S. João VI, 1-15
A Multiplicação dos
Pães é Imagem da Multiplicação do Pão Eucarístico
Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!
Estando próximos à Festa da Páscoa, a Santa Madre Igreja vem
nos preparando para a confissão e comunhão santas. No domingo p. p. nos deu
ensejo para falarmos sobre a confissão e, especificamente, chamando-nos à
atenção contra o perigo do demônio mudo; neste domingo (4º da quaresma),
oferece-nos ocasião para meditarmos sobre a Comunhão. Pois, na verdade o
prodígio da multiplicação dos pães contado no evangelho de hoje, é figura de um
outro prodígio muito mais brilhante e de uma ordem mais elevada, isto é, a
multiplicação do pão eucarístico que deve servir de alimento das nossas almas.
Não é pois sem razão que antes de contar o milagre que nos ocupa, o evangelista
faz notar que a Páscoa dos Judeus estava próxima; não é, outrossim, sem motivo que a Santa Igreja
coloca a leitura deste evangelho (S. Jo VI, 1-15) nas proximidades do tempo pascal. É fácil, com efeito,
perceber à luz do fato da multiplicação dos pães e das circunstâncias que a
acompanham, o grande fato da instituição da Santíssima Eucaristia. Com a
multiplicação dos pães Jesus Cristo já nos quis dar não só uma imagem mas
também um como ante-gosto da Pão Eucarístico.
Do alto de sua misericórdia, de sua sabedoria, de suas
perfeições, no meio das quais estava assentado como sobre uma montanha, Nosso
Senhor Jesus Cristo avista uma grande multidão, isto é, toda humanidade, fatigada, faminta e não
encontrando no deserto da vida nada que pudesse saciar sua fome. Jesus tem dela
compaixão, e, após tirar da boca dos homens, dos doutores, dos mestres da
ciência representados pelos apóstolos, a confissão formal de sua incapacidade
para nutrir estas almas, para as saciar, para lhes dar a luz, a força de que
necessitam, Ele ordena esta multidão que
se assente, como para um grande festim; e a multidão assenta-se embora nada
veja diante de si que seja capaz de satisfazer sua fome. Dócil e confiante,
esta multidão se assenta por grupos ( segundo o texto dum outro evangelista),
isto é, por grandes famílias espirituais, por cristandades, por igrejas, por
paróquias, e ela aguarda, calma e segura de que o poder divino multiplicará
para ela e lhe distribuirá este alimento sagrado do Corpo de Jesus Cristo. E há
uma profecia de que o Sacrifício nunca faltará e assim também nunca deixará de
existir no vale de lágrimas, no deserto da vida, este Pão sagrado que é o
próprio Jesus como Deus e como Homem. E os ministros do Salvador, os bispos e
os padres, executam sem hesitar as
ordens do Mestre, tomam o Pão sagrado e distribuem-No. Fazem mais.
Estabelecidos para fazer as vezes de Jesus Cristo entre os povos, eles benzem o
pão, eles dão graças a Deus, à exemplo do Salvador, e eles mesmos, em virtude
de seu sacerdócio, deste sacerdócio que é uma derivação do de Jesus Cristo,
eles fazem o milagre, eles multiplicam sem medida este alimento divino e dão-No
aos fiéis.
Caríssimos, seríamos muito ingratos e cegos se recusássemos
este Pão sagrado, este festim esplêndido que a divina munificência nos oferece!
Não vemos um sequer daqueles que seguiam a Jesus no deserto, recusar sua parte
do pão miraculosamente multiplicado e abundantemente distribuído à multidão.
Seríamos mais descuidados em se tratando do alimento de nossa alma? Quantos que
se dizem católicos e muito mal se contentam com a comunhão pascal, e, o que é
mais triste, muitos nem esta fazem.
Reconhecemos pela fé, a superioridade incomparável do pão
eucarístico sobre aquele pão material multiplicado e distribuído no deserto.
Mas é esta mesma superioridade que assusta muitos e os afastam da mesa
eucarística, porque não querem destruir os pecados mortais que levam à
comunhões sacrílegas; e, lembrados das palavras inspiradas da Sagrada
Escritura: "... todo aquele que
comer este pão... indignamente, come para si a condenação" (Cf. 1 Cor. XI,
27-31) preferem se abster do Pão divino a se abster dos pecados e das
ocasiões próximas dos mesmos. Hoje infelizmente tem acontecido algo pior:
entendendo a Eucaristia como simples símbolo, isto é, não tendo fé na presença
real de Jesus Eucarístico, tomam a comunhão sem deixar o pecado e, às vezes,
pecados gravíssimos e públicos, como o ódio e o adultério. E assim dão um
terrível escândalo, inclusive aos pequeninos que se preparam para o primeira
Comunhão.
Caríssimos, devemos observar que Jesus Cristo não esperou,
para nutrir a multidão faminta, que ela Lhe pedisse o alimento de que tinha
premente necessidade. Jesus foi o primeiro a perceber esta necessidade, como
também o primeiro em procurar os meios de a satisfazer. E, em se tratando de
nossas necessidades corporais, somos tão prontos em as sentir, e tão prontos em
procurar satisfazê-las. O mesmo não acontece atinente às nossas necessidades
espirituais: ordinariamente são-nos menos presentes e menos manifestas. É
mister que Deus mesmo, na sua bondade paternal, no-las faça perceber e nos
avise de sua necessidade. Isto Jesus faz mostrando a necessidade de comermos a
Sua Carne e bebermos o Seu Sangue para podermos
ser ressuscitados no último dia para a Vida eterna. E não só Nosso
Senhor nos adverte quanto à necessidade de recebermos o Pão Eucarístico, que
afinal, é Ele mesmo como Homem e como Deus: Corpo, Sangue, Alma e Divindade. O
Salvador faz da Comunhão uma obrigação, pois, sem a qual não poderíamos ter a
Vida Eterna. E o que a Igreja liga na terra, Jesus liga no Céu: daí o
mandamento da Igreja quanto à Comunhão Pascal.
É evidente que nunca nos tornaremos dignos de receber Jesus;
nem os Anjos seriam dignos! Mas, o que o divino Salvador exige é que nos
purifiquemos de todo pecado mortal e, seria louvável, que também não tivéssemos
nenhum pecado venial na alma. Quanto aos pecados veniais, no entanto, caso não seja possível confessá-los, não
impedem a pessoa de comungar, mas é necessário que façamos a comunhão com esta
intenção de recebermos forças da própria Comunhão para eliminarmos de nossa
vida também os pecados veniais. E com a comunhão frequente é forçoso que isto
aconteça.
Terminemos com uma oração de Santo Agostinho: "Senhor
Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, que, sobre a cruz, com os braços abertos,
bebestes o cálice de inenarráveis dores para a redenção de todos os homens,
dignai-Vos hoje vir em meu auxílio. Eis-me aqui: pobre, venho a Vós que sois
rico; miserável, apresento-me a Vós que sois misericordioso. Ah! fazei que não
me afaste de Vós vazio e desiludido. Faminto, venho a Vós, não permitais que
volte em jejum; esfomeado, aproximo-me, que eu não me retire sem ter sido por Vós
saciado; e se antes de comer suspiro, concedei-me que depois dos suspiros eu
possa ser alimentado". Amém!
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