S. Lucas XVI, 1-9
PREPARAÇÃO PARA DAR
CONTAS A DEUS
Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!
A Santa Igreja neste domingo coloca para nossa meditação a
parábola do "Mau Administrador". O HOMEM RICO é figura de Deus, senhor
de todas as riquezas que possuem os anjos no céu, e os homens na terra. O
ADMINISTRADOR é todo homem que está neste mundo. Se aqui na terra o homem é
considerado proprietário diante dos outros homens (por isso Deus proíbe o roubo),
não o é diante de Deus, mas apenas um administrador, um simples ecônomo. Tudo o
que possuímos, na ordem da natureza e da graça, de fato, não nos pertence, pois
tudo nos foi confiado por Deus, a quem um dia havemos de prestar contas. À hora
da nossa morte, encontraremos um livro onde se acha notado, com rigorosa
precisão, todos os nossos créditos e todos os nossos débitos. Como o ecônomo
infiel, seremos também acusados, diante de Deus, pelo demônio e por nossos
próprios pecados. Nosso saldo será positivo ou negativo?!
Caríssimos, a vida inteira nos é concedida para regular as
nossas contas, e podemos fazê-lo pelo exame de consciência e pela confissão
sacramental. A cada instante posso ser chamado à presença de meu Juiz; acho-me
em estado de responder às acusações que poderá fazer-me? "PRESTA CONTA DE
TUA ADMINISTRAÇÃO". Esta intimação será feita, um dia, a cada um de nós, à
hora da morte. Então todas as fontes da salvação estarão esgotadas para mim,
porque me será tirado o tempo. Esta intimação logo após a morte, para uns será
terrível, como o prelúdio do castigo; para outros será cheia de consolação,
como o anúncio da recompensa. Depois da morte já não podemos exercer a nossa
administração, é já passado o tempo de expiar os nossos pecados. É agora, enquanto
temos vida, tempo e saúde, que devemos refletir: QUE HEI DE FAZER? Agora não
nos faltam os meios, e se refletirmos seriamente, logo encontraremos a
resposta: "JÁ SEI O QUE DEVO FAZER". No dia do Juízo o pecador dirá
também, "que hei de fazer?" mas será um grito de desespero, a sua
perda é irremediável.
TRABALHAR CAVANDO A TERRA, exposto ao sol e à chuva, é o
penoso trabalho da penitência e da mortificação. MENDIGAR é orar, é suplicar o
necessário para alimento da nossa alma. Se, porém não temos força ou coragem
para as duras penitências da vida cristã, se não temos tempo e vagar para
longas orações, podemos sempre praticar outras boas obras, fazer esmolas ainda
mesmo do pouco que possuímos. Qual o pobre que não pode dar a outro pobre o óbolo
da viúva ou ainda um copo d'água? A ESMOLA é, pois, um grande meio de salvação,
sem excluir, todavia, a penitência e a oração que, segundo as circunstâncias,
nos for permitido fazer.
Caríssimos, lendo com atenção esta parábola do divino
Mestre, vemos bem a astúcia daquele mau ecônomo. Perdoando a uns mais do que a
outros, toma precauções para que não seja descoberta a sua fraude. Além disso,
ele conhecia talvez as disposições de cada um, e procede com toda a prudência.
O Senhor louvou não a injustiça do seu mordomo, mas a sua prudência, habilidade
e espírito de previdência. Enquanto o ecônomo não tinha o direito de dispor dos
bens de seu amo, nós, caríssimos, recebemos de Deus, não somente uma permissão,
mas ainda uma ordem formal de distribuir com largueza e liberalidade, os bens
corporais e espirituais que ele nos confiou. Quis o Divino Mestre fazer-nos compreender, diz Santo Agostinho,
que se aquele mau servo é elogiado por saber acautelar os seus interesses, com
mais razão seremos nós agradáveis a Deus se, conformando-nos com a lei divina,
praticarmos as obras de misericórdia.
