SAUDAÇÕES E BOAS VINDAS

LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO! PARA SEMPRE SEJA LOUVADO!

Caríssimos e amados irmãos e irmãs em Nosso Senhor Jesus Cristo! Sêde BEM-VINDOS!!! Através do CATECISMO, das HOMILIAS DOMINICAIS e dos SERMÕES, este blog, com a graça de Deus, tem por objetivo transmitir a DOUTRINA de Nosso Senhor Jesus Cristo. Só Ele tem palavras de vida eterna. Jesus, o Bom Pastor, veio para que Suas ovelhas tenham a vida, e com abundância. Ele é a LUZ: quem O segue não anda nas trevas.

Que Jesus Cristo seja realmente para todos vós: O CAMINHO, A VERDADE, A VIDA, A PAZ E A LUZ! Amém!

domingo, 11 de outubro de 2015

Que é a Tradição?

Extraído do capítulo XVII da "CARTA ABERTA AOS CATÓLICOS PERPLEXOS" escrita por D. Marcel Lefebvre em 4 de julho de 1984.

   "Parece-me que, com frequência, a palavra é imperfeitamente compreendida: comparam-na às tradições como existem nas profissões, nas famílias, na vida civil: o buquê fixado sobre a cumeeira da casa quando se coloca a última telha, a fita que se corta para inaugurar um monumento, etc. Não é disto que eu falo; a Tradição, não são os costumes legados pelo passado e conservados por fidelidade a este, mesmo na ausência de razões claras. A Tradição se define como o depósito da Fé transmitido pelo magistério de século em século. Este depósito é aquele que nos deu a Revelação, isto é, a palavra de Deus confiada aos Apóstolos e cuja transmissão é assegurada por seus sucessores.

   Ora atualmente, se quer pôr todo o mundo em pesquisa "como se o Credo não nos tivesse sido dado, como se Nosso Senhor não tivesse vindo trazer a Verdade, uma vez por todas. Que se pretende encontrar com toda esta pesquisa? Os católicos a quem se quer impor "reconsiderações", após se lhes ter feito "esvaziar suas certezas", devem lembrar-se do seguinte: o depósito da Revelação terminou no dia da morte do último Apóstolo. Acabou, não se pode mais nele tocar até a consumação dos séculos. A Revelação é irreformável. O Concílio I do Vaticano relembrou-o explicitamente: "a doutrina de fé que Deus revelou não foi proposta às inteligências como uma invenção filosófica que elas tivessem que aperfeiçoar, mas foi confiada como um depósito divino à Esposa de Jesus Cristo (Igreja) para ser por Ela fielmente conservada e infalivelmente interpretada".

   Mas, dir-se-á, o dogma que fez Maria a mãe de Deus não remonta senão ao ano de 431, o da transubstanciação a 1215, a infalibilidade pontifícia a 1870 e assim por diante. Não houve aí uma evolução? De modo nenhum. Os dogmas definidos no curso das idades estavam contidos na Revelação, a Igreja simplesmente os explicitou. Quando o Papa Pio XII definiu, em 1950, o dogma da Assunção, ele disse precisamente que esta verdade da transladação ao céu da Virgem Maria com seu corpo se encontrava no depósito da Revelação, que ela existia já nos textos que nos foram revelados antes da morte do último Apóstolo. Não se pode trazer nada de novo neste domínio, não se pode acrescentar um só dogma, mas exprimir os que existem duma maneira sempre mais clara, mais bela e mais grandiosa.

   Isto é tão certo que constitui a regra a seguir para julgar os erros que se nos propõem quotidianamente e para rejeitá-los sem nenhuma concessão. Bossuet o escreveu com energia: "Quando se trata de explicar os princípios da moral cristã e os dogmas essenciais da Igreja, tudo o que não aparece na tradição de todos os séculos e especialmente na Antiguidade, é por isso mesmo não somente suspeito mas mau e condenável; e é o principal fundamento sobre o qual todos os santos Padres (da Igreja) e os papas mais que os outros, condenaram falsas doutrinas, não havendo nada de mais odioso à Igreja romana que as novidades".

   O argumento que se faz valer aos fiéis aterrorizados é este: "Vós vos agarrais ao passado, sois passadistas, vivei com vosso tempo!" Alguns desconcertados, não sabem o que responder; ora, a réplica é fácil: aqui não há nem passado nem presente, nem futuro, a Verdade é de todos os tempos, ela é eterna.

