SAUDAÇÕES E BOAS VINDAS

LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO! PARA SEMPRE SEJA LOUVADO!

Caríssimos e amados irmãos e irmãs em Nosso Senhor Jesus Cristo! Sêde BEM-VINDOS!!! Através do CATECISMO, das HOMILIAS DOMINICAIS e dos SERMÕES, este blog, com a graça de Deus, tem por objetivo transmitir a DOUTRINA de Nosso Senhor Jesus Cristo. Só Ele tem palavras de vida eterna. Jesus, o Bom Pastor, veio para que Suas ovelhas tenham a vida, e com abundância. Ele é a LUZ: quem O segue não anda nas trevas.

Que Jesus Cristo seja realmente para todos vós: O CAMINHO, A VERDADE, A VIDA, A PAZ E A LUZ! Amém!

domingo, 24 de dezembro de 2017

HOMILIA DOMINICAL - 4º DOMINGO DO ADVENTO

   Leituras: 1ª Epístola de S.Paulo Apóstolo aos Coríntios, 4, 1-5; Evangelho segundo S.Lucas, 3, 1-16.

  "Sic nos amantem quis non redamaret?"
"Amor com amor se paga!"

   Caríssimos e amados fiéis em Nosso Senhor Jesus Cristo!

   "Amor com amor se paga!" Eis o lema que fez os santos, que estimulou uma multidão de almas a uma maior generosidade.
    Caríssimos, preparemo-nos para o Santo Natal com este amor e nele permaneçamos fiéis. "O que se requer dos dispenseiros, diz S. Paulo na Epístola, é que eles sejam encontrados fiéis".
   Da parte de Nosso Senhor, o seu amor por nós é eterno e infinito. A Encarnação do Verbo é a maior prova deste amor infinito pelos homens: "Eu, diz Deus pelo profeta Jeremias, amei-te com um amor eterno, por isso, compadecido de ti, te atraí a mim". Na verdade, Deus amou o homem desde toda a eternidade e para o atrair a Si não hesitou enviar-lhe o "Seu Filho em carne semelhante à do pecado" (Rom. VIII, 3). Vamos ao encontro deste Amor que está prestes a aparecer, "encarnado", no doce Menino Jesus! Vamos a Ele com o coração vazio de nós mesmos pela penitência, para que o próprio Jesus o encha de Si.
   "Preparai o caminho do Senhor, prega S. João Batista no deserto por ordem de Deus, endireitai as suas veredas; todo vale se encherá, e todo monte e colina serão abaixados; os caminhos tortuosos tornar-se-ão retos e os ásperos, planos; e toda carne, isto é, todo o homem verá o Salvador enviado por Deus".
   Quando se quer receber triunfalmente um grande rei, preparam-se os caminhos por onde ele deve passar, endireitando-os, refazendo-os, nivelando os acidentes do terreno, aplanando-os. Ora, todas estas figuras, todas estas imagens alegóricas significam o trabalho e os efeitos da penitência, que deve preparar as almas a fim de receberem o Messias. Todo vale será cheio: isto quer dizer que toda a vida estéril, tíbia e inútil será resgatada pela prática da virtude, e dará uma rica messe de méritos segundo aquilo das Escrituras no Salmo 64, 14: "...os vales estarão cheios de trigo"; todo coração verdadeiramente contrito e humilhado será repleto de graças e de bens espirituais, e encher-se-á de boas obras. - Todo monte e colina serão abaixados: isto é, os espíritos soberbos, os orgulhosos e ambiciosos deverão ser rebaixados e humilhados, porque o Deus que vai descer até à nossa miséria e ao nosso nada, resiste aos soberbos e dá, porém, a sua graça aos humildes. Até aqui as paixões tirânicas entorpeceram todas as almas, e tornaram difícil o caminho da virtude e da santidade. Mas eis que um Deus feito homem vem expiar o pecado na sua carne, e desde então todo o caminho será aplanado; todo aquele que quiser avançar na perfeição, não mais encontrará vale ou colina que lhe ponha obstáculos.
   Os caminhos tortuosos tornar-se-ão retos: Quer dizer que os corações que tenham sido entortados pela injustiça, pela dissimulação, pela mentira e por toda a espécie de vícios, serão endireitados pela conformidade com as regras da justiça, da verdade, da sinceridade e da pureza.
   Os caminhos ásperos e desiguais tornar-se-ão planos: isto é, as almas violentas e duras, que se deixam levar da ira, do rancor, da vingança, voltarão à doçura, à mansidão e à caridade por influência da graça de Deus; pelo exemplo do doce Menino Jesus. "Apareceu na terra a bondade e doçura de Deus, Nosso Salvador."
    Portanto, caríssimos e amados fiéis, é necessário que uma penitência sincera e generosa mortifique todas as paixões, destrua todos os vícios, tudo o que é feito do pecado, a fim de que todo o homem possa colher os frutos da salvação que o Messias traz ao mundo: "E todo homem verá o Salvador enviado por Deus".Quer dizer, todo o homem assim preparado pela penitência verá o Salvador, e participará dos seus méritos e da sua glória.
   Caríssimos, limpemos o nosso coração de tudo o que é indigno de Jesus, de tudo o que poderia desagradar-Lhe e contristá-Lo. Esforcemo-nos por viver de uma maneira digna de Jesus.
    Quantos comungam, e todavia não sentem Jesus, não recebem os frutos de salvação e de santidade que Ele traz consigo! Um protestante estava se convertendo, mas me expôs sua última dúvida: "Tenho visto católicos comungarem e não melhoram, e não se santificam. Se a Hóstia consagrada é Jesus, não posso entender que alguém receba Jesus e não melhore. Tenho dúvida se a Hóstia é realmente Jesus. Respondi-lhe: Infelizmente a preparação para a comunhão deixa a desejar em muitos. A própria maneira de muitos comungarem, lhes vai tirando imperceptivelmente a fé. E sem a fé, não podem agradar a Deus. Não trabalham na sua conversão, na correção dos seus defeitos, não se importam da recomendação de Isaías e da santa Igreja: Preparai o caminho para o Senhor, isto é, preparai os vossos corações... É a mesma explicação porque muitos não receberam a Jesus quando esteve entre os homens. Não aproveitaram a pregação do Precursor.
   Os ladrões Amalecitas tinham vindo pilhar  nos campos do povo de Israel. Mas, no tumulto da fuga, um pobre escravo, abandonado por seu amo porque estava doente, ficara estendido na terra nua, a morrer de febre e de prostração.
   E eis que passaram por ali os soldados do rei Davi, e viram-no estirado no campo como um morto. Levaram-no ao rei, o qual teve compaixão dele e ordenou lhe dessem pão para comer e água para beber, e uma porção de figos e alguns cachos de uvas.
   Pouco a pouco o infeliz escravo voltou a si e restaurou-se. "Não mais escravo, porém livre serás. Na guerra combaterás a meu lado como valoroso, e na paz viverás honrado com muitas recompensas". Assim lhe falou o rei Davi, e conduziu-o consigo a fazer grande matança de inimigos".
   Caríssimos e amados fiéis, o escravo Amalecita é um símbolo da nossa alma. Ela tem servido, quem sabe? o demônio, depredador e assassino dos corações, e, cansada e febricitante por causa dos pecados e dos afetos mundanos, tem ficado a definhar na estrada da vida. Mas eis que já vem o nosso rei Jesus: vem com o seu santo Natal.
   Ó Jesus, Salvador! Sede compassivo conosco. Restaurai-nos com o vosso alimento e com a vossa bebida, aquecei-nos com o hálito do vosso amor. Depois levai-nos sempre a Vosso lado: na guerra contra o demônio, a carne e o mundo. Na paz da vossa graça nesta vida e depois na Glória da outra, na Pátria do repouso eterno. Amém!

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

SÃO FRANCISCO DE ASSIS E A CARIDADE

   A alegria de São Francisco de Assis, que era, no fundo, o fruto e a consequência do seu extraordinário amor a Deus, recaiu sobre os homens sob a forma de uma incomparável caridade.
   Afirma Tomás de Celano: "Quero, dizia ele (Frei Francisco) - que os meus Irmãos mostrem ser filhos da mesma mãe, e que, se um deles pedir uma túnica, uma corda ou outro qualquer objeto, outro lho dê logo generosamente; que emprestem livros uns aos outros e tudo o que possa ser agradável, obrigando-os mesmo a aceitá-los..." . "Que os Irmãos, por caridade espiritual, se sirvam voluntariamente uns aos outros e uns aos outros se obedeçam mutuamente... Que se amem uns aos outros , como diz o Senhor: "O meu mandamento é que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei"... "Que nenhum Irmão diga ou faça mal a um outro... E que todos os Irmãos evitem caluniar quem quer que seja e andar em rixas e disputas, mas que antes cuidem de guardar silêncio, tanto quanto lho conceder a graça de Deus. Que não discutam com os outros, mas se esforcem em responder humildemente, dizendo:'Somos servos inúteis'.
   Diz Tomás Celano, I, n. 17: "Como ele (Frei Francisco) era belo, esplêndido, glorioso, na simplicidade das suas palavras, na sua caridade fraternal, no seu comércio agradável [in concordio obsequio], no seu aspecto angélico! De costumes suaves e natureza pacífica, mostrava-se doce nas suas palavras, benevolente nas exortações, sabia guardar fielmente um segredo, era previdente no conselho, gracioso em todas as coisas. Tinha o espirito sereno, a alma doce... era severo para consigo mesmo, indulgente para com os outros, sempre cheio de discernimento". É bom sabermos que Tomás Celano conviveu com São Francisco. 

