Meus filhos, desde que se tenha uma pequena mancha na alma, deve-se fazer como uma pessoa que tem um belo globo de cristal que guarda cuidadosamente. Se esse globo apanha um pouco de poeira, quando ela o percebe, passa-lhe uma esponja. E eis então o globo claro e brilhante! Do mesmo modo, assim que perceberdes uma manchinha em vossa alma, tomai água benta com respeito, fazei uma dessas boas obras a que está ligada a remissão das penas: uma esmola, uma genuflexão ao Santíssimo Sacramento, a assistência à santa missa.
Meus filhos, isso é como uma pessoa que tem uma pequena doença; não precisa ir ter com o médico, pode curar-se sozinha. Tem dor de cabeça, basta ir deitar-se; tem fome, basta comer. Porém, se é uma doença grave, se é uma chaga perigosa, faz-se preciso o médico; depois do médico, os remédios... Mesma repetição... Quando caímos num grande pecado, temos que recorrer ao médico, que é padre, e ao remédio, que é a confissão.
Meus filhos, não podemos compreender a bondade que Deus teve conosco instituíndo esse grande sacramento da Penitência. Se nós tivéssemos uma graça a pedir a Nosso Senhor, nunca pensaríamos em pedir-Lhe essa; mas Ele previu a nossa fragilidade e a nossa inconstância no bem, e o seu amor levou-O a fazer o que nós não teríamos ousado pedir-Lhe.
Se dissessem àqueles pobres condenados que estão no inferno há tanto tempo: "Vamos pôr um padre à porta do inferno, Todos os que quiserem se confessar terão só que sair"; meus filhos, acreditais que ficaria um só? Os mais culpados não receariam dizer os seus pecados, e mesmo dizê-los diante de toda gente. Oh! como o inferno logo ficaria deserto, e como o céu se povoaria! Pois bem! nós temos os tempos e os meios que aqueles pobres réprobos não têm. Por isso estou bem certo de que aqueles infelizes dizem no inferno: "Maldito padre, se eu nunca te tivesse conhecido, não seria tão culpado!"
É bem belo, meus filhos, pensar que nós temos um sacramento que cura as chagas de nossa alma! Mas há que recebê-lo com boas disposições. Do contrário, são novas chagas sobre as antigas.
Que diríeis de um homem que está coberto de ferimentos? Aconselham-lhe que vá ao hospital mostrar seu mal ao médico. O médico cura-o, dando-lhe remédios. Eis, porém, que esse homem pega na faca e se dá grandes golpes, e se faz mais mal do que tinha antes? Pois bem! é o que vós fazeis muitas vezes em saíndo do confessionário.
Meus filhos, há pessoas que fazem más confissões sem se darem bem conta disto. Essas pessoas dizem: "Não sei o que tenho... " São atormentadas e não sabem por quê... não têm essa agilidade que faz ir direito a Deus; têm não sei que de pesado, de aborrecido, que as fatiga. Meus filhos, são pecados que ficam, muitas vezes mesmo pecados veniais aos quais se tem afeto. Há uns que dizem tudo, mas não têm arrependimento, e fazem a comunhão assim... Eis o sangue de Nosso Senhor profanado!... Vai-se à santa Mesa com um certo tédio. Diz-se: "Entretanto, eu bem acusei todos os meus pecados. Não sei o que tenho". E comunga-se nesta dúvida. Eis aí uma comunhão indigna, sem que se tenha percebido isso!
Meus filhos, há outros ainda que profanam os sacramentos de outro modo. Terão ocultado pecados mortais há dez anos, há vinte anos. Sempre são atormentados; sempre o seu pecado lhes está presente ao espírito; sempre eles têm o pensamento de dizê-lo, e sempre o enxotam: é um inferno. Quando essas pessoas vêem isso, pedem para fazer uma confissão geral, e dizem os seus pecados como se acabassem de cometê-los; não confessam que os ocultaram durante dez anos, vinte anos. Eis aí uma má confissão! Deve-se dizer ainda que, desde esse tempo, se deixaram as suas práticas de religião, que não mais se sentiu aquele prazer que se tinha de servir a Deus.
Meus filhos, alguns se expõem ainda a profanar o sacramento quando aproveitam o momento em que fazem barulho ao redor do confessionário para confessar os pecados que mais custam. Esses dizem: "Eu bem os acusei; tanto pior se o confessor nos os ouviu!" Antes tanto pior para vós, que agistes com astúcia!... Outras vezes fala-se depressa, aproveitando o momento em que o padre não está atento, para se aviar em fazer passar os pecados grandes.
Vede: uma casa onde tiver havido por muito tempo toda sorte de sujeiras e porcarias, por mais que a varram, haverá sempre nela mau cheiro. O mesmo se dá com a nossa alma depois da confissão: para purificá-la são precisas lágrimas.
Meus filhos, é preciso pedir o arrependimento. É preciso, depois da confissão, plantar um espinho no coração, e nunca perder de vista os próprios pecados. Há que fazer como o Anjo fez a São Francisco de Assis: plantou-lhe cinco dardos que nunca saíram.
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