EXPLICAÇÃO DO 15º DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES
São Lucas VII, 11-16.
Ressurreição espiritual: "É mais importante ressuscitar para
viver sempre".
Caríssimos e amados
irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!
O Evangelho deste domingo conta-nos a ressurreição de
um rapaz, filho único de uma viúva que morava numa aldeia chamada Naim.
Hoje os padres que seguem a Liturgia Tradicional leem no
Breviário um trecho do sermão de Santo Agostinho sobre este Evangelho. Vamos
dar um resumo deste sermão.
Os Santos Evangelistas contam-nos apenas três
ressurreições operadas por Jesus: a de uma menina, filha de Jairo, chefe da
Sinagoga; a do jovem filho único da viúva de Naim; e a de seu amigo Lázaro
de Betânia, irmão de Marta e Maria Madalena.
O santo Doutor comenta as três ressurreições operadas por
Jesus como símbolos das milhares ressurreições espirituais.
Santo Agostinho diz: "Amplius est
ressuscitare semper victurum, quam suscitare iterum moriturum". É mais
importante ressuscitar para viver sempre, do que ressuscitar para morrer de
novo.
Vejamos que lição
pretendeu dar-nos Jesus nos mortos que ressuscitou.
Ressuscitou a menina logo após ela ter morrido. Ainda
estava no seu leito em casa: não havia saído o enterro. Jesus operou o milagre
e ali mesmo entregou-a viva a seus pais. Ressuscitou o jovem filho da viúva de
Naim. O enterro já havia saído da casa. Já estava fora, ás portas da cidade.
Ressuscitou Lázaro, cujo cadáver não só já saíra de casa, mas estava encerrado
no sepulcro há quatro dias, e, portanto, cheirava mal.
Santo Agostinho explica as três sortes de pecadores:
a defunta filha do chefe da Sinagoga é símbolo daqueles que têm o pecado no
íntimo do coração, mas não o puseram ainda em obras. São os que consentem
plenamente nos maus desejos graves, como no caso de adultério, sem contudo
realizá-los. Estão mortos no interior do coração. No caso, há um morto, mas não
saiu para fora. Às vezes, por efeito da palavra divina, como se Jesus em pessoa
lhe dissesse: "Levanta-te" este pecador arrepende-se de seu
consentimento ao mal e volta a respirar o ar de salvação e santidade. Este
morto ressuscita dentro de casa; este coração revive na intimidade de sua
consciência. Esta ressurreição da alma defunta, operada em segredo é
simbolizada pela que teve lugar no recinto doméstico.
Outros passam do consentimento à obra, por assim
dizer, o morto saiu para fora. Sai à luz o que já estava na sombra. Também a
este que passou a vias de fato, pondo o mal em obras também é ressuscitado pela
voz de Nosso Senhor Jesus Cristo e volta à vida espiritual o pecador que se
deixou tocar e comover pela palavra da verdade. Já ia se avançando para o
abismo e para a morte eterna. Mas Jesus pára-o, toca-o, restitui-lhe a vida da
alma e entrega-o à sua Mãe, a Igreja. Destes pecadores que não só consentem no
pecado no interior da consciência, mas o realizam com obras e logo se
arrependem, é símbolo justamente a ressurreição do jovem filho da viúva de
Naim.
Finalmente, há aqueles que de mal em mal, chegam a
enredar-se nos vícios, nos maus costumes, a tal ponto que não vêem por força do
mau hábito, a malícia das suas ações e até se gabam de suas más obras. Assim,
diz Santo Agostinho, os habitantes de Sodoma. Tão grande era ali o império do
nefando costume, que a perversão se lhes parecia honestidade e mais digno de
repreensão o censor do que o malfeitor. "Viestes, dizem os
habitantes de Sodoma a Lot, para morar aqui, não para nos dar
leis".(que diria Santo Agostinho hoje quando se fazem leis para aprovar e
defender os sodomitas?!). Eles, oprimidos pelos costumes malignos
estão como que sepultados. Não só sepultados, mas como Lázaro no sepulcro, já
cheiram mal. A pedra que cerrava o sepulcro de Lázaro significava a tirania do
hábito, que subjuga a alma e não a deixa nem levantar-se nem respirar.
