"Tirai as águas com alegria das fontes do Salvador" (Isaías
XII, 3).
Ouçamos em primeiro lugar, duas almas privilegiadas do
Sagrado Coração de Jesus, almas as quais Nosso Senhor Jesus Cristo fez
revelações importantíssimas sobretudo referentes aos sacerdotes. Penso não ser
supérfluo lembrar que estas revelações foram aprovadas pela Igreja e são
citadas frequentemente por escritores sábios e santos, e até mesmo por santos
canonizados pela Santa Igreja.
Por uma óbvia razão, cito primeiramente Santa Margarida
Maria Alacoque, religiosa da Visitação: "Oh! - exclama ela
- não poder eu dizer a todo mundo
o que sei desta amável devoção! Não sei de exercício mais próprio na vida
espiritual para elevar uma alma à mais alta perfeição. Nosso Senhor me
descobriu os tesouros de caridade e de graças para as pessoas que se
consagrarem a honrá-Lo e amá-Lo, e são tesouros tão grandes que dizer me é
impossível. Deu-me a conhecer que os que trabalham na salvação das almas,
alcançarão êxito maravilhoso e possuirão o segredo de tocar os corações mais
endurecidos, se estiverem penetrados de uma terna devoção a este Coração
divino. Jesus Cristo me assegurou que sentia um prazer todo especial em ser
honrado sob a figura deste coração de carne, e queria a sua imagem exposta em
público afim de tocar os corações insensíveis dos homens. Declarou-me que
derramaria em abundância no coração dos que O honrarem todos os tesouros de
graças de que está cheio, e que lá onde a sua imagem fosse particularmente
honrada atrairia toda sorte de bênçãos. O Sagrado Coração de Jesus é o tesouro
de todas as graças e a nossa confiança n'Ele é a chave deste tesouro. Ah! como
é doce morrer depois de ter tido uma devoção constante ao Coração daquele que
nos deve julgar".
Outra alma privilegiada do Sagrado Coração foi sem dúvida a
Madre Luisa Margarida Claret de La Touche. Fundou a "Aliança Sacerdotal
Universal dos Amigos do Sagrado Coração" e, sob os auspícios de S. Pio X,
fundou o novo instituto de "Betânia do Sagrado Coração", com a
finalidade de servir a Jesus Sacerdote nos seus sacerdotes. É fruto de suas
devotas contemplações o livro: "Le Sacré Coeur et le Sacerdote". Esta
piedosa religiosa, que foi dirigida do Padre Charier, faleceu em 1915 em odor
de santidade.
Em 1902, diz Mons. Ascânio Brandão, esta alma privilegiada
ouviu a doce voz de Jesus no sacramento do amor: "Se o sacerdote soubesse
que tesouros de amor lhe estão reservados no meu Coração! ... Que venha ao meu
Coração, e beba desta fonte e encha-se de amor, até transbordar e derramá-lo
sobre o mundo. Margarida Maria, continua Jesus, mostrou meu Coração aos homens,
tu mostra-O aos meus sacerdotes, atrai-os todos ao meu Coração..., quero
dar-lhes a conhecer um segredo todo particular do meu Coração ... Eu preciso
deles, para coroar minha obra ... Meu Coração é o cálice do meu Sangue; se há
alguém que tenha direito e obrigação de achegar-lhe os lábios, não é porventura
o sacerdote que bebe todos os dias do cálice do Altar? Venha, portanto, ele ao
meu Coração e beba" (Livro: Au service de Jésus Prêtre). E no outro livro:
"Le Sacré Coeur et le Sacerdote" diz: "É principalmente aos
sacerdotes que este Sagrado Coração quer manifestar-se, a esses chamados por
Ele para reacender e vivificar sobre a terra o fogo da caridade. Por sua
bondade inefável Ele quer ter necessidade deles, para completar seus desígnios,
e o que poderia operar diretamente nas almas, por meio da graça, não o faz - por
via de regra - senão mediante o concurso deles. Oh! se o
sacerdote soubesse que tesouros de ternura encerra para ele o Coração de Jesus!
Com que ardor se atiraria àquela fonte divina, para encher-se de amor, até
transbordar".
"Oh! diz o piedoso e sábio Mons. Ascânio Brandão,
bebamos o amor no Coração de Jesus e transbordemos em amor para as almas. A
missão do padre é acender nos corações o fogo divino do amor que abrasa o
Coração de Jesus! Não sejamos ingratos. Como ferem o divino Coração de Jesus, a
indiferença, a tibieza, a ingratidão dos seus padres! "Os outros, disse
Nosso Senhor a Santa Margarida, se contentam com açoitar o meu corpo, mas os
sacerdotes dirigem seus golpes diretamente ao meu Coração".
