LEITURA
ESPIRITUAL - Dia 24 de outubro
A aversão ao
sacrifício
"9. O segundo mal funestíssimo, que Nós nunca
deploraremos bastante, porque ele sempre mais difusa e ruinosamente envenena as
almas, é a tendência a fugir da dor e a afastar por todos os meios as
adversidades. De feito, a maioria dos homens não consideram mais, como
deveriam, a serena liberdade do espírito como um prêmio para quem exercita a
virtude e suporta vitoriosamente perigos e trabalhos; mas excogitam uma
quimérica perfeição da sociedade, em que, removido todo sacrifício, se deparem
todas as comodidades terrenas. Ora, este agudo e desenfreado desejo de uma vida
cômoda debilita fatalmente as almas, que, mesmo quando não se arruínam
totalmente, ficam sem embargo, tão enervados, que primeiro cedem
vergonhosamente em face dos males da vida, e depois sucumbem miseravelmente.
As lições dos
mistérios dolorosos
10. Pois bem: ainda contra este mal é bem justificado
esperar do Rosário de Maria um remédio que, pela força do exemplo, pode
grandemente contribuir para fortalecer os ânimos. E isto se obterá se os
homens, desde a sua primeira infância, e depois constantemente em toda a sua
vida, se aplicarem, no recolhimento, à meditação dos mistérios dolorosos.
Através destes mistérios vemos que Jesus, "guia e aperfeiçoador da
fé", começou a fazer e a ensinar, a fim de que víssemos n'Ele próprio o
exemplo prático dos ensinamentos que Ele daria à nossa humanidade, acerca da
tolerância da dor e dos trabalhos; e o exemplo de Jesus chegou a tal ponto, que
voluntariamente e de grande coração, Ele mesmo abraçou tudo o que há de mais
duro de suportar. Com efeito, vemo-Lo como um ladrão, julgado por homens
iníquos, e feito alvo de ultrajes e de calúnias. Vemo-lo flagelado, coroado de
espinhos, crucificado considerado indigno de continuar a viver, e merecedor de
morrer entre os clamores de todo um povo. Consideremos a aflição de sua
santíssima Mãe, cuja alma não foi somente roçada, mas verdadeiramente
"traspassada" pela "espada da dor"; de modo que ela mereceu
ser chamada e realmente se tornou, a Mãe das dores.
11. Todo aquele que se não contentar com olhar, porém
meditar amiúde exemplos de tão excelsa virtude, oh! como se sentirá impelido a
imitá-los! Para esse , ainda que seja "maldita a terra, e faça germinar
espinhos e abrolhos", ainda que o espírito seja oprimido pelos
sofrimentos, ou o corpo pelas doenças, nunca haverá nenhum mal causado pela
perfídia dos homens ou pelo furor dos demônios, nunca haverá calamidade,
pública ou privada, que ele não consiga superar com paciência. É, pois,
realmente verdadeiro o dito: "É de cristão fazer e suportar coisas
"árduas"; porque todo aquele que não
quiser ser indigno desse nome não pode deixar de imitar Cristo que
sofre. E repare-se em que como resignação não entendemos a vã ostentação de um
ânimo endurecido à dor, como o tiveram alguns filósofos antigos; mas sim essa
resignação que se funda no exemplo d'Aquele que "em lugar do gozo que
tinha diante de si, suportou o suplício da Cruz, desprezando a ignomínia"
(Hebr. 12, 2); essa resignação que, depois de pedir a Ele o necessário auxílio
da graça, de modo algum recusa afrontar as adversidade; antes, alegra-se com
elas, e considera um lucro qualquer sofrimento, por mais acerbo que seja. A
Igreja Católica sempre teve, e tem ainda agora, insignes campeões de tal
doutrina: homens e mulheres, em grande número, em todas as partes do mundo, de todas
as condições. Estes, seguindo as pegadas de Cristo, em nome da fé e da virtude
suportam contumélias e amarguras de todo gênero, e têm como seu programa, mais
com os fatos do que com as palavras, a exortação de S. Tomé: "Vamos também
nós, e morramos com Ele" (Jo. 11, 16).
12. Oh! praza ao Céu que exemplos de tão admirável fortaleza
se multipliquem sempre mais, a fim de que deles brote segurança para a
sociedade, e virtude e glória para a Igreja".
(Encíclica "LAETITIAE SANCTAE" de Leão XIII).
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