Caríssimos, chegados que fomos, pela graça de Deus, ao término de mais um ano, será um santo e salutar pensamento fazer uma pequena meditação sobre a nossa vida, especialmente um exame de consciência sobre o ano que está terminando. Para tanto muito nos ajudarão algumas reflexões sobre a parábola da figueira estéril, feita pelo Divino Mestre e relatada por São Lucas no capítulo XIII de seu Evangelho.
Eis a parábola: "Um homem tinha uma figueira plantada na sua vinha, foi buscar fruto, e não o encontrou. Então disse ao cultivador da vinha: Eis que há três anos venho buscar fruto a esta figueira e não o encontro; corta-a; para que está ela ocupando terreno inutilmente? Ele, porém, respondendo, disse: Senhor, deixai-a ainda este ano, enquanto eu a cavo em roda e lhe lanço esterco; se der fruto, está bem. senão, cortá-la-ás depois".
Esta parábola, que ao primeiro aspecto, parece terrível, é pelo contrário, cheia de misericórdia. Se Deus estivesse resolvido a castigar-nos sem misericórdia, não nos teria prevenido assim tão claramente.
História do povo judeu, ela é também a história de muitas almas. Quantas, abusando da graça, ocupam na Igreja um lugar inútil.
O sentido geral desta parábola é o seguinte: Deus até certo ponto espera com paciência a conversão dos pecadores. Deus é o dono da vinha, sendo vinhateiro o próprio Jesus Cristo, que tudo fez para conseguir a conversão do seu povo de Israel e continua fazendo para salvar todas almas pela quais morreu na Cruz.
Façamos agora mais detalhadamente a aplicação desta parábola a cada um de nós: "Um homem tinha uma figueira plantada na sua vinha, foi buscar fruto, e não o encontrou". Devemos notar que Jesus antes de dizer esta parábola, havia pronunciado por duas vezes esta terrível sentença: "Se não fizerdes penitência, todos haveis de perecer". Depois dos cuidados que havia usado comigo, o Senhor decerto esperava achar em mim os frutos de santidade, ou dignos frutos de verdadeira penitência. Perguntemo-nos: será que Jesus os tem encontrado em mim? Parece-me ver essa figueira com as suas largas folhas; tudo favorecia a sua fecundidade; e todavia talvez era estéril. Em que estado me encontro a este respeito?
"Então disse o cultivador da vinha: Eis que há três anos venho buscar fruto a esta figueira e não o encontro; corta-a; para que está ela ocupando terreno inutilmente?" Caríssimos, quem sabe somos obrigados a dizer: Senhor, dizeis muito pouco; há mais tempo ainda, que eu engano a vossa esperança. Na verdade, mereci a terrível sentença: Morte, toma a tua gadanha, vai cortar o fio de uma vida praticamente inútil. E, talvez, ó que terrível!!! não tenha minha vida sido só inútil mas nociva e contrária aos planos divinos a meu respeito. Senhor, dai-me ainda mais algum tempo para eu fazer dignos frutos de penitência. Quero aproveitar o resto de tempo que me resta. Tenha paciência comigo, Senhor, que pagarei, com a vossa graça, toda a dívida.
"Ele, porém, respondendo, disse: Senhor, deixai-a ainda este ano, enquanto eu a cavo em roda e lhe lanço esterco; se der fruto, está bem, senão, cortá-la-ás depois". Para mim, como para a figueira, pediu-se uma delonga; Maria Santíssima desviou o golpe fatal, como, em Caná, conseguiu que Seu divino Filho antecipasse a sua hora, aqui conseguiu que a retardasse e ainda me desse a possibilidade de ter a alma fortalecida com o vinho da vida eterna.
Caríssimos, não esqueçamos, porém, que a excessiva bondade de Deus e de sua Mãe Santíssima, se dela abusarmos, atrairá sobre nós maior severidade. Portanto, demos frutos dignos de penitência: dignos de Deus e sua infinita misericórdia para conosco; dignos de mim também e dos meus interesses espirituais. Vamos detestar o mal que porventura tenhamos feito, tornar por outros caminhos como os Reis Magos, ter outro espírito e coração. Ajudai-me, Senhor; hoje começo; esta mudança será obra da vossa graça e da minha fidelidade. Amém!
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