   Logo antes da redação da Regra definitiva, escreveu Frei Francisco a um Ministro: "Eis o sinal que me fará conhecer se amas o Senhor e a mim, seu servo e teu: é que nenhum Irmão do mundo, que houver pecado, por culpado que seja, saia da tua presença sem haver obtido misericórdia, se tal implorar. E, se ele não implorar misericórdia, vai tu perguntar-lhe se não a quer aceitar. E se, depois, ele se apresentar mil outras vezes diante de ti (para o mesmo fim), ama-o mais que a mim, a fim de o conquistares para o Senhor. E  de tais tem sempre piedade". 

   São Francisco, no entanto, exigia ainda mais do que isto. "A caridade franciscana, como um sol benfazejo, espalhou seus raios pelo mundo inteiro. Francisco considerava todos os homens seus irmãos e suas irmãs. Inclinava-se humildemente para todos, tratava-os como amigos íntimos, e era solícito para cada um deles ".(Bernardo de Bessa: Liber de laudibus, c. 3). Quase sempre, quando recomenda a seus discípulos que pratiquem a caridade uns para com os outros, também os exorta a amarem os homens como a irmãos, sem examinar se estes últimos se mostram favoráveis às ideias franciscanas, ou se se conservam filhos do século, no sentido absoluto da palavra. O seráfico Pai proibia-os severamente de julgarem ou desprezarem os que vivem nos prazeres e envergam suntuosas vestes. "Deus - dizia ele - é seu Senhor, como o é também dos pobres, e pode chamá-los e santificá-los". Ordenava-lhes mesmo que respeitassem os ricos como irmãos e senhores: irmãos diante do Criador; senhores porque provêm às necessidades dos filhos de Deus e ajudam-nos assim a levar a sua vida penitente" (Cf. Tres Socii, n. 58).  (Destaques meus, endereçados aos que pregam luta de classes).

   Quando manda os seus primeiros discípulos pelo mundo afora, o santo Fundador fala-lhes deste modo: "Ide, meus bem-amados; parti dois a dois, para as diferentes regiões do universo, e pregai aos homens a paz e a penitência para remissão dos pecados. Sede pacientes na tribulação e ficai certos de que Deus realizará os seus desígnios e cumprirá a sua promessa. Se vos interrogarem, respondei humildemente; abençoai os que vos perseguirem; dai graças aos que vos cobrirem de injúrias e vos caluniarem, pois, em troca dessas tribulações, o reino eterno vos aguarda". (Tomás Celano, I, n. 29). "Atentemos todos, meus Irmãos, nestas palavras do Senhor: "Amai os vossos inimigos e fazei o bem àqueles que vos odeiam", pois Nosso Senhor Jesus Cristo, de quem devemos seguir o exemplo, deu a um traidor o título de amigo e entregou-se espontaneamente aos seus algozes. Nossos amigos são, pois, todos aqueles que injustamente nos causam pesares e aflições, humilhações, injúrias, dores, tormentos, o martírio e a morte. Cordialmente os devemos amar, pois o que eles nos fazem alcança-nos a vida eterna" (Regula I.c. 14, 16 22; cf. Tres Socii n. 38 e 41). 

   Caríssimos e amados leitores, poderíamos escrever ainda muito mais sobre a caridade de São Francisco de Assis, mas para quem tem boa vontade não será difícil ver em que consiste a verdadeira caridade franciscana, que é afinal a caridade praticada e ensinada pelo Divino Mestre, Nosso Senhor Jesus Cristo. 

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

NOSSA SENHORA DE GUADALUPE


Nossa Senhora de Guadalupe, Padroeira do Mexico e de toda a América Latina





Igreja antiga na colina
de Tepejac
   O Breviário Romano traz um resumo da História de Nossa Senhora de Guadalupe: Segundo reza uma antiga e constante tradição, em 1531 a Santíssima Virgem Maria Mãe de Deus apareceu na colina de Tepejac ao neófito Juan Diego, piedoso e inculto indígena, e comunicou-lhe seu desejo de ele se dirigir ao bispo com o pedido de, naquele local, construir uma igeja. O bispo, Dom João de Zumárraga adiou a resposta, prometendo fazer antes um exame meticuloso do caso. Pela segunda vez a Santíssima Virgem apareceu a Juan Diego renovando, e desta vez com insistência o seu pedido anteriormente feito. O indígena aflito e entre lágrimas se apresentou novamente ao sr. Bispo e suplicou, fosse atendido o pedido da Mãe de Deus. Dom João de Zumárraga exigiu como prova da veracidade, que Juan Diego trouxesse um sinal pelo qual a Mãe de Deus mostrasse sua vontade. Juan Diego estava de viagem à cidade do México, para procurar um padre para ir dar os últimos sacramentos a um tio seu  com grave enfermidade. Era bem longe da colina de Tepejac e a benigníssima Virgem lhe apareceu pela terceira vez. Primeiramente Nossa Senhora assegurou a Juan Diego que o seu tio já estava completamente curado. Era inverno e num lugar árido. Juan Diego, em atitude de devoção, estendeu aos pés da Santíssima Virgem o seu manto, e este, imediatamente se encheu de belíssimas rosas. "É este o sinal, disse-lhe Maria Santíssima, que darei a quem tal pediu: leva estas rosas ao Sr. Bispo". E a ordem foi cumprida, e no momento em que o índio Juan Diego espalhou as flores diante do Prelado, apareceu sobre o tecido do manto uma linda pintura de Nossa Senhora, reprodução fiel da primeira aparição na colina de Tepejac. O fato causou grande estupefação, e às centenas acorreram os fiéis ao palácio episcopal para verem as rosas e a imagem. Esta foi respeitosamente guardada na residência episcopal, e mais tarde em triunfo foi levada à grandiosa igreja que se construiu na colina de Tepejac, local indicado pela Santíssima Virgem. Desde então Guadalupe é o grande santuário nacional do México, visitado pelas multidões, atraídas pelos inúmeros milagres. O Papa Bento XIV proclamou Nossa Senhora de Guadalupe, a padroeira principal de todo México. E o Papa Pio XII declarou-a a Padroeira de toda a América Latina.
   O índio Juan Diego, o vidente de Nossa Senhora, hoje já é venerado nos altares, canonizado pela Santa Madre Igreja. O manto de Juan Diego, perfeitamente conservado apesar de se terem passado mais de 460 anos, é ainda hoje venerado no Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe.
  

domingo, 10 de dezembro de 2017

EXPLICAÇÃO DO EVANGELHO DO 2º DOMINGO DO ADVENTO


S. Mateus XI, 2-10

2. Como João, estando no cárcere, tivesse ouvido falar das obras de Cristo, enviou dois de seus discípulos, 3. a dizer-lhe: És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?4. Respondendo Jesus, disse-lhes: ide e contai a João o que ouvistes e vistes: 5. Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, os pobres são evangelizados; 6. e bem-aventurado aquele que não encontrar em mim motivo de escândalo. 7. Tendo eles partido, começou Jesus a falar de João às turbas: Que fostes vós ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? 8. Mas que fostes ver? Um homem vestido de roupas delicadas? Mas os que vestem roupas delicadas vivem nos palácios dos reis. 9. Mas que fostes ver? Um profeta? Sim, vos digo eu, e ainda mais do que profeta; 10. Porque este é aquele de quem está escrito: "Eis que eu envio o meu mensageiro adiante de ti, o qual te preparará o caminho diante de ti".

Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

João Batista era o precursor do Messias como fora escrito pelo profeta Isaías: "Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor" (Is. 40, 3). Malaquias igualmente diz: "Eis que mando o meu mensageiro, o qual preparará o caminho diante da minha face". E o próprio Jesus confirma no vers. 10 do Evangelho de hoje, que João Batista é este mensageiro predito pelo profeta.

Mas, João Batista fora preso pelo rei Herodes porque censurava em face o adultério e o encesto deste cruel e debochado soberano. Lá do fundo da prisão, o Precursor quer dar um último testemunho de Jesus Cristo. João Batista já havia mostrado Jesus às margens do rio Jordão: "Eis o Cordeiro de Deus". Dissera também quando Jesus vinha ter com ele: "Eis o Cordeiro de Deus, eis o que tira  o pecado do mundo. Este é aquele de quem eu disse: Depois de mim vem um homem que me foi preferido, porque era antes de mim, Eu não o conhecia, mas vim batizar em água, para ele ser reconhecido em Israel... Vi o Espírito (Santo) vir do céu em forma de pomba e repousou sobre ele. Eu não o conhecia, mas o que me mandou batizar em água, disse-me: Aquele, sobre quem vires descer e repousar o Espírito , esse é o que batiza no Espírito Santo. Eu o vi e dei testemunho de que ele é o Filho de Deus" (S. João I, 29-34).

Na verdade, os discípulos de João Batista não admitiam que pudesse haver outro Mestre acima dele. Mas o Precursor fazia questão de frisar que ele não era o Messias; foi mandado por Deus apenas para preparar os corações para receberem o Messias. Afirmava que o Salvador já estava no meio deles, e ele não era digno nem de desatar as correias de suas sandálias. Dizia outrossim, que era mister que Jesus crescesse e que ele diminuísse. Em outras palavras: o Batista deixava claro que a sua missão era levar o povo a seguir a Jesus e não a ele.

E assim compreendemos o significado desta atitude de João Batista em relação aos seus discípulos: queria que eles fossem até Jesus e vissem com os próprios olhos os milagres que Jesus fazia e que eram exatamente os que os profetas predisseram que o Messias faria quando viesse ao mundo. Embora um santo extraordinário, a Providência divina não quis que João Batista fizesse milagres.

