SANTA PÁSCOA
"Vós não sabeis que todos os que
fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte? Nós fomos, pois,
sepultados com Ele, a fim de morrer (para o pecado) pelo batismo, para que
assim como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim nós vivamos
uma vida nova" (Rom. VI, 3 e 4).
Desejo aos caríssimos leitores uma FELIZ E SANTA PÁSCOA!
É logo no Batismo que participamos da
graça da Ressurreição. É também o que diz S. Paulo, como acima
transcrevemos. A água santa em que mergulhamos no Batismo é, segundo o Apóstolo,
a imagem do sepulcro (na época se administrava o batismo também por imersão).
Ao sair dela, fica a alma purificada de toda a falta, de toda a mancha, livre
da morte espiritual e revestida da graça, princípio da vida divina. Jesus
Cristo tem infinito desejo de nos comunicar a Sua vida gloriosa, assim como
teve um ardente desejo de ser batizado com o batismo de sangue para nossa
salvação. E o que é mister seja feito para correspondermos a este desejo divino
e nos tornarmos semelhantes a Jesus ressuscitado? É preciso viver no espírito
do nosso Batismo: renunciar de verdade (e não só de lábios) a tudo o que na
nossa vida é viciado pelo pecado; fazer "morrer" cada vez mais o
"velho homem". Continuando o texto supracitado no início: "Porque,
se nos tornarmos uma só planta com Cristo, por uma morte semelhante a d'Ele, o
mesmo sucederá por uma ressurreição semelhante, sabendo nós que o nosso homem
velho foi crucificado juntamente com Ele, a fim de que seja destruído o corpo
do pecado, para que não sirvamos jamais ao pecado" (Rom. VI, 5 e 6). Assim, tudo em
nós deve ser dominado e governado pela graça. Nisto consiste para nós toda a
santidade: afastar-nos do pecado, das ocasiões do pecado, desapegarmo-nos das
criaturas e de tudo o que é terreno, para vivermos em Deus e para Deus com a
maior plenitude e estabilidade possíveis. E São Paulo continua
explicando: "De fato aquele que morreu, justificado está do pecado. E,
se morremos com Cristo, creiamos que viveremos também juntamente com Cristo"...
Caríssimos, esta obra de santidade
inaugurada no Batismo, continua durante toda a nossa existência. São Paulo
dizia: "Eu morro todos os dias". É certo que Jesus Cristo só
morreu uma vez; deu-nos assim o poder de morrer com Ele para tudo o que é pecado.
Nós, porém, devemos "morrer" [espiritualmente falando] todos os dias, pois conservamos em nós
as raízes do pecado, raízes estas que o demônio trabalha para fazer brotar de
novo. Portanto, destruir em nós essas raízes, fugir de toda a infidelidade,
desapegar-se de toda criatura amada por si mesma, afastar das nossas ações todo
o motivo, não só culpável, mas puramente natural; libertar-nos de tudo o que é
criado, terreno, conservar o coração livre duma liberdade espiritual, - eis,
caríssimos, o primeiro elemento da nossa santidade. Mostra-o S. Paulo em termos
os mais expressivos: "Purificai-vos
do velho fermento para serdes uma massa nova; pois, desde que Jesus Cristo,
nosso Cordeiro Pascal, foi imolado por nós, tornastes-vos pães ázimos.
Participemos portanto do banquete, não com o fermento antigo, o fermento do mal
e da perversidade, mas com os ázimos da verdade e da sinceridade".
Aqui também faz-se mister uma explicação:
Entre os Israelitas, nas vésperas da festa da Páscoa, deviam desaparecer das
casas toda a espécie de fermento; No dia da festa, depois de imolado o cordeiro
pascal, comiam-no com pães ázimos, isto é, sem fermento, não levedados (Cf. Ex.
XII, 26 e 27). Pois bem! Tudo aquilo eram apenas "figuras e
símbolos" da verdadeira Páscoa, a Páscoa cristã. Naquele momento da
regeneração batismal, participamos da morte de Cristo, que fazia morrer em nós
o pecado: tornamo-nos, e assim devemos permanecer pela graça, uma nova massa,
isto é, "nova criatura", "novo homem", a exemplo de Jesus
Cristo saído glorioso do sepulcro.
