos absolutamente proibido deixar-vos vencer por temores a respeito do exame, da contrição, ou de qualquer outra coisa que seja. Estes temores são artifício do vosso inimigo que deseja tornar-vos amargo um sacramento de consolação e de amor. Devemos, outrossim, arrepender-nos dos nossos pecados, mas não perturbar-nos por causa deles; o arrependimento é o efeito do amor de Deus, a perturbação é o efeito do amor próprio. No mesmo ato de sincero arrependimento devemos dar graças a Deus de, pela sua misericórdia, não termos obrado pior. Prometei-lhe depois uma sincera emenda, não confiando senão na bondade de Nosso Pai Celeste. Ainda que caísseis cem vezes por dia, devíeis sempre esperar e prometer uma séria emenda. Num instante Deus pode transformar as pedras em verdadeiros filhos de Abraão; isto é, em grandes santos. Assim o fará, se constantemente confiardes n'Ele. 
   A dor dos pecados consiste na determinação da vontade que detesta as faltas passadas e as não quer cometer mais para o futuro. Para a verdadeira contrição não é preciso lágrimas, nem suspiros, nem emoções sensíveis ( se isto acontecer, é bom também, mas o importante é a vontade). Podemos até ter em nosso coração uma contrição santa e justificante no meio da maior aridez, que nos parecerá insensibilidade. Mas, caríssimos, não vos deixeis vencer por nenhum temor a este respeito. Torno a dizer: o importante é a vontade decidida. Estabelecei o vosso coração numa profunda paz, e dizei amorosamente ao vosso Deus que desejaríeis não o ter ofendido e com o seu auxílio não quereis ofendê-Lo mais para o futuro: eis a contrição. Ele é um efeito do amor, e o amor procede sempre com tranquilidade. Um dos penitentes mais contritos foi Davi; e a sua contrição encerrou-se nesta palavra: pequei; e por esta só palavra justificou-se. 
   Diz São Francisco de Sales:"É poder muito poder querer. O desejo da contrição prova que há contrição. O fogo que está debaixo da cinza não se sente, não se vê, e, contudo, existe". Dizeis que queríeis ter a contrição, mas que não podeis tê-la. Ficai tranquilos com as palavras do maior diretor espiritual de todos os tempos.
   É aconselhável, caríssimos, acrescentar em geral alguma falta da vossa vida passada, de que experimentais alguma dor particular. Deste modo a matéria necessária para o sacramento será muito mais certa; e a contrição também. 
   Observai bem o seguinte: A Igreja, que é o intérprete das vontades de Nosso Senhor Jesus Cristo, pede a integridade sacramental e não a integridade material. A primeira consiste na confissão dos pecados de que nos lembramos depois dum exame razoável e proporcionado ao estado atual da nossa alma. A integridade material consiste na declaração material de todos os pecados que cometemos, do seu número, das suas circunstâncias, sem omitir nenhuma. A Igreja pede a primeira integridade, porque não excede as nossas forças: mas não exige a segunda, sabendo muito bem que no nosso exame sempre nos escapará alguma coisa ou sobre o número ou sobre as circunstâncias. Em suma: Ela não pede aos fiéis senão uma confissão humilde e sincera de tudo o que lhes vem à lembrança depois dum exame conveniente: persuadida de que a boa vontade dos penitentes supre então a falta involuntária da sua memória. Em uma palavra: a Igreja exige uma confissão HUMANA. E não esquecer que o confessor procura suprir qualquer falta por interrogações prudentes. 
   Caríssimos, para chegardes a tranquilizar a vossa alma, achareis um poderoso socorro neste sentimento universal dos santos: o temor do pecado deixa de ser salutar, quando é excessivo. E cuidado com o temor de confissões gerais! A doutrina não só de São Francisco de Sales, mas de todos os santos e de todos os teólogos esclarecidos e tradicionais é que depois de terdes feito a vossa confissão geral com sinceridade do coração e desejo de vos emendardes, deveis ficar tranquilos e não repeti-la de modo algum, sobretudo, se a pessoa é escrupulosa. Aquele que não segue este sábio conselho dos santos, o que é que faz? Traz à memória o que deveria esquecer, e perturba o espírito em vez de o sossegar. "E depois, como diz também São Filipe Neri, "Quanto mais se varre, mais pó se levanta". Quem sente ardência nas vistas, quanto mais esfrega, mais arde.
   Um último conselho: Pelo menos uma vez na vida, é muito salutar fazer uma confissão geral, e, se for possível, é melhor que seja feita num retiro espiritual. Num Retiro Espiritual temos todas as condições para fazer a melhor confissão geral possível. 
    