Os enviados do Batista perguntaram a Jesus: "És tu aquele que há de vir ou devemos esperar outro? Respondeu-lhes Jesus: "Ide e contai a João  o que ouvistes e vistes: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, os pobres são evangelizados". Lemos em Isaías XXXV, 3-6: "Deus mesmo virá e vos salvará. Então se abrirão os olhos dos cegos e se desimpedirão os ouvidos dos surdos. Então saltará o coxo como um cervo e desatar-se-á a língua dos mudos". Em outro lugar diz: "E naquele dia os surdos ouvirão as palavras do livro, e dentre a escuridão e dentre as trevas as verão os olhos dos cegos" (Is. XXIX, 18).  Sobre os pobres eis o que diz ainda Isaías: "Não julgará pelo que se manifesta exteriormente à vista, nem condenará somente pelo que ouve dizer; mas julgará os pobres com justiça, tomará com equidade a defesa dos humildes da terra" (Is. XI, 3 e 4). E Davi no Salmo 71, 13: "Usará de clemência com o pobre e o desvalido, e salvará as almas dos pobres".

 Jesus não afirma: Eu sou o Messias. Faz muito mais: isto é, mostra que n'Ele se realizam as profecias sobre o Messias. Na presença dos discípulos de João Batista realiza as obras com que os profetas mostraram antecipadamente o perfil do futuro Messias. Os falsos profetas, os fundadores de religiões novas, Maomé, Lutero, Alan Kardec e muitos outros  afirmaram que eram os enviados de Deus, mas não o provaram com obras.

No versículo 6º Jesus diz: "E bem-aventurado aquele que não se escandalizar de mim!". O velho Simeão havia predito que Jesus devia ser objeto de contradição por muitos, e esta predição se cumpria já. Jesus era alvo de escândalo por parte dos doutores que invejavam sua influência, pela vulgaridade que emanava de sua pobreza; era objeto de escândalo até por parte dos discípulos mesmos de João Batista que colocavam Jesus bem abaixo de seu mestre. Feliz portanto, exclama Jesus, aquele que não se escandalizar de mim, isto é, bem-aventurado aquele que reconhecer quem Eu sou, feliz quem vir em mim o Messias Redentor, o enviado do Altíssimo, o Filho de Deus! Caríssimos, aceitemos tudo o que saiu dos lábios divinos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele é, pois, o nosso Salvador, é o Filho de Deus vivo! 

Nos versículos 7-9 Jesus Cristo faz o elogio de João Batista: "Que fostes ver no deserto? Uma cana agitada pelo vento? Assim, o primeiro elogio que Jesus faz de João Batista é este de sua CONSTÂNCIA. João dera testemunho de Jesus às margens do Rio Jordão; dá-Lhe testemunho do fundo de sua prisão. Ele anuncia a verdade ao povo, aos sacerdotes, aos próprios reis, e com uma força que os faz tremer e empalidecer em seu trono. Portanto, João não é um caniço fraco e movediço à mercê do vento. Não é um destes homens pusilânimes que o temor o abate, que o respeito humano desconcerta e faz vacilar. Não, a prisão, a espada, a morte mesma não  levarão o Batista a trair seu dever.

Na crise sem precedente que afeta a Igreja, ai dos Sacerdotes e Bispos que, às expensas da verdade, se preocupam prioritariamente quando não exclusivamente com seus interesses ambicionais ou monetários. 
  
No vers. 8º  Jesus faz um segundo elogio ao Seu Precursor: "Mas que fostes ver? Um homem vestido de roupas delicadas? Mas os que vestem roupas delicadas vivem nos palácios dos reis". Caríssimos, a PENITÊNCIA é uma das grades virtudes do cristianismo, uma virtude essencial, indispensável. Sem ela, a salvação eterna torna-se impossível. Portanto, quem quiser seguir a Jesus Cristo deve renunciar a si mesmo e tomar a sua cruz.

João Batista que fora enviado por Deus para mostrar aos homens Jesus penitente, devia evidentemente apresentar em si mesmo antes de tudo os caracteres da penitência: habita os desertos, não tem por vestimenta senão peles de camelo presa por uma correia de couro; por alimento senão gafanhotos e mel silvestre. Nosso Senhor Jesus Cristo que quer inculcar no povo o amor da penitência, quis enfatizar cuidadosamente a prática da penitência em Seu santo Precursor.

Caríssimos, nestes tempos de moleza, de luxo e sensualidade, quão necessária se nos torna esta lembrança de Jesus e de Seu Precursor! Não somente nos palácios dos reis encontramos hoje aqueles que se vestem molemente, suntuosamente, sensualmente e imodestamente! Estes estão em total oposição à doutrina e aos exemplos do divino Mestre. No entanto, encontramos tais pessoas em toda parte, em todas as condições sociais, e, dizemos com tristeza, muitas vezes até nas casas paroquiais e episcopais. Talvez muitos sejam aqueles mesmos que, escandalizados criticam a suntuosidade na Casa de Deus.

No vers. 9º e 10º lemos o terceiro elogio: "Mas que fostes ver? Um profeta? Sim, vos digo eu, e ainda mais do que um profeta. Porque este é aquele de quem está escrito: "Eis que eu envio o meu mensageiro adiante de ti, o qual te preparará o caminho diante de ti".  Na verdade, os profetas não haviam feito senão anunciar o Salvador; João O mostra: "Eis o Cordeiro de Deus, eis aquele que tira os pecados do mundo". Não é, portanto, somente profeta, ele é também apóstolo. Não somente prediz o Messias, ele O prega, O mostra à multidão, ganha para Ele numerosos discípulos. É outrossim, além de profeta e apóstolo, testemunha de Jesus também pelo sangue, ou seja, é mártir. Por ter dado testemunho da verdade, e por conseguinte, de Deus, que é a Verdade por essência, é que ele incorreu na cólera de Herodes, que é metido na prisão e que teve a cabeça cortada. E é por isso que Jesus disse que João era o maior dos filhos dos homens. Que santo da Antiga Lei, pois, reuniu tantos títulos, e mostrou em sua pessoa tão altas virtudes?

Caríssimos, que glória para João Batista receber dos lábios do Juiz Supremo e já aqui na terra, isto é, antes mesmo do Juízo Final, elogios tão altos! É que Jesus não se deixa vencer em generosidade. Estes elogios são, na verdade, a recompensa pelo desvelo, pelo zelo e pelo desinteresse perfeito com os quais João Lhe havia, por primeiro, dado testemunho.

Se quisermos, irmãos caríssimos, obter um dia esta mesma recompensa, isto é, que Jesus nos confesse, em seu dia supremo, diante do Pai, dos Anjos e dos homens, então, confessemo-Lo agora à exemplo de João Batista, confessemo-Lo por palavras, confessemo-Lo por obras, confessemo-Lo sem temor, sem respeito humano, com perigo de nossa vida, se necessário for. Não temos outra missão sobre a terra senão esta de servir de testemunha de Jesus Cristo e da verdade. É para isto que Deus nos colocou na terra. De cada um de nós é verdade dizer: "Este veio como testemunha, para dar testemunho da Luz". A cada um de nós Jesus Cristo diz, como dizia aos seus apóstolos: "Sereis minhas testemunhas". Devemos dar testemunho firme e impávido da doutrina e da pureza da moral de Nosso Senhor Jesus Cristo. Só assim, mereceremos no Juízo Universal, ouvir dos lábios divinos do Juiz Supremo aquelas palavras que nos farão felizes para todo sempre: "Vinde, benditos de meu Pai, possuí o reino de Deus, que vos foi preparado desde o início do mundo". Amém!


domingo, 26 de novembro de 2017

O JUÍZO UNIVERSAL
 "Tendo dito isto,(Jesus) elevou-se à vista deles; e uma nuvem os ocultou aos seus olhos. Como estivessem olhando para o céu, quando ele ia subindo, eis que se apresentaram junto deles dois personagens vestidos de branco, os quais lhes disseram: Homens da Galileia, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus que, separando-se de vós, foi arrebatado ao céu, virá do mesmo modo que o vistes ir para o céu" (Atos I, 9-11).
"Pois é necessário que todos nós compareçamos diante do tribunal de Cristo, para que cada um receba o que é devido ao corpo, segundo fez o bem ou o mal" (2 Cor. V, 10).
Vamos seguir o Catecismo Romano.

 SUA REALIDADE: Em prova do Juízo Final, basta citar esta passagem do Apóstolo: "Todos nós teremos de comparecer perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba retribuição do bem ou do mal, que tiver praticado em sua vida terrena" (2 Cor. V, 10 e Rom. XIV, 10).

A Escritura está cheia de textos, que os párocos descobrirão a cada passo, quando quiserem explicar este mistério e torná-lo mais acessível à inteligência dos fiéis (P. ex.: 1 Reis, 2, 10; Oséias  95, 13; Is 2, 12; Jer. 46, 10; Dan. 7, 26; Joel 2, 1-13; Sof. 1, 7-14; Mal. 4, 1; Mat. 13, 40; Luc. 17, 24; Atos 1, 11; Rom. 2, 16; 1 Cor. 15, 51; 1 Tess. 1, 10; Apoc. 20, 11).

O Juízo final é objeto de nossa esperança: Se desde o início do mundo, todos ansiavam pelo dia em que o Senhor Se revestiu de nossa carne, porquanto neste mistério punham a esperança de seu resgate, também agora devemos  -  depois da Morte e Ascensão do filho de Deus -  suspirar ardentemente pelo segundo Dia do Senhor, "aguardando a ditosa esperança e o aparecimento da glória do grande Deus" (Tito II, 13).

Explicação dos dois juízos: Na explicação desta matéria, os párocos terão de atender às duas ocasiões em que todo homem deve comparecer na presença do Senhor, para dar contas de todos os seus pensamentos, ações e palavras, e aceitar finalmente a sentença imediata do juiz. (Cf. Hebr. IX, 27).

