"Embora fosse Filho de Deus, aprendeu (por experiência própria) a
obediência pelas coisas que sofreu; consumado (em perfeição), tornou-se a causa
da salvação eterna para todos os que lhe obedecem, sendo chamado por Deus
pontífice segundo a ordem de Melquisedeque" (Hebreus, V, 8 e 9).
Jesus Cristo é o novo Adão e representava toda a humanidade.
Destruiu o pecado e restituiu-nos a graça. Filho de Deus, uniu-se a uma raça
pecadora, embora o pecado O não tenha atingido pessoalmente. Mas tomou sobre Si
os pecados de todos os homens, como, aliás, profetizara Isaías: "(Deus) colocou sobre Ele a iniquidade de todos
nós" (Is. 53, 6). Jesus representa a todos, e, por isso mesmo,
satisfaz por todos nós. Tornou-se, por amor, solidário dos nossos pecados, e
nós, pela graça merecida por Ele na Cruz, tornamo-nos solidários das suas
satisfações.
E, caríssimos, o valor dos merecimentos de Jesus, é
infinito, porque Ele é um Deus. Sofreu como homem, isto é, na sua natureza
humana, no entanto, essas dores e o mérito que trazem é dum Deus. Donde,
conclui-se na Teologia que Jesus mereceu para nós, todas as graças e todas as
luzes. Eis o que diz S. Paulo: "...Dando
graças a Deus Pai,[q. nos deu seu Filho]que nos fez dignos de participar da
sorte dos santos na luz, o qual nos livrou do poder das trevas, e nos
transferiu para o reino do Filho do seu amor, no qual, pelo seu sangue, temos a
redenção, a remissão dos pecados" (Colossenses I, 12-14). Nosso Senhor Jesus
Cristo é a causa de nossa santidade e salvação. A força de santificação dos
sacramentos vem da Cruz; só têm eficácia em continuidade com a Paixão de Jesus.
E assim n'Ele possuímos tudo; nada n'Ele falta do que precisamos para a nossa
santificação. "Sua redenção é copiosa". como fora predito pelo
profeta Rei no Salmo 139, vers. sétimo. O sacrifício de Jesus Cristo, oferecido
em prol de todos, deu-Lhe o direito de nos comunicar tudo quanto mereceu. O
próprio Jesus declarou que quando fosse levantado na cruz, seria tão grande o
Seu poder, que atrairia a Ele todos aqueles que n'Ele tivessem fé (cf. João.
XII, 32 ). E, caríssimos, quando fitarmos o Crucifixo, pensemos nesta promessa
infalível do Nosso Pontífice Supremo; ela é a fonte da mais absoluta confiança.
Como argumenta São Paulo: Se morreu por
nós, sendo como éramos, seus inimigos, que graça de perdão, de santificação,
poderá recusar-nos agora que detestamos o pecado, que procuramos desapegar-nos
das criaturas e de nós mesmos para só a Ele agradar?
Mas, talvez alguém, um tanto envenenado por teorias
protestantes, pense que agora, basta crer que o Senhor Jesus nos salvou. Para
desfazer tal engano é suficiente refletirmos nestas palavras de São Paulo,
palavras estas profundas, embora aparentemente estranhas: "Eu que, agora, me alegro nos sofrimentos por vós e que completo
na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo pelo seu corpo, que é a
Igreja..." (Colossenses I, 24). Há uma verdade capital que devemos
meditar: O Verbo Encarnado, Chefe da Igreja, tomou a Sua parte das dores, a
maior; mas quis deixar à Igreja, que é o Seu Corpo Místico, uma parte de
sofrimento. Dissemos palavras "estranhas": porventura falta alguma
coisa aos sofrimentos de Cristo? Evidentemente que não, e Santo Agostinho
responde: "O Cristo total, é formado pela Igreja unida ao seu Chefe, à sua
Cabeça, que é Jesus Cristo. O Chefe sofreu tudo quanto devia sofrer. Só falta
que os membros se quiserem ser dignos do Chefe, suportem a sua parte de
dores". Temos, pois, como membros de Cristo, de nos unir aos Seus
sofrimentos. Cristo reservou-nos uma participação na Sua Paixão, mas, ao mesmo
tempo, colocou ao lado da Cruz a força necessária para a levar. É que, diz S.
