Romanos VI, 19-23
"Falo à maneira
dos homens, por causa da fraqueza da vossa carne, porque, assim como
oferecestes os vossos membros para servirem à imundície e à iniquidade, a fim
de (chegar) à iniquidade, assim oferecei agora os vossos membros para servirem
à justiça, a fim de chegar à santificação. Porque, quando éreis escravos do pecado,
estivestes livres quanto à justiça. Que fruto tirastes então daquelas coisas,
de que agora vos envergonhais?(Nenhum), pois o fim delas é a morte. Mas agora,
que estais livres do pecado e feitos servos de Deus, tendes por vosso fruto a
santificação e por fim a vida eterna. Porque o estipêndio do pecado é a morte.
Mas a graça de Deus é a vida eterna em nosso Senhor Jesus Cristo".
Neste capítulo VI de sua Carta aos Romanos, São Paulo observa que Jesus morreu uma só
vez e "ressuscitando dos mortos, não morrerá jamais; pois a morte nenhum
domínio exercerá sobre Ele". Assim também quem morreu para o pecado, há de
viver para Deus, não permitindo que sobre seu corpo reine o pecado, mas
libertando-se dele para sempre. Tanto mais que o fruto do pecado é a morte e o
fruto da graça é a vida eterna.
O pecador é vítima de seus próprios pecados, e é castigado
às vezes, por eles mesmos. Só para darmos alguns exemplos: os libertinos levam uma vida
infernal, não só enquanto estão no caminho da condenação mas também mesmo neste
mundo. Paz, honra, dignidade, muitas vezes, a saúde, a família, tudo é imolado
sobre o triste altar de um curto prazer pecaminoso. Quando a faísca dos pecados
impuros não for logo apagada, transforma-se num incêndio devastador e
incontrolável ou quase. Quantas fadigas e quantas lutas se impõem aqueles que se
entregam às paixões impuras!
Os vaidosos e, sobretudo as vaidosas, a quantos sacrifícios
se submetem por causa da beleza. Isto sim é ser escravo; escravo das modas. E
quanta preocupação e gastos no afã de se sobressair nas reuniões mundanas!
Infelizes daqueles que se entregam às drogas e à bebida! Estragam sua saúde, a
da alma e também a do corpo. "Que fruto tiveste -
pergunta o Apóstolo - naquelas coisas de que agora te
envergonhas?" Qual um general déspota que, depois de haver exigido dos
soldados os maiores sacrifícios, dá-lhes por soldo a morte, assim é o pecado.
Depois de vos conduzir por caminhos íngremes, paga-vos com o salário da
vergonha. Daí o conselho de São Paulo: se tivestes a infelicidade de sofrer
tanto para correr atrás da satisfação das tuas paixões, empregue agora, depois
de convertido, todas as tuas forças para correr no caminho da virtude e da
verdadeira paz, enfim, para a vida eterna na Pátria do Repouso eterno. Em
outras palavras: reserva para o bem os entusiasmos que outrora consagravas ao
mal.
A lei da castidade, sobretudo, parece reclamar desmedidas
renúncias? Entretanto, devemos igualmente medir os sacrifícios que foram feitos
para simplesmente se afundar e se revolver na lama de imundícies. Então, uma
vez convertido, deve o homem, com igual ânimo, enfrentar as dificuldades que se
opõem a liberdade de filho de Deus. O pecador convertido deve pensar na
pontualidade com que se apresentava em outros tempos à festas mundanas mesmo
depois de um dia de trabalho estafante, e agora não deve medir esforços para
ter a mesma pontualidade em se apresentar à igreja para a Santa Missa. Quantos
gastos para a vaidade! Agora, convertido, seja generoso para com os pobres e em
ajudar à Igreja. Conta-se de certo santo, cujo nome não me lembro no momento,
que ao passar pela rua, encontrando-se com uma dama esmeradamente elegante e
perfumada, desatou a chorar. Perguntando-lhe outros a razão destas lágrimas,
respondeu-lhes o santo: "É que vejo nesta mulher maior cuidado em servir
ao mundo, do que atenções encontro em mim no serviço de Deus".
O próprio São Paulo é um exemplo de convertido! Quem mais
investiu contra a Igreja do que o fariseu Saulo a "respirar ameaças e morte
contra os discípulos do Senhor"? Mas quem mais do que ele, soube com igual
generosidade consagrar à Igreja e a Jesus
os nobres impulsos do coração e do gênio? Nem os açoites dos romanos,
nem as flagelações dos judeus; nem os perigos dos ladrões e dos da sua nação,
dos gentios, do deserto e do mar; nem o trabalho, nem a fadiga; nem as vigílias,
nem a fome, nem a sede, (cf. 2 Cor. )
enfim, jamais coisa alguma conseguiu arrefecer-lhe o entusiasmo por Cristo
Jesus, que, outrora, odiava até a perseguição e que, depois, convertido, amou
até a adoração.
Poderíamos dar muitos outros exemplos de convertidos: como
Santo Agostinho e Santa Maria Madalena. Mas quero terminar com as palavras do
grande Orígenes: "Corriam, outrora, teus pés para o delito, corram agora
para a virtude. Estendiam-se antigamente tuas mãos aos bens alheios,
estendam-se hoje aos teus bens para generosamente distribuí-los. Voltavam-se
antes teus olhos às riquezas do teu próximo na ânsia de possuí-las, voltem-se,
agora, para os pobres no desejo de socorrê-los. O ofício que teu corpo um dia
prestava aos vícios, ofereça-o hoje à virtude; e o serviço antigamente dado à
imundície seja agora dado à castidade e à santidade". Amém!
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