O juízo particular: A primeira ocasião é o momento em que cada um de nós deixa este mundo; é levado incontinente ao tribunal de Deus, onde se examina, com a máxima justeza, tudo o que jamais fez, disse, e pensou em sua vida. [No original em latim: "Ibique de omnibus justissima quaestio habebitur, quaecumque aut egerit homo, aut dixerit, aut cogitaverit unquam". Tomo a liberdade de corrigir a tradução porque em latim "unquam" só significa "jamais" nas frases negativas, interrogativas e condicionais. Nos outros casos significa: em algum momento, em algum dia. Então a tradução correta: "Onde se examina com a máxima justeza, tudo o que em algum momento o homem fez, disse e pensou em sua vida"]. É o que se chama Juízo Particular.

O juízo universal: A segunda ocasião, porém, há de ser quando todos os homens comparecerem juntos, no mesmo dia e lugar, perante o tribunal do juiz, para que, na presença de todos os homens de todos os séculos, cada um venha a saber a sentença que a seu respeito foi lavrada. Para os ímpios e malvados, esta declaração de sentença constituirá a não menor parte de suas penas e castigos; ao passo que os virtuosos e justos nela terão boa parte de sua alegria e galardão. Naquele instante, será pois revelado o que foi cada indivíduo, durante sua vida mortal. Este Juízo se chama Universal.
Motivos para o Juízo Universal:

a) Abrir todas as consciências.  Será então necessário mostrar porque, além do Juízo Particular para cada um, se fará ainda outro geral para todos os homens. Ora, os mortos deixam às vezes filhos que imitam os pais; descendentes e discípulos que seguem e propagam seus exemplos em palavras e obras. Esta circunstância aumenta necessariamente os prêmios ou castigos dos próprios mortos (Basilius M. de vera virginitate). [A primeira vista isto parecer-nos-á estranho; por isso, abaixo no final, explicá-lo-ei]. Tal influência, cujo caráter benéfico ou maléfico empolga muitos, só acabará no último dia do mundo. Convinha, então, fazer-se uma perfeita averiguação de todas essas obras e palavras, quer sejam boas, quer sejam más. O que, porém, não seria possível sem um julgamento geral de todos os homens.

b) Reabilitar os justos. Outro motivo ainda. Muitas vezes, os justos são lesados na reputação, enquanto os ímpios passam por grandes virtuosos. Pede a divina justiça que, numa convocação para o público julgamento de todos os homens, possam os justos recuperar a boa fama, que lhes fora iniquamente roubada aos olhos do mundo.

c) Responsabilizar também o corpo. Além disso, em tudo o que façam durante a vida, bons e maus não prescindem da cooperação de seus corpos. Daí decorre, necessariamente, que as boas ou más ações devem atribuir-se também aos corpos, que delas foram instrumentos. Era, pois, de suma conveniência que os corpos partilhassem, com as almas, dos prêmios da eterna glória ou dos suplícios, conforme houvessem merecido. Isto, porém, não poderia efetuar-se, sem a ressurreição de todos os homens, e sem um julgamento universal.

d) Justificar a Providência de Deus. Como também a fortuna e a desgraça não fazem escolha entre bons e maus, era afinal necessário provar que tudo é dirigido e governado pela infinita sabedoria e justiça de Deus. Convinha, pois, não só reservar, na vida futura, prêmios aos bons e castigos aos maus, mas também decretá-los num juízo público e universal, que os tornasse mais claros e evidentes a todos os homens. Desta forma, todos renderão louvor a Deus pela sua justiça e providência, em desagravo daquela injusta queixa com que às vezes nos próprios Santos, por sentimento humano, se lastimavam, ao verem os maus na posse de grandes cabedais e dignidades. O Profeta (Davi) dizia: "Meus pés estiveram a ponto de vacilar. Por pouco se não transviaram meus passos, porque me enchi de zelo contra os maus, quando observava a vida bonançosa dos pecadores" (Salmo 72, 2 e 3). Mais adiante: "Eis que, sendo pecadores, e favorecidos pelo mundo, eles conseguiram riquezas. E eu disse: Então não me adiantou guardar puro meu coração, e lavar em inocência minhas mãos; em ser torturado o dia inteiro, e padecer aflição desde o romper da madrugada" (Salmo 72, 12-14). Por conseguinte, precisava haver um Juízo Universal, a fim de que os homens se não pusessem a comentar que Deus passeia pelos quadrantes do céu, e que pouco se Lhe dá a sorte das coisas terrenas (Cf. Jó 22, 14). Com toda razão foi incluída a fórmula desta verdade nos doze artigos do Credo, para apoiar, com a força da doutrina, os ânimos que duvidem da providência e justiça de Deus.

e) Alentar os bons e aterrar os maus. Sobretudo, era mister que a lembrança do Juízo alentasse os bons, e aterrasse os maus. Conhecendo a justiça de Deus, aqueles não viriam a desfalecer; estes seriam arredados do mal, graças ao temor e à expectação dos eternos castigos. Por isso, falando do Último Dia, Nosso Senhor e Salvador declarou que haveria um Juízo Universal. Descreveu os sinais do tempo em que há de chegar, para que, ao vê-los, reconhecêssemos estar perto o fim do mundo. Depois, no momento de subir aos céus, enviou Anjos que dissessem aos Apóstolos, tristes com Sua ausência, as seguintes palavras de consolação: "Este Jesus que de vosso meio foi arrebatado ao céu, há de vir assim como O vistes subir ao céu" (Atos I, 11).

Observação: O Catecismo Romano continua tratando do Juízo Universal; mas, para não me alongar por demais, e ao mesmo tempo, querendo desde já explicar o primeiro motivo do Juízo Universal aduzido pelo Catecismo Romano, omitirei o restante deste capitulo.

Que Deus me ajude a bem explicar o primeiro motivo do Juízo Universal acima aduzido pelo Catecismo Romano: Abrir todas as consciências. Em primeiro lugar citarei alguns escritores célebres a começar pelos santos que escreveram sobre isto. Santo Antônio Maria Claret, a primeira e mais lídima glória do Concilio Vaticano I, Missionário extraordinário e fundador dos Missionários do Coração de Maria, assim diz em seu Catecismo da Doutrina Cristã: "Os bons e os maus, com as obras que fizeram e com o bem que omitiram, deixaram neste mundo uma herdade plantada que, no bem ou no mal, continua a frutificar aumentando o prêmio ou o castigo; no dia do juízo (está falando sobre o Juízo Universal), porém chegará o seu fim, pois, então se verá todo o bem que fizeram os justos e todo o mal dos malvados". E hoje pensamos na aplicação destas palavras ao próprio Santo Antônio M. Claret que deixou escritos 144 livros, queimou 3 mil livros obscenos e estampas escandalosas e distribuiu gratuitamente só na Ilha de Cuba mais de 200 mil livros bons. Olhando o outro lado da moeda, Fidel Castro no dia do Juízo Final dará contas a Deus pelos males do Comunismo que perdurarem mesmo após a sua morte.

Ouçamos agora o célebre escritor Dom Plat: "Todo homem há de pagar tributo à morte. E desde aquele momento seus atos bons cessam de merecer, e os maus cessam de atrair novos castigos? Não, porque, ainda que o homem em questão, não mereça nem desmereça em virtude de atos pessoais, estes atos, realizados durante sua vida mortal, continuam tendo consequências boas, se foram louváveis, e consequências funestas, se foram maus ou criminosos. O Doutor Angélico, em seu magistral artigo sobre este tema (S. Thel. 3ª Parte, q. 59, a. 5. Este será o artigo do próximo sábado)   põe a Ario como exemplo: Ario que foi o primeiro dos grandes heresiarcas, Ario, o precursor, o inspirador, o pai, mais ou menos direto, da maior parte das heresias que hão desolado e que provavelmente desolarão o Oriente até a consumação dos séculos: "Ex deceptione Arri, et aliorum fautorum pullulat infidelitas usque ad finem mundi" (...) Passemos agora, continua Plat, a outra classe de coisas mui diferentes: Que bem não fez S. Vicente de Paulo durante os oitenta anos de sua existência mortal (...) e é mui provável que esta influência do santo se perpetuará até o fim dos séculos. O que equivale dizer que (...) o santo varão aumentará de dia em dia o número de seus méritos. (...) Oh! quão grande é a responsabilidade que contraímos por nossas ações! Para muitos esta responsabilidade será tal, que a conta da mesma não se encerrará até a consumação dos séculos. Por esta razão , podemos dizer com um autor espiritual (Gaussens): "É necessário o juízo final, para que todas nossas boas obras hajam dado seu fruto; é necessário o juízo final, para que, ao findar o tempo, havendo manifestado todas as consequências de nossa vida, o justo Juiz possa examinar, em toda sua extensão, nossa culpabilidade ou nosso mérito" (Cf. Expl. do Cat. de S, Pio V, Símbolo dos Apóstolos, sermão 50º).

Agora, o Catecismo Católico Popular por Francisco Spirago: "No Juízo (Final) Deus revelará também a sua JUSTIÇA, porque acabará o que ficou imperfeito no juízo particular. Os atos, as palavras, os escritos de muitos homens fizeram ainda bem e mal depois da morte deles; os apóstolos, os missionários encheram de benefícios numerosas gerações; assim também os hereges corromperam não só os contemporâneos, mas também a posteridade. O grão semeado pelo homem não chega à completa maturidade senão no Juízo Final".