Assim, amados irmãos no sacerdócio, celebremos com muito
zelo as nove primeiras sextas-feiras para merecermos a promessa do Sagrado
Coração de Jesus. Propaguemos o culto do Coração de Jesus. "Aí , - diz
Mons. Ascânio Brandão, de santa memória,
- está o segredo do padre
fervoroso e das paróquias reformadas e afervoradas em pouco tempo. A tibieza é
o flagelo de muitos padres. Há um meio seguro para sair de um estado tão
lastimável: a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. É difícil, é um milagre sair
da tibieza um sacerdote que abusou tanto da graça, mas este milagre o tem
realizado centenas de vezes o Sagrado Coração de Jesus!"
"Oh! - exclama o Padre Santini, se todos os sacerdotes
soubessem conduzir com fé, para este tesouro, para este oceano de felicidade,
todos quantos sentem fome e sede de justiça! Como as almas fugiriam de boa
vontade dos manjares mortíferos! Como se negariam a beber junto das mil "cisternas rotas" (Jer. II, 3) que não
sabem matar a sede! Como, unido ao Sagrado Coração de Deus, encontraria o
coração completa satisfação na torrente de suas delícias (Salmo 35, 9), na paz
profunda que o mundo não pode dar!
"Quem beber da água que Eu lhe der, não terá mais sede" (S. João,
IV, 13). E que fontes de méritos, caríssimos colegas no sacerdócio, encontramos
neste sublime apostolado, nós os ministros do infinito Amor! Porque -
notai bem - se um alimento material, se um copo d'água
fresca oferecido por amor de Jesus, é digno de um prêmio eterno, que recompensa
deverá esperar aquele que concorre com Jesus, por seu amor, para saciar a fome
das almas, para extinguir a sede de Deus? Quem poderá descrever o agradecimento
do Redentor para com os sacerdotes que souberam verdadeiramente conduzir as
almas ao seu Coração, como o quer a Igreja, que é a coluna e o fundamento da
verdade!
"Mas, diz o Padre Santini, é na verdade uma dolorosa
contestação, fruto de uma longa experiência: dizei-me, quantas são as almas
sacerdotais que tomam a sério e verdadeiramente praticam uma sólida e constante
devoção ao Sagrado Coração? Quantos há que a propagam com zelo entre o povo?"
Diz o célebre e piedoso Mons. D'Hulst: "O mistério não consiste tanto no
fato de que existem almas nas quais Deus reina pelo amor, desde o momento em
que Deus é amor, e que se revela ao coração humano. O profundo mistério
consiste em que estas almas sejam tão raras e que a revelação do amor encontre
tão pouco acolhimento da parte da humanidade. Este mistério, sim, faz passar a
fé por uma dura prova! Como é possível que entre todos os patrões, seja o
Onipotente o menos bem servido?"
Precisamos, mais do que nunca, do grande apostolado da
Padroeira das Missões, Santa Teresinha do Menino Jesus: Rezar pelos padres!!!
E, caríssimos, como precisamos do Coração de Jesus, para nós padres debelarmos
esta crise terrível tanto na sociedade, como dentro da própria Igreja! Fenômeno
impressionante, pavoroso: a ignorância, a incredulidade, o ódio e a corrupção
atual, e pouco fagueiras as previsões do futuro. Os padres, infelizmente na sua
grande maioria, não propagam com zelo entre o povo, a devoção ao Sagrado
Coração de Jesus. E não procuremos, portanto, somente em outras fontes, a
origem de tantas defecções públicas e
particulares, de tantos deploráveis escândalos, desta lepra de impureza que contagia,
desta enxurrada de impiedade que tudo envolve e afoga, desta leviandade insana,
que leva sem motivo ao suicídio, como a um remédio radical, deste ceticismo que
se propaga sempre mais e sacrifica todo o ideal mais santo ao instinto brutal e
ao capricho, desta atmosfera paganizante que nos oprime pelas modas e
pornografia oferecidas pela televisão e Internet (usada para o mal), saturada
com os bacilos do pecado, impregnada de germens deletérios provindos de
depósitos em putrefação, deste vento de insensatez que sopra implacável sobre o
mundo, deste aborrecimento eterno, imenso, que se obstina em considerar a vida
sem valor, vive-se um paganismo: "Comamos e bebamos, porque amanhã
morreremos". Talvez mais do que nunca, Satanás é o príncipe deste mundo.