   Para difamar a Tradição, opõe-se-lhe a Sagrada Escritura, à maneira protestante, afirmando que o Evangelho é o único livro que conta. Mas a Tradição é anterior ao Evangelho! Se bem que os Sinópticos tenham sido escritos bem menos tardiamente do que se tenta fazer crer, antes que os Quatro tivessem terminado a sua redação, passaram-se vários anos; ora a Igreja já existia, tinha havido Pentecostes, acarretando numerosas conversões, três mil no mesmo dia, ao sair do Cenáculo. Em que acreditaram eles naquele momento? Como se fez a transmissão da Revelação a não ser por tradição oral? Não se poderia subordinar a Tradição aos Livros Santos e com mais forte razão recusá-la.

   Mas não creiamos que, fazendo isto, eles tenham um respeito ilimitado pelo texto inspirado. Eles (os progressistas) contestam mesmo que ele o seja na sua totalidade: "O que há de inspirado no Evangelho? Somente as verdades que são necessárias à nossa salvação.". Por conseguinte os milagres, os relatos da infância, os acontecimentos e atos de Nosso Senhor são remetidos ao gênero biográfico mais ou menos lendário. No Concílio Vaticano II discutiu-se sobre esta frase: "Apenas as verdades necessárias à salvação"; havia bispos que queriam reduzir a autenticidade histórica dos evangelhos, o que mostra a que ponto o clero estava gangrenado pelo neo-modernismo. Os católicos não se devem deixar iludir: todo o Evangelho é inspirado; os que o escreveram tinham realmente sua inteligência sob a influência do Espírito Santo, de tal sorte que a totalidade é a palavra de Deus. Verbum Dei. Não é permitido escolher e dizer hoje: "Nós tomamos tal parte, nós não queremos tal outra. "Escolher é ser herético, segundo a etimologia grega da palavra.

   Não é menos verdade que é a Tradição que nos transmite o Evangelho, e pertence à Tradição, ao Magistério, explicar-nos o que há no Evangelho. Se não temos ninguém para no-lo interpretar, podemos ser muitos a compreender dum modo inteiramente oposto a mesma palavra de Cristo. Desemboca-se então no livre exame dos protestantes e na livre inspiração de todo este carismatismo atual que nos lança na pura aventura.

   Todos os concílios dogmáticos nos deram a expressão exata da Tradição, a expressão exata do que os Apóstolos ensinaram. E irreformável. Não se podem mais mudar os decretos do Concílio de Trento, porque eles são infalíveis, escritos e baixados por um ato oficial da Igreja. à diferença do Vaticano II cujas proposições não são infalíveis, porque os papas não quiseram comprometer sua infalibilidade. Ninguém então vos pode dizer: "Vós vos agarrais ao passado, permanecestes no Concílio de Trento". Porque o Concílio de Trento não é o passado! A Tradição se reveste dum caráter intemporal, adaptado a todos os tempos e a todos os lugares. 

   

domingo, 4 de outubro de 2015

OS IDEAIS DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS ( 1 )

   Todos sabemos que a meditação da vida de São Francisco de Assis constitui um verdadeiro banho de humildade e de desprendimento dos bens terrestres; e mais do que isto: um banho de amor às humilhações e à efetiva santa pobreza. São Francisco não procurou forjar um  Evangelho ao "modus vivendi" da época. Procurou vivê-lo na sua genuinidade íntegra. Em outras palavras, esforçou-se por fazer de Jesus Cristo o centro de sua vida. Foi assim que logrou com a graça de Deus, ser uma cópia do próprio Nosso Senhor Jesus Cristo. Não dissera o Divino Mestre: "Sede perfeitos como Vosso Pai do Céu é perfeito"? Jesus Cristo é, na verdade, a causa eficiente e também exemplar de toda santidade. Imitando-O, chega-se, o quanto é possível a mera criatura, à perfeição de Deus. 

   Francisco, na juventude, mesmo antes do que ele próprio chama "sua conversão", distinguiu-se por três qualidades: pureza de costumes, desprezo pelos bens puramente materiais e espírito cavaleiresco.

