"O ímpio, depois de ter caído no abismo dos pecados, tudo
despreza" (Provérbios XVIII, 3).
Nada mais perigoso na luta pela salvação eterna do que a
nossa propensão ao pecado. Basta pensarmos nestas palavras do Espírito Santo
pela boca do Apóstolo São Paulo: "Vejo
nos meus membros outra lei que se opõe à lei do meu espírito, e que me faz
escravo da lei do pecado, que está nos meus membros. Infeliz de mim! quem me
livrará deste corpo de morte? somente a graça de Deus por Jesus Cristo nosso
Senhor" (Rom. VII, 23 e 24). "Mas
pela graça de Deus sou o que sou, e a sua graça, que está em mim, não foi vã.
(1 Cor. XV, 10). É a terrível concupiscência, consequência do pecado
original. Este é tirado da alma pelo santo Batismo, mas a concupiscência
permanece, para termos campo de luta, pela qual devemos merecer o céu. O
Apóstolo diz tudo: temos dentro de nós mesmos esta lei do pecado e é pela graça
de Jesus Cristo que podemos vencê-la, mas é necessário que correspondamos a
esta graça para que ela não fique estéril em nossa vida.
Caríssimos, justamente por não corresponder à graça de Deus,
é que pode acontecer de o pecador adquirir uma atração para mal ainda maior,
que é o hábito do pecado. Não correspondendo à graça, o pecador é levado pelas
suas paixões, que além de si mesmas já
serem muito fortes, tornam-se dominantes pelo hábito dos pecados provocados por
elas. E pior ainda, estas paixões podem se tornar verdadeiros ÍDOLOS.
Caríssimos, é evidente, que quem luta generosamente, pondo
em Deus toda a esperança, alcança infalivelmente o triunfo. A luta poderá
prolongar-se, tornar-se renhida, mas acabará por uma vitória. Quem cede, porém,
sem se incomodar, aquele cuja vida é assinalada por capitulações contínuas,
será finalmente derrotado e cairá na escravidão do pecado e de suas paixões. E,
longe de gemer sob este terrível jugo, aceita-o, ama-o, e se recusa a fazer
esforços para dele se libertar. Oh! estado terrível da alma que se torna assim
escrava dos sentidos, prostrando-se até diante das criaturas e alienando sua
liberdade para deixar o vício dominar-lhe o coração como senhor absoluto! É
portanto, um idólatra. Dando o exemplo do vício capital da gula diz São Paulo: "Falo com lágrimas, muitos procedem
como inimigos da cruz de Cristo: o fim deles é a perdição, o deus deles é o
ventre; e fazem consistir a sua glória na sua própria confusão, gostando
somente das coisas terrenas" (Filipenses III, 18 e 19).
Os homens não adoram mais, é verdade, ídolos de madeira ou
metal; não dobram os joelhos para adorar imagens inanimadas como se elas fossem
deuses ou deusas. Os homens haviam de corar de tal loucura. Mas será menor a
culpa de quem se entrega às paixões? Na verdade, quem se abandona ao pecado
mortal, rejeita a soberania de Deus e adora a sua paixão. Deus Nosso Senhor não
pode assim reinar em corações que prestam homenagem e adoração a falsas
divindades.
Quando começamos a ceder a uma tendência culpável, somos
inclinados a iludir-nos; julgamo-nos ainda livres. O demônio pode até fazer a
pessoa se orgulhar como se estivesse dando provas de energia. E aí esta pobre
alma por fim, não conseguirá mais resistir. É escrava do pecado e este é o seu
deus! Coisa terrível!!! Quando uma melodia suave nos encanta os ouvidos, (estou
ouvindo uma destas) estes sentimentos nos impressionam fortemente e caímos em
uma espécie de êxtase, que nos faz esquecer todos os seres, que deixam, por
assim dizer, de existir para nós (estava digitando sem pensar no que escrevia,
tal o atrativo da música, e aí desliguei-a). Assim, caríssimos, também a alma
que, atraída por um objeto criado, que lhe parece fascinante, não se obriga a
afastá-lo, será seduzida sem demora e perderá a noção de tudo; sua vida então
se concentrará na contemplação do objeto que lhe prende os pensamentos, como se
fosse para ela o único necessário. Tal é o estado da alma idólatra. O que as
almas santas sentem por Deus e pelas coisas de Deus, a alma idólatra sente
pelas criaturas às quais se apegou como se fosse o seu fim último.
E Deus não castigará esta idolatria de muitos cristãos ou
que se dizem tais? Claro que sim! Ouçamos o que diz Santo Afonso Maria de
Ligório: "É difícil que tais pecadores se salvem, porque os maus hábitos
cegam o espírito, endurecem o coração e ocasionam provavelmente a obstinação completa
na hora da morte.
