Evangelho de S.
Mateus XXVIII, 18-20
"Disse Jesus a
seus discípulos: Todo poder me foi dado no céu e na terra. Ide, pois, ensinai a
todos os povos, e batizai-os em Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo;
ensinai-lhes a observar tudo o que vos mandei. E eis que eu estou convosco
todos os dias, até a consumação dos séculos".
Dizendo Jesus: "Batizai-os EM NOME (e não no plural,
NOS NOMES) estar a indicar 1 SÓ DEUS; ao dizer: DO PAI E DO FILHO E DO ESPÍRITO
SANTO, estar afirmando claramente que são 3 Pessoas distintas. Mas estas três
Pessoas divinas são iguais, ou seja, têm a mesma natureza, o mesmo poder, a
mesma sabedoria. O "e" entre elas indica a distinção. São distintas
(isto é, uma não é a outra); o Pai é a
primeira Pessoa, o Filho é a segunda Pessoa; o Espírito Santo é a Terceira
Pessoa. Pois, o Pai tem a Paternidade, o Filho tem a Filiação; o Espírito Santo
tem a Procedência do Pai e do Filho. E
estas três Pessoas são igualmente eternas: Desde toda a eternidade o Pai gera o
Filho por via de inteligência, e, deste toda eternidade o Pai e o Filho se amam
e deste amor procede o Espírito Santo. Deus é o único Ser que existe por si
mesmo e É eterno, isto é, não teve princípio e nem terá fim; é o único ser que
deve ser adorado (culto de LATRIA).
"A festa de hoje leva-nos a louvar e
a engrandecer a Santíssima Trindade, não só pelas imensas misericórdias que tem
concedido aos homens, mas também e sobretudo em Si mesma e por Si mesma. Pelo
Seu Ser supremo que jamais teve princípio e jamais terá fim; pelas Suas
perfeições infinitas, pela Sua majestade, beleza e bondade essenciais; pela
sublime fecundidade de vida, pela qual o Pai incessantemente gera o Filho e do
Pai e do Filho procede o Espírito Santo (todavia o Pai não é anterior nem
superior ao Verbo, nem o Pai e o Verbo são anteriores ou superiores ao Espírito
Santo, mas as três Pessoas divinas são coeternas e iguais entre Si); pela
Divindade e por todas as perfeições e atributos divinos que são únicos e idênticos
no Pai, no Filho e no Espírito Santo. O que pode dizer e compreender o homem em
face de um tão sublime mistério? Nada! No entanto, aquilo que sabemos é certo,
porque o mesmo Filho de Deus 'o Unigênito que está no seio do Pai, Ele mesmo
é que o deu a conhecer' (Jo. 1, 18); mas o mistério é tão sublime e
superior à nossa compreensão que não podemos senão inclinar a cabeça e adorar
em silêncio'. 'Ó profundidade das riquezas da sabedoria e da ciência de
Deus; quão incompreensíveis são os Seus juízos e imperscrutáveis os Seus
caminhos!', exclama São Paulo na Epístola do dia (Rom. 11, 33-36), ele
que 'tendo sido arrebatado ao terceiro céu' não soube nem pôde dizer outra
coisa senão que ouviu 'palavras inefáveis que não é lícito a um homem proferir'
(II Cor. 12, 2-4). Em presença do altíssimo mistério da Trindade, sente-se
realmente que o mais belo louvor é o silêncio da alma que adora,
reconhecendo-se incapaz de exprimir um louvor adequado à Majestade divina"
(P. Gabriel de Sta M. Madalena, L. INTIMIDADE DIVINA).
Há pagãos que pensam haver mais que
um Deus. Adoram pedras, animais, ou os reis do país, como se fossem deuses.
Assim, no tempo do profeta Daniel, o rei orgulhoso mandou que ninguém adorasse
a outro Deus senão a ele mesmo. Daniel não quis adorar o rei, mas só o único e
verdadeiro Deus, Criador do céu e da terra. O rei, então, mandou lançá-lo numa
cova profunda, onde havia leões. No outro dia o rei foi à cova e viu
Daniel sossegado no meio dos leões. Imediatamente mandou que tirassem Daniel da
cova e que todos adorassem o grande Deus, que tinha livrado Daniel das garras
dos leões. O rei compreendeu o milagre e acreditou que HÁ UM SÓ DEUS. Pois
Daniel quis adorar a um Deus só, e Deus o livrou dos leões para nos ensinar que
há um só Deus.
Há também pagãos que dizem
que não há Deus nenhum. Dizem isto ou porque são maus ou porque nunca foram ao
catecismo, e seus pais não lhes ensinaram a Religião. Um destes infelizes foi
uma vez à casa de um grande sábio, chamado Atanásio. Atanásio tinha mandado fazer
um lindo globo, com o mapa do mundo, onde se viam desenhados os mares, as
terras, os rios e as cidades. O pagão perguntou quem tinha feito aquele globo
tão bonito. O sábio Atanásio respondeu, sorrindo: "Ninguém fez este globo;
este globo fez-se a si mesmo." O pagão não acreditou. Então o sábio disse:
"O senhor tem razão em não acreditar. Pois, é impossível que este globo se
tenha feito a si mesmo. Mas, como o senhor, então, pode pensar que este grande
mundo veio assim por si mesmo, sem ser feito por um DEUS sábio e
poderoso?" O pagão pensou algum tempo e começou a crer em DEUS.