   Pureza de costumes:  "Ele era, diz Tomás Celano, naturalmente e por força de uma generosa resolução, cortês nos modos e na linguagem. Ninguém lhe ouviu jamais uma palavra ofensiva ou vergonhosa. Por muito alegre e brincalhão que fosse, propusera-se nunca responder a gracejos pouco delicados. Por isso o tinham em alta estima na província, e muitos dos que o conheciam asseveravam que ele viria a ser um dia um grande homem". (Thom. Cel., II, n. 3). Dizem os seus biógrafos que em nenhuma parte se encontra , neste período da sua existência, indício de que qualquer falta haja perturbado a sua consciência.

   Desprezo pelas riquezas: "Era, diz Celano, o primeiro nos jogos, nas facécias e anedotas, nas conversas fúteis e cantilenas, no vestir roupas cômodas e largas, muito rico, nada avarento, antes pródigo, longe de entesourar, dissipava a sua fortuna; muito prudente, quando tratava dos negócios, fora deles distribuía a mancheias o dinheiro" (Thom. Cel. I, n. 2). Mostrava-se gastador consigo e com os seus amigos, com os pobres e os necessitados. (Tres Socii, n. 2).

  Alma verdadeiramente cavaleiresca: Bem cavaleirosa era a inclinação que impelia insistentemente o jovem Francisco para as expedições militares, em que é necessário empregar violentos esforços e até expor-se a ferimentos e à morte. Tinha cerca de vinte anos quando tomou parte na terrível guerra que estalou entre Assis e Perúgia; aí foi feito prisioneiro, com muitos dos seus companheiros de armas. Durante o ano que lhes durou o cativeiro, venceu a todos em coragem cavaleirosa. Não perdeu por um momento o seu bom humor, e até se ria, a gosto da sua enxovia e dos seus ferros. Sempre conseguiu, como é próprio de um amável cavaleiro, levantar o moral dos prisioneiros, fazer voltar à ordem os espíritos turbulentos e dirimir as questões que entre eles se desencadeavam. 

  A "conversão" de Francisco vai ser preparada por Deus através de uma doença de mais de um mês, que lhe alquebrará ao mesmo tempo o corpo e a alma. Nosso Senhor Jesus Cristo vai tirar do coração de Francisco seu apego às alegrias do mundo, e vai transformar, no ideal de Francisco, a cavalaria terrestre em cavalaria espiritual, assim como bem mais tarde irá fazê-lo com Inácio de Loiola.
   Depois desta doença, quando entrou em convalescença - provavelmente aos 23 anos de idade - e, apoiado a uma bengala, saiu de casa pela primeira vez, o mundo tinha perdido para ele todo o encanto de outrora. Percebeu que uma grande mudança se operara nele. Admirava-se desta mudança de coisas, e, desde que recobrou as forças, tentou esquivar-se à mão divina. Assaltado de projetos terrenos, pôs-se a caminho para a Apúlia, à cata de aventuras. E, quanto mais avançava, mais pensativo se tornava. Chegado que foi a Espoleto, deu-lhe Deus ordem de regressar a Assis, onde lhe seria indicado o que teria a fazer. Era tão formal a ordem divina, que Francisco tomou imediatamente o caminho da cidade natal. (Cf. Tres Socii, n. 6). Mal chega a casa, já os amigos o impelem à organização de uma de suas festas. A princípio hesitou, mas depois acabou aceitando o convite. Após o festim magnífico, espalhou-se o alegre bando, a cantar como tantas vezes o fizera antes, pelas ruas de Assis. Francisco, empunhando o cetro de rei da festa, ia a certa distância, silencioso e recolhido. De repente, recebe a visita de Deus: tal doçura invade sua alma que, insensível às coisas exteriores, detém-se sem voz, sem movimentos. (Cf. Tres Socii, n. 7). A partir desta hora, mostrou-se mais meditativo e mais interior. Logo se sentiu tomado de tédio, não só por si como também por tudo quanto amara até então. É evidente que isso não se deu senão aos poucos, uma vez que não se achava ainda de todo libertado das vaidades do mundo. Mas ia fugindo cada vez mais ao tumulto dos negócios, procurava o comércio de Deus e dirigia-se todos os dias para uma gruta solitária, fora da cidade, arrebatado por uma força irresistível e acalentado por uma divina suavidade. Experimentava, no entanto, indizíveis sofrimentos e projetos tumultuavam-lhe no espírito e aí levantavam tempestades. Examinava-os, para depois os aprovar ou rejeitar. Ardendo em fervor e em santas resoluções para o futuro, consumia-se em aflições pela sua vida passada. Que devia renunciar inteiramente ao mundo e empenhar-se, sem reservas no serviço de Deus, isso o sabia ele muito bem, mas era tudo.

