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LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO! PARA SEMPRE SEJA LOUVADO!

Caríssimos e amados irmãos e irmãs em Nosso Senhor Jesus Cristo! Sêde BEM-VINDOS!!! Através do CATECISMO, das HOMILIAS DOMINICAIS e dos SERMÕES, este blog, com a graça de Deus, tem por objetivo transmitir a DOUTRINA de Nosso Senhor Jesus Cristo. Só Ele tem palavras de vida eterna. Jesus, o Bom Pastor, veio para que Suas ovelhas tenham a vida, e com abundância. Ele é a LUZ: quem O segue não anda nas trevas.

Que Jesus Cristo seja realmente para todos vós: O CAMINHO, A VERDADE, A VIDA, A PAZ E A LUZ! Amém!

sábado, 6 de maio de 2017

SANTA MISSA DE SEMPRE: Explicação feita por Santo Tomás de Aquino


   Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, questão LXXXIII, artigo IV e V.
ART. IV. - Se foram convenientemente ordenadas as palavras proferidas neste sacramento.
ART. V.  - Se as cerimônias usadas na celebração deste mistério são convenientes.
Nota: Alterei a ordem da matéria, colocando as objeções para o fim. 
  ARTIGO IV - Explicação das palavras da Santa Missa
   Um documento denominado: "De Consecratione, dist. 1º" (ndt - é um documento extraído dum livro antiquíssimo: "Constituições Apostólicas") diz: "Tiago, irmão(primo) do Senhor e (S.) Basílio Cesariense Bispo, regularam a celebração da missa". Dada a autoridade destes homens (São Tiago, Apóstolo e São Basílio, Bispo) devemos dizer que nada se diz na Missa que não seja apropriado.
    EXPLICAÇÃO para solução de qualquer dúvida: Este sacramento compreende todo o mistério da nossa salvação. Por isso, é celebrado com mais solenidade que todos os outros. E porque lemos nas Sagradas Escrituras, Eclesiástico IV, 17: "Vê onde põe o teu pé quando entras na casa de Deus"; e Eclesiástico, XVIII, 23: "Prepara a tua alma antes da oração". Por isso, antes da celebração deste mistério, vem em primeiro lugar a preparação, para se bem fazer o que se segue. - Desta preparação, a primeira parte é o louvor a Deus, que se faz no Intróito, segundo aquilo das Sagradas Escrituras: "Sacrifício de louvor me honrará; e ali o caminho por onde lhe mostrarei a salvação de Deus" (Salmo XLIX, 23). E este louvor de Deus é tirado, no mais das vezes, dos salmos, ou pelo menos é cantado com um Salmo, porque, como diz (S.) Dionísio, os salmos como louvores, abrangem tudo o que está contido nas Sagradas Escrituras. - A segunda parte (Santo Tomás, mais na frente, vai se referir ao Confiteor). contém a confissão de nossa miséria presente, quando o sacerdote implora misericórdia, dizendo Kyrie eleison, três vezes pela pessoa do Pai; três pela pessoa do Filho, quando diz Christe eleison; e três pela pessoa do Espírito Santo, quando acrescenta Kyrie eleison. Três súplicas contra a nossa tríplice miséria - da ignorância, da culpa e da pena; ou para significar também que as três pessoas divinas estão reciprocamente uma na outra. - A terceira parte comemora a Glória Celeste, a que tendemos depois da miséria presente, quando se diz: Gloria in excelsis Deo; o que se canta nas festas em que se comemora a glória celeste, e se omite nos ofícios fúnebres e de penitência que só comemoram a miséria da vida presente. - A quarta parte contém a oração que o sacerdote faz pelo povo, para que ele (=o povo) seja digno de tão grandes mistérios. 

