"Deus Nosso Salvador quer que todos os homens
se salvem" (cf. 1 Tim. II, 4).
Falamos anteriormente da graça santificante que é um hábito
na alma e, portanto, permanente e só é perdida com a pecado mortal. Aqui neste
artigo, falaremos das graças atuais que são passageiras. E é neste sentido que
fala Santo Agostinho: "Temo a Jesus que passa e não volta mais".
Deus, Nosso Senhor quer a salvação de todos os homens.É uma
verdade de fé: "Assim, não é a
vontade de vosso Pai que está nos céus, que pereça um só destes pequeninos"
(S. Mateus XVIII, 14). Deus, nosso Pai que está no céu, quer que todos os seus
filhos se salvem, ou seja, que um dia, vão morar na sua verdadeira casa que é o
Céu. Para tanto, dá as graças suficientes. Deus não quis, anteriormente à previsão
dos méritos e dos pecados, salvar uns e perder outros; nem tão pouco tenha
pensado assim: quero antes de tudo, e a todo custo, salvar Pedro e perder
Judas, e por isso vou conceder a Pedro graças a que há de corresponder, e a
Judas graças que não há de corresponder. Absolutamente não! porque, no seu amor
infinito, Deus quer a salvação eterna de todos e poderá dizer a cada um dos
condenados: "Que deveria eu fazer
por ti que não tenha feito?" (cf. Isaías V, 4).
É bom, antes de nos aprofundarmos nesta meditação, ter em
mente estas palavras de Santo Agostinho: "Quais são os eleitos? Vós, se o
quiserdes" (In Ev. Joan., tr. 26, a. 2).
Há quem possa ser tentado a dizer: "O Céu foi preparado para
outros: pois bem, sede outros e o céu terá sido preparado para vós" (In
Ps. 126, n. 4).
Devemos também saber que, embora Deus queira não só a
salvação mas também a santificação de todos, e, para tanto, dá as graças
suficientes, é certo também que Ele não quer conceder a todos a mesma medida de
graças. É o que Jesus ensina com a parábola dos talentos. Agindo livremente,
por ser o Senhor de seus dons, e segundo os desígnios impenetráveis de sua
Sabedoria infinita, determina que uns recebam grandes graças e outros graças
menores. No que Deus faz para os menos favorecidos, fá-lo guiado sempre pela
bondade e pelo amor. Jesus, em uma aparição a Santa Maria de Jesus Crucificado,
Carmelita de Belém, disse: "Nenhuma alma se perde sem que eu lhe tenha
falado mil vezes ao coração".
Eis uma verdade que muitos não entendem e desejo de coração que venham a entendê-la pela explicação de S. João Damasceno: "Deus prevê que os pecadores obstinados não se aproveitarão dos seus convites, preferindo perder-se. Ele mantém, apesar disso, o decreto que os chama à existência, e pelo qual lhes dará tais e tais auxílios, com os quais poderiam alcançar a salvação. Mantém-na, porquanto ele, Senhor e soberano, não pode depender de seus súditos, nem ser tolhido e impedido em seus desígnios pela má vontade alheia. Não é possível que Deus seja obrigado, antes de conceder seus benefícios, a prostrar-se diante de suas criaturas, e lhes perguntar humildemente de que graças estariam dispostas a se aproveitar. Nesse caso, diz o Santo, seria o pecador quem havia de vencer a Deus, cujo poder limitaria" (Cf. Fé Ortodoxa, L. IV, cap. XXI).
Eis uma verdade que muitos não entendem e desejo de coração que venham a entendê-la pela explicação de S. João Damasceno: "Deus prevê que os pecadores obstinados não se aproveitarão dos seus convites, preferindo perder-se. Ele mantém, apesar disso, o decreto que os chama à existência, e pelo qual lhes dará tais e tais auxílios, com os quais poderiam alcançar a salvação. Mantém-na, porquanto ele, Senhor e soberano, não pode depender de seus súditos, nem ser tolhido e impedido em seus desígnios pela má vontade alheia. Não é possível que Deus seja obrigado, antes de conceder seus benefícios, a prostrar-se diante de suas criaturas, e lhes perguntar humildemente de que graças estariam dispostas a se aproveitar. Nesse caso, diz o Santo, seria o pecador quem havia de vencer a Deus, cujo poder limitaria" (Cf. Fé Ortodoxa, L. IV, cap. XXI).
Deus fez o homem livre e respeita-lhe a liberdade. Ora,
sendo livre, ele pode se aproveitar fielmente das graças divinas atuais que se
sucedem quase que ininterruptamente. Mas o homem pode também, mostrar-se menos
fiel, e, pela sua resistência ou negligência, colocar obstáculos, maiores ou
menores à torrente das liberalidades divinas. Na verdade, Deus não se deixa
vencer em generosidade; mas, também sente a ingratidão e, então, não dá tantas
graças atuais como daria se a alma fosse generosa e agradecida. Jesus reclamou
daqueles nove leprosos que curados no caminho, não voltaram para agradecer. E é
evidente que ao samaritano agradecido, Jesus concedeu mais graças: "Tua fé
te salvou". Caríssimos, que responsabilidade quando essa graça que tanto
custou a Jesus, se torna inútil por nossa culpa! Que ingratidão, que loucura!
