LEITURA
ESPIRITUAL - Dia 25 de outubro
"13. O terceiro mal para o qual é preciso achar um
remédio é particularmente próprio dos homens dos nossos dias. Com efeito, os
homens dos tempos passados, mesmo quando com excessiva paixão procuravam as
coisas terrenas, contudo não desprezavam totalmente as celestes; antes, os mais
sábios entre os próprios pagãos ensinaram que esta nossa vida é um lugar de
hospedagem e uma estação de passagem, antes que uma morada fixa e definitiva. Ao
contrário, muitos dos modernos, embora educados na fé cristã, procuram de tal
modo os bens transitórios desta terra, que não somente esquecem uma pátria
melhor na eternidade bem-aventurada, mas, por excesso de vergonha, chegam a
cancelá-la completamente de sua memória, contra a advertência de S. Paulo:
"Não temos aqui uma cidade permanente, porém demandamos a
futura"(Hebr. 13, 14). Quem quiser examinar as causas desta aberração logo
notará que a primeira delas é a convicção de muitos de que o pensamento das
coisas eternas extingue o amor da pátria terrena e impede a prosperidade do
Estado. Calúnia odiosa e insensata. E, de fato, os bens que esperamos não são
de natureza tal que absorvam os pensamentos do homem até o ponto de o distrair
inteiramente do cuidado dos interesses terrenos. O próprio Cristo, embora recomendo-nos
procurarmos antes de tudo o reino de Deus, com isto nos insinua que não devemos
descurar tudo o mais. E, de fato, se o uso dos bens terrenos e dos gozos
honestos que deles derivam servem de estímulo à virtude; se o esplendor e o
bem-estar da cidade terrena - que depois redundam em glória da sociedade
humana -
são considerados como uma imagem do esplendor e da magnificência da
cidade eterna, eles não são nem indignos de homens racionais, nem contrários
aos desígnios de Deus. Porque Deus é ao mesmo tempo autor da natureza e da
graça; e por isto não pode ter disposto que uma obsta à outra e estejam entre
si em luta; mas, ao contrário, que, amigavelmente unidas, nos guiem, por uma
trilha mais fácil àquela eterna felicidade a que, embora mortais, somos
destinados.
14. Mas os homens dados ao prazer e egoístas, que tal modo
mergulham e aviltam os seus pensamentos nas coisas caducas a ponto de não
saberem elevar-se a mais alto, estes, antes que procurarem os bens eternos
através dos bens sensíveis de que gozam, perdem completamente de vista a
eternidade, caindo assim numa condição verdadeiramente abjeta. Na verdade, Deus
não poderia infligir ao homem punição mais terrível do que abandonando-o por toda
a vida às seduções dos vícios, sem ter jamais um olhar para o Céu.
As lições dos
mistérios gloriosos
15. A este perigo não estará exposto aquele que, rezando o
santo Rosário, meditar com atenção e com freqüência as verdades contidas nos
mistérios gloriosos. Desses mistérios, com efeito, brilha na mente dos cristãos
uma luz tão viva, que nos faz descobrir aqueles bens que o nosso olho humano
nunca poderia perceber, mas que Deus
- assim o veremos com fé
inabalável - preparou
"para aqueles que o amam". Deles aprendemos, além disto, que a
morte não é um esfacelamento que tudo perde e destrói, mas sim uma simples
passagem e uma mudança de vida. Aprendemos que o caminho do céu está aberto a
todos; e, quando observamos Cristo que volta ao Céu, recordamos a sua bela
promessa: "Vou preparar-vos o lugar". Aprendemos que haverá um tempo
em que "Deus" enxugará toda lágrima dos nossos olhos; em que não
haverá mais nem lutos nem pranto, nem dor, mas estaremos sempre com o Senhor,
semelhantes a Deus, porque o veremos como Ele é, bebendo na torrente das suas
delícias, concidadãos dos santos", em feliz união com a grande Mãe e
Rainha.
16. Uma alma que se nutra destas verdades deverá
necessariamente inflamar-se delas e repetir a frase de um grande Santo:
"Oh! como me parece sórdida a terra quando olho o Céu"; deverá
necessariamente alegrar-se ao pensamento de que "um instante de um leve
sofrimento nosso produz em nós uma medida eterna de glória". E,
verdadeiramente, só aqui está o segredo de harmonizar o tempo com a eternidade,
a cidade terrena com a celeste, e de formar caracteres fortes e generosos. E se
estes se tornarem muito numerosos, sem dúvida estará com isso consolidada a
dignidade e a grandeza do Estado; e florescerá tudo o que é verdadeiro, tudo o
que é bom, tudo o que é belo; florescerá em harmonia com aquela norma que é o
sumo princípio e a fonte inexaurível de toda verdade, de toda bondade e de toda
beleza.
17. Ora, quem não vê a verdade disso que havemos observado
desde o princípio, isto é, de que preciosos bens é fecundo o santo Rosário? O
quanto ele é maravilhosamente eficaz em curar os males dos nossos tempos, e em
opor um dique aos gravíssimos males da sociedade?
(Encíclica "LAETITIAE SANCTAE" de Leão XIII).
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