Embora ímpio, eis o que disse com palavras
semelhantes, Voltaire: "Como pode haver um relógio marcando exatamente as
horas, os minutos e os segundos, e não haver alguém que o tenha feito?". O
UNIVERSO é um relógio maravilhoso e imenso!!! Olhemos só o Sol. Se você penetra
numa mata e lá vê uma vela acesa, logo,
mesmo sem ver ninguém, você conclui, alguém esteve aqui e acendeu esta vela. Quem
acendeu e colocou nos espaços infindos o Sol diante do qual o Terra é um pontinho?!
Quem terá criado estes milhões de estrelas que só agora depois de tantos séculos a
ciência (NASA) está conseguindo ver?
"Ninguém jamais
viu a Deus; o Unigênito que está no seio do Pai, ele mesmo é que o deu a
conhecer" (S. João I, 18). Nada mais racional que sujeitarmos a nossa
pequenina inteligência à fé, porque temos o testemunho do Filho Unigênito. Não
podemos desejar mais para crer no maior mistério de nossa fé, no que há de mais
inacessível ao entendimento humano. Devemos, sim, alegrarmo-nos de sacrificar a
Deus a nossa razão, e de Lhe dizer: Creio, Senhor, tudo o que revelastes a
respeito deste profundo mistério. Minha razão por si mesma se sente
inteiramente impotente, mas sacrifico-a à Vossa glória. Sinto prazer em
reconhecer a minha ignorância, para honrar a vossa suprema sabedoria, e digo com
Jó: "Deus é grande e ultrapassa toda
nossa ciência" (Jó XXXVI, 26).
"Perscrutar este mistério seria da minha parte uma
temeridade; admiti-lo, confiando na vossa palavra, é um efeito da minha
piedade; conhecê-lo plenamente, vê-lo às claras, será a minha eterna
felicidade" (S. Bernardo). Caríssimos, devemos estar dispostos a dar a
vida pela fé neste mistério. Assim como são três pessoas no Céu, o Pai, o Verbo
e o Espírito Santo, assim também, aqui na terra, devemos desejar dar à
Santíssima Trindade os três testemunhos: da minha fé, das minhas obras e do meu
sangue.
Este mistério, que exige tanto sacrifício da parte do
entendimento, na verdade, enche de consolações o coração. Encontramos nele as
nossas delícias. Isto porque na Santíssima Trindade encontramos todos os
benefícios divinos em seu princípio: a Criação, a Encarnação, a Igreja, os
sacramentos, todos os favores pessoais que recebemos. Como não vibrar o coração
de amor e de júbilo ao meditar nestas palavras divinas: "Eu amei-te [diz o Senhor] com amor eterno, por isso, compadecido
de ti, te atraí a Mim" (Jeremias XXXI, 3). Não é pois sem razão, que a
Igreja, na festa deste dia, primeiro domingo após o Pentecostes, nos conduz à
fonte cujos arroios nos mostrou nas diferentes festas do ano; descobre-nos esse
imenso mar, donde derivam todas as bênçãos que se derramam sobre nós. Quer que
sejamos gratos a esta adorável Trindade, que achando em si toda a felicidade,
cuida eternamente da nossa. Desde a criação do mundo que o Pai nos escolheu
para seus filhos, o Filho para seus irmãos e o Espírito Santo para mostrar em
nós as riquezas da sua graça: "A fim
de mostrar aos séculos futuros as abundantes riquezas da sua graça, por meio da
sua bondade para conosco em Jesus Cristo" (Efésios II, 7).
É por isso, caríssimos que a Santa Madre Igreja nos recorda
continuamente a Santíssima Trindade. No começo, no decurso e no fim de seus
ofícios, nas preces que faz, nos
sacramentos que administra, não cessa de exprimir a sua crença no Pai, no Filho
e no Espírito Santo. Não canta um Salmo, um hino sem os concluir glorificando a
adorável Trindade. A Igreja quer que
seus ministros repitam muitas vezes no dia: "Gloria Patri et Filio et
Spiritui Sancto".
Caríssimos, duas coisas adoramos neste mistério: a unidade
de natureza, e a trindade de pessoas. Quem é espiritual esforça-se por imitar
uma e outra: a unidade pela união, amando sinceramente todos os homens, a
trindade pela comunicação, fazendo-lhes todo o bem que puder. S. Paulo desejava
ver esta união em todos os cristãos: "Com
toda humildade e mansidão, com paciência, suportando-vos uns aos outros por
caridade, solícitos em conservar a unidade do espírito pelo vínculo da
paz" (Efésios IV, 2 e 3).
Assim como em Deus a Trindade só subsiste por inefáveis
comunicações, derramando o Pai todos os tesouros da sua essência no seio de seu
Filho, dando o Pai e o Filho ao Espírito Santo toda a sua divindade; assim
também devemos tornar perfeita a nossa união, fecundando-a com as obras de
caridade. Ouçamos o Salvador: "Sede
misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso" (S. Lucas VI, 36).
Deus é o Ser infinitamente amável, infinitamente amante,
infinitamente amado. Deus é o Ser infinitamente feliz: "Ó meu Deus, Pai sem
princípio, Filho unigênito do Pai, Espírito Consolador, Trindade santa e uma,
com todo o fervor de nosso coração, com toda a força de nossa voz, nós vos
confessamos, nós vos louvamos, nós vos bendizemos: glória a Vós em todos os séculos".
Amém! (Ofício da SS. Trindade).
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