Quão terríveis são as maldições proferidas por Jesus contra aqueles que abusam
de grandes graças: "Ai de ti, Corozain,
ai de ti, Betsaida... No dia do juízo haverá menos rigor para Tiro e para Sidon
do que para vós" . "E tu
Cafarnaum, que te elevas até ao céu, serás abaixada até aos infernos... Sim, eu
te digo, haverá menos rigor no dia do juízo para o pais de Sodoma que para ti"
(S. Mateus XI, 21-23).
Quando, por culpa da
pessoa, a graça de Deus se torna
estéril, também não serão tão frequentes como antes. Há também outro crime em
relação às graças divinas: a negligência. São Paulo admoesta seu discípulo
Timóteo: "Não negligencies a graça
que te foi dada" (2 Tim. IV, 14). "Por que, pergunta São
Francisco de Sales, não progredimos no amor de Deus como Santo Agostinho, S.
Francisco de Assis, Santa Catarina de Gênova, Santa Francisca Romana? É,
Teótimo, porque Deus ainda não nos concedeu essa graça. E por que não no-la
concedeu? Porque não correspondemos devidamente às suas inspirações"
(Trat. do Amor de Deus, 11, II). E o Santo da mansidão faz esta comparação: "Se
nos derem um remédio e o recusarmos por culpa própria, o remédio ficará sem
efeito. Se, em vez de o tomarmos todo, bebermos apenas um gole, não produzirá o
efeito desejado, e isto ainda por nossa culpa. Assim se dá com a graça:
pede-nos muito. Se não lhe dermos senão uma parte do que nos pede, ou se, em
vez de lhe darmos tudo de boa vontade, lho dermos com certa reserva, com certo
receio, e, por assim dizer, de mau grado, a graça não produzirá os efeitos
salutares que Deus desejava operar por seu meio; sem se tornar inteiramente estéril,
será, por nossa culpa, pouco fecunda". Muitas almas não progridem na vida
interior porque tem receio de fazer sacrifícios, não são dóceis. Jesus lhes
fala ao coração para pedir-lhes sacrifícios, como faz com todos os seus filhos;
estas almas tíbias, no entanto, encontram sempre pretextos fúteis para se
esquivar.
Deus quer a nossa santificação e, no entanto, seus planos de
bondade ficam tolhidos por aquelas almas que não querem fazer violência a si
mesmas, são pouco corajosas. São almas, que na prática, mesmo que não o digam,
se contentam em ser servas de Deus e recusam a amizade íntima com o seu Pai do
Céu. No fundo é falta de mortificação. Para, pois, corresponder aos desígnios
de Deus, seria necessário fazer violência a si mesmas, mortificar o seu corpo,
os seus gostos, reprimir a sua imaginação, conter as suas palavras, renunciar a
si mesmas constantemente. Preferem a mediocridade para poderem viver mais
suavemente. Temem as provações, as contradições, as humilhações. Tem-se a
impressão que estas almas temem ser santas! E, assim como a generosidade atrai
mais graças, esta negligência é castigada pelo escassez das graças. E aqui,
devemos ter em mente uma verdade assustadora: como jararacas dorminhocas, as
paixões mais degradantes se encontram sempre no fundo da alma humana, e basta
que Deus retire em parte suas graças, e diminua a sua proteção, para a alma
cair no lodo. Assim Deus castiga o pecado pelo próprio pecado, e recompensa a
virtude por um acréscimo de virtude. Sem dúvida, se a justiça é temperada pela
misericórdia, não é porém aniquilada. A bondade de Deus o incita a conceder
graças aos próprios pecadores; a justiça, porém, obriga-O a diminuí-las e a
punir o pecado, deixando-o produzir, ao menos em parte, seus funestos efeitos.
As graças escolhidas que Deus dá às almas dóceis, generosas e gratas, recusa-as
às almas tíbias, mesquinhas e ingratas.
Mais uma importante observação: uma única resistência à
graça já causa uma grande perda espiritual, mas uma longa série de
infidelidades e o hábito de afastar as inspirações divinas, produz efeitos
ainda mais funestos. Eis uma verdade constatada nas almas: os pecadores voltam
aos seus pecados, os medíocres à sua mediocridade, as almas fervorosas à sua
habitual generosidade. "Quem tem, ser-lhe-á dado mais ainda, o que não tem
muito, até o pouco que tem lhe será tirado". Aí está a explicação entre os
perfeitos e os não perfeitos. Os primeiros são sempre dóceis ao Divino Espírito
Santo; os segundos são sempre ou quase sempre negligentes e resistem ao Divino
Espírito Santo.
Caríssimos, já que tantas vezes ouvimos a voz de Deus, não
queiramos endurecer o nosso Coração. Sejamos cumpridores dos nossos deveres em
relação ao Doce Hóspede e Santificador de nossas almas: nunca expulsar da alma
pelo pecado mortal, o Espírito Santo; nunca contristar na alma pelo pecado
venial deliberado, o Espírito Santo, e nunca resistir às inspirações do
Espírito Santo. Amém!
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