Primeiramente, o mau hábito nos CEGA. Qual o motivo que
faziam os Santos implorar incessantemente a luz divina, temendo converter-se
nos pecadores mais abomináveis do mundo? É porque sabiam que, se chegassem a
perder a luz divina, poderiam cometer culpas horrendas. E como se explica que
tantos cristãos vivem obstinadamente em pecados, até que irremediavelmente se
condenam? Porque o pecado os cega, e por isso se perdem: "Assim pensaram, mas enganaram-se, porque a sua malícia os
cegou" (Sabedoria II, 23). "O costume de pecar não deixa o
pecador reconhecer o mal que pratica" diz Santo Agostinho.
Além disso, os maus hábitos ENDURECEM O CORAÇÃO,
permitindo-o Deus justamente em castigo da resistência que se opõe a seu
convites. Pode haver castigo maior?!... São Paulo diz que Nosso Senhor "tem misericórdia de quem quer,
e endurece a quem quer" (Rom. IX, 18). Santo Agostinho explica este
texto, dizendo que Deus não endurece de um modo imediato o coração daquele que
peca habitualmente, mas que o priva da graça em castigo da ingratidão e
obstinação com que repeliu a que antes lhe havia concedido; e em tal estado o
coração do pecador se endurece como se fosse de pedra: "O seu coração é duro como a pedra, e apertado com a bigorna do
ferreiro" (Jó XLI, 15).
Teme, pois, meu irmão caríssimo, que não te suceda esta
desgraça. Se tens algum mau hábito, procura libertar-te agora que Deus te
chama. Enquanto sentes remorso na consciência, regozija-te, porque é indício de
que Deus ainda não te abandonou. Mas você pode garantir-te que Deus está longe
de o fazer? Urge, pois, corrigir-te e sair o mais breve possível desse estado,
doutra maneira gangrenar-se-á a ferida e te verás perdido. Eis o que é mais
terrível! O que explicarei a seguir:
Os maus hábitos
ocasionam provavelmente a obstinação completa na hora da morte. Só escrevo
baseado que estou na incontestável autoridade de um Santo Afonso Maria de
Ligório. Ouçamo-lo: "Privado da luz que nos guia e endurecido o coração,
que admira que o pecador tenha mau fim e morra obstinado em suas culpas? "O coração duro será oprimido de males
no fim; e aquele que ama o perigo perecerá nele" (Eclesiástico III,
27). Os justos andam sempre pelo caminho reto. "A senda do justo é direita" (Isaías XXVI, 7). Ao
contrário, aqueles que pecam habitualmente caminham sempre em linhas tortuosas.
Se deixam o pecado por algum tempo, voltam de novo a ele; pelo que São Bernardo
os ameaça com a condenação no sermão sobre o Salmo 90. Talvez algum deles
queira emendar-se antes que lhe chegue a morte. Mas é precisamente nisto que
está a dificuldade: o pecador por hábito, ainda que chegue à velhice, não se
emenda. "O homem, segundo o caminho
que tomou sendo jovem, não se afastará dele, mesmo quando velho" (Provérbios
XXII, 6). "Se um etíope pode mudar a
sua pele, ou um leopardo as suas malhas, poderás vós também fazer o bem, vós que não aprendestes senão fazer o
mal?" (Jeremias XIII, 23). "Bem-aventurado
o homem que está sempre com temor; mas o de coração duro cairá no mal" (Provérbios
XXVIII, 14).
Estou, portanto, condenado e sem esperança? -
perguntará, talvez, algum destes infelizes pecadores ... Não, se deveras
quiseres emendar-te. Mas os males gravíssimos requerem remédios heroicos. Não
deves esperar um milagre da graça. Impende evitar resolutamente as ocasiões
perigosas, fugir das más companhias e resistir às tentações, recomendando-te a
Deus. É preciso que te confesses a miúdo, que faças cada dia leitura espiritual
e te entregues à devoção da Virgem Santíssima, pedindo-lhe continuamente que te
alcance forças para não recair. É necessário que te domines e empregues
violência. Se não aplicares agora o remédio, quando Deus te ilumina, mais tarde
dificilmente poderás remediá-lo. Teme que não seja este o último apelo que Deus
te faz. "Temo a Jesus que passa e não volta mais", dizia Santo
Agostinho.
Ó Senhor, quero mudar de vida e entregar-me a Vós. Dizei-me
o que devo fazer, pois quero pô-lo em prática. Sangue de Jesus Cristo,
ajudai-me! Virgem Maria, advogada dos pecadores, socorrei-me! Amém!
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