S. Lucas XIV, 16-24
O BANQUETE NO REINO
DE DEUS
Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!
Na casa de um dos principais fariseus, Jesus estava à mesa e
pregava sobre a necessidade da humildade e da caridade; e eis que um dos
convivas exclamou: "Bem-aventurado o que participar do banquete no reino
de Deus". E Jesus respondeu com a parábola da Grande Ceia.
"Um homem fez uma
grande ceia e convidou muitos". Aqui na terra Deus preparou um grande
banquete: o da Religião Católica que nos alimenta com a Fé, com a Palavra da
Verdade e com a Eucaristia; no Céu será o banquete eterno em que seremos
plenamente saciados, porque veremos a Deus como é em si mesmo. Na verdade,
podemos dizer que o festim é um só: o Reino do Céu ou da Glória, reino este que
é preparado aqui na terra pela Igreja que Jesus fundou, que nos concede a
Graça, gérmen da Glória.
Aqui na terra e depois no Céu este festim é chamado GRANDE,
pois diante dele, todos os festins dos reis não são nada. Este festim é grande,
outrossim, pelo número dos convidados, a saber, todos os homens; porque Deus
quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. A
mesa eucarística é tão grande que nos é dado como alimento o Corpo, Sangue,
Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus-Homem. Grande também pela
liberalidade sem limites d'Aquele que o oferece, isto é, Deus, o rico por
excelência, a quem pertencem tudo o que existe; grande pelo preço e abundância
das iguarias que aí são servidas. Aqui na terra, são os méritos de Jesus
Cristo, seu Corpo e seu Sangue; no Céu, é a vista e posse de Deus mesmo.
Podemos resumir: aqui na terra é o festim da graça; no Céu é o da glória e ambos
são um só e grande Banquete. Em outra parábola,o do Banquete das Bodas, Jesus
Cristo mostra que quem não se apresentar com a veste nupcial da graça, não
poderá participar do banquete celestial da glória, mas será lançado nas trevas
exteriores, onde haverá chora e ranger de dentes (Cf. S. Mateus XXII, 11 e 12).
Deus fez vários apelos desde o início do mundo relativamente
a este festim. O primeiro convite foi endereçado a universalidade dos homens na
pessoa de Adão e de seus primeiros descendentes. Advertidos sobre a vinda
futura do Redentor, eles foram convidados a se nutrirem de antemão das suas
graças e a se apropriarem de seus méritos pela fé. Esta vocação foi várias
vezes renovada pelos patriarcas, pelos profetas, seja em relação aos judeus,
seja em relação a alguns povos pagãos, vizinhos da Judéia; e até podemos dizer que, pelo menos qual eco
enfraquecido, este convite chegou a todos os povos então conhecidos.
"À hora da ceia,
mandou o Pai de família um seu servo dizer aos convidados: Vinde, porque tudo
está preparado". O servidor, ou
seja, Jesus Cristo, igual a seu Pai, Deus como Ele, mas Seu servidor enquanto
homem: "Eu sou teu servo e filho de tua escrava" (Salmo CXV, 16).
Depois de Jesus Cristo, os apóstolos, os bispos, os padres, receberam
igualmente d'Ele a missão que Ele mesmo havia recebido de Seu Pai, missão esta
de chamar os povos para o Banquete terrestre e através dele, ao Festim Celeste.
A hora da grande Ceia havia sido adrede fixada nos desígnios da sabedoria e da
misericórdia divinas. Depois de quatro mil anos de preparação Deus declara que
tudo está pronto, que a mesa está posta. O Verbo Eterno desceu e se revestiu de
carne; Ele se oferece como Hóstia a Deus, seu Pai. O fogo da tribulação queimou
a Vítima e a mesa mística da cruz recebeu-A. Tudo está preparado. Vem Nação
escolhida; vinde povos, vinde tomar parte no Festim!
Os Judeus, o povo escolhido, os primeiros convidados
infelizmente não corresponderam a este convite misericordioso.
"E todos, à uma
começaram a escusar-se. O primeiro disse-lhe: Comprei um campo, é-me necessário
ir vê-lo; rogo-te que me dês por escusado. Outro disse: Comprei cinco juntas de
bois, vou experimentá-los; rogo-te que me dês por escusado. Disse também outro:
Casei-me por isso não posso ir. E voltando o servo, referiu estas coisas ao seu
senhor".
Caríssimos, por que esta recusa dos convidados? A causa não
é tanto o menosprezo do banquete mas as três terríveis paixões às quais a
humanidade está presa: a concupiscência dos olhos, o orgulho da vida ou
ambição; e a concupiscência da carne, "uxorem duxi" = tomei mulher,
casei-me. A sensualidade torna a pessoa tão grosseira que nem desculpas pede.