 No próximo post, falaremos de sua "conversão".


OS IDEAIS DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS ( 2 )

   "Um dia, escreve Tomás Celano, - estava Francisco então com os seus vinte cinco anos - depois de haver implorado com plena confiança a misericórdia de Deus, mostrou-lhe o Senhor o que tinha a fazer. Foi tão grande a sua alegria, que não pôde conservar ocultos por mais tempo os sentimentos do seu coração. Não falava, entretanto, da sua felicidade, senão de um modo enigmático, de modo que o povo dizia: "Sonha com um precioso tesouro que espera descobrir ou pensa então em casar-se". E, de ordinário, respondia ele: "Sim, mas aquela com quem me casarei é tão nobre, tão rica e bela, que não há igual no mundo". "E, de fato, - nota Celano - a Ordem que ele funfou é a esposa imaculada de Deus e o reino do céu é esse precioso tesouro que ele tão ardentemente procurou. Efetivamente, era necessário que atendesse plenamente à vocação evangélica aquele que devia ser ministro do Evangelho na fé e na verdade". Vamos ouvir o próprio Francisco no começo de seu Testamento:

   "O Senhor me deu a mim, Frei Francisco, a graça de começar assim a fazer penitência: estava em pecados e me parecia muito amargo ver leprosos; e o próprio Senhor me levou ao meio deles, e eu usei de misericórdia para com eles. E, quando me retirei de sua presença, o que me tinha parecido amargo, mudou-se para mim em doçura da alma e do corpo.

    E depois, pouco demorei e saí do século. E o Senhor me deu uma tão grande fé nas igrejas, que chegava a adorar assim com simplicidade e dizia: "Nós vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo, aqui e em todas as vossas igrejas que se erguem por todo o mundo, e nós vos bendizemos, por haverdes remido o mundo com a vossa santa cruz".

   Em seguida, o Senhor me deu e me dá ainda uma tão grande fé nos padres que vivem consoante a Santa Igreja Romana, por causa do seu caráter, que, se eles me perseguissem, seria a eles mesmos que eu desejaria recorrer. 

   E depois que o Senhor me deu Irmãos, ninguém me mostrou o que devia fazer e o Altíssimo me revelou que eu devia viver conforme o Santo Evangelho. E assim o mandei escrever em poucas palavras e simplesmente, e o senhor Papa mo confirmou". 

   COMO NASCEU A ORDEM FRANCISCANA: Era em 24 de Fevereiro de 1209. Francisco assistia, na Porciúncula, ao santo sacrifício da Missa. Ao Evangelho ouviu ler as palavras que Nosso Senhor dirigira aos Apóstolos, mandando-os pregar. Depois da Missa, foi pedir explicação ao celebrante, e este lha deu ponto por ponto. Quando Francisco soube que o discípulo de Cristo não devia possuir ouro, nem prata, nem qualquer moeda; nem levar em viagem alforje, nem bolsa, nem bastão; nem ter sapatos, nem duas túnicas; mas pregar o reino de Deus e a penitência, exultou em espírito e exclamou: "Eis aí está o que eu quero! Eis o que procuro e desejo fazer, de todo o meu coração". e naquele mesmo instante se descalça, joga fora o bastão que trazia, substitui por uma corda o cinto de couro e faz uma roupa de pano grosseiro sobre a qual cose uma cruz. Com a mesma ligeireza e o mesmo respeito, pôs em prática todos os conselhos que ouvira durante a Missa. "Porque não era daqueles que ficam surdos aos conselhos evangélicos; mas, confiando à sua memória tudo o que aprendera, esforça-se por cumpri-lo à risca". (T. Celano e São Boaventura). 
   Algumas semanas mais tarde, juntaram-se-lhes os primeiros companheiros. Francisco abriu, ao acaso, por três vezes, o Livro Santo, e, de cada vez, lhe caiu debaixo dos olhos a passagem referente à missão dos Apóstolos. Viu neste fato uma indicação providencial, e, voltando-se para os discípulos, disse-lhes: "Meus irmãos, eis aí com será a nossa vida e a nossa Regra; como será também a vida e a Regra de todos aqueles que, para o futuro, se quiserem juntar a nós. Ide, pois, e fazei como acabais de ouvir". Era em 16 de Abril de 1209. Nesse dia, nasceu a Ordem Franciscana. 
   

