"Um dia, escreve Tomás Celano, - estava Francisco então com os seus vinte cinco anos - depois de haver implorado com plena confiança a misericórdia de Deus, mostrou-lhe o Senhor o que tinha a fazer. Foi tão grande a sua alegria, que não pôde conservar ocultos por mais tempo os sentimentos do seu coração. Não falava, entretanto, da sua felicidade, senão de um modo enigmático, de modo que o povo dizia: "Sonha com um precioso tesouro que espera descobrir ou pensa então em casar-se". E, de ordinário, respondia ele: "Sim, mas aquela com quem me casarei é tão nobre, tão rica e bela, que não há igual no mundo". "E, de fato, - nota Celano - a Ordem que ele funfou é a esposa imaculada de Deus e o reino do céu é esse precioso tesouro que ele tão ardentemente procurou. Efetivamente, era necessário que atendesse plenamente à vocação evangélica aquele que devia ser ministro do Evangelho na fé e na verdade". Vamos ouvir o próprio Francisco no começo de seu Testamento:
"O Senhor me deu a mim, Frei Francisco, a graça de começar assim a fazer penitência: estava em pecados e me parecia muito amargo ver leprosos; e o próprio Senhor me levou ao meio deles, e eu usei de misericórdia para com eles. E, quando me retirei de sua presença, o que me tinha parecido amargo, mudou-se para mim em doçura da alma e do corpo.
E depois, pouco demorei e saí do século. E o Senhor me deu uma tão grande fé nas igrejas, que chegava a adorar assim com simplicidade e dizia: "Nós vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo, aqui e em todas as vossas igrejas que se erguem por todo o mundo, e nós vos bendizemos, por haverdes remido o mundo com a vossa santa cruz".
Em seguida, o Senhor me deu e me dá ainda uma tão grande fé nos padres que vivem consoante a Santa Igreja Romana, por causa do seu caráter, que, se eles me perseguissem, seria a eles mesmos que eu desejaria recorrer.
E depois que o Senhor me deu Irmãos, ninguém me mostrou o que devia fazer e o Altíssimo me revelou que eu devia viver conforme o Santo Evangelho. E assim o mandei escrever em poucas palavras e simplesmente, e o senhor Papa mo confirmou".
COMO NASCEU A ORDEM FRANCISCANA: Era em 24 de Fevereiro de 1209. Francisco assistia, na Porciúncula, ao santo sacrifício da Missa. Ao Evangelho ouviu ler as palavras que Nosso Senhor dirigira aos Apóstolos, mandando-os pregar. Depois da Missa, foi pedir explicação ao celebrante, e este lha deu ponto por ponto. Quando Francisco soube que o discípulo de Cristo não devia possuir ouro, nem prata, nem qualquer moeda; nem levar em viagem alforje, nem bolsa, nem bastão; nem ter sapatos, nem duas túnicas; mas pregar o reino de Deus e a penitência, exultou em espírito e exclamou: "Eis aí está o que eu quero! Eis o que procuro e desejo fazer, de todo o meu coração". e naquele mesmo instante se descalça, joga fora o bastão que trazia, substitui por uma corda o cinto de couro e faz uma roupa de pano grosseiro sobre a qual cose uma cruz. Com a mesma ligeireza e o mesmo respeito, pôs em prática todos os conselhos que ouvira durante a Missa. "Porque não era daqueles que ficam surdos aos conselhos evangélicos; mas, confiando à sua memória tudo o que aprendera, esforça-se por cumpri-lo à risca". (T. Celano e São Boaventura).
Algumas semanas mais tarde, juntaram-se-lhes os primeiros companheiros. Francisco abriu, ao acaso, por três vezes, o Livro Santo, e, de cada vez, lhe caiu debaixo dos olhos a passagem referente à missão dos Apóstolos. Viu neste fato uma indicação providencial, e, voltando-se para os discípulos, disse-lhes: "Meus irmãos, eis aí com será a nossa vida e a nossa Regra; como será também a vida e a Regra de todos aqueles que, para o futuro, se quiserem juntar a nós. Ide, pois, e fazei como acabais de ouvir". Era em 16 de Abril de 1209. Nesse dia, nasceu a Ordem Franciscana.
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