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

O FIM DO HOMEM: princípio e fundamento de todo retiro



LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA

   Para que fim Deus criou o homem: Para conhecer, amar e servir a Deus aqui na terra e assim ser feliz depois para sempre no céu. 

   Deus é o meu princípio; é o meu fim e é a minha recompensa. 

   1- Deus, meu princípio: Percorrendo toda a cadeia dos seres, chego ao primeiro elo, chego a Deus. Deus é o Ser que existe por Si mesmo e é eterno: não teve princípio, nem terá fim. Ser único antes da criação. Devo adorá-Lo nessa eternidade que precedeu o mundo. Mas Deus é a própria Bondade. A Sagrada Escritura diz que Deus nos amou primeiro, porque nos amou sempre, antes mesmo de ter criado o mundo. E assim, de preferência a tantos outros que poderiam ter vindo ao mundo e nunca virão, amava-me e me criou. E como não tenho em mim a razão de minha existência, Deus ao criar-me continua me sustentando no ser. Seria como uma criação continuada. Deus é meu Pai. "Pai Nosso que está no Céu". Ah! a quanto reconhecimento e amor estava eu obrigado! Ouço, no entanto o Divino Espírito Santo dizer-me: "Abandonaste a Deus que te criou, e esqueceste-te de teu Senhor e Criador" (Deut.XXXII, 18). 

   2 - Deus é o meu fim. Assim como, sendo Deus a própria Bondade, amou-me deste toda eternidade e depois criou-me, assim também sendo a própria Sabedoria, teve um fim, ao dar-me a vida: conhecê-Lo, amá-Lo e servir a Ele. Isto porque Deus sabia que o homem só poderia ser feliz cumprindo esta finalidade. Se, preencho este fim, tudo está salvo para mim. Fim único, fim necessário, fim glorioso, fim de todo o meu ser. Sou de Deus em todos os tempos, em todos os lugares. Tudo o que sou e tudo o que faço deve ser de Deus. 

   3 - Deus é a minha recompensa. Como servi-Lo é o meu fim próximo, assim possuí-Lo é o meu fim último. A minha existência na terra só começou; há de completar-se no Céu. "Para mim é bom unir-me a Deus!" Salmo 72, 28). 

   Resumindo: Sou todo de Deus, sou todo para Deus e Deus é tudo para mim.

   a) Sou todo de Deus. Se tudo em mim é d'Ele, tudo em mim lhe pertence. Sou mais de Deus que o súdito do seu soberano, o filho de seu pai, o painel do pintor que o fez.

   b) Sou todo para Deus. O que sou, é obra sua; deu-me o que possuo, para lhe render a obediência que lhe devo. Que nobre é meu fim! Assemelha-me aos Anjos, a Jesus Cristo, ao próprio Deus, que nada faz que não seja para sua glória.

   c) Deus é tudo para mim. Quis que a minha felicidade estivesse vinculada ao seu serviço: felicidade eterna, felicidade presente. Quero ser feliz; sei onde está a felicidade; como tenho eu podido obstinar-me, tanto tempo, em buscá-la onde sei que ela não está? Deus é meu Pai; quero ser feliz com Ele agora e depois para sempre no Céu!

EXEMPLO

   São Francisco de Assis topou certa vez um pedreiro que trabalhava, e amistosamente o interrogou: "Que fazeis, meu irmão?" - Faço paredes da manhã à noite". - "E por que fazeis paredes?" - "Ora essa! para ganhar dinheiro!" - "E para que quereis ganhar dinheiro?" - E o outro meio aborrecido: "Para comprar pão e viver", - "Bem, prossegue São Francisco; e para que fim viveis?" -  Desta vez o pedreiro não sabia o que responder; mas São Francisco aproveitou para explicar para aquele homem o fim para qual estamos aqui na terra. Vamos morrer e não estará tudo acabado, como acontece com os irracionais. Temos uma alma e Jesus Cristo disse: "Que adianta o homem ganhar o mundo todo se vier a perder a sua alma?"

