"Irá o homem à casa de sua eternidade" (Eclesiástico XII,
5).
"Morro todos os
dias": São Paulo fala da morte mística, mas o mesmo podemos dizer da
física. Somos como as velas acesas no altar: à medida que estão iluminando,
estão simultaneamente se extinguindo. Enquanto vivemos e porque vivemos,
estamos morrendo, caminhando para o fim desta vida passageira e aproximando-nos
da vida que não passa, isto é, para a eternidade. "Não temos aqui cidade
permanente, mas vamos buscando a futura" (Hebr. XIII, 14). A terra,
portanto, não é nossa pátria, mas apenas lugar de trânsito. Como diz São Pedro,
nós somos peregrinos e estrangeiros aqui neste mundo. Estamos viajando sem
parar para a outra vida que não passa porque eterna. Ou feliz ou infeliz
ETERNAMENTE! Assim um dia, uma cova será a morada no nosso corpo até o dia do
Juízo Final no fim do mundo, e nossa alma, logo após o juízo particular que se
dará logo após a morte, irá à casa da eternidade, ao céu, ou ao inferno. Por
isso nos diz Santo Agostinho: "És hóspede que passa e vê. Néscio seria o
viajante que, tendo de visitar de passagem um país, quisesse empregar ali todo
o seu patrimônio na compra de imóveis, que ao cabo de poucos dias teria de
abandonar. Considera, por conseguinte, que estás de passagem neste mundo, e não
ponhas teu afeto naquilo que vês. Vê e passa, e procura uma boa morada, onde
para sempre poderás viver".
Diz Santo Afonso: "Feliz de ti se te salvas!... quão
formosa a glória!... Os palácios mais suntuosos dos reis são como choças em
comparação à cidade celeste, única que se pode chamar Cidade de perfeita formosura (Lam. II, 15). Ali não haverá nada que
desejar. Vivereis na gozosa companhia dos Santos, da divina Mãe de Nosso Senhor
Jesus Cristo e sem recear nenhum mal. Vivereis, em suma, abismados num mar de
alegrias, de contínua beatitude, que durará sempre": "Os remidos pelo Senhor voltarão e virão a Sião, cantando os seus
louvores; e uma alegria eterna coroará a sua cabeça, possuirão gozo e alegria,
e deles fugirá a dor e o gemido" (Isaías XXXV, 10). E esta alegria
será tão grande e perfeita, que por toda a eternidade e em cada instante
parecerá sempre nova... O que é infinito não se esgota, não enjoa.
Mas há a eternidade infeliz. Não podemos omitir esta verdade,
e, até, o devemos nela meditar para termos mais força para não pecar.
"Desçamos vivos em espírito ao inferno para não descermos lá, depois da
morte, com a alma; e no fim do mundo, também com o corpo por todo
eternidade", dizia um santo. Quem
negar o inferno seria um herege. Jesus disse claramente: "A vós, pois, meus amigos, vos digo: Não
tenhais medo daqueles que matam o corpo, e depois nada mais podem fazer. Eu vos
mostrarei a quem haveis de temer: temei aquele que, depois de matar, tem poder
de lançar no inferno; sim eu vos digo, temei este" (S. Lucas XII, 4 e
5). Não menos claramente falou o divino Mestre ao discorrer sobre o Juízo
Final: "Esses [os injustos] irão
para o suplício eterno, os justos para a vida eterna" (S. Mateus, XXV, 46). Nossa Senhora mostrou
às três crianças de Fátima, o inferno como um mar de fogo. Quem se condenar
sentir-se-á submerso neste mar de fogo, desesperado porque pensará a todo
momento que dali não sairá jamais. E pior, ali o condenado estará privado
eternamente da visão beatífica de Deus. Embora não possamos imaginar como é, a
Teologia nos garante que esta pena chamada do dano, é a maior que possa
existir: é pior que o fogo, e todos os demais tormentos possíveis. E o
condenado sofre a eternidade dos tormentos, e o tormento da eternidade. Estará
sempre pensando que aquele sofrimento nunca diminuirá nem acabará. É o peso da
eternidade.