   Em segundo lugar vem a instrução do povo fiel, porque este sacramento é  o mistério de fé. E essa instrução dispositivamente se faz pela doutrina dos Profetas e dos Apóstolos, lida na Igreja pelos leitores e subdiáconos. É a Epístola. E depois desta lição o coro canta o Gradual, que significa o progresso na vida espiritual; o Alleluia, símbolo da exultação espiritual; ou o Tractus, nos ofícios fúnebres e de penitências, que significa os gemidos espirituais. Porque de tudo isso o povo deve dar mostras. - Pela doutrina de Cristo, contida no Evangelho o povo é perfeitamente instruído; e é lida pelos diáconos, ministros do grau mais elevado. E por crermos em Cristo, como na Verdade divina, segundo aquilo do Evangelho: "Se eu vos digo a verdade, porque me não credes? (São João, VIII, 46). - Lido o Evangelho, canta-se  o Símbolo da Fé, (o Credo) pelo qual todo o povo mostra o seu assentimento à fé na doutrina de Cristo. O Símbolo se canta nas festas de que se faz nele alguma menção, como nas de Cristo e da Santíssima Virgem. E nas dos Apóstolos que fundaram esta fé, e em outras semelhantes.

   Assim, pois, preparado e instruído o povo, passa o sacerdote à celebração do mistério. E este é oferecido como sacrifício, e consagrado  e tomado como sacramento. E então, primeiro, se realiza a oblação; segundo, a consagração da matéria oferecida; terceiro, a recepção dela. 

   A oblação se compõe de duas partes: o louvor do povo no canto do ofertório, símbolo da alegria dos oferentes; e a oração do sacerdote, que pede seja aceita de Deus a oblação do povo. Por isso disse David: "Eu te ofereci alegre todas estas coisas na simplicidade do meu coração; e eu vi que o teu povo, que aqui está junto, te ofereceu os seus presentes com grande alegria"(Paralipômenos [hoje= CRÔNICAS], XXIX, 17 e 18).

   E depois vem a Consagração já com o prefácio onde a Igreja procura despertar a devoção do povo; por isso adverte-o a ter os corações elevados para o Senhor - "Sursum corda; habemus ad Dominum = Corações ao alto! Já os temos para o Senhor!". Donde, acabado o prefácio, a Igreja louva devotamente a divindade de Cristo, dizendo com os anjos: "Sanctus, Sanctus, Sanctus" (Isaías, VI, 3). E louva igualmente a humanidade de Cristo dizendo com os meninos: "Benedictus qui venit" (Mateus, XXI, 9,15). Depois o sacerdote comemora, em secreto, aqueles por quem oferece o sacrifício, isto é, pela Igreja universal e pelos que estão elevados em dignidade (1 Tim. II, 2); e especialmente certos que oferecem ou por quem é oferecido. - Em segundo lugar, comemora os santos, quando lhes implora o patrocínio pelo que acabou de recomendar, ao dizer: "Communicantes e memoriam venerantes,etc" (="Unidos numa mesma comunhão, honremos a memória"... ).  Enfim, em terceiro lugar, conclui a petição, quando diz: "Hanc igitur oblationem etc." (=Assim, pois, esta oblação"...) para que se faça a oblação por aqueles por quem é oferecido o sacramento. 

    Em seguida passa propriamente à consagração, na qual, - primeiro - pede o efeito dela, quando diz: "Quam oblationem tu, Deus..." (=Cuja oblação, ó Deus...). Segundo, faz a consagração, pronunciando as palavras do Senhor, quando disse: "Qui pridie quam pateretur..." (=O qual na véspera de sua Paixão...). - Terceiro - escusa-se da sua ousadia por obediência ao mandado de Cristo, quando diz: "Unde et memores..." (=É porque, lembrando-nos...). - Quarto - pede que seja aceito de Deus o sacrifício celebrado, quando diz: "Supra quae propitio..." (=Sobre os quais com propício...). - Quinto - pede o efeito deste sacrifício e sacramento: 1º - para os que o receberem, quando diz: "Suplices te rogamus..." (=Nós Vos suplicamos, humildemente...); 2º - para os mortos que já não podem receber, quando diz: "Memento etiam, Domine..." (=Lembrai-vos também, Senhor... ); 3º - especialmente pelos sacerdotes mesmos que o oferecem, quando diz: "Nobis quoque peccatoribus..." (=A nós também, pecadores...".