Mas a mente humana exige ainda uma ulterior explicação: porque é de todos sabido que, após a morte não se pode mais nem merecer nem desmerecer. A parábola das dez minas(moedas de ouro) parece lançar uma luz sobre este assunto, à primeira vista, obscuro (S. Lucas XIX, 11-27). O homem nobre voltando depois de ter tomado posse de seu reino, chamou os dez servos para que prestassem contas e como o que recebera 1 moeda  não a fez frutificar, disse-lhe o Rei: "... Por que não puseste o meu dinheiro num banco, para que, quando eu viesse, o recebesse com os juros? E disse aos que estavam presentes: Tirai-lhe a moeda de ouro e dai-a ao que tem dez. Eles responderam-lhe: Senhor, ele já tem dez. Pois eu vos digo que a todo aquele que tiver, se lhe dará, e terá em abundância; ao que não tem, será tirado ainda mesmo o pouco que tem". Creio que nesta última palavra encontramos a explicação. Pois, quem no juízo particular foi aprovado é porque morreu sem pecado mortal. Isto significa que, se cometeu pecados mortais, por palavras, obras e omissões que causaram escândalos e prejudicaram gravemente o próximo, não só  ou se arrependeram com contrição perfeita e desejaram receber o sacramento da penitência, ou se arrependeram com a simples atrição e receberam os sacramentos da penitência e/ou extrema unção, mas também se propuseram ou procuraram reparar na medida do possível todo escândalo e prejuízo (do contrário não teria havido verdadeiro arrependimento). E diz a Sagrada Escritura: "Se o ímpio fizer penitência de todos os pecados que cometeu,(...) Eu não me lembrarei mais de nenhuma das iniquidades que praticou"(Ezequiel XVIII, 21 e 22).  Ora, se Jesus não vai se lembrar delas no Juízo Particular, também  no Juízo Universal e "a fortiori", nem das suas más consequências após túmulo até o fim do mundo. Portanto, quem se salva, além de não ser penalizado pelo mal que talvez praticou em vida (pois dele fez penitência), receberá um acréscimo de prêmios pelos frutos de suas boas obras mesmo aqueles posteriores à sua morte até o fim dos séculos. E assim: Todo aquele que tiver, se lhe dará, e terá em abundância.

Em relação aos condenados, os papéis se invertem: Se fizeram boas obras, ou já nasceram mortas pelo fato de seu ator estar em pecado mortal, ou perderam a vida (obras mortificadas) por pecado(s) mortais subsequentes e com os quais o pecador morreu. Estas obras boas mas mortas ou mortificadas e que não merecem prêmio sobrenatural, Deus, sendo a própria Justiça, as recompensa com bens naturais materiais aqui na terra. Por isso diziam os santos que era mau sinal para os pecadores públicos e inveterados  serem cumulados de fortunas, prazeres e gozarem  sempre de saúde. Por outro lado, os condenados receberão penas adicionais no Juízo Final pelos maus frutos de suas obras más, subsequentes à sua morte até o fim do mundo.  Ao que não tem, será tirado ainda mesmo o pouco que tem.

É óbvio, caríssimos e amados leitores, que em se tratando de mistérios de Deus, a inteligência humana, mesmo iluminada pela fé, poderá ir até certo ponto mas nunca lhe será permitido pretender compreender inteiramente os insondáveis desígnios divinos. Daí dizer S. Paulo: "Sapere ad sobrietatem" (Rom. XII, 3). Amém!


sábado, 11 de novembro de 2017

CONFESSOR COMO MESTRE

Na verdade, o confessor é o mestre e o diretor que Jesus Cristo nos deu para nos ensinar o verdadeiro caminho do céu. Donde, devemos receber seus salutares ensinamentos com toda fé, todo respeito e toda a submissão possíveis. Quando Nosso Senhor Jesus Cristo disse aos seus discípulos: "Ide e instruí a todas as nações, e ensinai-lhes a observar tudo o que vos mandei; e, - eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos" (Mat. XXVIII, 19) Ele se dirigiu tanto aos pregadores como também aos confessores. O confessor, pois, deve instruir o penitente em tudo que diz respeito à fé, a moral e à piedade. Isto, às vezes, se torna necessário ou útil. O confessor, é, portanto por direito divino, mestre da fé, mestre da moral e mestre da piedade.

Consideremos estes três pontos:

1º - O CONFESSOR É MESTRE DA FÉ: Porque ele deve certificar-se, em primeiro lugar, se o penitente crê e conhece o que é necessário crer, pois que "sem a fé é impossível agradar a Deus" ( Hebr. XIV, 6). Ora, a fé que é necessária para agradar a Deus, não é a fé dos judeus, nem a dos protestantes e nem a dos modernistas, mas é a fé firme e absoluta da santa Igreja católica, fé baseada na autoridade de Deus, a fé acompanhada das boas obras. O confessor deve, portanto, lembrar aos cristãos as verdades da religião, dissipar as dúvidas que assaltam sua inteligência e premuni-los contra os erros que a impiedade propaga. Daí dizer o próprio Espírito Santo em Malaquias II, 7: "Os lábios dos sacerdotes serão os guardas da ciência; da sua boca se há de aprender a lei...". O confessor é "intérprete da vontade de Deus" (Cf. Mat.II, 7); ele é "a luz do mundo" (Cf. Mat. V, 14). Pois, é ele que deve esclarecer as almas. "É o sal da terra" (Cf. Mat. V, 13) para a preservar da corrupção do erro; é ainda "a sentinela vigilante" (Cf. Ez. III, 17) justamente para pôr as almas em guarda contra os ímpios. Por isso o confessor é obrigado a proibir aos penitentes as festas profanas e mundanas (como e aqui em Varre-Sai, a Festa do Vinho), as conversas, as leituras, as escolas que seriam perigosas para a sua fé.

2º - O CONFESSOR É MESTRE DA MORAL CRISTÃ: É encarregado de lembrar aos fiéis a observância dos mandamentos de Deus e da Igreja e o cumprimento dos deveres de estado. Eis o que disseram alguns santos: S. Gregório disse a este respeito: "Ele (o confessor) é especialmente constituído por Deus para indicar o bom caminho àqueles que se desviam". Portanto, deve ensinar a cada um, o mal que evitar, as ocasiões de que fugir, os meios de salvação que praticar. 

S. Bernardo: "O sacerdote é o anjo visível encarregado de conduzir as almas ao céu através dos perigos desta vida". Depois que Nosso Senhor Jesus Cristo subiu ao céu, é ao confessor que o cristão cuidadoso pela sua salvação deve dirigir a pergunta do moço do Evangelho: "Que devo fazer para alcançar a vida eterna?" E a resposta será a mesma que deu o Salvador: "Observai os mandamentos... E, se quereis ser perfeitos, ide, vendei o que tendes, dai-o aos pobres: tereis assim um tesouro no céu; depois vinde, segui-me" (S. Mateus, XIX, 17).


3º - O CONFESSOR É MESTE DA PIEDADE: São Gregório de Nyssa chama o sacerdote o "mestre da piedade", e com razão, pois, o confessionário é uma escola em que se ensina às almas a prática de todas as virtudes. Ali, o orgulhoso recebe lições de humildade, o colérico lições de mansidão, o sensual lições de mortificação; lá, o rico aprende a dar as esmolas, o pobre a ser resignado, o magistrado a governar com sabedoria, o superior a mandar sem arrogância, o súbdito a obedecer com humildade; ali, são ensinadas com autoridade toda divina, as virtudes, as práticas e as devoções mais santificantes, tais como a oração, a meditação, a frequência dos sacramentos, a devoção ao Santíssimo Sacramento, à Paixão de Cristo, à Santa Virgem , a São José, etc. Ali no confessionário quantas famílias são levadas a rezar o Santo Terço todos os dias! Amém!

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

COLÓQUIO COM JESUS SOBRE O PURGATÓRIO


A ALMA:  Aqui estou novamente pela vossa graça, ó meu bom Jesus. Nesta visita a Vós aí bem pertinho de mim realmente presente no Santíssimo Sacramento sob às espécies de Pão, hoje quero ouvir  de Vós, no meu íntimo, vossas palavras consoladoras sobre o Purgatório. No último colóquio muito me consolastes! E realmente só Vós podeis consolar-me. Ó Jesus, mesmo sabendo que as almas do Purgatório voarão um dia para o Céu, quando medito naquelas palavras de Jó que a Vossa Santa Igreja coloca na boca das benditas almas do Purgatório: "Compadecei-vos de nós, compadacei-vos de nós pelo menos vós que sois nossos amigos" fico muito comovido e penso em fazer o máximo por elas.

JESUS: Minha filha, é verdade que existe o Purgatório, e é verdade que muitas almas vão para lá expiar os seus pecados veniais e as penas temporais que são como que restos de seus pecados perdoados pelo sacramento de minha Misericórdia, a Penitência,  mas que não foram inteiramente reparados a tempo na terra. Mas não é menos verdade que tu podes, com as tuas boas obras, aliviar as suas penas e apressar-lhes a hora da libertação. Pede-me, portanto, por aquelas almas padecentes, e fica sabendo que o teu desejo de as ver livres daquelas penas é nada em confronto com o ardente desejo que Eu tenho de as chamar para o Paraíso. Pede-me, ora incessantemente, e eu te ajudarei sempre numa obra de caridade tão bela. Vê: Eu estou aqui no Tabernáculo à tua disposição: não tens mais que tomar o meu Sangue e oferecê-Lo à justiça de meu Pai por aquelas almas... e crê que este Sangue fala mais alto no Céu que o do justo Abel sobre a terra. É sobretudo com a comunhão e com a Missa que podes tratar eficazmente a causa dos teus queridos mortos, porque então não és tu somente a orar, mas oro também Eu contigo, oro com as minhas chagas, com as minhas agonias, com a minha morte; e tu não sabes o poder que têm sobre o coração de meu Pai as orações eucarísticas do seu Filho! Alma querida, quando fazes a Comunhão ou assistes à Missa, as almas do Purgatório, principalmente as que te pertencem, olham-te lacrimantes, mas confiadas em que tu as queiras aliviar. Oh! se visses então como te olha a alma de tua mãe, de teu pai, aquelas almas que tu tanto amaste e choraste sobre a terra!... o teu coração certamente se enterneceria de compaixão e piedade, e não serias avara para com elas, fazendo o mínimo, mas o máximo. E almas sobremodo amigas de meus sacerdotes, como sois felizes em poder fazer o máximo: celebrar santas Missas pelas almas do Purgatório!!! Prometeste aos vossos entes queridos quando estavam para morrer, que jamais os esquecerias, que havias de orar sempre por elas... Talvez não chegastes a falar, mas do fundo do coração, fizeste este propósito: haverias de orar sempre por suas almas... Ora muito, portanto, por aquelas pobrezinhas, ora para dares também ao meu Coração a consolação de poder abraçá-las quanto antes no Paraíso. A caridade que usares para com elas ser-te-á recompensada já durante a vida, na hora da morte, e quando também tu estiveres no Purgatório; mas o prêmio mais belo tê-lo-ás quando, por tua vez, puseres o pé no limiar do Paraíso. Então Eu irei ao teu encontro, manso, jubiloso e sorridente, mas não estarei só. Comigo irá uma bela plêiade de almas que tu logo reconhecerás... as almas dos teus caros, aquelas almas que tu tanto choraste, que tanto amaste... uma a uma irão encontrar-te... e tu as abraçarás, as estreitarás de encontro ao coração para não te separares delas jamais. Oh! como encontrarás belos aqueles rostos, como serenas aquelas frontes, como encantadores aqueles sorrisos! Quando viste pela última vez os teus caros, estavam desfeitos pela dor, pela agonia, pela morte! mas então os verás felizes, bem-aventurados... e para sempre...!!!


