DOMINGO DE RAMOS
"Solvite et adducite"
S. Mateus XXI, 1-10
Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!
Durante três anos Nosso Senhor Jesus Cristo enchera toda
Palestina com seus ensinamentos e milagres, esclarecendo as almas e curando os
corpos, em uma palavra: passou, por toda parte, fazendo o bem. Um ano antes,
quando a gente da Galileia O quisera fazer rei, Jesus havia-se escondido. Agora
aceita a homenagem que O há de revelar como o Messias esperado. Para que os
judeus não possam alegar que Ele não é o Messias esperado, tudo nesta festa vai
ter um caráter expressamente messiânico. Assim Jesus escolhe a hora e adota a
atitude descrita pelo Profeta. Na verdade, era o derradeiro chamamento ao
coração de seus inimigos; era a demonstração irrefragável de que, se caminhava
para a morte, não era nenhuma violência ou necessidade que a isso O levava.
Os povos arrebatados pela sua doutrina e tocados pelos seus
benefícios, se apressam em multidão no intuito de conceder-Lhe o título mais
augusto, o mais elevado segundo o juízo dos homens, isto é, rei. Se Jesus já
havia recusado esta honra, foi porque o reinado que Lhe queriam dar não era o
que Ele desejava e merecia. Verdadeiramente o Seu reino é mais alto, mais
durável, mais vasto, um reino espiritual, sem limite no tempo como no espaço; e
os Judeus pretendiam fazer dele um rei temporal, com um reinado limitado seja
pela duração, seja pela expansão.
No entanto, para mostrar aos seus discípulos que Ele
reconhecia somente aquele título de rei que os profetas tinham dado ao Messias,
para lhes oferecer uma imagem deste reinado poderoso e respeitado que vai conquistar pela sua morte, Ele consente
nestas homenagens de uma entrada triunfante na cidade santa, na Jerusalém.
Estava próximo o dia em que seria colocada em sua cabeça uma coroa de espinhos,
em sua mão uma cana como cetro, um manto de púrpura derrisório sobre os ombros,
quando iria ser colocado no trono da cruz, para aí receber a investidura de seu
reino eterno. O triunfo de hoje é o
prelúdio daquele que terá lugar dentro de cinco dias no Calvário.
A entrada em Jerusalém neste domingo que inicia a semana na
qual Jesus vai morrer está em perfeita harmonia com o retrato que os profetas
traçaram d'Ele. É um rei pacífico, um príncipe boníssimo que não quebrará a
cana trincada, nem apagará a mecha que ainda fumega: "Dizei à filha de Sião: eis que teu Rei vem a ti manso" (S.
Mat. XXI, 5).
O que faz a beleza do triunfo de Nosso Senhor Jesus Cristo,
não é, portanto, nem o brilho vão de uma
pompa exterior, nem o aparato do poderio e da grandeza, nem os cativos que leva
atrás de si; não! O que provoca o regozijo e o desvelo dos povos é a
vivacidade de seu amor, o ardor do seu reconhecimento, é a sinceridade de suas
homenagens, é a espontaneidade dessas aclamações por ninguém ordenadas, pois
espontâneas brotam de seus corações. Eis o que enaltece o
triunfo de Jesus Cristo e o coloca bem acima dos triunfos faustosos dos
conquistadores, cuja glória consiste no derramamento de sangue dos inimigos, na
ruína das cidades e na miséria dos povos vencidos. Jesus Cristo, não é um
conquistador nestes moldes humanos. Não, absolutamente não! Se Ele faz
conquistas, é por amor que as faz; se ganha vassalos, é através de benefícios e
para os fazer felizes. Aqueles que acompanham o seu triunfo são os doentes por
Ele curados, os cegos aos quais deu a visão, os mortos que ressuscitou, é esta
multidão faminta que Ele nutriu no deserto, é a multidão infinita de infelizes
que Ele aliviou.
Caríssimos, vejamos agora o significado alegórico da entrada
triunfal de Jesus em Jerusalém: é a figura da entrada de Jesus na alma pela
graça e pela comunhão. Embora brevemente, consideremos ambas.
Primeiramente a entrada de Jesus na alma pela graça: É um
santo mistério que deve penetrar de reconhecimento aqueles em que Jesus Cristo
já entrou, e de piedosos desejos e até de amorosa impaciência naqueles que se
preparam para a entrada de Jesus em suas almas. Refiro-me aos pecadores tocados
pela graça e que se convertem. Desculpem-me a comparação: o que Jesus mandou
que seus discípulos fizessem com a jumenta e o jumentinho, aplica-se num bom
sentido e alegoricamente aos pecadores: "solvite et adducite", "desprendei-mos e trazei-mos". Desligar
primeiramente estas almas dos liames do erro e do pecados a que estão
amarradas; desprendê-las pelo poder que Jesus
deu aos seus ministros, isto é, os sacerdotes, de os absolver de seus
pecados, logo após sinceramente os confessarem com arrependimento verdadeiro.
E, quando por efeito de piedosas instruções dos verdadeiros ministros de Jesus,
as cadeias do erro que retinham estas almas, caírem; quando, com tocantes
exortações fizerem-nos detestar o vício e amar a virtude, então as conduzirão das trevas para a luz, das
trevas da mentira e das paixões para a luz da verdade e da virtude;
conduzi-las-ão do pecado ao arrependimento, da indiferença ao amor, da tibieza
à devoção; é mister desprender os pecadores do mundo onde se perdem e
conduzi-los à Santa Igreja onde eles encontram a salvação.
Mas os ministros zelosos de Jesus Cristo fazem ainda mais:
cobrem-nos das vestimentas, ou melhor, dos méritos de Jesus Cristo, dos quais
os padres são os depositários, cobre-os com a vestimenta radiosa da inocência
recuperada. Pelo sacramento da penitência, que os padres lhes concederá,
são-lhes dadas a graça e virtudes, e Jesus vindo então a eles pela Santíssima
Eucaristia, encontram estes convertidos sua alegria e suas delícias ao entrar em seus corações regenerados o Seu Rei boníssimo e manso, Nosso Senhor
Jesus Cristo.
E justamente a outra maneira pela qual Jesus entra numa alma
é pela santa comunhão. Nisto está o extremo da bondade misericordiosa do
Salvador. Há, na verdade favor altíssimo e o mais dignificante do que este
prodigalizado à alma por Jesus? E assim terei necessidade de mostrar as
disposições que esta alma deve apresentar para receber o seu Deus? A alma de
fé, terá dificuldade em se despojar dos velhos hábitos, de seus hábitos de
pecado para os lançar sob os pés do Salvador? Não arrancará ela de seu interior
estes ramos luxuriantes, estes ramos vivais de suas paixões insuficientemente
subjugadas? Não apresentará ela ao modesto triunfador as palmas de suas
vitórias, nos combates repetidos que ela teve que travar em se preparando para
receber um tal hóspede? Não fará ela sair do seu mais íntimo com todas as suas
veras os mil gritos de sua admiração, de seu amor e de suas ações de graças: HOSANNA FILIO DAVID!?
Mas,
caríssimos, por nada deste mundo façamos o que muitos dos judeus fizeram: no
Domingo receberam em triunfo o Salvador
e na sexta-feira da mesma semana pediram a sua morte: "Tira-o, tira-o de nossas vistas, crucifica-o!!!... Não, pela
graça de Deus, jamais faremos isto, e com S. Pedro, mas com um coração mais
humilde e não presunçoso, devemos dizer: "Mesmo
que seja necessário morrer convosco, ó Jesus, não vos negarei". Amém!
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