S. Mateus VII, 15-21
Acautelai-vos dos falsos profetas...
Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!
"Acautelai-vos
dos falsos profetas, que vêm a vós sob peles de ovelhas, e por dentro, no
entanto, são lobos vorazes". Sempre houve e sempre haverá falsos
pregadores porque eles são frutos do orgulho e da mentira; em uma palavra, são
filhos do demônio. Eis como o Espírito Santo ensina a tratar os falsos
profetas: "Quando chegaram [Paulo e
Barnabé] a Salamina, pregavam a palavra de Deus nas sinagogas dos judeus.
Tinham com eles João. Tendo percorrido toda a ilha até Pafos, encontraram certo
homem mago, falso profeta, judeu, que tinha por nome Barjesus, o qual estava
com o procônsul Sérgio Paulo, homem prudente. Este, tendo mandado chamar
Barnabé e Saulo, mostrou desejos de ouvir a palavra de Deus. Mas Elimas, o mago
(porque assim se interpreta o seu nome) se lhes opunha, procurando afastar da
fé o procônsul. Porém Saulo, que também se chama Paulo, cheio do Espírito
Santo, fixando nele os olhos, disse: Ó cheio de todo o engano e de toda a
astúcia, filho do demônio, inimigo de toda justiça, não acabarás de perverter
os caminhos retos do Senhor? (Atos XIII, 5-11).
O único Profeta que devemos ouvir, o único
Mestre cujas lições devemos seguir, é Jesus Cristo e os que O representam, os
que se tornaram guardiões e arautos de Sua doutrina. "Ipsum audite"
diz o Altíssimo aos apóstolos ao mostrar-lhes seu Filho Jesus Cristo:
"ESCUTAI-O". Quanto aos Apóstolos e, na sua pessoa, aos seus
sucessores, o próprio Jesus disse: "Quem vos ouve, a mim ouve". Quem
segue a Nosso Senhor Jesus Cristo nunca anda nas trevas, nunca se desmente,
porque Jesus é a Verdade.
Mas, infelizmente, sempre houve e sempre haverá pessoas
orgulhosas que se arvoram em mestres para dominar os fiéis, querendo obrigá-los
a segui-los "per fas et nefas" quer os dirijam para um lado,
quer os levem para o oposto. Mas sendo tal atitude de per si odiosa, empregam a
hipocrisia e, às vezes, abusam dum dom de Deus, isto é, de uma inteligência
privilegiada, para conduzir suas ovelhas com esperteza, com astúcia, ou seja,
como lobos vorazes mas sob peles de ovelhas. Querem simplesmente a honra de
conduzir as ovelhas a seu bel prazer, e se esforçam por induzir os fiéis a
aceitar suas lições. Estes falsos profetas, estes messias, como eles não têm
receio de se chamarem algumas vezes, infelizmente são numerosos em nossos dias.
Estes falsos "cristos" sempre
tiveram a aprovação e o apoio do mundo. Hoje, porém, o mundo tem muito mais
recursos para secundar suas ações lupinas e, em contra partida, para lutar
contra os verdadeiros pregadores e, no mínimo, para neutralizar sua ação
missionária.
O Divino Mestre, depois de ter dito que a porta do céu é
estreita e que apertado é o caminho que a ele conduz, prossegue: Guardai-vos
dos falsos doutores... Falsos doutores são, consequentemente, aqueles que
ensinam que o caminho do céu é largo, cômodo... Falsos profetas são aqueles que
pregam ampla liberdade; que ensinam uma moral laxa que se acomoda às paixões
humanas. Os falsos doutores se cobrem com pele de ovelha, apresentando-se com
ares de santidade; ostentando seus erros sob um aspecto de verossimilhança;
empregando argumentos que, na verdade, são sofismas; deturpando as Sagradas
Escrituras; pregando um "Cristianismo light"; aparentando mansidão,
simplicidade, piedade...; usando de palavras doces, de frases suaves...
Hodiernamente, infeccionados pelo ecumenismo pós-conciliar, gostam de se
moverem em terreno comum, onde reina o interconfessionalismo. Basta os falsos
profetas deixarem de combater o mundo com suas modas indecentes, vaidades e
ideias contrárias ao Santo Evangelho, e logo são ouvidos e seguidos pela
maioria.
