"Em todas as tuas obras, lembra-te dos teus novíssimos, e nunca
jamais pecarás" (Eclesiástico VII, 40).
A MORTE.
A morte é a separação da alma do corpo e o
total abandono das coisas deste mundo. Todos sabem que um dia devem morrer, mas
ninguém sabe onde e como morrerá. Você não sabe se a morte o surpreenderá na
sua cama ou no seu trabalho, na estrada ou em outro lugar. A ruptura de uma
veia, um infarto, um tumor que talvez já esteja crescendo em seu organismo, uma
queda, um acidente, um terremoto, um
raio e outras mil causas de que você nem suspeita agora, podem privá-lo da
vida. E isto pode acontecer daqui a um ano, a um mês, uma semana, a uma hora e,
talvez, apenas terminada a leitura desta meditação. Quantos se deitaram à noite
com boa saúde e de manhã foram encontrados mortos! Quantos ainda hoje morrem de
improviso! E onde se encontram agora? Se estavam na graça de Deus, felizes
deles! São para sempre bem-aventurados. Mas se estavam em pecado mortal, agora
estão eternamente perdidos! Diga-me, meu caro jovem, se você devesse morrer
neste instante, que seria de sua alma?
Embora o lugar e a hora de sua morte lhe sejam
desconhecidos; você sabe com certeza que vai morrer. Esperemos que a sua última
hora não venha de repente, mas aos poucos, por uma doença comum. De qualquer
modo virá um dia em que, estendido em sua cama, você estará prestes a passar à
eternidade assistido por um sacerdote e cercado por parentes que choram. Você
terá a cabeça dolorida, os olhos embaçados, a língua ressequida, um suor gélido
e o coração fraquíssimo. Assim que a alma expirar, seu corpo será vestido e
colocado num caixão. Aí os vermes começarão a roer suas carnes, e bem depressa
de você não restarão a não ser poucos ossos descarnados e um pouco de pó.
Experimente abrir um sepulcro e verá a que ficou reduzido aquele jovem antes
cheio de saúde, aquele rico, aquele ambicioso, aquele orgulhoso!
Meu caro filho, ao ler estas linhas, lembre-se de que elas
falam de você, como de todos os outros homens! Agora, o demônio, para induzi-lo
a pecar, procura desviar sua atenção destes pensamentos e escusá-lo de suas culpas,
dizendo-lhe não ser um grande mal aquele prazer, aquela desobediência, aquela
omissão da Missa no domingo ou em dia santo, e assim por diante; mas quando
chegar o momento da sua morte, será ele mesmo que vai lhe revelar a gravidade
destes e dos outros pecados, e vai lançá-los diante de sua consciência. Que
fará você então? Ai de você se, naquele momento, se achar em desgraça de Deus!
Não se esqueça, meu jovem amigo, de que daquele momento
depende a sua eterna salvação ou a sua eterna condenação. Duas vezes temos
diante de nós uma vela acesa: no Batismo e na hora da morte. A primeira vez
para fazer-nos ver os preceitos da Lei divina que devemos cumprir, e a segunda
para fazer-nos ver se os cumprimos. À luz daquela vela quantas coisas se verão!
À luz daquela vela, você verá se amou a Deus ou se O desprezou; se honrou seu
santo Nome ou se O blasfemou; você verá as festas profanadas, as Missas perdidas,
as impurezas cometidas, os escândalos dados, os furtos, os ódios, as soberbas
... Oh! meu Deus, verei tudo naquele momento em que se abrirá diante de mim a
porta da eternidade!
Grande e terrível momento do qual depende uma eternidade de
glória ou de sofrimentos! Você está compreendendo o que lhe digo? Eu lhe digo que
daquele momento depende o ir para o céu ou para o inferno; ser para sempre
feliz ou desesperado; para sempre filho de Deus ou escravo de Satanás; para
sempre gozar com os anjos e os santos no céu ou gemer e queimar para sempre com
os condenados no inferno! Por isso, prepara-se para aquele grande momento
fazendo logo um ato de contrição e, o mais depressa que você puder, uma boa e
santa confissão. Decida-se, depois, a viver sempre na graça de Deus, porque
como se vive assim se morre.
O JUÍZO PARTICULAR.