A ALMA:  Como tenho que agradecer a Vós!!! Sois nosso Salvador! Por isso temos esta firme esperança, esta consolação sem par. Meu doce Jesus, na próxima visita que vou fazer a Vós aqui no Tabernáculo, ousaria pedir que continueis a falar-me sobre esta felicidade inefável no encontro convosco e com as almas bem-aventuradas lá na Jerusalém Celeste, na Pátria do Repouso Eterno. Meu Jesus, para isto peço-Vos a graça de aproveitar o melhor possível de minha vida para Vos amar de todo coração. Sois o único digno de todo o meu amor!!! Sois Deus e Vos fizestes Homem para poder me salvar. Sou constrangido a dizer com São Paulo que quem não vos amar, que seja anátema. Meu Jesus, eu Vos amo, mas aumentai o meu amor. Amém!

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

ELES DORMEM NA PAZ

ELES DORMEM NA PAZ

                                                          Dom Fernando Arêas Rifan*
           
Amanhã, dia 2, faremos a comemoração de todos os fiéis defuntos, dos nossos falecidos, daqueles que estiveram conosco e hoje estão na eternidade, os “finados”, aqueles que chegaram ao fim da vida terrena e já começaram a vida eterna. Portanto, não estão mortos, estão vivos, mais até do que nós, na vida que não tem fim, “vitam venturi saeculi”. Sua vida não foi tirada, mas transformada. Por isso, o povo costuma dizer dos falecidos: “passou desta para a melhor!” Olhemos, portanto, a morte com os olhos da fé e da esperança cristã, não com desespero, pensando que tudo acabou. Uma nova vida começou eternamente.  
Para nosso consolo, ouçamos a Palavra de Deus: “Deus não criou a morte e a destruição dos vivos não lhe dá alegria alguma. Ele criou todas as coisas para existirem... e a morte não reina sobre a terra, porque a justiça é imortal” (Sb 1, 13-15).
Os pagãos chamavam o local onde colocavam os seus defuntos de necrópole, cidade dos mortos. Os cristãos inventaram outro nome, mais cheio de esperança, “cemitério”, lugar dos que dormem. É assim que rezamos por eles na liturgia: “Rezemos por aqueles que nos precederam com o sinal da fé e dormem no sono da paz”.
Os santos encaravam a morte com esse espírito de fé e esperança. Assim São Francisco de Assis, no cântico do Sol: Louvado sejais, meu Senhor, pela nossa irmã, a morte corporal, da qual nenhum homem pode fugir. Ai daqueles que morrem em pecado mortal! Felizes dos que a morte encontra conformes à vossa santíssima vontade! A estes não fará mal a segunda morte”. “É morrendo que se vive para a vida eterna!”. S. Agostinho nos advertia, perguntando: “Fazes o impossível para morrer um pouco mais tarde, e nada fazes para não morrer para sempre?”
Quantas boas lições nos dá a morte. Assim nos aconselha São Paulo: “Enquanto temos tempo, façamos o bem a todos” (Gl 6, 10). “Para mim o viver é Cristo e o morrer é um lucro... Tenho o desejo de ser desatado e estar com Cristo” (Fl 1, 21.23)“Eis, pois, o que vos digo, irmãos: o tempo é breve; resta que os que têm mulheres, sejam como se as não tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que se alegram, como se não se alegrassem; os que compram, como se não possuíssem; os que usam deste mundo, como se dele não usassem, porque a figura deste mundo passa” (1 Cor 7, 29-31). Diz A Imitação de Cristo que bem depressa se esquecem dos falecidos: “Que prudente e ditoso é aquele que se esforça por ser tal na vida qual deseja que a morte o encontre!... Melhor é fazeres oportunamente provisão de boas obras e enviá-las adiante de ti, do que esperar pelo socorro dos outros” (I, XXIII). O dia de Finados foi estabelecido pela Igreja para não deixarmos nossos falecidos no esquecimento.
Três coisas pedimos com a Igreja para os nossos falecidos: o descanso, a luz e a paz. Descanso é o prêmio para quem trabalhou. O reino da luz é o Céu, oposto ao reino das trevas que é o inferno. E a paz é a recompensa para quem lutou. Que todos os que nos precederam descansem em paz e a luz perpétua brilhe para eles. Amém.


*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

terça-feira, 31 de outubro de 2017

FALTA DE ARREPENDIMENTO E PROPÓSITO


Consideremos atentamente os sinais certos pelos quais podemos reconhecer se a confissão foi feita sem dor dos pecados e sem resolução de não mais recair neles. Em outras palavras, veremos os sinais que mostram quando não há arrependimento verdadeiro (pelo menos imperfeito=atrição) e não há por conseguinte propósito firme e eficaz de fugir das ocasiões próximas de pecados. Pela confissão Deus perdoa quaisquer pecados; mas nunca perdoa quando há vontade de continuar nos pecados.

1   .      Quando nos confessamos sem querer renunciar o ódio ao próximo.
2   .       Quando se pode e não se quer reparar uma injustiça grave feita ao próximo, em seus bens ou em sua reputação.
3   .       Quando se reincide no pecado de hábito, quer dizer, quando, advertidos pelo confessor, não deixamos, entretanto, de recair com a mesma frequência nos mesmos pecados mortais do costume, sem nenhuma correção, e sem que sejam empregados os meios de emenda.
4   .       Quando nos confessamos sem querer sinceramente deixar a ocasião próxima voluntária do pecado mortal.
Os defeitos que acabamos de enumerar e explicar tornam as confissões inválidas, quer dizer, nulas; e portanto, é preciso renová-las, como se nunca tivessem sido feitas desde a época em que são nulas. São, além disso, sacrílegas quando assim feitas cientemente. O sujeito está consciente de não ter os sinais de arrependimento, sabe que quer continuar fazendo todos ou alguns ou mesmo que seja um só dos pecados mortais e faz a sua confissão assim mesmo. Faz sacrilégio, e, se comunga faz outro sacrilégio.
A esta altura, talvez haja quem pergunte: padre, devo fazer uma confissão geral? Caríssimo, é a tua consciência que cabe resolver esta questão, conforme tudo o que acabamos de dizer.
Ser-me-á impossível, dizeis, fazer uma confissão geral. Tenho já idade: como poderei lembrar-me de todos os pecados da minha vida?  -  Caríssimos, com boa vontade é possível e mesmo fácil fazer uma confissão geral.
Primeiro que tudo, recordai com mágoa todos os anos da vossa vida (Isaías, XXXVIII, 16). Tomai para este negócio o tempo suficiente para vos recolherdes, pois trata-se de uma coisa muito séria.
Para indicar o número dos vossos pecados, eis aqui como podeis fazer. Deixai de lado os pecados veniais, ou não os acuseis senão no fim; não resta, pois, senão a confissão dos pecados mortais, que serão   -  ou casos particulares ou pecados habituais. Se são casos particulares, um pouco de reflexão bastará para vos lembrardes deles. Se são pecados habituais, examinai por quanto tempo durou este hábito  e quantas vezes, pouco mais ou menos, caístes no pecado por ano, ou por mês ou por semana, ou mesmo por dia. Não é verdade que desta maneira é fácil fazer uma confissão geral?
Contudo, se encontrardes alguma dificuldade em fazê-la, dizei ao confessor: "Padre, desejo fazer uma confissão geral, peço-vos que me ajudeis". No mesmo instante, o confessor vos interrogará, de modo que vos basta responder-lhe com sinceridade. Oh! como é consolador para um ministro de Deus ver a seus pés uma alma bem disposta e arrependida! A alegria do padre é indescritível, e levá-la-á para o túmulo. Bem feita a confissão geral, grande outrossim é a alegria do penitente.
Vou contar-vos um fato lido na vida de São Vicente de Paulo: Este grande santo da caridade, foi um dia chamado para confessar um fazendeiro que estava perigosamente doente. Conquanto tivesse sempre gozado da reputação de homem honrado, o padre Vicente de Paulo o excitou a fazer uma confissão geral, para pôr a sua salvação em maior segurança. Ora, o resultado provou que aquele pensamento vinha de Deus, que queria retirar aquela pobre alma do abismo eterno em que ia cair. Era rico mas certamente praticava a caridade para com os pobres. Quem o acreditaria, se não conhecesse a fraqueza do coração humano? Ainda que esse homem tivesse recebido várias vezes os últimos sacramentos, em várias moléstias muito graves, que tivera, achava ele que tinha a consciência carregada de sacrilégios desde a mocidade. Na alegria que experimentava em ter feito a confissão com o padre Vicente de Paulo, ele mesmo anunciava abertamente a todos que iam vê-lo: "Ah! eu estaria condenado se não tivesse feito uma confissão geral, por causa dos pecados que nunca ousei confessar". Morreu três dias depois, com os mais vivos sentimentos de reconhecimento para com Deus. A senhora Duquesa de Gondi ouviu as declarações muito admirada: Ah! que acabamos de ouvir? Se este homem, que passava por um homem honrado, estava em perigo de condenação, que será dos outros que vivem tão mal!". Ela empregou desde então a sua fortuna em estabelecer e fundar missões, considerando-as uma obra necessária à salvação das almas. São Vicente de Paulo fundou a Ordem dos Missionários Lazaristas.


quarta-feira, 25 de outubro de 2017

PECADO MORTAL


"Criei filhos e engrandeci-os; mas eles me desprezaram" (Isaías I, 2).


