(Transferido o 4º
domingo depois da Epifania)
S. Mateus VIII, 23-27
"Senhor, salvai-nos, que perecemos"
Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!
Esta barca agitada pela tempestade é
uma das mais perfeitas imagens da Igreja, que transporta sobre o mar deste
mundo os discípulos e servos de Jesus. O divino Mestre está lá também,
realmente presente, mas oculto e parecendo dormir. Quantas e quantas vezes,
desde 20 séculos, a Igreja tem visto a sua existência ameaçada pelas
tempestades! Quantas perseguições, ou cruentas e declaradas, ou surdas e
hipócritas! Mas devemos ter fé porque Jesus disse: "Eu estarei convosco
todos os dias até a consumação dos séculos". De fato, a Igreja conhece o
poder d'Aquele que vela, quando parece dormir. A Igreja é indefectível,
malgrado todas as borrascas: perseguições sangrentas, heresias e/ou cismas. As
portas do inferno jamais prevalecerão contra a Igreja de Cristo! A Santa Madre
Igreja, nas promessas de sua origem e no desenvolvimento de sua vida sempre
trouxe o signo inconfundível da
Divindade; malgrado, pois, as tempestades, as maquinações dos comunistas, os
escárnios lançados contra a sua moral e seus dogmas; e não obstante as
infiltrações modernistas e comunistas em suas fileiras e mesmo como veneno em
suas veias, ela regenera o mundo que se efemina no prazer e se dissolve na
corrupção. Mais atualmente, serena e intangível assiste o esboroar dos tronos,
o extinguir-se dos foros comunistas. Resistiu impávida e tranquila à violência
dos criminosos, aos sofismas dos falsos doutores, ao gargalhar satânico da
ironia impotente, à perfídia rebelde de filhos orgulhosos e corruptos,
conjugados numa vasta conjuração contra a VERDADE. A Igreja, firme nas
promessas de imortalidade do seu Divino Fundador, contemporiza com dignidade
magnânima e, uns após outros, vai enterrando os seus inimigos não arrependidos,
e generosa e alegremente, perdoando os que se humilham e se convertem.
Ininterruptamente, e mesmo em tempo de crise como o nosso, a Igreja continua a
semear a verdade e o bem nas almas. Se Deus conosco, quem contra nós?...
Mas em certas tempestades mais violentas,
como se dá na crise atual na Igreja e na sociedade, Jesus parece dormir,
enquanto que tsunamis parecem tragar-nos a nós e até a Santa Igreja. Máxime,
nestas horas, é mister que resistamos fortes na fé, conservando inabalável a
confiança de que Jesus, mesmo que pareça dormir, Ele vela por sua Esposa
mística e por nós. Enquanto os maus tramam seus complôs, governantes conjurados
contra a Igreja parecem prestes a subvertê-la e levá-la à ruína total, os fiéis
atemorizados por tão ingentes perigos, chamam por Jesus. Jesus, então se
levanta, comanda as ondas e os ventos; Jesus, com um seu olhar, com um sopro de
sua boca, destroça os inimigos da Igreja, frustra seus malignos projetos,
desfaz suas criminosas intrigas, e, então faz-se calma e a barca da Igreja
retoma tranquila o seu curso através dos oceanos e serenamente leva seus filhos
às praias da eterna bem-aventurança, ao porto da salvação, à Pátria do repouso
eterno.
Caríssimos, hoje, nesta crise sem precedentes,
se considerarmos as coisas de maneira puramente humana, não se verá de onde
possa vir o socorro. Sem sombra de dúvida, porém, este socorro virá. Jamais duvidemos
disto! Nosso Senhor Jesus Cristo, que parece dormir no fundo da sua barca, a
Igreja, levantar-se-á, estenderá suas mãos onipotentes, seus inimigos cairão à
Sua direita e à Sua esquerda, e a Santa Madre Igreja sairá triunfante e mais
forte da crise violenta em que os seus inimigos esperavam vê-la perecer. Assim
sempre foi e assim sempre será!
Esta barca é também figura de nossa
pobre alma, tantas vezes batida por toda espécie de tempestades, durante a
viagem no mar perigoso deste mundo. A alma fiel está com Jesus; Ele acompanha-a
no mar tempestuoso do mundo. É por suas ordens, é por suas inspirações, é por
seus sinais que ela se engajou no tumulto dos afazeres e nos cuidados daqui em
baixo. E, no entanto, embora com Jesus, na sociedade de Jesus, embora unida a
Ele pela graça, a alma é sujeita às tormentas. Abandonados a nós mesmos,
pereceríamos infalivelmente. Mas se Jesus está conosco e é a nosso favor, que
receio podemos ter? Felizes as almas que trazem Jesus consigo e sabem recorrer
a Ele!
Caríssimos e amados irmãos,
as tempestades que acometem a nossa alma são muitas e variadas. São exteriores
ou interiores. Entre as exteriores podemos enumerar: as doenças mais
imprevistas, longas, dolorosas, dispendiosas; o luto, a perda dos que nos são
caros, cuja morte nos enche de grande tristeza; a perda dos bens de fortuna,
que nos precipita na miséria ou em dificuldades; calúnias, ódios, processos
injustos, vinganças a que nos encontramos expostos, ainda que inocentes etc.,
etc.
Tempestades interiores: Mais
ordinariamente o demônio deixa em paz os seus escravos. "Os cães não
mordem nas pessoas da casa" diz São Francisco de Sales. As almas fiéis a
Jesus, porém, são agitadas pelas tentações que vêm do demônio, da carne e do
mundo. As paixões se agitam dentro delas: o orgulho, a volúpia, a inveja, a
cólera, a vingança, a ambição, fazem-lhes terríveis assaltos. Estas nossas
paixões como que rugem no íntimo do nosso ser e tentam revoltar-se contra o
espírito, para nos arrastar ao mal.
Podemos ainda enumerar: os escândalos, as seduções do mundo, com as
suas máximas falsas, as suas ilusões e os seus prazeres. O espírito
de fé diz-nos, entretanto, que qualquer luta ou tempestade da vida é sempre
querida, permitida ou pelo menos não impedida por Deus. Como dizia Santa
Teresinha: "Tudo é graça, tudo é fruto do amor infinito de Deus".
Deus é Pai que nos prova unicamente porque nos ama.
As tempestades da nossa vida fazem
que reconheçamos a nossa fraqueza e nos obrigam a recorrer a Jesus; porque sem
Ele o que seria de nós?! No meio das tempestades rezamos com mais fervor;
praticamos as virtudes mais sublimes: a fé, a confiança em Deus, a submissão à
Sua vontade, a paciência e a caridade. As provações servem para, nesta vida,
expiarmos as nossas faltas e as nossas imperfeições e merecermos uma coroa
melhor no céu. E sobretudo nos tornam mais semelhantes a Jesus.
Assim, fazendo da nossa parte
o que pudermos, ponhamos toda a nossa confiança em Jesus e apressemo-nos a
recorrer a Ele com fé e amor. Caríssimos, não deixemos passar uma tão bela
ocasião de praticar a humildade, a penitência, a paciência e de aumentar assim
os nossos méritos para o céu.
Irmãos caríssimos, não
esqueçamos que, mesmo nestas tempestades, Jesus não teve em vista senão um
maior bem para nós; agradeçamos-Lhe com toda a nossa alma; conservemo-nos
sempre em união com Ele e seremos auxiliados. Ó doce Jesus, o importante é que
estejais no coração de cada um de nós! Amém!
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