Para conhecê-los é bastante examinar-lhes os frutos. A maior
parte das heresias, com poucas exceções,
foram propagadas por homens da hierarquia, bispos, patriarcas e padres e
simulavam santidade. Mas quais foram os frutos das heresias? As divisões, as
rixas, os morticínios, os exílios, as rapinas, as guerras, a profanação da
igrejas e dos sacramentos. Na verdade, a boa árvore dá bons frutos, a árvore
má, maus frutos. Não é possível que uma árvore má produza bons frutos. Se os
frutos são maus, é sinal evidente da maldade da árvore. Os péssimos frutos da
heresia, do erro, das falsas religiões estão a mostrar a sua corrupção.
"Toda árvore que
não dá bom fruto será cortada e lançada ao fogo". Caríssimos, é mister
considerarmos atentamente esta palavra do divino Salvador: "QUE NÃO DÁ
BONS FRUTOS". Jesus Cristo não disse: que
dá maus frutos. Na verdade, há muitos cristãos que creem ter cumprido toda
justiça, porque pretendem não ter feito o mal, não ter matado, nem roubado, não
ter, em uma palavra, feito mal a ninguém. Segundo a palavra do divino Mestre,
no entretanto, não é suficiente não ter feito o mal mas é preciso ter feito o
bem. Com efeito, toda criatura neste mundo tem uma missão a cumprir, desde um
pé de erva até o sol; com muito mais razão o homem, a obra-prima e o rei da criação. O Evangelho,
todas as vezes que fala do reino dos céus, representa-o como o preço do
esforço, do trabalho, do sacrifício. É um reino que é preciso conquistar e só
os valorosos o arrebatam; é um negócio que é mister realizar, uma vinha que é
preciso cultivar, uma casa que é necessário administrar. A inação, a ociosidade
aí são condenadas com persistência. Diz o profeta Rei: "Afastai-vos do mal e fazei o bem" (Salmo XXXVI, 27). E o
mesmo diz o profeta Isaías: "Cessai
de fazer o mal, aprendei a fazer o bem" (Is. I, 16 e 17).
"Nem todo aquele
que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas, o que faz a vontade
de meu Pai que está nos céus, este é que entrará no Reino dos céus". Estas
palavras do Divino Mestre são um desenvolvimento e comentário das precedentes
que supra comentamos. Com efeito, dizer: Senhor, Senhor, é, na verdade
reconhecer a divindade de Jesus Cristo. A fé é coisa boa, necessária,
indispensável. Dizer: Senhor, Senhor, é bom outrossim porque é orar. A oração,
as práticas piedosas são úteis, necessárias mesmo, e muito recomendadas por
Jesus Cristo e pela Igreja. Mas isto não é suficiente: é mister juntar as
obras. Jesus di-lo formalmente: Entrará
no reino dos céus aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.
Mas esta vontade onde se encontra expressa? No Evangelho, nos mandamentos de
Deus e nos ensinamentos e preceitos da Igreja, que não são outra coisa que o
comentário e a aplicação das leis de Deus.
Caríssimos, depois da união da natureza humana com a divina,
que adoramos em Jesus Cristo, e da união da maternidade com a virgindade, que
honramos em Maria Santíssima, não há nenhuma mais admirável que a da nossa
vontade com a do Senhor. Este abandono filial, que nos entrega inteiramente nas
mãos de Deus, é a mais bela vitória da graça sobre a nossa vontade, sem ofender
o nosso livre arbítrio. Através desta união, adquiro uma admirável semelhança,
uma espécie de parentesco com Jesus Cristo. Ele desceu à terra, nela viveu e
morreu, só para fazer a vontade de seu Pai. Com esta virtude, não temos outro
alimento senão o que tem Jesus Cristo. Entro na sua família, torno-me seu
irmão, sua irmã, sua mãe (Cf. S. Mateus XII, 50). Elevo-me até Deus, tomando a sua
vontade por norma da minha; nisto consiste a verdadeira santidade. Pois, quando
faço a vontade do Senhor e obedeço à direção de sua suma sabedoria, posso,
acaso, enganar-me? E, quando procedo conforme com a santidade infinita, posso
pecar?
"Ó meu Deus, quando estiver perfeitamente unido a Vós,
não terei já tribulação nem dor; então a minha vida será cheia de alegria,
porque eu mesmo serei cheio de Vós" (S. Agostinho). Amém!
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