Em uma instrução, na qual se tratava também de nos preparar
para sermos julgados, o Salvador exigira duas coisas para esta preparação:
paixões mortificadas e obras santas: "Estejam
cingidos os vossos rins, e acesas as vossas lâmpadas" (S. Lucas XII,
35). A fuga do mal e a prática do bem. Aqui Jesus só fala da esmola,
considerando-a tão capaz de comover o Coração de Deus, que nos obterá todas as
disposições necessárias para nos reconciliar com Ele, e nos restituir os nossos
direitos à celeste herança. Com efeito, na Sagrada Escritura tudo é prometido à
esmola. Ela livra-nos de todo o pecado e da morte, e não deixará cair a alma na
trevas eternas: "A esmola livra de
todo pecado e da morte e não deixará cair a alma nas trevas" (Tobias IV,
11). "A água apaga o fogo ardente, e a esmola resiste aos pecados". A
esmola alcança-nos os dois maiores bens que pode desejar um homem prudente: a
misericórdia neste mundo, e uma vida de felicidades no outro: "A esmola livra da morte, é a que apaga
os pecados e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna" (Tobias XII,
9). Quanto aos pecados veniais, apaga-os diretamente; quanto aos mortais,
faz o pecador encontrar misericórdia enquanto Deus concede ao que a pratica, ou
a graça do arrependimento (perfeito ou imperfeito) e a recepção da absolvição
sacramental; ou, na hora da morte, o arrependimento perfeito com o desejo da
confissão, ou a graça do arrependimento imperfeito com a recepção da absolvição e, em
alguns casos, "per accidens" também pelo sacramento da Extrema Unção.
"A esmola, diz Santo Agostinho, é a consolação da nossa
fé, o amparo da nossa esperança, o remédio contra o pecado; ganha-nos a afeição
do nosso Juiz, torna-nos credores de Deus. Oh! poder da esmola! Aqueles a quem
tivermos socorrido, introduzir-nos-ão nos tabernáculos eternos: 'Quando chegar a vossa hora, eles vos
recebam nos tabernáculos eternos'". Caríssimos, que suave luz difunde
na nossa alma esta consoladora palavra! Agora sei o que hei de fazer, para
encontrar o meu Juiz propício, quando comparecer no Seu tribunal: granjearei
perante a Nosso Senhor Jesus Cristo intercessores e amigos, que falarão em meu
favor. Cobrirei a multidão dos meus pecados, multiplicando as minhas obras de
misericórdia, dando esmolas; se tiver muito, dando muito; se tiver pouco, dando
pouco.
O ensinamento moral da parábola se resume nestas palavras:
"OS FILHOS DO SÉCULO (os mundanos) SÃO MAIS PRUDENTES EM SEUS NEGÓCIOS DO
QUE OS FILHOS DA LUZ" (o homem esclarecido pelas luzes da fé). Enquanto
aqueles trabalham e se esforçam, e suam, e não medem dificuldades para
satisfazer as suas paixões, estes adormecem imprudentemente sem nada fazer para
Deus e para o céu.
Uma outra consideração sobe à nossa mente: Como chegou este
homem a tornar-se um ladrão? Foi aos poucos, lentamente e de degrau em degrau.
Por isso, Nosso Senhor, depois de nos ter recomendado a prudência, recomenda
também a fidelidade nas pequeninas coisas. A delicadeza de consciência é a
honra do cristão, que não quer ser justo somente diante dos homens, mas ainda
diante de Deus, que é a Justiça por essência.
Por que Jesus fala de "RIQUEZAS INJUSTAS?" Porque
enganadoras, mentirosas e também porque ou são, às vezes mal adquiridas, ou
porque mal empregadas, e, neste sentido,
são a fonte de muitas injustiças. Em si mesma, a fortuna é um dom de Deus, é
uma graça que convém aproveitar para a nossa salvação, proporcionado-nos a
amizade dos pobres, conquistando-nos o coração de Jesus que neles se encarna e
representa. Se um homem administrar mal as riquezas deste mundo, nega-lhe Deus
os bens da graça; se não respeitar os bens alheios, que pertencem a Deus,
perderá também o que lhe pertence, as graças a que tinha direito pelo
sacramento do Batismo.
Ó misericordioso Jesus, dai-nos um coração sempre mais
sensível às diversas necessidades do próximo. Descobri-nos todo o mistério do
necessitado e do pobre, na ordem espiritual e temporal, para que no dia
terrível do juízo sejais para nós o onipotente libertador: "Bem-aventurado o que cuida do necessitado e
do pobre; o Senhor o livrará no dia mau" (Salmo 40, 2). Amém!
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