Paulo, Jesus Cristo, "tendo experimentado o sofrimento, tornou-se para nós
um Pontífice cheio de compaixão" (Hebr. II, 17 e 18; IV, 15; V, 2).
Na Cruz Jesus Cristo representava a todos; mas, se sofreu
por todos nós, não nos aplica os frutos da sua imolação, se não nos associarmos
ao Seu sacrifício. E isto fazemos de três modos: 1º - Contemplando com fé e
amor a Jesus nos diferentes passos da Sua Paixão. Este deve ser o tema
principal de nossas meditações. Aliás ao rezarmos o Santo Rosário, fazemo-lo
todos os dias. Quem reza quotidianamente o Terço, nas terças e sextas-feiras,
faz esta meditação. Outro exercício muito benéfico às almas é a Via Sacra. E é
óbvio, devemos todos os anos participar com fé e muita devoção as Cerimônias da
Semana Santa.
2º - Participando com fé e grande devoção do Santo
Sacrifício da Missa. O próprio Jesus Cristo instituiu-o para perpetuar até ao fim do mundo, a memória e os frutos de
Sua oblação no Calvário. No Altar reproduz-se a mesma imolação que no Calvário.
É o mesmo Pontífice, Jesus Cristo, que se oferece ao Pai pelas mãos do
sacerdote. É a mesma vítima. A única diferença é a maneira de oferecer: no
Calvário foi cruenta, na Missa é incruenta. Caríssimos, participaremos de
maneira mais perfeita e completa se nos unirmos a Jesus também pela comunhão
sacramental.
3º - Associando-nos a Paixão de Jesus: fazemos isto na
medida em que suportamos por amor d'Ele, os sofrimentos e adversidades, que nos
desígnios de Sua Providência nos envia. A cada um de nós dá Deus também uma
cruz para levar. Devemos aceitá-la sem discutir, sem dizer: "Deus podia
mudar tal ou tal circunstância de minha vida". Nosso Senhor diz-nos:
"Se alguém quer ser meu discípulo, tome a sua cruz e siga-me". Nesta
aceitação generosa da nossa cruz, encontramos a união com Nosso Senhor Jesus
Cristo. Porque, notai bem, levando a nossa cruz, levamos realmente uma parte da
de Jesus. Jesus Cristo, que quis ser ajudado pelo Cirineu, diz-nos:
"Aceitai esta parte dos meus sofrimentos que, na minha divina presciência,
vos reservei no dia de minha Paixão". Digamos-Lhe com todo amor:
"Sim, divino Mestre, aceito esta parte de todo o coração, porque vem de
Vós". Tomemo-la por amor d'Ele e em união com Ele.
Caríssimos, as pessoas pouco espirituais e mais ainda, as
que seguem as máximas do mundo, não são capazes de entender esta linguagem da
cruz. Devem pensar que estamos aqui, mas a nossa Pátria definitiva é o Céu.