Diz-se de Lázaro que ele era um defunto de quatro
dias (quatriduanus est). E, em verdade, a este mau hábito, que
chamamos vício, chega-se como que por quatro etapas: primeira:
uma suave chamada do prazer à porta do coração; segunda: o consentimento;
terceira: a obra; quarta: o mau hábito. Há aqueles que repelem as coisas
ilícitas logo que saem de seus pensamentos, para nem sequer sentir o prazer. Há
aqueles que, sentindo o prazer, não consentem nele; ainda isto não é a morte,
senão uma espécie de início de morte; porém, se ao deleite se junta o
consentimento, vem a obra; e esta se torna costume. Neste caso, a gravidade é
extrema. Neste sentido podemos dizer: esta alma está morta há tempo e cheira
mal. Chega, então, Nosso Senhor, para o qual tudo é fácil; mas, como para dar a
entender quão difícil é aqui a ressurreição, Ele, na ressurreição de Lázaro,
suspira fortemente, e fala bem alto: "Lázaro,sai para fora deste
sepulcro!" Sem embargo, à esta voz possante do Senhor, rompem-se
as cadeias da tirania da sepultura, treme o poder da morte, e Lázaro foi
devolvido à vida. Irmãos, observai as circunstâncias desta ressurreição: saiu
vivo do sepulcro, mas não podia andar. Diz, então, Nosso Senhor aos
discípulos: "Desatai-o e deixai-o ir". Jesus o
ressuscitou da morte; os discípulos soltaram as ligaduras que impediam a Lázaro
de andar. Reconhecei que a majestade divina se reserva certa coisa nesta
ressurreição. A um consuetudinário (=pessoa dominada pelo vício) se lhe dizem
duramente as palavras da verdade; porém, quantos não as ouvem? Depois das
reprimendas, fica o pecador sozinho com os seus pensamentos e estes falam-lhe
da má vida que leva e o péssimo hábito que o oprime. Enojado de si mesmo,
resolve mudar de vida. Eis a ressurreição: ressuscitam, pois, quando começam a
ser-lhes odiosos os procederes de antes; embora, porém, voltados à vida, não
podem andar; as ligaduras de suas repetidas culpas impendem-nos. É mister, por
isso, que ao ressuscitado se lhe desate e deixe caminhar; função esta
encomendada pelo Senhor aos discípulos quando lhes disse:"O que
desatardes na terra, será desatado no céu".
E Santo Agostinho termina o sermão mostrando a necessidade da pronta ressurreição espiritual: "Estas reflexões, oh! caríssimos, devem persuadir aos vivos a continuar vivendo, e aos que não vivem, a recobrar a vida. Se o pecado concebido no coração não saiu ainda para fora, haja arrependimento, corrija-se o pensamento, ressuscite o morto na intimidade de sua consciência. Se executou a ideia, tampouco desespere; se o morto não ressuscitou dentro, ressuscite fora. Arrependa-se de sua ação, reviva em seguida, não baixe ao profundo da sepultura, não caia em cima a lousa do mau hábito. E se, porventura, me está ouvindo quem jaz oprimido pela fria e dura pedra, quem já traz sobre si o peso do costume e cheira mal, como morto de quatro dias, tampouco este deve perder a esperança; mui baixo está sepultado, porém, Cristo está em cima. Ele pode desfazer com a força de sua voz as lousas do sepulcro; Ele pode devolver-lhe a vida da alma; Ele os deixará nas mãos de seus discípulos para que o desatem. Façam também penitência estes mortos. Quando Lázaro ressuscitou depois de quatro dias, nada conservou da infecção primeira. Assim, pois, os vivos continuem vivendo, e os mortos de qualquer destas mortes, ressuscitem logo. Amém!
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