OS IDEAIS DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS ( 3 )

  O ideal de São Francisco de Assis no atinente a Santíssima Eucaristia, podemos ver pela carta que escreveu aos Clérigos. Ei-la:

    "Consideremos todos nós clérigos o grande pecado e ignorância que alguns manifestam com relação ao Santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo e seu santíssimo nome e palavras escritas que tornam santamente presente o Corpo (de Cristo). Sabemos que o Corpo não pode estar presente se antes não for tornado presente pela palavra. Pois nada temos nem vemos corporalmente dele, do próprio Altíssimo, neste mundo, senão o Corpo e Sangue, os nomes e as palavras pela quais fomos criados e remidos da morte para a vida. 

   Logo, todos aqueles que administram tão sacrossantos mistérios e especialmente aqueles que os ministram sem a reta discrição, considerem no seu íntimo como são vulgares os cálices, corporais e panos de linho sobre as quais é oferecido em sacrifício em lugares bem comuns e o levam de modo lamentável (pela rua) e o recebem indignamente e o ministram indiscriminadamente. Igualmente os seus nomes e palavras escritas são às vezes calcadas aos pés; pois "o homem animal não percebe as coisas de Deus" (1Cor. 2, 14).

   Não excitam porventura tais fatos a nossa piedade e devoção por esse bom Senhor quando se digna de vir colocar-se ele próprio em nossas mãos e nós o tocamos e o recebemos todos os dias em nossa boca? Ou ignoramos que um dia havemos de cair em suas mãos?

   Emendemo-nos pois depressa e firmemente dessas e de outras faltas. Onde quer que o Santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo for conservado de modo inconveniente ou simplesmente deixado em alguma parte, que o tirem dali para colocá-lo e encerrá-lo num lugar RICAMENTE ADORNADO.(Destaque meu).  De modo igual sejam recolhidos e colocados em lugar decente os nomes e palavras escritas do Senhor sempre que forem encontradas em lugares imundos. Sabemos perfeitamente que estamos estritamente obrigados a observar tudo isto, em virtude dos mandamentos do Senhor e dos preceitos da santa Mãe Igreja; e os que o não fazem saibam que deverão prestar contas perante Nosso Senhor Jesus Cristo no dia do Juízo. 

   E os que mandarem copiar esta carta a fim de que seja mais amplamente observada saibam que serão abençoados por Deus, Nosso Senhor. 

sábado, 12 de setembro de 2015

O SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO

DEFINIÇÃO E EXPLICAÇÃO DOS TERMOS

   I - DEFINIÇÃO: É um sacramento instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, que estabelece uma união santa e indissolúvel entre o homem e a mulher, e lhes dá a graça de se amarem um ao outro santamente, e de educarem cristãmente seus filhos.

   II - EXPLICAÇÃO DOS TERMOS DESTA DEFINIÇÃO:
   
   1º - Um sacramento... Deus instituiu o matrimônio já no Paraíso Terrestre, quando apresentou Eva como esposa a Adão. Jesus Cristo elevou-o à dignidade de sacramento. Para os cristãos não há matrimônio que não seja sacramento; e se não for sacramento, não é tampouco verdadeiro matrimônio.

   2º - Que estabelece uma união santa e indissolúvel entre o homem e a mulher: é uma união santa porque foi feita pelo próprio Deus: "Não separe o homem o que Deus uniu". E a união do matrimônio é indissolúvel, isto é, é tal que ninguém a pode dissolver: marido e mulher estão reciprocamente unidos para toda a vida. Os casados sê-lo-ão sempre perante Deus, embora, por desgraça, se separem; por isso nenhum deles, enquanto o outro vive, pode passar a segundas núpcias. A união do matrimônio perfeito é tão indissolúvel que nem o Papa, que tem poder amplíssimo, a pode desfazer. Daqui se compreende como o divórcio entre os cristãos é coisa que nenhuma autoridade pode permitir e, portanto, os divorciados que se casam com outros não serão e nunca poderão ser verdadeiros esposos. Só a morte de um cônjuge dissolve a união do matrimônio.
   Deus quis esta união indissolúvel, porque os males que traz o divórcio, são imensamente mais numerosos e graves do que aqueles que pretende remediar, e porque a união dos esposos no matrimônio significa a de Jesus Cristo com a Igreja, sua esposa e nossa mãe, unida a Ele indissoluvelmente. 