Estas três paixões, orgulho, avareza e luxúria, prendem suas vítimas à terra,
são espinhos que sufocam a palavra de Deus e impedem as pessoas de olhar para o Céu, lá
onde está preparado o Festim Eterno. Na verdade, estas razões aduzidas parecem
suficientes para os convidados indignos, mas diante de Deus não, pois Jesus
disse: "Procurai em primeiro lugar o Reino de Deus..."
Diante desta indigna e mesquinha recusa, o pai de família,
irritado, embora misericordioso também, diz ao seu servo, isto é, aos
apóstolos, à Igreja: "Vai já pelas
praças e pelas ruas da cidade; traze aqui os pobres, aleijados, cegos e
coxos". SAÍ, saí do meio desta nação judia, endurecida e rebelde,
desta nação carnal e unicamente preocupada com os bens da terra. Ide para os
gentios, pela praças públicas, onde gastam inutilmente suas vidas na agitação
da política, nas vãs procuras de uma curiosidade pueril; ide pela ruas de suas
barulhentas cidades, nestas ruas populosas que eles percorrem incessantemente
mas sem finalidade séria; pois, correm atrás de quimeras, após uma vã
dominação, após o brilho enganador e caduco da glória, após os bens efêmeros
que o vento do tempo leva. Chamai os pobres, isto é, as almas vazias dos
tesouros da graça; os aleijados, isto é, os que não sabem ou não podem se mover
e agir pelo bem; os cegos, ou seja, aqueles que não podem conhecer a verdade;
os coxos que não podem trilhar o caminho do céu. E a todos estes que forem
dóceis ao convite divino, Jesus lhes dará a força, a saúde e a vida!
"Disse o servo:
Senhor, está feito como mandaste e ainda há lugar. Disse o senhor ao servo: Vai
pelos caminhos e ao longo dos cercados; força-os a vir, para que se encha a
minha casa". Realmente sempre haverá lugar nas entranhas da
misericórdia de Deus; Ele tem aí um
lugar infinito, um lugar no seio da Igreja e um lugar no Céu. O coração do Pai de família não estará
satisfeito enquanto houver algum lugar vazio; só estará contente quando vir
ocupados todos os tronos preparados por Ele para seus escolhidos. "Ide, portanto, diz o Mestre ao
servidor, ide pelos caminhos e ao longo dos cercados; força-os a vir, para que
se encha a minha casa. Porque eu vos digo que nenhum daqueles que foram
convidados provará a minha ceia". Jesus quer que a voz dos seus
ministros seja ouvida até os confins do universo. E Ele não se contenta só em
convidar; manda que, de algum modo, forcem a entrar; ou antes o próprio Deus
haverá de forçar a entrar aqueles que Ele quer ver assentados a sua mesa. Como
geralmente Deus força? Pelas tribulações, pelas doenças, às vezes dolorosas,
mostrando-lhes o nada e a instabilidade das coisas humanas. Assim Deus os lança
em seus braços. Os ministros de Jesus, principalmente os missionários devem
pregar com intrepidez, pregar sempre, atravessar os mares e transpor as
montanhas. Os servidores de Deus, de alguma maneira, devem forçar pela
persuasão da palavra de Deus, pela insistência e sobretudo atraindo as almas
pelo bom odor de Jesus Cristo, isto é, pelo bom exemplo, pela santidade de
vida.
"Eu vos digo que
nenhum daqueles que foram convidados provará a minha ceia. Eu os convidei,
dirá o supremo Juiz, e eles recusaram meu convite; eles tornaram-se indignos do
banquete da graça, e não terão parte no festim da glória. Permanecerão fora da
sala do banquete, tomados de uma fome devoradora, excluídos da visão divina,
única capaz de satisfazer seus desejos e de corresponder à sua insaciável
necessidade de felicidade.
Estando no domingo após a festa do Santíssimo Sacramento,
não podemos deixar de fazer uma menção especial ao Banquete Eucarístico. Para
este festim Jesus oferece como iguaria o seu Corpo como alimento e seu Sangue
como bebida. E a liberalidade divina os oferece aos povos até o fim dos tempos.
No entanto, quantos recusam este
convite! A Igreja, em nome de Deus, de quem é aqui na terra a esposa e a
mandatária, reitera cada ano este convite e endereça-o aos fiéis pela voz dos
pastores em todos os templos do universo. Jesus dissera: "Quem não comer a
minha carne e não beber o meu sangue não terá a vida eterna", ou seja,
quem recusar o convite não gozará do festim supremo.
Obedeçamos, portanto, caríssimos irmãos, aos ternos e
prementes convites do Salvador. Aqui na terra participemos com as devidas
disposições da mesa eucarística, afim de podermos lá no Céu, assentarmos à mesa
do banquete da felicidade e da glória. Amém!
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