São João Crisóstomo, considerando que aquele rico,
qualificado de feliz no mundo, foi logo condenado ao inferno, enquanto que Lázaro,
tido como infeliz porque era pobre, foi depois felicíssimo no céu, exclama:
"Ó infeliz felicidade, que trouxe ao rico eterna desventura!... Ó feliz
desdita, que levou o pobre à felicidade eterna!"
Sou réprobo ou predestinado? Só depende de cada um querer.
Queres morrer bem e ir para o Céu, viva bem! Tal vida, tal morte! É o que diz o
Espírito Santo através de uma comparação: "Se a árvore cair para a parte do meio-dia, ou para a do norte, em
qualquer lugar onde cair, aí ficará" (Eclesiastes. XI, 3). Assim, se a pessoa viver sempre voltado para
Deus, quando sua alma sair do corpo, ficará com Deus; mas se ficou tombada para
o lado do pecado onde está o demônio, quando vier a morte, ficará eternamente
em companhia dos demônios: "Ide malditos para o fogo eterno, preparado
para os demônios e seus SEGUIDORES" (S. Mateus, XXV, 41). "Irá o homem à casa de sua eternidade"
(Eclesi. XII, 5). "IRA", para significar que cada qual há de ir à
morada que quiser. Não será levado, mas irá por sua própria e livre vontade.
"Deus quer certamente, afirma Santo Afonso, que nos salvemos todos; mas
não quer salvar-nos à força. Põe diante de nós a vida e a morte (Ecles. XV, 18)
e ser-nos-á dado o que escolhermos". Jeremias diz também o mesmo,
acomodando aqui o sentido: "Isto diz
o Senhor: Eis que ponho diante de vós o caminho da vida e o caminho da
morte" (Jeremias, XXI, 8). A
nós cabe escolher. Mas quem se empenha em andar pela senda do inferno, como
poderá chegar ao Céu? Exclama Santo Agostinho: "Quem será tão louco que
tome veneno mortal com esperança de curar-se? No entanto, quantos insensatos se
dão a morte a si próprios, pecando, e dizem: mais tarde pensarei no remédio...
Ó deplorável ilusão, que a tantos tem arrastado ao inferno!" Dizia Santo
Euquério: "Se tanto trabalho se dá o homem para adquirir uma casa cômoda,
espaçosa, saudável e bem situada, como se tivesse certeza de que a poderia
habitar durante toda a vida, por que se mostra tão descuidado quando se trata
da casa que deve ocupar eternamente: "Negotium
pro quo contendimus, aeternitas est. E dizia São Gregório Magno: "Em
se tratando da eternidade, todo cuidado é pouco!". Quando Santo Tomás
Morus foi condenado à morte por Henrique VIII, Luísa, sua esposa, procurou
persuadi-lo a consentir no que o rei queria (aprovar o seu adultério). Tomás
lhe replicou: Dize-me, Luísa: quanto tempo ainda poderei viver? - Poderás viver ainda uns vinte anos - disse
a esposa. - Oh! triste negócio! -
exclamou então Tomás. Por vinte anos de vida na terra, querias que
perdesse uma eternidade de ventura e que me condenasse à eterna desdita?"
Caríssimos, se a doutrina da Eternidade (Céu e Inferno)
fosse apenas uma opinião PROVÁVEL, ainda assim deveríamos procurar com empenho
viver bem para não nos expormos, caso essa opinião fosse verdadeira, a ser
eternamente infelizes. Mas esta doutrina e certíssima, é dogma de fé. O Divino
Mestre falou, e muitas vezes, tanto sobre a existência do Céu, como sobre a do
inferno. Reavivemos a nossa fé: "Creio na vida eterna!" Amém!
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