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Virtudes necessárias para se ter uma família cristã


"Irmãos: revesti-vos como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, benignidade, humildade, modéstia e paciência, suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos mutuamente, se alguém tiver queixas contra o outro; assim como o Senhor vos perdoou, perdoai-vos também. Mas sobre tudo isto: tende a caridade que é o vínculo da perfeição; e reine em vossos corações a paz de Cristo, para a qual fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos. Habite em vós abundantemente a palavra de Cristo, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando em vossos corações, com a ação da  graça, louvores a Deus. E tudo quanto fizerdes por palavras ou por obra, fazei tudo em nome do Senhor Jesus Cristo, dando graças por Ele a Deus Pai. Mulheres, estai sujeitas a vossos maridos, como convém ao Senhor. Maridos, amai vossas mulheres, e não sejais ásperos para com elas. Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto é agradável ao Senhor. Pais, não provoqueis à indignação os vossos filhos, para que se não tornem pusilânimes" (Colossenses, III, 12-21).


Nestas exortações de S. Paulo temos os elementos indispensáveis para a felicidade das nossas famílias. Assim, o Apóstolo,  às opiniões do modernismo, destruidor dos mais sagrados vínculos, opõe os preceitos e virtudes criadores de uma felicidade e de uma paz ainda possível neste mundo. Aí está o segredo da paz familiar. Nosso Senhor Jesus Cristo afirmou que os filhos das trevas são mais prudentes nos seus negócios que os filhos da luz nos seus. Só para dar dois exemplos: O comerciante, aos clientes oferece prontamente suas mercadorias, ocultando a sua irritação quando as desprezam e sem ofender-se quando as recusam. Que "misericórdia"; que "paciência"; que "benignidade"; que 'humildade"; que "perdão das ofensas"; que "que sorrisos de amabilidade!". O político, a todos acolhe com amabilidade, tolerante com quem o importuna e prestimoso com quem lhe pede auxílio.  O comerciante faz tudo isto como se fosse um santo, mas não: é só para ganhar dinheiro. (Não quero com isto negar que há comerciante santo também). O político parece praticar virtudes heroicas, mas, na verdade, pensa só em conseguir votos, e consequentemente: honra e sobretudo, dinheiro. (Também aqui não pretendo negar que possa existir político santo: é difícil, mas para Deus nada é impossível).
Mas, caríssimos, qual destes motivos compara-se ao grande bem na paz familiar? Dádiva do céu, ela transforma o lar em um vestíbulo do paraíso, as agruras da vida em oásis de bênçãos. A paciência, a humildade, a benignidade, a misericórdia, ensinam aos cônjuges  a arte de se suportarem uns aos outros. Sigam os cônjuges os conselhos de São Paulo supracitados, e as divergências que pareciam separá-los virão a soldar ainda mais o vínculo matrimonial. Saibam os cônjuges perdoar-se mutuamente. Enquanto um momento de silêncio restituirá a bonança; um revide protrairá a tempestade por longos dias e semanas inteiras. Tal como Jesus generosamente perdoou nossos graves crimes, perdoem-se os esposos, com igual generosidade, as discrepâncias de temperamento e de caráter.

A caridade é o liame destinado a unir os fiéis entre si e com Deus. Nesta união consiste toda a perfeição cristã. O amor da paz deveria inspirar todos os sentimentos dos esposos como convém a membros de um só corpo. O lar verdadeiramente cristão deveria estar sempre agradecido a Deus pelos favores d'Ele recebidos. Os ensinamentos e máximas de Nosso Senhor Jesus deveriam ser a bússola em toda a sua conduta e empreendimentos. De um lar cristão são banidas e execradas as máximas do mundo.  "Exortai-vos uns aos outros por meio de salmos, hinos e cânticos espirituais", insiste o Apóstolo, assim apontando-nos na oração a maior garantia de paz para o lar. A oração é ao mesmo tempo, fonte de onde haurimos as energias necessárias para os momentos trágicos que não faltam na existência de cada indivíduo, como não faltam na vida de toda família. Repudiando os maus conselhos de um mundo colocado no Maligno, busquem os esposos na Santa Religião e no seu Deus o conforto que anima, e da prece fervorosa de um coração que sofre sairá a arma vitoriosa que tudo suporta. "Onde quer que dois ou três se acharem reunidos em meu nome - diz Jesus Cristo - estarei eu no meio deles" (S. Mateus XVIII, 20). Na verdade, nunca um lar se sente mais unido como quando todos os componentes se voltam para Deus repetindo todos a mesma prece divina: "Pai Nosso que estais no céu". O lar, porém, que ignora a oração encaminha-se para o desmoronamento, enquanto o lar que ora, que reza todos dias o Santo Terço, sela com o nome de Deus e a intercessão de Sua Mãe Santíssima, a sua união e garante a sua felicidade. Seguindo, pois, os conselhos do Apóstolo São Paulo, não será difícil aos nossos lares realizar aquela felicidade que fará das famílias cristãs outros tantos vestíbulos do céu.