   3º - E lhes dá a graça de se amarem um ao outro santamente: o sacramento do Matrimônio confere esta graça especial: conviver santamente e se amarem santamente, e, portanto, de se amarem sempre, assistirem-se mutuamente nas necessidades, sofrerem com paciência os defeitos um do outro. 

   4º - E de educarem cristãmente seus filhos: é esta uma outra graça especial deste sacramento. É a mãe especialmente quem primeiro, com o pai, deve encaminhar retamente uma criança, cultivando-lhe no espírito as boas qualidades e corrigindo-lhe as más. É esta uma missão muito grave e delicada; de a levar a cabo bem, está dependente o futuro da criança. Para este fim dá o sacramento aos pais as graças necessárias; mas quantos deixam, infelizmente, desaproveitada tal graça, e por isso não educam bem os próprios filhos!  

   O sacramento do Matrimônio dá também um aumento da graça santificante.   

EXEMPLO

   Henrique VIII, rei da Inglaterra, depois de ter publicado uma obra em defesa da doutrina católica contra Lutero e merecido do Papa o título de Defensor da Fé, concebeu uma paixão criminosa por Ana Bolena e, querendo desposá-la, pretendia que o Papa  declarasse nulo o matrimônio por ele contraído com Catarina de Aragão. O Papa, tendo verificado acuradamente e reconhecido válido o primeiro matrimônio, não pôde aderir ao desejo do rei, que ameaçou separar a Inglaterra da Igreja romana. Não obstante, o Papa, como era seu dever, foi inabalável, não concedeu o que não estava em seu poder conceder. O rei, obcecado pela paixão, repudiou a sua verdadeira esposa e intimou a separação de toda a nação da Igreja católica, perseguiu os que quiseram permanecer fiéis à Igreja romana, e matou muitos deles. A heresia anglicana e a separação da Inglaterra da Igreja tiveram origem na fidelidade do Papa ao seu dever: isto é, na recusa de dissolver um matrimônio verdadeiro e perfeito.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

A LIBERDADE RELIGIOSA

Artigo extraído do capítulo XI da "CARTA ABERTA AOS CATÓLICOS PERPLEXOS, escrita por D. Lefebvre em 1984. 

   "No concílio, foi o esquema sobre a liberdade religiosa que suscitou as mais acirradas discussões. Isto se explica facilmente pela influência que exerciam os liberais e pelo interesse que tinham nesta questão os inimigos hereditários da Igreja. Passaram-se vinte anos [hoje= 50]  e é possível ver agora que nossos receios não eram exagerados quando este texto foi promulgado, sob a forma duma declaração que reunia noções opostas à Tradição e ao ensinamento de todos os últimos papas. Tanto isto é verdadeiro que princípios falsos ou expressos dum modo ambíguo têm infalivelmente aplicações práticas reveladoras do erro cometido em adotá-los. Vou mostrar, por exemplo, como os ataques dirigidos contra o ensino católico na França pelo governo socialista são a consequência lógica da nova definição dada à liberdade religiosa pelo Vaticano II.

   Façamos um pouco de teologia para compreender bem com que espírito esta declaração foi redigida. A argumentação inicial - e nova - fazia repousar a liberdade, para cada homem, de praticar interior e exteriormente a religião de sua escolha, sobre a "dignidade da pessoa humana". Era portanto esta dignidade que fundamentava  a liberdade, que lhe dava sua razão de ser. O homem podia aderir a qualquer erro em nome de sua dignidade. 

   Isto era pôr o carro à frente dos bois, apresentar as coisas pelo avesso. Pois aquele que adere ao erro decai de sua dignidade e nada se pode mais estabelecer sobre o erro. De outra parte, o que fundamenta a liberdade não é a dignidade, mas a verdade: "A Verdade vos tornará livres", disse Nosso Senhor. 


