Extrairei este artigo, em quase sua totalidade, do COMPÊNDIO
DE TEOLOGIA ASCÉTICA E MÍSTICA escrito pelo célebre teólogo Padre Ad.
Tanquerey.
Caríssimos, primeiramente é de grande utilidade trazer aqui
a observação inicial do autor: "Sobre a ação do demônio, diz Tanquerey, há
dois extremos que evitar: há quem lhe atribua todos os males que nos sucedem; é
esquecer que existem em nós não só estados mórbidos que não supõem qualquer
intervenção diabólica, mas também as tendências más que vêm da tríplice
concupiscência, e que estas causas naturais bastam para explicar muitas
tentações. Outros há, pelo contrário, que, esquecendo o que a S. Escritura e a
Tradição nos dizem da ação do demônio, não querem admitir em caso algum a sua
intervenção. Para nos conservarmos no justo meio, a regra que devemos seguir é
não aceitar como fenômenos diabólicos senão aqueles que, ou pelo seu caráter
extraordinário, ou por um complexo de circunstâncias denotem a ação do espírito
maligno.
Como no artigo anterior já falei da possessão diabólica,
aqui, inspirando-me no Teólogo Tanquerey, falarei da obsessão diabólica. O que
é afinal? "A obsessão é em substância uma série de tentações mais
violentas e duradouras que as tentações ordinárias [dessas falarei em outro artigo].
"É externa, quando atua sobre os sentidos externos, por meio de aparições;
interna, quando provoca impressões íntimas. É raro que seja puramente externa,
visto o demônio não atuar sobre os sentidos senão para perturbar mais
facilmente a alma. Há, contudo, Santos que, com serem obsediados exteriormente
por toda a qualidade de fantasmas, conservam na alma uma paz inalterável".
1º - "O demônio pode atuar sobre todos os sentidos externos: a) Sobre
a
vista, aparecendo umas vezes em formas repelentes, para aterrar as
pessoas e afastá-las da prática das virtudes (...); outras, em formas
sedutoras, para atrair ao mal, como sucedeu frequentes vezes a Santo Afonso
Rodrigues. (Hoje podemos dar exemplos na vida do Padre Pio de Pietrelcina). b) Sobre o ouvido, fazendo escutar
palavras ou cantos blasfemos ou obscenos, como se lê na vida de Santa Margarida
de Cortona; ou fazendo algazarra, para atemorizar, como sucedia ao Santo Cura
d'Ars. c) Sobre o tato, de duas maneiras, infligindo golpes e feridas,
como se lê nas bulas de canonização de Santa Catarina de Sena, de S. Francisco
Xavier, e na vida de Santa Teresa (...).
Há casos, como nota o P. Schram, em que estas aparições são
simples alucinações, produzidas por uma super-excitação nervosa; ainda mesmo
nesse caso, são temerosas tentações.
2º - "O demônio atua também sobre os sentidos internos, a imaginação e a
memória, e sobre as paixões, para as excitar. Como contra a própria vontade, é
o homem invadido por imagens importunas, obsessoras, que persistem a despeito
de enérgicos esforços; sente-se empolgado pela efervescência da cólera, pelas
ânsias do desespero, por movimentos instintivos de antipatia, ou, ao contrário,
por ternuras perigosas e que nada parece justificar. Não há dúvida que é por
vezes dificultoso decidir se há obsessão verdadeira; mas, quando estas
tentações são juntamente repentinas, violentas, persistentes e difíceis de
explicar por uma causa natural,[sublinhado
meu] pode-se ver nelas uma ação especial do demônio. Em caso de dúvida, é
bom consultar um médico cristão, que possa examinar se estes fenômenos não serão
devidos a um estado mórbido..."
Como deve proceder o Diretor Espiritual em relação às
vítimas de obsessão diabólica? Diz Tanquerey: "Deve juntar a prudência
criteriosa com a bondade mais paternal.
a) É claro que não há de crer, sem provas sérias, numa
verdadeira obsessão. Haja, porém, ou não obsessão, deve o diretor ter compaixão
dos penitentes assaltados de tentações violentas e persistentes, e sustentá-los
com sábios conselhos (...). [O próximo artigo sobre as tentações poderá servir
já de orientação espiritual].
b) Se, na violência da tentação, se produziram desordens sem
consentimento algum da vontade, lembrar-lhes-á que não há pecado sem
consentimento. Em caso de dúvida, julgará que não houve falta, ao menos grave,
quando se trata de pessoa habitualmente bem disposta.
c) Tratando-se de pessoas fervorosas, perguntar-se-á a si mesmo
o diretor se essas tentações persistentes não farão talvez parte das provações
passivas... e neste caso, dará a essas pessoas os conselhos apropriados ao seu
estado de alma.
d) Se a obsessão diabólica é moralmente certa ou muito
provável, podem-se empregar, PRIVADAMENTE, os exorcismos prescritos pelo RITUAL
ROMANO, ou fórmulas resumidas: neste caso, é bom não prevenir a pessoa que se
vai exorcizá-la, havendo receio de que esta declaração lhe perturbe e exalte a
imaginação; basta avisá-la de que se vai recitar sobre ela uma oração aprovada
pela Igreja. Quanto aos exorcismos SOLENES, não é permitido empregá-los senão
com licença do Ordinário, e com as precauções..." [já expostas quando
falamos da possessão].
Quero expor um
exemplo que não é dado por Tanquerey mas é próprio meu, e dele fui testemunha: Faz já alguns anos quando fui transferido de uma paróquia para
outra. E a primeira coisa que topei na nova paróquia foi um caso que me pareceu
preternatural, ou seja, de uma ação do demônio. Um menino, aliás não
inteiramente normal mentalmente, mas também não esquizofrênico, o fato é que
este menino era molestado frequentemente. Suas roupas que estavam no varal
dentro de casa e à noite, eram jogadas
pelo chão. Às vezes, o menino amanhecia vestido de mulher. Embora à noite
ninguém visse e as portas e janelas fechadas, apareciam pedras e barros dentro
da casa onde estava o menino. O pároco já havia feito exorcismos e levou até o
Santíssimo para benzer a casa. Mas os fenômenos continuavam e por meses e
meses. Bom! Primeiro pedi que vigiassem dia e noite o menino. Ficou constatado
que não era ele que fazia tudo aquilo, mas o fato é que não viam ninguém
fazendo. Instruído já por um fato
acontecido em outra paróquia, disse para seus pais de criação que procurassem
averiguar bem se aquele menino era batizado. Todos achavam que sim, tanto que
já tinha feito a primeira comunhão e se confessava e comungava regularmente. Mas
fora constatado que não era batizado porque seus pais eram espíritas e o
"batizaram" no Espiritismo. Foi logo preparado e foi batizado. E a
partir do dia do batismo desapareceram todos aqueles fenômenos estranhos, e
creio que até hoje, porque nunca mais tive notícia a respeito. O feitiço virou contra o Feiticeiro!
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