Para terminar, lembremos algo sobre a MISERICÓRDIA. O Rei Davi era um homem santo. A própria Bíblia mostra-o para os outros reis, como um modelo de fidelidade a Deus. Mas, num momento de ociosidade e fraqueza cometeu o gravíssimo pecado de adultério e, em consequência o homicídio, outro pecado muito grave. Deus, através do profeta Natan, abriu-lhe os olhos e tocado de sincero arrependimento exclamou: "Pequei".  Davi chorou a vida toda estes seus graves pecados. Não perdia oportunidade de fazer penitência e escreveu o Salmo 50, Miserere. Eis apenas alguns versículos deste belíssimo salmo de penitência: "Tem piedade de mim, ó Deus, segundo a tua misericórdia; segundo a multidão das tuas clemências, apaga a minha iniquidade" (vers. 1-3); "O meu sacrifício, ó Deus, é um espírito contrito, não desprezarás, ó Deus, um coração contrito e humilhado" (vers. 19).



quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

"IGREJA POPULAR

Extraído do "L'Osservatore Romano", 7- 8. 1982: Palavras do então Papa João Paulo II.


"Não ignoro que a tal denominação - sinônimo de 'Igreja que nasce do povo' - se pode atribuir uma significação aceitável. Com ela se pretenderia indicar que a Igreja surge quando uma comunidade de pessoas - especialmente de pessoas dispostas, por sua pequenez, humildade e pobreza, à aventura cristã - se abre à Boa Nova de Jesus Cristo e começa a vivê-la em comunidade de fé, de amor, de esperança, de oração, de celebração e de participação nos mistérios cristãos, especialmente na Eucaristia.
"Sabeis, porém, que o documento final da III Conferência do Episcopado Latino-Americano em Puebra declarou "pouco feliz" este nome de "Igreja Popular". E fez depois de maduro estudo e reflexão entre Bispos de todo o Continente, consciente que estava de que tal nome encobre, em geral, outra realidade. 
'Igreja Popular', em sua acepção mais comum, visível nos escritos de certa corrente teológica, significa uma Igreja que nasce muito mais de supostos valores de uma camada da população do que da livre e gratuita iniciativa de Deus. Significa uma Igreja que se esgota na autonomia das chamadas bases, sem referência aos legítimos Pastores ou Mestres; ou, ao menos, sobrepondo os 'direitos' das primeiras à autoridade e aos carismas que a fé faz perceber nos segundos. Significa - já que no termo povo se dá facilmente em conteúdo assinaladamente sociológico e político - a Igreja encarnada nas organizações populares, marcada por ideologias, postas ao serviço de sua reivindicações, de seus programas e grupos considerados como não pertencentes ao povo. É fácil perceber - e o nota explicitamente o documento de Puebla - que o conceito de 'Igreja Popular' dificilmente escapa à infiltração de conotações fortemente ideológicas, na linha de uma certa radicalização política, da luta de classes, da aceitação da violência para a consecução de determinados fins etc.
"Quando eu mesmo, em meu discurso de inauguração da Assembleia de Puebla, fiz sérias reservas a respeito da denominação 'Igreja Popular' oposta à Igreja presidida pelos legítimos Pastores é - do ponto de vista do ensinamento do Senhor e dos Apóstolos no Novo Testamento, bem como do ensinamento antigo e recente do Magistério solene da Igreja - um grave desvio da vontade e do plano de salvação de Jesus Cristo. É, ademais, um início de abertura e uma trinca e ruptura daquela unidade que Ele deixou como sinal característico da mesma Igreja, e que Ele quis confiar precisamente aos que 'o Espírito Santo estabeleceu para governar a Igreja de Deus' (Heb. XX, 20)".  

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

REFLEXÕES SOBRE TEXTO DE SÃO PAULO


"Todas as coisas são vossas, ou seja Paulo, ou seja Apolo, ou seja Cefas, ou seja o mundo, ou seja a vida, ou seja a morte ou sejam as coisas presentes, ou sejam as futuras; tudo é vosso; mas vós (sois) de Cristo, e Cristo de Deus" (1 Cor. III, 22 e 23).

