A Quaresma existe desde os apóstolos, que limitaram sua duração a quarenta dias, em memória do jejum de Jesus Cristo no deserto.
No intuito de encaminhar-nos para o Divino Redentor e Mestre, Nosso Senhor Jesus Cristo, a Santa Madre Igreja estabeleceu:
- os domingos de Setuagésima, Sexagésima e Quinquagésima, que nos aproximam mais e mais desse período de penitência. Durante essas três semanas, a Igreja usa paramentos roxos, suprime o Gloria in Excelsis, a Aleluia, o Te Deum, cânticos de alegria, e incita-nos, pelos evangelhos que escolhe, a trabalharmos com mais empenho no cultivo e amanho da nossa alma, e a ouvirmos, mais assíduos e mais piedosos, a palavra de Deus.
- as preces da Quarenta Horas. Enquanto o mundo, ao aproximar-se a quaresma, procura distrações e divertimentos pecaminosos no carnaval, a Igreja convida seus filhos aos pés dos altares, para, no retiro ouvir a Palavra de Deus e também para adorar a Jesus Eucarístico. Pede-lhes o recolhimento e a oração, quer para prepará-los à quaresma, quer para implorar o perdão de Deus pelos pecados que se cometem.
- a cerimônia das Cinzas. Na quarta-feira em que começa a santa quaresma, faz-se a imposição das Cinzas. Com solenidade, o celebrante benze cinzas no altar; depois de as santificar pela oração, a água benta e o incenso, põe na cabeça do clero e do povo, e a cada um dirige esta palavra: "Lembra-te, ó homem, que és pó e em pó te hás de tornar!" ("Memento homo, quia pulvis es, et in pulverem reverteris"). Logo é o pensamento da morte, e também uma lição de penitência que se evoca aos fiéis. De fato, as cinzas sempre foram entre os antigos, símbolo de luto e dor profunda. Davi, no extremo da mágoa, cobriu-se de cinzas, e os Ninivitas, ouvindo o convite do profeta Jonas, fizeram penitência com cinza e cilício. Nos primeiros séculos cristãos, a Igreja introduziu o costume de pôr cinzas na fronte dos pecadores, especialmente dos penitentes públicos. Por humildade e sinal de arrependimento, todos os fiéis quiseram participar dessa cerimônia, que ficou como preparação eloquente para a penitência da quaresma.
- observar segundo suas forças a abstinência e o jejum que a Igreja prescreve. - Com efeito, todos nós precisamos de penitência pelos numerosos pecados que temos cometido durante um ano inteiro de indiferença, esquecimento, e muitas vezes de fraqueza criminosa. Ora, o melhor desagravo é o que a Igreja nos pede. Humildemente devemos reconhecer a necessidade que temos de fazer mais penitências além das estritamente obrigatórias pelas leis da Igreja. Estas penitências, no entanto devem ser sempre humildes, discretas e obedientes.
- empregar mais tempo na oração e nas boas obras. Os ofícios da Igreja ouvidos com mais atenção, a Santa Missa alguma vez na semana, leituras piedosas, o exercício da Via-Sacra, esmolas mais abundantes aos pobres e às obras de caridade, são outras tantas práticas úteis, junto com o trabalho e as penas da vida, religiosamente aceitas e suportados por amor a Jesus Crucificado.
- enfim, a Santa Igreja, no santo tempo da quaresma, estabeleceu práticas mais frequentes e especialíssimas, seguidas geralmente da bênção do Santíssimo; convém assistir a essas instruções, e assim reanimar-se na fé e na vida cristã; padres zelosos costumam pregar retiros fechados e também abertos para todo povo. Tudo isto serve também de preparação para à comunhão pascal através de uma confissão, a melhor possível.
Nosso Senhor Jesus Cristo dizia aos seus discípulos: "O mundo se há de alegrar e vós estareis na tristeza; mas a vossa tristeza mudar-se-á em alegria e esta alegria ninguém vo-la poderá tirar" (São João, XVI, 20, 22). Ai vai, pois, um sinal de predestinação e penhor de felicidade eterna: chorar e gemer com Cristo no Calvário para podermos regozijar-nos e reinar com Cristo ressuscitado. Os verdadeiros cristãos não o ignoram; por isso, santificam no recolhimento, na oração e nas lágrimas da penitência, o santo tempo da Quaresma , e mais especialmente os dias da Semana Santa; sepultam com Nosso Senhor Jesus Cristo, no túmulo, seus pecados e sua concupiscência, e levantam-se com Ele, na alegria, nos transportes da sua Ressurreição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário