Lemos o seguinte episódio na vida de Santo Antônio de Pádua: Enquanto estava atento aos seus jogos, o pequeno Antônio viu, um dia, um menino da sua idade: belo de uma beleza nova na terra. Mantinha ele o aventalzinho levantado, e girava em torno os olhinhos, como que desejoso de receber algum presente.
Perguntou-lhe o pequeno Antônio: "De onde vens? Como te chamas? Que você quer? - De onde venho? respondeu-lhe o encantador menino: Do céu. Como me chamo? O meu nome encontra-se escrito em letras de fogo sobre uma gruta em Belém; em letras de sangue sobre uma cruz em Jerusalém; em letras de ouro sobre todos os sacrários da terra. Sou o Menino Jesus, e ando em busca dos corações dos homens".
"Ó Menino Jesus, que quereis de mim!" suplicou o pequeno Antônio pressurosamente.
- "Antônio, dá-me o teu coração".
Hoje no Santo Natal, Jesus chama cada um de nós pelo nome e diz: "Dá-me o teu coração".
Mas, Menino Jesus, o meu coração não está preparado para vós, ele é muito diferente do de Antônio de Pádua. Infelizmente o pecado cavou nele tremenda voragem, um profundo poço lodoso e repelente.
Recorramos ao exemplo de um homem de grande santidade e pureza: São Geraldo Majella.
A São Geraldo, quando ainda menino sucedeu um caso tão belo que quase não pareceria verdadeiro, mas que é digno de fé porque foi examinado e reconhecido pela Igreja quando se tratou da sua beatificação.
Geraldo Majella era muito pobre e servia como empregado ao Bispo de Lacedônia. O bispo, indo viajar, deixou as chaves da casa com o pequeno empregado e deixou-lhe a ordem de apanhar água no poço que ficava em frente da igreja.
Na beira do poço, nem Geraldo saberia explicar como fora: em certo momento ele ouviu um baque na água, e eram as chaves da casa paroquial que lhe haviam escorregado dos dedos. Foi visto com a face pálida e cheia de espanto. Tendo nos olhos uma muda angústia, ele olhava para aquela escura profundeza. E agora, que fazer? Que lhe diria seu patrão que, pela idade e doenças, não era lá modelo de muita mansidão. Talvez o pusesse na rua. E para onde iria ele, sozinho, sem trabalho, sem teto? De repente luziu-lhe uma ideia. Atravessa, correndo, a praça, entra na catedral, e, do presépio apanha a imagenzinha do Menino Jesus.
"Menino Jesus - suplica Geraldo como se estreitasse, não uma figura de gesso, ma o próprio Menino Jesus de carne, vivo e respirante. - Só tu podes ajudar-me. Tu e ninguém mais: faze-me, pois, apanhar a chave!" Em seguida, amarrou o Menino Jesus à corda do poço e fê-lo descer devagarinho. Quando sentiu dentro da água, gritou-lhe lá para dentro com toda a força de sua esperança: "Menino Jesus, traze-me para cima a chave!' E começou a puxar a corda.
Um grito de alegria! Qual não foi a surpresa de todos que ali estavam quando viram nas mãozinhas da imagem do Menino Jesus as chaves. Geraldo apanhou-as da imagem, e depois, impelido como por um vento de alegria e de gratidão, correu a levar a imagem do Menino Jesus de novo para a manjedoura na catedral.
Caríssimos e amados irmãos, quando pecamos, perdemos as chaves do Paraíso, a graça de Deus. Com astúcia e mentira, o demônio fizera-as escorregar das nossas mãos, ou seja, das nossas almas. Só Jesus pode no-las restituir. Para nos arrancar do fundo do poço lodoso e repelente do pecado nos oferece a corda da Confissão. Náufragos que fomos, Jesus nos oferece esta segunda tábua de salvação.
Agora, Jesus quer vir ao nosso coração por Ele mesmo purificado, livre das águas imundas do pecado. Com que paz, com que alegria podemos agora nos aproximar da Mesa da Santa Comunhão. Temos aí o mesmo Jesus que nasceu em Belém, morreu em Jerusalém e ressuscitou imortal e impassível.
Na noite de Natal, São Caetano de Thiene velava em oração ardente diante do presépio, na basílica de Santa Maria Maior em Roma. Com a sua fé viva ele recompunha a história daquela noite santa, e parecia-lhe ser também ele um pastor a quem o Anjo anunciasse a grande alegria. Parecia-lhe acorrer também, pelas estradinhas rupestres, à gruta de Belém, onde com um fio de voz gemia o Onipotente, nascido menino.
E eis que, enquanto assim meditava, apareceu-lhe deveras a Virgem Maria carregando o Menino Jesus. E veio até ele, e sobre os seus braços abertos e trêmulos reclinou o pequenino Filho de Deus feito homem. E Caetano olhava-o, e ao seu coração de pobre homem estreitava aquele Coração de Deus, e sentiu em si o Paraíso.
Caríssimos e amados fiéis, reavivemos o nosso amor e a nossa fé para com o Santíssimo e Diviníssimo Sacramento. Que Jesus eucarístico não seja mais para nós o Desconhecido! Na Comunhão de Natal será Nossa Senhora mesma que colocará no nosso trêmulo coração de pobres pecadores, o seu pequenino Filho de Deus. Ó Maria, Mãe do Amor! Preparai meu coração para receber o Senhor!
Que gratidão devemos ter também a Nossa Senhora que nos trouxe Jesus! No ano 2000 tive a graça de celebrar em Belém ao lado da mesma gruta em que Jesus nasceu. Depois da Consagração eu disse a Maria Santíssima: "Minha Mãe e Senhora, há 2000 mil anos a Senhora trouxe aqui neste lugar o mesmo Jesus que eu também acabo de trazer pelas palavras da Consagração. Mas eu não o poderia fazer, se a Senhora não O tivesse trazido primeiro".
Deus Pai quis que tivéssemos Jesus através de Maria. Por gratidão a Nossa Senhora, quero terminar com mais um exemplo da vida de um grande devoto de Nossa Senhora: São Bernardo.
Entre as recordações que da sua infância São Bernardo narrava, a mais doce era esta. Chegara a véspera do Natal, esperada com aquela fascinação que só conhecem as crianças de alma pura. A todo custo ele quis que os seus o levassem consigo à Missa da meia-noite. Mas, quando ele chegou na igreja, embalado pelo murmúrio das orações, envolto no calor da multidão, como a Missa demorasse a começar, vencido pelo sono ele adormeceu. Teve um sonho lindo, que, embora sonho, quem não o quisera ter? Ei-lo: Viu atravessar os céus a Virgem Maria, que segurava, estreitando ao coração, o seu belíssimo Menino, recém-nascido. Curvada sobre Ele com maternal gesto, ela dizia: "Olha lá na terra, no meio daquela gente, o meu pequeno Bernardo". O Menino abriu as pálpebras, girou os olhinhos para baixo, e viu-o. E os dois se sorriram mutuamente.
Ó doce, ó Santa Mãe, essa palavra que um dia disseste para São Bernardo, repete-a hoje ao teu Filho Jesus também para nós! Dize-Lhe que nos olhe.
Dize-Lhe que O revestiste de pobres panos para que Ele nos revestisse com a glória da imortalidade.
Dize-Lhe que o acomodaste entre o hálito de dois animais para que Ele nos elevasse para entre o canto dos anjos.
Dize-Lhe que o puseste na estreita manjedoura para que Ele nos colocasse no imenso palácio dos céus. Amém!
Feliz Natal, Padre Elcio.
ResponderExcluirQue Deus continue abençoando vosso apostolado.
Sua benção!