Estas palavras mostram-nos, no cristão, a mais gloriosa realeza e a mais nobre servidão. Tudo é seu: mas ele mesmo é de Jesus Cristo.
   1 - Tudo é meu. - Quando Deus me adotou, na fonte do batismo, revestiu-me de uma admirável realeza, dizendo-me, pela boca do grande Apóstolo: Meu filho, tudo é teu: todas as coisas são vossas. Que imenso horizonte se descobre, aqui, aos olhos da minha fé! Desde o momento em que sou filho de Deus, tudo me pertence: em primeiro lugar, a Igreja, representada pelos homens apostólicos, ou Paulo, ou Apolo, ou Cefas. Sim, a Igreja é minha; a Igreja, com o esplendor dos seus mistérios, com as águas vivas de seus Sacramentos, a sua nuvem de mártires, ou testemunhas, de protetores e de modelos; com os seus tesouros de graças, verdadeiramente inesgotáveis. Os trabalhos dos Apóstolos e dos seus sucessores, a sua vida, a sua morte: tudo o que é da Igreja, é meu. Todos os seus ministros, todos os meios de santificação de que dispõe, não me pertencem menos que a luz e o orvalho do céu. Que cuidado devo ter em  aproveitar-me de tamanho tesouro! Uma alma ingrata não pode meditar, sem terror, estas palavras do Apóstolo: "A terra que absorve a chuva que cai muitas vezes sobre ela, e produz erva proveitosa a quem a cultiva, recebe a bênção de Deus. Mas, se ela produz espinhos e abrolhos, é reprovada e está perto da maldição, e o seu fim é a queima" (Hebreus VI, 7 e 8).

Mas, se a Igreja é minha, e o mundo é da Igreja, é, por conseguinte, meu o mundo, ou seja todas as coisas criadas, ou o mundo. Já meditamos sobre isso. Oh! quantas vozes me dão as criaturas, para me incitar a amar o meu Deus! Como se doem e gemem, quando faço violência à sua natureza, desviando-as do seu fim, empregando em ofender a Deus, o que me é dado para ajudar-me a sevi-Lo!
A vida é minha, ou a vida: sim, a vida, com todas as suas vicissitudes, tristezas, alegrias, dias belos e dias sombrios, tribulações e consolações. Diz a Sagrada Escritura que todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam ao Senhor (Cf. Rom. VIII, 28): sim, a vida, que o Filho de Deus veio trazer à terra: Eu vim para que tenham a vida; e tenham-na com abundância" (Jo. X, 10). E não é Ele mesmo a vida?; ora, Jesus pertence-me: seu Pai deu-mo; Ele mesmo se deu, e se dá, ainda, a mim todos os dias, na qualidade de pão vivo e princípio de vida: "Eu sou o pão vivo que dá a vida aos homens" (Jo, VI, 48 e 51).

   2 - Sou de Jesus Cristo.  - Sou de Jesus Cristo, como preço da sua paixão e morte. Jesus fez a aquisição de todo o meu ser, entregando-se a si mesmo por mim. Não sou de mim mesmo; como custei caro ao meu amável Redentor! Pagando o meu resgate, e incorporando-me em si, pelo batismo, Jesus quis ter mais uma inteligência, para contemplar a seu Pai adorável, mais uma vontade, para O seguir com amor, mais um coração, para o amar, mais uma boca, para cantar eternamente os seus louvores. Ser de Jesus Cristo é o meu título de nobreza. Mas cumpre não esquecer que  - Nobreza, obriga. Para ser de Jesus Cristo, é necessário ter o seu Espírito: "Se alguém não tem o Espírito de Cristo, este não é d'Ele" (Rom VIII, 9).

Terminemos com Santo Ambrósio: "Os homens do mundo têm tantos senhores como paixões. A luxúria vem, e diz: Sois meu, porque cobiçais os prazeres da carne. A avareza vem, e diz: Sois meu; o ouro e a prata, que possuís, são o preço da vossa liberdade. Vêm todos os vícios, e cada um diz: Sois meu. Não pode ser inteiramente de Jesus Cristo, senão aquele que está livre de todo o apego culpável, e mostra sempre, com o seu procedimento, que é servo deste adorável Senhor".
Sou vosso, ó Jesus: isto explica os cuidados paternais da vossa Providência a meu respeito e nisto fundo a esperança da minha salvação. Arrependo-me e espero vossa misericórdia, ó Jesus, por tantas e tantas vezes que ousei dispor de mim, em detrimento dos vossos direitos mais incontestáveis: usando do meu espírito, do meu coração, do meu coro, da minha saúde, do meu tempo, como se tudo isto me pertencesse; e que uso, meu Deus, fiz eu de tudo isto? Mas, pela vossa graça, tomo a resolução de combater, energicamente, tudo o que pode separar-me de Vós. Amém!