   "Que se entende por dignidade? O homem a tira, segundo a doutrina católica, de sua perfeição, isto é, do conhecimento da verdade e da aquisição do bem. O homem é digno de respeito segundo sua intenção de obedecer a Deus e não segundo seus erros. Estes geram indefectivelmente o pecado. Quando Eva, a primeira pecadora, sucumbiu, disse: "A serpente me enganou".  O seu pecado e o de Adão acarretaram a degradação da dignidade humana da qual sofremos deste então. 

   Daí resulta que não se pode ligar a liberdade à degradação como à sua causa. Ao contrário, a adesão à verdade e o amor de Deus são os princípios da autêntica liberdade religiosa. Pode-se definir esta como a liberdade de render a Deus o culto que lhe é devido e de viver segundo seus mandamentos.

   Se tendes seguido bem este raciocínio, a liberdade religiosa não se pode aplicar às religiões falsas, ela não sofre a partilha. Na sociedade civil, a Igreja proclama que o erro não tem direitos; o Estado somente deve reconhecer para os cidadãos o direito de praticarem a religião de Cristo.

   Certamente, isto deve parecer como uma pretensão exorbitante àquele que não tem fé. O católico não contaminado pelo espírito do tempo julga-o normal e legítimo. Mas ai! muitos, entre os cristãos, perderam de vista estas realidades. Repetiu-se tanto que era preciso respeitar as ideias dos outros, colocar-se em seu lugar, aceitar seus pontos de vista, divulgou-se tanto este contra-senso: "A cada um a sua verdade"; tanto se tomou o diálogo pela virtude cardeal por excelência, diálogo que leva obrigatoriamente a concessões: o cristão, por uma caridade mal entendida, acreditou que devia fazê-las (=concessões) mais que seus interlocutores, é frequentemente o único a fazê-las. Não se imola mais, como os mártires, pela verdade; é a verdade que é por ele (=cristão) imolada.



   De outra parte, a multiplicação dos estados leigos na Europa cristã habituou os espíritos ao laicismo e os conduziu a adaptações contrárias à doutrina da Igreja. A doutrina não se adapta, ela é fixa, definida uma vez por todas.

   A comissão central preparatória do concílio, dois esquemas tinham sido apresentados, um pelo cardeal Bea sob o título "Da liberdade religiosa", o outro pelo cardal Ottaviani, sob o título "Da tolerância religiosa".

   O primeiro se estendia por catorze páginas sem nenhuma referência ao magistério que o precedeu. O segundo compreendia sete páginas de texto e dezesseis páginas de referências, indo de Pio VI (1790) a João XXIII (1959). 

   O esquema do cardeal Bea continha, nos meu parecer e no de um número não negligenciável de Padres, afirmações em desacordo com a verdade da Igreja eterna. Lia-se nele, por exemplo: "É por isso que se deve louvar o fato de que, em nossos dias, a liberdade e a igualdade religiosas são proclamadas por numerosas nações e pela Organização Internacional dos Direitos do Homem".

   O Cardeal Ottaviani, por seu turno, expunha muito corretamente a questão: "Da mesma forma que o poder civil se julga com o direito de proteger os cidadãos contra as seduções do erro... ele pode mesmo regular e moderar as manifestações públicas dos outros cultos e defender os seus cidadãos contra a difusão das falsas doutrinas que, a juízo da Igreja, põem em perigo sua salvação eterna".

   Leão XIII dizia (Rerum Novarum) que o bem comum temporal, fim do sociedade civil, não é puramente de ordem material, mas "principalmente um bem moral". Os homens se organizaram em sociedade em vista do bem de todos; como se poderia excluir o bem supremo, que é a bem-aventurança celeste? 