Deus manifestou sua justiça propondo como vítima de propiciação a Seu Filho Jesus (cf. Rom. III, 25). E o divino Espírito Santo já havia declarado através do Profeta Isaías: "Será (o Messias) despedaçado por causa de nossos crimes". Jesus ressuscitado glorioso não sofre mais. Mas sendo também Deus já previu todos os pecados dos homens e por eles sofreu e morreu. Todo pecado fez Jesus sofrer.

O pecado mortal é uma ofensa grave que se faz a Deus. A malícia de uma ofensa , ensina Santo Tomás de Aquino, se mede pela pessoa que a recebe e pela pessoa que a comete. Assim, uma ofensa feita por um colega ao seu colega, é, sem dúvida, um mal; mas, se um súdito desacata o Rei, isto é muito mais grave. E quem é Deus? É o Rei dos reis (Apoc, XVII, 14). Deus é majestade infinita, perante quem todos os príncipes da terra e todos os santos e anjos do céu são menos que um grão de areia: "Todos os povos na Sua presença são como se não existissem, e ele considera como um nada, uma coisa que não existe" (Isaías XL, 17). Por outro lado, que é o homem? Responde São Bernardo: saco de vermes, pasto de vermes, que cedo o hão de devorar. O homem é um miserável que nada pode, um cego que nada vê; pobre e nu, que nada possui (Apoc, III, 17). E este verme miserável se atreve a injuriar a Deus? exclama o mesmo São Bernardo. Com razão, pois afirma Santo Tomás de Aquino, que o pecado do homem contém uma malícia quase infinita (S. Th. p. 3, q. 2, a. 2.). Santo Agostinho vai um pouco mais além e diz que, absolutamente, o pecado é UM MAL INFINITO. Na verdade, a gravidade de uma ofensa se mede pela dignidade da pessoa ofendida. Ora, o pecado ofende a Deus que é de uma DIGNIDADE INFINITA. Logo, sob este aspecto, é um mal INFINITO. Daí dizer o próprio Deus: "Delicta quis intelligit?" (Salmo 18, 13). Sendo o homem finito não poderá compreender toda gravidade do pecado mortal, porque é infinita.  E Santo Afonso conclui: "Todos os homens e todos os anjos não poderiam satisfazer por um só pecado, mesmo que se oferecessem à morte e ao aniquilamento. Deus castiga o pecado mortal com as penas terríveis do inferno; contudo esse castigo é, segundo dizem todos os teólogos, menor que a pena com que tal pecado deveria ser castigado". E alguns teólogos daí concluem que o inferno é eterno: sendo criatura, nunca poderá ser infinito. Mas a gravidade do pecado mortal é infinita. Como Deus é justo, a eternidade é algo infinito na duração.

Mas que pena bastará para castigar como merece um verme que se rebela contra seu Senhor? Somente Deus é Senhor de tudo, porque é o Criador de todas as coisas. Por isso, todas as criaturas lhe devem obediência. Mas o homem, quando peca, que faz senão dizer a Deus: Senhor, não quero servir-te. Deus diz: "Não te aposses dos bens alheios" e, no entanto rouba. "Abstém-te do prazer impuro, e o pecador não se resolve a privar-se dele. Lemos no Êxodo, V, 2 que quando Moisés comunicou a ordem de Deus de que Faraó desse liberdade ao povo de Israel, este ímpio respondeu: "Quem é o Senhor, para que eu obedeça à sua voz? ... Não conheço o Senhor". Caríssimos, o pecador diz a mesma coisa: Não conheço Senhor; eu sou senhor do meu querer; faço o que me agrada. Assim, na presença de Deus mesmo Lhe falta o respeito e se afasta d'Ele e nisto consiste propriamente o pecado mortal: o ato com o qual o homem se afasta de Deus e se volta paras as criaturas. Quando o homem peca, ele levanta a mão como que ameaçando o Onipotente.

"Tu desonras a Deus, transgredindo a lei" (Rom. II, 23). Além de ofender a Deus, também O desonra. Na verdade, renunciando à graça divina por um miserável prazer, menospreza e rejeita a amizade de Deus. E por conta de que? Diz o Espírito Santo: "Elas (falsas profetisas que perdem as almas) desonravam-Me diante do meu povo por um punhado de cevada e por um pedaço de pão, matando as almas" (Ezequiel XIII, 19). "Quando o pecador, diz Santo Afonso, começa a deliberar consigo mesmo se deve ou não dar consentimento ao pecado, toma, por assim dizer, em suas mãos, a balança e se põe a considerar o que pesa mais, se a graça de Deus ou a ira, a quimera, o prazer... E quando, por fim, dá o consentimento, declara que para ele vale mais aquela quimera ou aquele prazer que a amizade divina". Daí dizer Deus pela boca do profeta Isaías: "A quem me comparastes vós e me igualastes, diz o Santo?" (XL, 25). Ó pecador! terias pecado se soubesses que ao cometer o pecado perderias uma das mãos ou mil reais ou menos talvez? Só Deus parece tão vil a teus olhos que merece ser posposto a um ímpeto de cólera, a um gozo indigno.

Deus é o nosso único e último Fim. E, no entanto, quando o pecador, para satisfazer qualquer paixão, ofende a Deus, na verdade, converte em sua divindade essa paixão, porque nela põe o seu último fim. Daí dizer São Jerônimo: "Vício no coração é ídolo no altar". São Paulo diz chorando que para muitos o seu estômago é o seu deus: "Quorum Deus, venter est". Diz Santo Tomás de Aquino: "Se amas os prazeres, estes são teu Deus". E São Cipriano: "Tudo quanto o homem antepõe a Deus, converte-o em seu deus".

Os pecadores sabem que Deus está em toda parte e que os vê. Mas injuriam-No e O desonram face a face. Dizem que uns povos pagãos na antiguidade consideravam o Sol o seu deus e por isso procuravam evitar o pecado durante o dia. Os cristãos que pecam gravemente, não apresentam nem esta sensibilidade pagã.

O pecador despreza tudo o que Jesus Cristo fez e sofreu para tirar o pecado do mundo. Na expressão de São Paulo, o pecador calca aos pés o Filho de Deus (cf. Hebr. X, 29). Diz Santo Afonso: "Bem sabe o pecador que Deus não pode harmonizar com o pecado. Bem vê que, pecando, obriga Deus a  afastar-se dele. Rigorosamente, é como se Lhe dissesse: Já que não podeis ficar com meu pecado e tende de afastar-vos de mim,  -  ide quando vos aprouver. E expulsando a Deus da alma, deixa entrar o inimigo que dela toma posse. Pela mesma porta por onde sai Deus, entra o demônio". Caríssimos, que mágoa não sentiríamos se recebêssemos grave ofensa duma pessoa, a quem tivéssemos feito grande benefício? Pois bem, esta mágoa e infinitamente maior o pecador causa a Deus, que chegou a dar sua vida para nos salvar.


Ó Jesus, não, nunca mais quero me separar de Vós! Dai-me a santa perseverança... Maria Santíssima, minha Mãe, socorrei-me sempre; rogai a Jesus por mim e alcançai-me a dita de jamais perder graça divina. Amém!

sábado, 21 de outubro de 2017

O JUÍZO UNIVERSAL SEGUNDO S. AFONSO DE LIGÓRIO


(RESUMO)

"Cognoscetur Dominus judicia faciens"
Conhecido será o Senhor, que faz justiça (Salmo IX, 17).

O Redentor destinou o dia do Juízo Universal (chamado com razão, na Escritura, o dia do Senhor), no qual Jesus Cristo se fará reconhecer por todos como universal e soberano Senhor de todas as coisas (Sl  9, 17). Esse dia não se chama dia de misericórdia e perdão, mas "dia da ira, da tribulação e da angústia, dia de miséria e calamidade" (Sofonias I, 15). Nele o Senhor se ressarcirá justamente da honra e da glória que os pecadores quiseram arrebatar-Lhe neste mundo. Vejamos como há de suceder o juízo nesse grande dia.

A vinda do divino Juiz será precedida de maravilhoso fogo do céu (Salmo 96, 3), que abrasará a terra e tudo quanto nela exista (2 S. Pedro III, 10). Palácios, templos, cidades, povos e reinos, tudo se reduzirá a um montão de cinzas. É mister purificar pelo fogo esta grande casa, contaminada de pecados. Tal é o fim que terão todas as riquezas, pompas e delícias da terra. Mortos os homens, soará a trombeta e todos ressuscitarão (1 Cor. XV, 52). Dizia S. Jerônimo: "Quando considero o dia do juízo, estremeço. Parece-me ouvir a terrível trombeta que chama: Levantai-vos, mortos, e vinde ao juízo". Ao clamor pavoroso dessa voz descerão do céu as almas gloriosas dos bem-aventurados para se unirem a seus corpos, com que serviram a Deus neste mundo. As almas infelizes dos condenados sairão do inferno e se unirão a seus corpos malditos, que foram instrumentos para ofender a Deus.

