São Marcos, 7, 31-37
Como é difícil a salvação de um
surdo-mudo espiritual!
Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!
A Santa Madre Igreja propõe
hoje, para nossa meditação e ensinamento, a cura do surdo-mudo.
A primeira coisa que devemos observar
é que na administração do santo Batismo o sacerdote faz quase os mesmos gestos
de Jesus e pronuncia a mesma palavra "ephphetha", que
significa: abre-te. Estas cerimônias no Batismo significam que
os cristãos devem ter os ouvidos sempre abertos para a palavra de Deus. É pela
pregação que vem a fé: "Fides ex auditu", como diz S. Paulo. É pela
audição da Palavra de Deus que o cristão alimenta a sua fé logo tenha chegado
ao uso da razão. Esta mesma fé deve ser confessada externamente. Em outras
palavras: pelo santo Batismo, o ouvido da nossa alma abriu-se à fé e a língua
aos louvores de Deus, Nosso Senhor. Tornamo-nos capazes de ouvir a voz da fé, a
voz externa dos ensinamentos da Igreja e a voz interior do Divino Espírito
Santo. Os nossos lábios devem sempre estar abertos para a oração, para a
adoração de Deus e para fazer sempre bem feita a confissão.
Devemos observar também que,
ao fazer este milagre, diferentemente de muitos outros milagres, Jesus não se
contenta só em dizer: fica curado! Não, aqui o Divino Mestre faz vários gestos:
retira o surdo-mudo dentre a multidão e o leva à parte; põe o dedo em seus
ouvidos; toca-lhe a língua com o dedo molhado na saliva; ergue os olhos para o
céu; suspira e diz: "ephphetha", abre-te.
Jesus não faz nada inútil. Se
assim agiu ao realizar a cura do surdo-mudo, é porque há um significado em tudo
isto. Na verdade, esta enfermidade natural figura uma outra, muitíssimo mais
grave, deplorável e perigosa: a surdez e a mudez espirituais.
Este homem surdo-mudo é a
imagem do pecador endurecido que recusa ouvir os preceitos e os conselhos
paternais de Deus, e que se cala para não confessar os seus pecados
ao ministro das misericórdias do Senhor. Como a confissão é
secreta no confessionário, Jesus retira o surdo-mudo do meio da multidão e o
toma de parte. Este gesto de Jesus significa também o santo retiro onde a alma
fica longe do barulho do mundo e na solidão tem todas as condições para ouvir a
palavra de Deus externa e internamente. Diz Deus pelo profeta Oseías, II, 14:
"Conduzirei a alma à solidão, e falar-lhe-ei intimamente ao
coração". Deus, na verdade, não se encontra no barulho: "Non
in commotione Dominus", "Deus não está na agitação" (3 Reis,
XIX, 11).
Este surdo-mudo representa um
grande número de almas pecadoras. Elas não ouvem a palavra de Deus, não sabem
mais falar a Deus, isto é, não rezam. Não sabem pedir perdão dos seus pecados,
ou seja, não se confessam. São mudas porque são surdas. Como se formou esta
surdez? Pelo barulho do mundo agitado por toda espécie de orgulho, avareza e
luxúria. São como uma estrada aberta a todas as agitações dos transeuntes;
endurecida, onde a semente da palavra de Deus não consegue penetrar, ficando
assim a mercê dos demônios, que como as aves do céu, vêm e comem a semente.
Estas pobres almas, cheias de si mesmas, dos seus pensamentos e da sua ciência,
sufocadas pelas preocupações das riquezas e dos prazeres da vida, não querem
ouvir a Deus nem aos homens de Deus. E o demônio, que
as entretém nesta surdez espiritual, as torna também mudas para que
não falem a Deus. Como poderiam elas orar, se não sentem a necessidade da
oração? Como poderiam proferir uma palavra de fé, se não têm pensamentos de fé?
Só Jesus as pode curar, só Jesus pode fazer que elas ouçam e falem. É
preciso, pois, levá-las a Jesus. O Divino Mestre as tocará com o dedo,
isto é, com a graça do Espírito Santo, que é o dedo de Deus; ungindo-as com a
sua saliva, lhes dará a sabedoria e o gosto das coisas de Deus. E
depois, levantando os olhos para o céu, isto é, orando por
elas, pronunciará o Ephphetha, que quer dizer - abri-vos.
Jesus por onde passa, vai fazendo o bem: abre as consciências; abre os
corações, abre as torrentes de sua graça, e, no último dia, nos abrirá também
as portas da eternidade feliz.
Caríssimos e amados fiéis,
como é triste o estado de um surdo-mudo!
Jesus suspirou: oh! como é difícil a salvação de um
surdo-mudo espiritual!!! Não tem fé porque não ouve a palavra de Deus. Mas, sem
a fé é impossível agradar a Deus. Não reza, e, sem oração não se salva. Não se
confessa, e, sem confissão não há perdão, porque mesmo havendo arrependimento
perfeito, arrependimento este que perdoa no mesmo momento, no entanto ele só
assim perdoa se for acompanhado do desejo da confissão, e, se tiver condição de
se confessar, o pecador deverá fazê-lo
antes de comungar. Como o surdo-mudo não
podia falar, pediram naturalmente por ele. Assim devemos fazer com relação às
almas que desejamos converter. É preciso orar por elas, porque não sabem orar.
É preciso levá-las a Jesus, recomendando-as à sua infinita misericórdia. Devemos ter compaixão destes infelizes.
Ó Jesus, meu bom Salvador,
suplico-Vos que Vos digneis abrir os meus ouvidos, para que aprenda a vossa
santa vontade, soltar a minha língua, para que Vos louve e Vos faça conhecer e
amar. Amém!
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