sábado, 8 de agosto de 2015

CATECISMO DO SANTO CURA D'ARS SOBRE A ORAÇÃO

   Vede, meus filhos: o tesouro dum cristão não está na terra, está no céu. Pois bem! o nosso pensamento deve estar onde está o nosso tesouro.
   O homem tem uma bela função, a de rezar e de amar... Vós rezais, vós amais: eis a felicidade do homem na terra!
   A oração não é outra coisa senão uma união com Deus. Quando se tem o coração puro e unido a Deus, sente-se um bálsamo, uma doçura que inebria, uma luz que deslumbra. Nessa união íntima, Deus e a alma são como dois pedaços de cera fundidos juntos; não se pode mais separá-los. É uma coisa muita bela essa união de Deus com a sua criaturinha. É uma felicidade que não se pode compreender.
   Nós havíamos merecido não rezar; mas Deus, na sua bondade, permitiu-nos falar-Lhe. A nossa oração é um incenso que Ele recebe com extremo prazer.
   Meus filhos, vós tendes um coração pequeno, mas a oração dilata-o e torna-o capaz de amar a Deus... A oração é um antegozo do céu, um derramamento  do paraíso. Nunca nos deixa sem doçura. É um mel que desce à alma e adoça tudo. As penas derretem-se ante uma oração bem feita, como a neve diante do sol.
   A oração faz passar o tempo com grande rapidez, e tão agradavelmente, que a gente não lhe percebe a duração. Reparai, quando eu percorria a Bresse, no tempo em que os pobres curas estavam quase todos doentes, rezava a Deus ao longo do caminho. Asseguro-vos que o tempo não me durava.
   Vêem-se alguns que se perdem na oração como o peixe n'água, porque são todos de Deus. No seu coração não há intermédio. Oh! como gosto dessas almas generosas!... São Francisco de Assis e Santa Clara  viam Nosso Senhor e lhes falavam como nós nos falamos. Ao passo que nós, quantas vezes vimos à igreja sem saber o que  vimos fazer e o que queremos pedir! E entretanto quando vamos a casa de alguém, sabemos bem porque vamos... Há uns que parecem dizer a Deus: "Vou dizer-Vos duas palavras para me ver livre de Vós..." Eu penso com freqüência que quando nós vimos adorar Nosso Senhor, alcançaríamos tudo o que quiséssemos se Lhe pedíssemos com uma fé bem viva e um coração bem puro. Mas sucede justamente que estamos sem fé, sem esperança, sem desejo e sem amor...
  Há dois gritos no homem: o grito do anjo e o grito da besta. O grito do anjo é a oração; o grito da besta é o pecado. Os que não rezam, curvam-se para a terra como uma toupeira que procura fazer um buraco para se esconder. São todos terrenos, todos embrutecidos, e só pensam nas coisas do tempo... como aquele avarento a quem administravam um dia os sacramentos; quando lhe apresentaram a beijar um crucifixo de prata, disse ele: "Aí está uma cruz que pesa bem dez onças".
   O céu, se houvesse nele um dia sem adoração, não seria mais céu; e se os pobres condenados, apesar dos seus sofrimentos, pudessem adorar, não haveria mais inferno. Ai! eles tinham um coração para amar a Deus, uma língua para bendizê-Lo: era o seu destino... E agora, condenaram-se a maldizê-Lo durante toda a eternidade. Se eles pudessem esperar vir a rezar uma vez ao menos durante um minuto. esperariam por esse minuto com tal impaciência que isso lhes amenizaria os tormentos.
   Pai Nosso, que estais no céu... Oh! como é belo, meus filhos, ter um pai no céu!... - Venha a nós o vosso reino!... Se eu fizer reinar Deus no meu coração, Ele me fará reinar consigo na sua glória. - Seja feita a vossa vontade!... Não há nada tão doce quanto fazer a vontade de Deus, e nada tão perfeito... Para fazer bem as coisas, é preciso fazê-las como Deus quer, em toda conformidade com os seus desígnios.- O pão nosso de cada dia nos dai hoje... Nós temos duas partes, a alma e o corpo. Pedimos a Deus que alimente o nosso pobre cadáver, e Ele nos responde fazendo a terra produzir tudo quanto é necessário à nossa subsistência... Mas Lhe pedimos que alimente a nossa alma, que é a mais bela parte de nós mesmos; e a terra é pequena demais para fornecer à nossa alma com que saciá-la; ela tem fome de Deus, e só Deus pode satisfazê-la. Por isto o bom Deus não julgou fazer demais ficando na terra e tomando um corpo a fim de que esse corpo se tornasse o alimento das nossas almas. "Minha carne, disse Nosso Senhor, é verdadeiramente comida... O pão que eu vos vou dar é a minha carne para a vida eterna".
   O pão das almas está no tabernáculo. O tabernáculo ou sacrário é o guarda-comida dos cristãos... Oh! como é belo, meus filhos! Quando o sacerdote apresenta a hóstia e vo-la mostra, a vossa alma pode dizer: Eis a minha comida!... Ó meus filhos, nós temos felicidade demais!... Só no céu o compreenderemos. Como é pena!