LEITURA ESPIRITUAL
MEDITADA
Ação de graças.
E agora que estais aqui, ó meu dulcíssimo Jesus,
agradeço-Vos do mais íntimo do meu coração, mas peço-Vos também uma graça: dai-me
o Vosso Sangue. Não Vos contenteis em estar comigo como estais no tabernáculo:
Deixai cair sobre a minha alma o orvalho dos Vosso Sangue. Ó Jesus,o Vosso
Sangue que, por causa dos espinhos da coroa, banharam Vossa fronte, deixai-O
cair sobre a minha alma; sobre minha inteligência e sobre a minha memória, afim
de que eu conheça ao menos algum dos pensamentos que tínheis ao morrer por mim,
e para que eu recorde para sempre quanto Vos custaram certas imaginações,
certas ideias e certas obstinações da minha mente leviana, caprichosa e
soberba. Dai-me o Sangue que Vos correu das mãos traspassadas pelos cravos, e
venha ele santificar todas as minhas intenções. Dai-me o Sangue dos Vossos pés,
e que eu veja sempre os vestígios d'Ele sobre o caminho da minha peregrinação e
do meu calvário, e deste modo não dê um só passo fora das normas dos vossos
exemplos e das vossas dores. Daí-me o Sangue de toda a Vossa adorável
Humanidade, afim de que eu aprenda que não possuo uma só partícula do meu corpo
que não possa e não deva sacrificar-ta por Vós, e saiba, com o Vosso exemplo e
a Vossa graça, como se leva uma cruz, como se suporta um flagelo, como se
recebe uma ultraje, como se consuma um sacrifício. Dai-me, ó Jesus, o Vosso
Sangue, ou melhor, dai-me o Sangue do Vosso Coração. Ah! este Sangue deve ser o
mais precioso que Vos correu pelas veias, porque o reservaste para fazer d'Ele
o último dom: é o Sangue que melhor conhece as Vossas pulsações e até que ponto
sabeis amar a Vossa criatura. Ah! que ânsias não sinto de achegar os meus
lábios ao Vosso sagrado lado aberto pela lança! Tenho bebido já em mais de uma
fonte terrena, mas aumentou-me sempre a secura misteriosa que me consome: só
Vós, ó Jesus, podeis apagá-la com o Vosso Sangue. Deixai-O cair do Vosso
Coração sobre o meu, gota a gota; venha substituir o meu sempre infecto de
tantas más tendências e de tantas culpas; venha trazer-me a vida das duas
virtudes que mais Vos são caras, a mansidão e a humildade.
Ó Jesus, confesso-Vos que aqui na intimidade desta Comunhão,
estou cansado já de ter um coração tão mau; mas como posso eu melhorá-lo se Vós
mesmo lhe não transformais a natureza, se não o vivificais com novas e santas
pulsações? e como o fareis palpitar por Vós se não lhe infundirdes o Vosso
Sangue? Ó Jesus, eu sinto já náuseas da terra e das criaturas; sinto-me sem
vontade para nada, sem transportes de alegria, sem entusiasmo: é uma onda de
tristeza intolerável que me afoga. Ah! o Vosso Sangue! Não sou um anjo, não
tenho um cálice de ouro para recolhê-lo... sou uma alma infeliz, mas tenho
sede... Tenho os lábios ressequidos... deixai-me chegar-los ao Vosso Coração
aberto, deixai-me que eu beba, deixai que eu fique inebriado do Vosso Sangue.
Sim, inebriado! Não quero mais pensar, querer, esperar, sofrer, senão sob o
impulso e os ímpetos duma embriaguez santa de amor por Vós. Vós, ó Jesus,
amastes tanto os homens a ponto de Santo Agostinho Vos chamar um louco de amor;
pois bem, dai-me o Vosso Sangue; que eu O beba até à última gota, para que os
anjos depois me chamem ébrio do Vosso Sangue, Amém!
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