O juízo é a sentença que Jesus vai pronunciar no fim da
nossa vida, com a qual fixará o destino de cada um por toda a eternidade. Assim
que sua alma tiver saído do corpo, comparecerá diante do Juiz Divino, que lhe
pedirá conta rigorosa do bem e do mal que você praticou na sua vida. Num piscar
de olhos, como que numa luz repentina, você verá toda a sua vida posta em
confronto com a vontade de Deus. Então você ficará horrorizado com os pecados cometidos
dos quais não se arrependeu, com as orações desleixadas, com os escândalos
dados. Verá as almas que, com seus maus exemplos, levou ao pecado, as quais o
amaldiçoam no inferno e pedem sua condenação. Verá os demônios ansiosos para
arrastá-lo consigo e, embaixo, o inferno escancarado para recebê-lo. Você
tentará, então, levantar o olhar suplicante para a face de Cristo, mas não
conseguirá manter o olhar. Invocará o auxílio de Nossa Senhora, mas Ela não
poderá mais fazer nada por você. Então, não encontrando acolhida, gritará às
montanhas e às pedras que o cubram e o aniquilem, mas elas não se moverão. Sua
alma imortal não poderá de maneira alguma refugiar-se no nada. Nesta hora, você
mesmo, reconhecendo a Justiça de Deus, invocará o inferno como uma libertação!
Meu caro jovem, você está ainda em tempo de evitar um juízo
de condenação! Peça logo perdão a Deus de seus pecados e comece desde hoje uma
vida verdadeiramente cristã. Naquele dia tremendo, você será feliz por ter
amado a Jesus e ter observado seus mandamentos. Até os sofrimentos, que você
padece agora, ser-lhe-ão naquele momento fonte de alegria. Viva, portanto, hoje como
gostaria de ter vivido então!
O INFERNO.
Quem recusa Deus até o fim, isto é, até a hora da morte,
continuará a recusá-Lo para sempre. Por isso, a Justiça divina, respeitando a
livre escolha feita pela sua criatura, afasta-a para sempre de Si, deixando-a
caminhar para o destino de quem recusou o Sumo Bem para escolher o sumo mal, o
Inferno Eterno. A primeira pena que os condenados sofrem no inferno é a pena
dos sentidos, que serão atormentados por um fogo que queima terrivelmente sem
jamais se consumir. fogo nos olhos, fogo na boca fogo em todas as partes. Cada
sentido padece a própria pena conforme o
mau uso que dele fez em vida. Os olhos são aterrorizados pela vista dos
demônios e dos outros condenados. Os ouvidos só escutam uivos e prantos de
desespero. O olfato sofre com o mau cheiro do enxofre e a boca com sede e fome
canina.
O rico epulão, no meio dos tormentos do inferno, levantou o
olhar para o céu e pediu, suplicante, uma gota d'água para refrescar a ardência
de sua língua: mas até essa gota d'água lhe foi negada!
Oh! Inferno, Inferno! Quão infelizes são os que caem nos
teus abismos! Meu caro, jovem, se você devesse morrer neste momento, para onde
iria? Mas agora você não pode suportar um minuto o dedo na chama de uma vela
sem gritar de dor, como poderá suportar o tormento de todas aquelas chamas por
toda a eternidade?
A segundo pena que os condenados padecem no inferno é a pena
do dano. Esta é, sem comparação, mais terrível que a dos sentidos, porque é a
privação completa e eterna do Bem Infinito para o qual fomos criados. Como os
nossos pulmões têm necessidade do ar para viver, assim a nossa alma tem
necessidade de Deus; e como a morte por afogamento é a mais terrível que
existe, assim não há pena mais insuportável para a alma do que a necessidade
insopitável que sente de "respirar" Deus. Sem contar que o sofrimento
do afogado dura poucos minutos, enquanto que o padecimento do condenado dura
para sempre! E com a privação de Deus, o condenado é privado também da
companhia dos Anjos, de Nossa Senhora, dos Santos e dos seus caros defuntos,
que não verá nunca mais.
Caro jovem, como poderá ainda viver em pecado, agora que
você conhece que terríveis penas esperam quem não se decide a amar a Deus
verdadeiramente! Não adie a sua conversão! Tem certeza de que esta não será a
última chamada, e, se não corresponde a ela, não terá outras para salvá-lo do
inferno?
Considere, meu caro jovem, que se você for para o Inferno,
nunca mais dele sairá! Pois no Inferno não só se sofrem todas as penas, mas
todas eternamente. Passarão cem anos desde que você caiu no Inferno, passarão
mil anos e o Inferno terá apenas iniciado; passarão cem mil, cem milhões,
passarão mil milhões de séculos, e o inferno estará ainda em seu começo.