Os judeus, chegada a Páscoa, se abstinham
de todo o fermento para comer a cordeiro pascal, "assim também vós,
cristãos, que quereis participar do mistério da Ressurreição e unir-vos a
Jesus Cristo, Cordeiro imolado e ressuscitado por vós, deveis, doravante, levar
uma vida isenta de todo o pecado; deveis abster-vos desses maus desejos que são
como que um fermento de malícia e perversidade. Fermento velho são, ainda, as
paixões desregradas que subvertem o coração, na revolta contra as leis naturais e sobrenaturais, para
levá-lo à condenação final. Fermento velho é, também, a vaidade que, motivando
as boas obras, impede-lhes todo o merecimento divino. Fermento velho enfim, é
aquele espírito mundano que, impregnando as mentes dos fiéis, leva-os a
conciliarem máximas terrenas e ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim
este fermento velho mina a vida espiritual dos cristãos. Envenenados por ideias
mundanas ,vivem completamente alheios aos destinos eternos, apenas buscando uma felicidade efêmera. Baseados numa noção deturpada de "misericórdia" e
levados por um espírito ecumênico e não missionário, aprovam os erros dos
inimigos da Igreja, e a eles se conformam. Curvando-se à leis do mundo,
preferem a liberdade desenfreada dos homens deste século à moral puríssima e
imutável dos Santos Evangelhos.
É contra tudo isto que São Paulo alerta
veementemente: "Purificai-vos do
velho fermento, para que sejais uma nova massa, vós que constituís a sociedade
dos filhos de Deus". Caríssimos, não mais o fermento do pecado e, sim
o pão ázimo da virtude; não mais o fermento doas paixões desregradas, e sim o
pão ázimo da pureza; não mais o fermento da vaidade e sim o pão ázimo da
verdade que busca a glória de Deus; não mais o fermento do espírito mundano e,
sim, o pão ázimo dos princípios tradicionais que nos ensinam a andar na terra
com as vistas voltadas para o reino dos céus, e nos impõem a profissão integral
da nossa fé sem as mesquinhas concessões ao respeito humano, e sem as vulgares
condescendências ao espírito moderno.
Em um palavra: celebrar a Páscoa com o pão
ázimo de pureza e da verdade.
Não podemos servir a dois senhores ao
mesmo tempo. E, se renunciamos ao demônio, suas obras que são os pecados, e
suas pompas e vaidades que levam ao pecado, digo, se renunciamos a tudo isto, é
justamente para vivermos para Deus. E este viver para Deus encerra em si uma
infinidade de graus. Supõe em primeiro lugar afastamento total de todo pecado
mortal; pois, entre este e a vida divina há incompatibilidade absoluta. Há
depois a separação do pecado venial, das raízes do pecado, de todo o motivo
natural; desapego de tudo quanto é criado. Quanto mais completa for esta
separação, mais libertados estamos, mais livres espiritualmente e mais se
desenvolve e desabrocha também em nós a vida divina; à medida que a alma se
liberta do humano, abre-se para o divino, vive na verdade a vida de Deus.
Caríssimos, permaneceremos em Jesus que é
a Vida, pela graça, pela fé que n'Ele temos, pelas virtudes de que Ele é o
modelo perfeito. E é preciso que Jesus Cristo reine em nossos corações. É
mister que tudo em nós Lhe seja submetido. Jesus deve ser a nossa vida.
Oxalá pudéssemos dizer com todo verdade como São Paulo: "Vivo, mas não sou mais eu que
vivo, é Jesus Cristo que vive em mim!"
Enfim, os sinos
da Páscoa anunciam não apenas Jesus
Cristo ressuscitado, mas, afinados na misericórdia divina, repicam alegres,
também para os pecadores, mas para os pecadores arrependidos e penitentes,
pecadores que também surgiram do sepulcro dos seus pecados. E assim
aproximam-se também eles do Banquete Eucarístico de uma Santa Páscoa.
Vamos resumir tudo com palavras de São
Paulo: "Portanto, se
ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são lá de cima, onde Cristo
está sentado à destra de Deus; afeiçoai-vos às coisas que são lá de cima, não
às que estão sobre a terra. Porque estais mortos e a vossa vida está escondida
com Cristo em Deus" (Col.
III, 1-3). Amém! Aleluia!
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