Pobre mundo que vai em procura de adivinhos, consulta os astros, as mãos, os
médiuns, os ciganos, os astrólogos e chega mesmo a consultar diretamente os
demônios, evoca os mortos, entra nos templos da teosofia, do espiritismo, do
ocultismo, da satanismo. Desconhece que tudo deve ser restaurado em Jesus
Cristo. Ignora os tesouros do Sagrado Coração de Jesus. No Concílio Vaticano
II, respirou-se ecumenismo, os Padres do Concílio (com poucas exceções) acharam
que a solução seria elogiar as falsas religiões, inclusive o Islamismo. Agora,
sofremos o castigo! Parece que os Padres do Concílio Vaticano II responderiam
às revelações do Sagrado Coração de Jesus em Paray (pelo menos na prática):
"Não entendemos nada, não Vos acreditamos, não nos interessa, não queremos
saber... nada compreendemos desta cruz, destes espinhos, deste sangue, destas
chamas!" Ah! caríssimos, como foi triste! E depois de mais de meio século
colhemos os frutos que mostram claramente que a árvore não era boa. Poderia
haver na própria Hierarquia da Igreja irreverência maior, insipiência mais
deplorável e mais injustificada?
Será que os Padres no Concílio Vaticano II, pelo menos em
sua grande parte, pensaram assim: vamos tomar como modelo o nosso Patrono, o
Santo Cura d"Ars? Infelizmente não, com certeza!. E o que S. João Batista
Maria Vianney dizia do Sagrado Coração? Exclama soluçando na sua lírica tão
simples e eficaz: "Oh! Coração cheio de amor, flor do amor! e a quem
amaremos nós, se não amamos o Coração de Jesus? Naquele Coração adorável não há
outra coisa senão amor: como é possível esquecer que está tão cheio de
amabilidade?"
O beato Pio IX dizia: "Pregai por toda parte a devoção
ao Sagrado Coração: ela deve salvar o mundo!"
O célebre jesuíta (jesuíta dos seus bons tempos) o padre
Quintana dizia assim: "A devoção ao Sagrado Coração é à Pessoa de Jesus
que ama e não é amado; honra-se nela não um Cristo fantástico e idealizado, mas
o mesmo Jesus do Evangelho e da Eucaristia, e considera-se a Pessoa de Jesus
real, naquilo que Ele nos oferece de mais nobre e de mais atraente, isto é, seu
amor. É ridículo, portanto, dizer: sou devoto de Jesus, mas não de seu Coração;
porque o Sagrado Coração é Jesus todo inteiro, Jesus que nos ama; é seu amor
expresso como em símbolo eficaz e natural, é seu amor centro de sua vida, e o
motor principal, antes único, de todas as suas ações; é seu amor considerado em
si mesmo, no seu complexo e na sua totalidade".
Caríssimos, daquele Coração divino saíram a Igreja, os
sacramentos e as graças todas de que dispomos. O Coração aberto de Jesus é a
fonte das águas da salvação. Tal é a doutrina dos Santos Padres: Como Eva saiu
do lado de Adão, assim a Igreja saiu do lado de Jesus, A água é símbolo da
batismo e o sangue é símbolo da Eucaristia.
Maria Santíssima e o escasso grupo que A rodeia: S. João
Evangelista, e as Santas Mulheres, ali no alto do Calvário, contemplam este
mistério, com sentimentos de dor, de compaixão, de adoração, de amor e
reparação e nos oferecem um modelo a imitar. É a primeira homenagem de amor e reparação
oferecida ao Sagrado Coração e o primeiro ato de sua devoção. Assim se revelou
e se estabeleceu pela primeira vez a devoção ao Sagrado Coração de Jesus com
seu objeto próprio, que é o mesmo Coração do Salvador, sede e símbolo do amor
com os motivos e atos que constituem esta devoção que são fundamentalmente amor
e reparação.
Eu Vos adoro, amoroso Coração de Jesus, que estás no Céu e
na SS. Eucaristia junto conosco! Com a suavidade de Vosso Coração, minhas dores
se dulcificam. Ó ferida feliz, aberta pela lança, fonte de graças que com ela
se nos abriu e não se fecha mais. Sagrado Coração de Jesus, eu confio em Vós.
Amém!
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