Se um Anjo levasse aos condenados a notícia de que Deus os
quer libertar do Inferno, depois de passados tantos milhões de séculos quantas
são as gotas d'água do mar, as folhas das árvores e os grãos de areia da terra,
esta notícia lhes causaria a maior satisfação. "É verdade -
diriam - que devem passar ainda tantos séculos, mas um
dia hão de acabar!" Pelo contrário, passarão todos esses séculos e todos
os tempos que se possam imaginar, e o Inferno estará sempre no princípio.
Se ao menos o pobre condenado pudesse enganar-se a si mesmo
e iludir-se pensando: "Quem sabe, um dia talvez Deus poderá me arrancar
deste tormento..." Mas não, nem isto será possível, porque foi o próprio
condenado que, na hora da morte, firmou sua vontade contra Deus a tal ponto que
não quer mudá-la mais agora que entrou na eternidade. Será ele mesmo a querer
para sempre aquelas chamas que o queimam, aqueles demônios que o atormentam, e
a rejeitar para sempre aquele Deus que
ele ofendeu!
Meu jovem amigo, compreende bem o que você está lendo? Uma
pena eterna por um só pecado mortal que, talvez, cometeu com tanta facilidade!
Escute, pois, o meu conselho: Se a consciência o acusa de algum pecado mortal
(mesmo que seja um só), vá depressa confessar-se e comece logo uma vida boa.
Para isto, escolha um santo sacerdote ao qual você poderá recorrer para pedir
conselho e, se necessário, faça uma confissão geral, ou seja, que abranja toda
a sua vida.
Lembre-se sempre de que, para não cair no Inferno, qualquer
sacrifício que você possa fazer é bem pouca coisa, porque todos os sacrifícios
que você possa fazer é bem pouca coisa, porque todos os sacrifícios deste mundo
duram pouco, enquanto que o Inferno dura para sempre!
O PARAÍSO.
Tanto apavora o pensamento do Inferno, quanto consola a
lembrança do Paraíso que Deus preparou para aqueles que O amam. Se você pudesse
gozar ao mesmo tempo de todas as alegrias deste mundo, desde as belezas criadas
até os alimentos mais saborosos, desde as músicas mais suaves até os afetos
mais puros, saiba que tudo isso é nada em comparação com as alegrias que o
aguardam no Céu!
Pense, com efeito, na alegria que experimentará
encontrando-se com os seus parentes e amigos, que virão correndo ao seu
encontro para acolhê-lo no meio deles; pense na beleza e nobreza dos Anjos e
dos Santos que, aos milhões, louvam ao seu Criador. No Céu você verá a grande
multidão de jovens que conservaram intacta a virtude da pureza e daqueles que a
reconquistaram pelo arrependimento e pela penitência: e os verá todos felizes
cumulados de uma felicidade que nunca lhes será tirada.
Mas saiba que todas as alegrias do Paraíso não são nada em
comparação com a alegria que se experimenta ao ver a Deus! Como o sol ilumina e
embeleza todo o mundo, assim Deus, com sua presença, ilumina e embeleza todo o
Paraíso e enche seus bem-aventurados moradores de delícias inefáveis. N'Ele
você verá, como num espelho, todas as coisas, gozará todos os prazeres, amará
todos os Santos do Céu.
São Pedro, no monte Tabor, por ter contemplado uma só vez o
rosto de Jesus radiante de luz, sentiu-se repleto de tanta doçura que, fora de
si, exclamou: "Senhor, como é bom estar aqui!" E ali teria ficado
para sempre. Pense, portanto, naquela sua alegria de poder contemplar e amar,
não por um instante apenas, mas para sempre, aquele rosto divino que encanta os
Anjos e os Santos e que embeleza todo o Paraíso!
E pense que alegria será para você contemplar e beijar o
rosto puríssimo e amável de Maria Santíssima, que na terra você invocou tantas
vezes e agora o recebe como filho caríssimo e o apresenta a Jesus!
Crie coragem, portanto, meu caro filho; se ainda lhe couber
padecer alguma coisa neste mundo, não importa; o prêmio que o aguarda no Céu
recompensará infinitamente todos os seus sofrimentos.
Então sim, você poderá dizer: "Estou salvo! Estarei
para sempre com o Senhor!" Então sim, você bendirá o momento em que deixou
o pecado, o momento em que fez aquela boa confissão e começou a frequentar os
Sacramentos, o dia em que deixou as más companhias, as más leituras e os maus
espetáculos... Então, cheio de gratidão,
você se voltará para Deus e Lhe cantará seus louvores por todos os séculos.
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