Jesus disse: "Foi necessário o Filho do Homem sofrer antes de entrar na
Glória"; e vamos pretender nós merecer o Paraíso, sem sofrer em união com
Jesus Cristo? Meditemos, então nesta palavra do Apóstolo: "O mesmo Espírito dá testemunho ao nosso espírito, de que somos
filhos de Deus. E, se somos filhos, também somos herdeiros: herdeiros de Deus e
co-herdeiros de Cristo; mas isto, se sofremos com Ele, para ser com Ele
glorificados. Efetivamente, eu tenho por certo que os sofrimentos do tempo
presente não têm proporção com a glória vindoura, que se manifestará em
nós" (Rom. VIII, 16-18). É isto que os santos tinham sempre em mente e
é com esta meditação que os mundanos
devem se converter. Dia virá, mais cedo do que pensamos, em que a morte estará
próxima; estaremos deitados no leito, sem movimento; os que nos rodeiam
fitar-nos-ão em silêncio, na impossibilidade de nos ajudarem; deixaremos de ter
contato com o mundo exterior; a alma estará a sós com Jesus. Saberemos então o
que é ter "estado com Ele em suas
provações"; ouvi-Lo-emos dizer, nesta agonia que é agora a nossa, suprema
e decisiva: "Não me deixaste na minha agonia, acompanhaste-Me quando Eu ia
para o Calvário, para morrer por ti; aqui estou Eu agora; estou ao teu lado
para te ajudar, para ti levar comigo; não temas, tem confiança, sou Eu!"
Poderemos, então, repetir com confiança a palavra do Salmista: "Por isso, ainda que ande nos meio da
sombra da morte, não temerei males, porque estás comigo. Tua vara e teu báculo
me consolaram" (Salmo XXII, 4).
Caríssimos, aprendamos as lições da Paixão de Jesus Cristo.
Contemplando a Jesus na Sua Paixão, perguntemo-nos se há em nós honra, estima
humana que defender, quando Ele sacrificou a sua pelos homens. Recorramos a
Ele, confiemos n'Ele tão cheio de humilhações, e consideremos como inestimável
vantagem ter parte nelas. Como beijar a cruz se não queremos honrá-la com o
nosso próprio sacrifício? Jesus rechaçou tudo que pudesse suavizar seus
tormentos. Sem dúvida foi plano Seu permitir que todos seus membros
sucessivamente ou em conjunto, fossem maltratados, de tal sorte que na cruz era
uma vítima perfeita e completa. Suficientemente sua vontade e máximas são
manifestas por nós em sacrifício: não somente sua honra senão também seu corpo.
Como ser discípulo de Jesus sem conformarmo-nos a estas máximas? Sem pô-las em
prática? O divino Salvador entregou seu corpo a todo sacrifício e todo ultraje
e nós queremos resguardar nosso corpo e tratá-lo com mais cuidado e veneração
do que se fosse uma relíquia. Queremos, por assim dizer, trazê-lo dentro de uma
caixa de algodão. "Fica bem, diz S. Bernardo, membros assim tão delicados,
debaixo de uma Cabeça coroada de espinhos? Os santos sim, são tradução fiel da
doutrina, sentimentos e exemplos de Jesus Cristo. São Francisco de Assis dizia:
"Devemos aceitar o Evangelho sem interpretações e adaptações
humanas". E sabemos como assim fez o "Poverello"!
Caríssimos, não imitemos a Barrabás que passando diante da
Cruz, diria talvez: "Eu devia estar crucificado no lugar deste homem; eu
estou livre e ele ... que se vire! Tais seriam em essência, nossos sentimentos
se não quiséssemos sofrer nada. Mas, pelo contrário, nunca devemos esquecer que
uma cruz que sabemos conservar secreta ou de que só falamos a Deus no fervor da
oração, é fonte de muitas graças. No espelho do Crucifixo procuremos ver o abismo
da divina misericórdia, a grandeza do divino Amor e o valor de uma alma. Um
Deus dá sua vida pelas almas!!! Vemos o excesso do amor de Deus em nos dando
todos os bens e vemos muito mais excessivo ainda este amor em tomar para Si
todos os nossos males.
Ó Jesus, ó meu Deus, não compreenderei eu que sois o único
Senhor cuja estima devo desejar e cujo vitupério devo temer? Ó doce Jesus, sede
a única e total paixão de minha vida, meu tudo, todo meu amor! Senhor, que eu
tenha não meras veleidades, mas que, por amor a Vós e em união convosco, eu
trabalhe, lute, faça penitência e carregue a cruz. Amém!
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