Os Exercícios Espirituais de Santo Inácio, (isto é, o Retiro) constitui uma verdadeira Arte de duas coisas: para converter o pecador e para a escolha de estado, ou seja, para descobrir a vocação e a ela ser fiel.
Há uma frase de Santo Agostinho que substancialmente resume o que é o Retiro: "Est hominis iter ad Deum, per Deum-Hominem". Em português: É para o homem o caminho para se chegar a Deus através do Deus-Homem. Em outras palavras: O homem é um viajante, o ponto de partida é o pecado do qual o homem deve ficar limpo e fortificado contra ele para não cometê-lo de novo. Feito isto, o homem caminha para Deus que é o termo da nossa viagem, e o caminho que conduz a este termo, é o Homem-Deus, é Nosso Senhor Jesus Cristo.
A primeira etapa do caminho é a chamada Via Purgativa que consiste em meditar as verdades que nos purificam e ensinam-nos a combater, a destruir o pecado, seja em si, seja em suas causas. O Retiro é constituído de quatro semanas ou melhor, quatro séries de meditações. A primeira (deformata reformat= reforma o que está deformado): tem por fim destruir o império do pecado e reformar o que havia de desordenado.
A segunda semana ou série (reformata conformat= as coisas reformadas são conformadas às virtudes de Nosso Senhor Jesus Cristo). Como Jesus Cristo é a nossa Luz, esta série de meditações tem por finalidade conformar a nossa vida á de Jesus Cristo que é nosso modelo. Ele torna-se a forma interior e exterior do verdadeiro cristão. Esta semana do Retiro corresponde à Via Iluminativa. A alma é iluminada pelas virtudes do Divino Mestre, que é Luz, Verdade e Vida.
A terceira semana ou série (conformata confirmat = as coisas conformadas, são confirmadas). É uma série de meditações sobre a Paixão e Morte do Salvador, justamente para firmar a alma nas suas generosas resoluções de imitar as virtudes de Nosso Senhor Jesus Cristo. Estas meditações são as mais próprias para nos levar ao arrependimento perfeito dos nossos pecados e ao mesmo tempo, levados em primeiro lugar pelo amor de Deus, continuar odiando e evitando o pecado e ao mesmo tempo, também por amor, ficar firme na imitação das virtudes de Nosso Divino Salvador.
A quarta semana ou série (confirmata transformat = as coisas confirmadas, são transformadas). Aplicando-nos a contemplar o Filho de Deus na sua vida gloriosa, tende a transformar-nos neste divino objeto do nosso amor. Por isso é chamada Via Unitiva. O normal seria que no fim do Retiro a alma pudesse exclamar com São Paulo: "Vivo, mas já não sou eu que vivo, é Jesus que vive em mim". "A minha vida é Jesus"; "Agora, só quero viver por Aquele que morreu por mim".
Mesmo quando se prega o Retiro para o povo, o pregador procura fazer alguma meditação correspondente a estas 4 séries. Como devemos ter a humildade de reconhecer que somos pecadores, nunca se pode deixar de fazer pelo menos umas cinco ou seis meditações correspondente à Via Purgativa. Do contrário, o Retiro pode ser até mais agradável, mas com certeza não terá a força própria do Retiro. Pois, como vimos no início, destruir e evitar o pecado deve ser o ponto de partida. Assim como não adiantaria trocar o telhado de uma casa ou pintá-la, se os alicerces estão abalados. É a alegria ilusória de estar morando numa casa nova, quando na realidade, continua correndo o risco da ruína.
É evidente, que uma alma assim preparada e unida a Deus tem todas as condições de ouvir a voz de Nosso Senhor que a chama para uma consagração especial a Ele.
Além das meditações como acabamos de explicar, o Santo Retiro, tem o recolhimento, o silêncio, a solidão; Assim a alma tem todas as condições de ouvir e seguir o voz de Deus. Porque, na verdade, como diz a Sagrada Escritura: Deus não está na agitação e no barulho. "Conduzirei a alma à solidão e ali lhe falarei ao Coração" (Oséas II, 14).
EXEMPLO
Um sacerdote, exorcizando um possesso, obrigou o demônio a declarar, qual a coisa que mais temia. Disse: "Tenho medo da oração, do jejum, da esmola, da confissão, da comunhão, mas muitas pessoas rezam tão mal, jejuam e dão esmolas por vaidade, confessam-se e comungam sem fruto, de sorte que pouco me incomodo com estas coisas; tenho porém horror ao retiro, é ele que me arrebata tantas almas e é tão difícil depois recuperá-las".
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