"Homem velho" e "homem novo" são
expressões empregadas por São Paulo na Epístola aos Efésios. No capítulo IV,
17-19 o Apóstolo mostra os sinais inconfundíveis do "homem velho":
"Isto, pois, digo e vos rogo no
Senhor: que não andeis mais como os pagãos que andam na vaidade dos seus
pensamentos, os quais têm o entendimento obscurecido, (e estão)afastados da vida
de Deus pela ignorância que há neles, por causa da cegueira do seu coração, os
quais, desesperados se entregaram à dissolução, à prática de toda a impureza, à
avareza". Aí, caríssimos, está retratado o "homem velho". O
Apóstolo dos Gentios exorta os fiéis convertidos a se afastarem da vida
pecaminosa que antes levavam. Cada uma destas expressões sintetiza muita coisa!
"Viver como pagãos" significa guiar-se por uma consciência falsa e
enganadora que, pervertendo até o senso moral e religioso, não permite ao homem
distinguir entre o bem e o mal, entre o falsos deuses e o verdadeiro Deus. Daí
o crime é legalizado, as paixões são alforriadas de todas as leis, o vício é
exaltado, até o pecado chega a ser louvado. E não menor é o descalabro
religioso: onde todos os falsos deuses são reconhecidos, não há lugar para o Deus único e verdadeiro. A causa de
todas as maldades dos pagãos é justamente a rejeição do verdadeiro Deus.
Através das criaturas deveriam chegar ao Criador; e, no entanto, adoram as
criaturas. Tudo é deus, menos o verdadeiro Deus. E assim, surdos à voz da graça
que os chamava à conversão, preferiram o erro à verdade. Alheios a todas as
esperanças da eternidade, atiraram-se a toda sorte de imoralidade, chafurdando
no lodo da desonestidade e, pela avareza, deleitaram-se nos efêmeros bens deste
mundo. Este é o "HOMEM VELHO".
Mas antes de passar a explicar o lado antagônico a este, ou
seja, o "HOMEM NOVO", quero responder a uma possível objeção: Jesus
já veio ao mundo, não estamos mais no tempo do Paganismo. Devemos responder e
com grande tristeza que o paganismo antigo revive hoje no materialismo dos
nossos dias, e com a agravante justamente de termos diante dos olhos pelos
Santos Evangelhos, pela pregação dos Apóstolos e da Tradição bimilenar, o protótipo
de toda virtude, o 'HOMEM NOVO" por antonomásia, que é Nosso Senhor Jesus
Cristo. Daí o pecado dos pagãos modernos é maior. Mais urgentes outrossim, são
as exortações do Apóstolo. Quem não vê que às leis da moral evangélica os
homens tentam substituir as leis arbitrárias de uma moral independente e
situacionista; e as consciências, afastando-se do caminho reto, perderam a
verdadeira noção do justo e do injusto, do licito e do ilícito. O Cristianismo
Autêntico foi relegado entre as velharias, a Igreja de Sempre desprezada e até perseguida,
odiada em suas leis e no seu dogma. A adoração de Deus sucedeu a adoração do
homem. "Não podemos fechar os olhos, - dizia Pio XII, no Natal de 1941, -"ante
a triste visão da descristianização progressiva individual e social... Uma
anemia religiosa feriu muitos povos... e produziu nas almas tal vácuo que
nenhum simulacro de religião nem mitologia nacional ou internacional podia
enchê-lo. Com palavras e com fatos e com providências governativas, que outra
coisa se tem sabido fazer, há decênios, senão arrancar dos corações dos homens,
desde a puerícia até a velhice, a fé em Deus Criador e Pai de todos,
Remunerador do bem e Vingador do mal, desnaturando a educação e a instrução,
combatendo e oprimindo com a difusão da palavra e da imprensa, com o abuso da
ciência e do poder, a religião e a
Igreja de Cristo? (...) "Precipitado o espírito no abismo moral, por se
ter afastado de Deus e da prática cristã, que restava, senão que os
pensamentos, os propósitos, os cuidados, a estima das coisas, a ação e o
trabalho dos homens se voltassem e olhassem só para o mundo
material?". E podemos fechar os
olhos hoje e dizer que tudo vai muito bem?! Daremos severas contas a Deus se o
fizermos, e não estivermos dispostos a lutar contra esta descristianização
hodierna quase total.
Que é o "HOMEM NOVO"? São Paulo resume toda a
magnificência do "homem novo" nesta profundíssima expressão "foi
criado, segundo Deus, na justiça e na santidade da verdade". "Façamos
o homem à nossa imagem e semelhança" diz Deus ao criar o homem. "Eleva-te
minha alma - diz Bossuet - acima dos céus e dos espíritos celestiais. Nestas
palavras o teu Deus vem ensinar-te que, dando-te a vida não olhou para outro
modelo que não a si mesmo. Não quer Ele assemelhar-te nem aos céus, nem aos
astros, nem ao sol, nem mesmo aos anjos, ou arcanjos ou, ainda, aos próprios
Serafins. "Façamos - Ele diz - o homem à nossa imagem" e para melhor
clareza acrescenta: "à nossa semelhança" a fim de que nesta perfeita
criatura apareçam, tanto quanto for possível à sua condição, os nossos mesmos
traços"... (Elevações). Por isso o "homem novo" tem anseios
divinos. Não lhe bastam os conhecimentos humanos; eleva-se qual águia ao
conhecimento do seu Criador. O "homem novo" não fica satisfeito com a
felicidade temporária. Volta-se para a eternidade e aspira a própria felicidade
de Deus. A vida do "homem novo" é Jesus. Ele é o bom odor de Jesus
Cristo. Se, de um lado, vimos toda a ignomínia do "homem velho",
vimos, por outro, toda dignidade do
"homem novo". Amém!
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