Que diferença haverá então entre os corpos dos justos e dos condenados! Os justos aparecerão formosos, cândidos, mais resplandecentes que o sol (S. Mateus XIII, 43). Feliz aquele que nesta vida soube mortificar sua carne, recusando-lhe os prazeres proibidos, ou que, para melhor refreá-la, como fizeram os Santos, a macerou e lhe negou também os gozos permitidos dos sentidos! ... Pelo contrário, os corpos dos réprobos serão disformes,  e hediondos. Que suplício então para o condenado ter de unir-se a seu corpo! ... "Corpo maldito  -  dirá a alma   -  foi para te contentar que me perdi!" Responder-lhe-á o corpo: "E tu, alma maldita, tu que estavas dotada da razão, por que me concedeste aqueles deleites, que, por toda a eternidade, fizeram a tua e a minha desgraça?"

Assim que os mortos ressuscitarem, farão os anjos que se reúnam todos no vale de Josafá para serem julgados (Joel III, 14) e separarão ali os justos dos réprobos (S. Mat. XIII, 49). Os justos ficarão à direita; os condenados, à esquerda... Que confusão experimentarão os ímpios, quando, apartados dos justos, se sentirem abandonados! Disse S. João Crisóstomo que, se os condenados não tivessem de sofrer outras penas, essa confusão bastaria para dar-lhes os tormentos do inferno. Caríssimo irmão, abandona  o caminho que conduz à esquerda.

Os eleitos serão colocados à direita, e para maior glória   -  segundo afirma o Apóstolo  -  serão elevados aos ares, acima das nuvens, e esperarão com os anjos a Jesus Cristo, que deve descer do céu (1 Tess IV, 17). Os réprobos, à esquerda, como reses destinadas ao matadouro, aguardarão o Supremo Juiz, que há de tornar pública a condenação de todos os seus inimigos.

Abrem-se, enfim, os céus e aparecem os anjos para assistir ao juízo, trazendo os sinais da Paixão de Cristo, disse Santo Tomás. Singularmente resplandecerá a santa Cruz. "E então aparecerá o sinal do Filho do homem no céu; e todos os povos da terra chorarão" (S. Mat. XXIV, 30). Os Apóstolos serão assessores e com Jesus Cristo julgarão os povos. Aparecerá, enfim, o Eterno Juiz em luminoso trono de majestade: "E verão o Filho do Homem, que virão nas nuvens do céu, com grande poder e majestade. À sua presença chorarão os povos" (S. Mat. XXIV, 30). A presença de Cristo trará aos eleitos inefável consolo, e aos réprobos aflições maiores que as do próprio inferno, disse S. Jerônimo. Cumprir-se-á, então, a profecia de S. João: "Os condenados pedirão às montanhas que caiam sobre eles e os ocultem à vista do Juiz irritado" (Apoc. VI, 16).

Começará o julgamento, abrindo-se os autos do processo, isto é, as consciências de todos (Dan. VII, 10). A própria consciência dos homens os acusará depois (Rom. II, 15). A seguir, darão testemunho clamando vingança, os lugares em que os pecadores ofenderam a Deus (Hab. II, 11). Virá enfim, o testemunho do próprio Juiz que esteve presente a quantas ofensas lhe fizeram (Jer. XXIX, 23). Disse S. Paulo que naquele momento o Senhor "porá às claras o que se acha escondido nas trevas" (1 Cor. IV, 5). Os pecados dos eleitos, no sentir do Mestre das Sentenças e de outros teólogos, não serão manifestados, mas ficarão encobertos, segundo estas palavras de Davi: "Bem- aventurados aqueles, cujas iniquidades foram perdoadas, e cujos pecados são apagados" (Salmo 31, 1). Pelo contrário   -  disse S. Basílio  -  as culpas dos réprobos serão vistas por todos, ao primeiro relancear d'olhos, como se estivessem representadas num quadro. Exclama S. Tomás: "Se no horto de Getsêmani, ao dizer Jesus: Sou eu, caíram por terra todos os soldados que vinham para o prender, que sucederá quando, sentado no seu trono de Juiz, disser aos condenados: "Aqui estou, sou aquele a quem tanto haveis desprezado!".

Chegada a hora da  sentença, Jesus Cristo dirá aos eleitos estas palavras, cheias de doçura: "Vinde, benditos de meu Pai, e possuí o reino que vos está preparado desde o princípio do mundo" (S. Mat. XXV, 34). Que consolação não sentirão aqueles que ouvirem estas palavras do soberano Juiz: "Vinde, filhos benditos, vinde a meu reino. Já não há mais a sofrer, nem a temer. Comigo estais e permanecereis eternamente. Abençoo as lágrimas que sobre os vossos pecados derramastes. Entrai na glória, onde juntos permaneceremos por toda a eternidade". A virgem Santíssima  abençoará também os seus devotos e os convidará a entrar com ela no céu. E assim, os justos, entoando gozosos Aleluias, entrarão na glória celestial, para possuírem, louvarem e amarem eternamente a Deus.

Os réprobos, ao contrário, dirão a Jesus Cristo: "E nós, desgraçados, que será feito de nós?" E o Juiz Eterno dir-lhes-á: Já que desprezastes e recusastes minha graça , apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno (S. Mat. XXV, 34). Apartai-vos de mim, que nunca mais vos quero ver nem ouvir. Ide, ide, malditos, que desprezastes minha bênção..." Mas para onde, Senhor, irão estes desgraçados?... Ao fogo do inferno, para arder ali em corpo e alma..." E por quantos séculos?... Por toda a eternidade, enquanto Deus for Deus.

Depois desta sentença, abrir-se-á na terra um imenso abismo e nele cairão conjuntamente demônios e réprobos. Verão como atrás deles se fechará aquela porta que nunca mais se há de abrir... Nunca mais durante toda a eternidade!... Ó maldito pecado!... A que triste fim levarás um dia tantas pobres almas!... Ai! das almas infelizes às quais aguarda tão deplorável fim.

Meu Deus e meu Salvador! Já que declarastes pela boca do vosso Profeta: "Convertei-vos a mim, e eu me voltarei a vós" (Zac. I, 3), tudo abandono, renuncio a todos os gozos e bens do mundo, e converto-me, abraçando a Vós, meu amantíssimo Redentor. Recebei-me no vosso Coração e inflamai-me no vosso santo amor, de modo que jamais cogite em separar-me de Vós... Maria Santíssima, minha esperança, meu refúgio e minha mãe, ajudai-me e alcançai-me a santa perseverança. Amém!


quinta-feira, 12 de outubro de 2017

A SENHORA APARECIDA

A SENHORA “APARECIDA”
 
                                                                                                                    Dom Fernando Arêas Rifan*



         No próximo dia 12,celebraremos a Padroeira do Brasil, nos 300 anos do achado milagroso da sua imagem. O Brasil em peso estará em prece pedindo sua proteção e bênção, especialmente no difícil momento político e social por que passamos.
        Tudo começou, quando, em 1717, por ocasião da visita do Conde de Assumar à cidade de Guaratinguetá, SP, foi pedido aos pescadores locais peixes para o banquete do nobre visitante. Três pescadores, amigos entre si, João Alves, Domingos Garcia e Filipe Pedroso, tentavam e não conseguiam os peixes que necessitavam, quando apanharam em suas redes uma pequena imagem truncada de Nossa Senhora da Conceição e a seguir, num lance de rede sucessivo, a cabeça da mesma imagem, conseguindo, num terceiro lance, imensa quantidade de peixes. A esse milagre sucederam muitos outros. A imagem foi chamada de “Aparecida” e colocada numa pequena capela que, com o tempo, tornou-se o monumental Santuário Nacional, maior centro de peregrinação do país.
        É óbvio que ali houve algo sobrenatural. Pois, como explicar que uma simples imagem, quebrada, sem uma intervenção divina e uma bênção especial da Mãe de Jesus, pudesse atrair milhões de pessoas em oração fervorosa, ininterruptamente, há quase três séculos?
        Em 1904, Nossa Senhora Aparecida, foi coroada Rainha do Brasil. No Congresso Mariano de 1929, quando se comemorou o Jubileu de Prata dessa Coroação, os bispos do Brasil decidiram enviar um pedido ao Papa para que declarasse Nossa Senhora Aparecida Padroeira de toda a nação brasileira. Este pedido tornou-se realidade através do Decreto do Papa Pio XI, de 16 de julho de 1930, no qual diz: “... Na plenitude de nosso Poder Apostólico, pelo teor da presente Carta, constituímos e declaramos a Beatíssima Virgem Maria concebida sem mancha, conhecida sob o título de Aparecida, Padroeira principal de todo o Brasil junto de Deus... concedendo isso para promover o bem espiritual dos fiéis no Brasil e para aumentar, cada vez mais, sua devoção à Imaculada Mãe de Deus...”.
        A proclamação oficial se realizou numa grande manifestação popular de um milhão de pessoas, no Rio de Janeiro, então capital federal, com o reconhecimento oficial do Governo do país, pela presença do seu Presidente, Dr. Getúlio Dornelles Vargas, e de outras autoridades civis, militares e eclesiásticas. Era o Brasil reconhecendo oficialmente sua padroeira.
        Que o Brasil, que nasceu católico desde a sua descoberta, cujo primeiro monumento foi um altar e uma cruz, que teve como primeira cerimônia uma Missa, que tem essa Senhora Padroeira, mostre-se digno de tais origens e de tal Patrona, em suas instituições, suas leis, seus governantes, sua política, seus legisladores, sua população e seu modo de viver, na verdadeira justiça e caridade, na ordem e no verdadeiro progresso, na harmonia e no bem comum, na lei de Deus e na coerência com os princípios da fé cristã, base da nossa identidade pátria e princípio de toda a convivência honesta, solidária e pacífica. 

 *Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney