LEITURA ESPIRITUAL
MEDITADA
Na preparação para o comunhão.
Na Hóstia Consagrada, ó meu dulcíssimo Jesus, eu Vos
contemplo como quando estavas sobre a Cruz na hora do grande sacrifício. Oh!
com qual púrpura Vos adornais sobre o trono do Vosso amor! Sangue,,, Sangue...
Sangue... desde a extremidade dos pés até ao vértice da cabeça é tudo uma
ferida... O Sangue corre de mil chagas... Madalena apoiada sobre o pé da Cruz
salpicada deste Sangue, os anjos vindos do Céu recolhem-no em cálices de
ouro... Ó Jesus, de todo este Sangue não haverá um pouco também para mim? Estou
tão sedento!... não poderíeis derramar também um pouco no cálice do meu
coração? Bastar-me-ia uma gota, dai-me, ó Jesus, esta gota de Vosso
Preciosíssimo Sangue redentor e purificador!
À vista de tanto Sangue eu deveria fugir para longe, como da
presença dum meu delito, como Caim fugiu ao ver o sangue de Abel, porque fui eu
que vo-Lo tirei das veias na hora da minha insensatez e da minha loucura.
Contudo, embora Ele me grite bem alto com voz de reprovação, eu sei que é muito
mais forte a voz do Vosso amor. Dei-Vos a morte, ó Jesus; contudo Vós amais-me
sempre. Dei-Vos a morte, mas sabeis que estou arrependido da minha crueldade,
sabeis que tenho chorado os meus pecados e que quisera apagar-lhes as mais
leves manchas mesmo que fosse preciso sacrificar-me totalmente por Vós. Dei-vos
a morte, mas Vós já me perdoastes, e estais prestes a vir visitar-me e
tratar-me com tal ternura como se eu nunca Vos tivesse ofendido. Aqui estou
como Madalena ao pé da vossa Cruz. Quereis que a lembrança e o testemunho do
meu delito se convertam em prova do Vosso amor e da minha felicidade; quereis
que aquele Sangue que a minha insensatez Vos fez sair das veias desça ao meu
coração a levar-lhe o calor da sua ternura. Espero que digais de mim o mesmo que
dissestes de Maria Madalena: "Muitos pecados lhe foram perdoados, porque
muito amou! Assim, ó Jesus, espero-Vos, desejo-Vos, quero ter a suma dita de
ter-Vos sempre juntinho do meu coração.
Fico encantado em ver a sorte das santas mulheres do
Calvário; quero também eu experimentar o que seja aquele Sangue que, ó Jesus,
Vos caiu abundante das mãos, dos pés, da fronte, do Coração, que corre copioso
a santificar as almas. Quero também eu ver até onde chega a Vossa generosidade
em derramá-Lo pela salvação do mundo... quero ser ainda mais venturoso que
aquelas piedosas mulheres. Elas viram o Vosso Sangue com os olhos, eu quero
recebê-Lo em meu coração, pois, na Hóstia Consagrada está também o Sangue de
Jesus. As santas mulheres recolheram talvez algumas gotas e levaram-nas consigo
depois da Vossa morte, ó Jesus. Eu quero recolhê-Lo todo e tê-Lo comigo
enquanto me durar a vida: elas ajudaram Maria a lavar as manchas de Sangue do
Vosso Corpo depois que morrestes e fostes descido da Cruz; eu, pelo contrário,
quero que o Vosso Corpo fique unido ao Vosso Sangue, e que um e outro alimentem
a minha alma; elas viram-No, contemplaram-No, mas com os olhos cheios de
lágrimas e o coração despedaçado pela dor; eu, pelo contrário, quero gostá-lo, inebriar-me
de amor com Ele, para gozar comigo uma hora de felicidade santa e celestial.
E vós, ó Jesus, não vindes de boa vontade dar-me o Vosso Sangue?
Mas a quem o dareis senão a uma alma que tanto O deseja e que tanto necessita
d'Ele? Se me prometestes que me tornaríeis participante do Vosso reino, não é
justo que eu participe também da Vossa púrpura? Ó Jesus, desejo ardentemente a
Vossa vinda ao meu coração! Espero que nele estareis melhor que no Calvário. Lá
o Vosso Sangue caiu em parte sobre um tronco duríssimo da cruz, em parte sobre
um terreno sem sentimento nem beleza, e quem sabe quanto não terão os algozes
calcado aos pés! No meu coração não encontrareis por certo aquela dureza, nem
Vos farei um acolhimento insensato, ninguém ousará calcá-Lo aos pés, não, não,
pela vossa graça; nem uma só gota será profanada, mas todo, todo será
recolhido, adorado, amado com a ternura devota dum coração que quer viver todo
realmente inebriado de amor por Vós, ó dulcíssimo Jesus. Amém!
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