    A seguir vem a recepção do sacramento. - E primeiro o povo é preparado para o receber -primeiramente, pela oração comum de todo o povo, que é a oração dominical, na qual pedimos: o pão nosso de cada dia nos dai hoje; e também pela oração particular, que o sacerdote especialmente oferece pelo povo, quando diz: "Libera nos, quaesumus, Domine..." (=Livrai-nos, Senhor, nós volo pedimos...). - Segundo - o povo é preparado pela paz, que é dada quando reza o Agnus Dei: pois este é o sacramento da unidade e da paz. Mas nas missas dos defuntos, nas quais o sacrifício é oferecido, não pela paz presente, mas pelo descanço dos mortos, omite-se a paz. 

    Segue-se depois a recepção do sacramento, pelo sacerdote primeiro, que o distrubui depois aos outros; porque, como diz (S.) Dionísio, quem dispensa o sacrifício aos outros deve, primeiro, participar dele.

    E por último, a celebração completa da missa termina pela ação de graças - o povo exultando pela recepção deste mistério, como o significam os cânticos depois da comunhão; e o sacerdote, dando graças pela oração, assim como Cristo, celebrada a Ceia com os discípulos, disse o hino, como referem  os Evangelhos de São Mateus, XXVI, 30 e São Marcos, XIV, 26. 

  Por tudo que acabamos de explicar, temos a solução das dificuldades: 



RESPOSTAS ÀS OBJEÇÕES
    1ª Objeção: Parece que foram inconvenientemente ordenadas as palavras proferidas neste sacramento, porque este sacramento é consagrado pelas palavras de Cristo, como diz (Santo) Ambrósio. Logo, nele não se deve proferir nada mais senão as palavras de Cristo.
     RESPOSTA: A consagração se opera pelas sós palavras de Cristo. Mas é necessário fazer-lhes acréscimos para a preparação do povo, que recebe o sacramento, como dissemos.

    2ª Objeção: As palavra de Cristo nós as conhecemos pelo Evangelho. Ora, na consagração deste sacramento, os Evangelhos referem que Cristo disse: Tomai e comei, sem dizer - todos. Mas na celebração deste sacramento diz-se: "Accipite, et manducate ex hoc omnes", isto é, "Tomai e comei dele todos". Logo, esta palavra (=todos) não devia ser proferida na celebração deste sacramento.
    RESPOSTA: O vocábulo - todos - subentende-se entre as palavras do Evengelho, embora não esteja nele expresso. Pois, Cristo disse: "Se não comerdes a carne do Filho do Homem, não tereis a vida em vós" (São João, VI, 54). Além disso: estas palavras não fazem parte da forma da Consagração.

    3ª Objeção: Os demais sacramentos se ordenam à salvação de todos os fiéis. Ora, na celebração destes sacramentos não se faz oração comum pela salvação de todos os fiéis e dos defuntos. Logo, também não se devia assim proceder neste sacramento.
    RESPOSTA: A Eucaristia é o sacramento de toda a unidade eclesiástica. Por isso, mais especialmente neste que nos outros sacramentos, deve-se fazer menção de tudo aquilo que se refere à salvação de toda a Igreja.

    4ª Objeção: O batismo é especialmente chamado o sacramento da fé. Logo, o que se refere à instrução da fé deve ser conferido antes no batismo que neste sacramento.; assim a doutrina Apostólica e a dos Santos Evangelhos. 
    RESPOSTA: Há duas espécies de instrução na fé. - Uma é a dos catecúmenos, que acabam de receber a fé. E esta instrução é dada no batismo. - Outra é a recebida pelo povo fiel, que participa deste mistério. E esta é dada neste sacramento. Contudo, dela não ficam privados também os catecúmenos e os infiéis. Por isso dispõe um cânone: "O bispo não proíba a ninguém entrar na Igreja e ouvir a palavra de Deus, quer se trate de gentio, quer de herético ou Judeu, até a missa dos catecúmenos, na qual está contida a instrução da fé".

   5ª Objeção: Todo sacramento supõe a devoção dos fiéis. Logo, não se deve, mais por este sacramento que pelos outros, despertar-lhes a devoção mediante louvores divinos e advertências; p.ex., quando se diz: "Sursum corda" - "Habemus ad Dominum" (=Corações ao alto! - Já os temos para o Sehor!).
    RESPOSTA: Este sacramento requer maior devoção que os outros, porque nele está contido todo Cristo. É também mais geral: porque exige a devoção de todo o povo a favor do qual é oferecido, e não só dos que o recebem, como se dá com os outros sacramentos. Por isso, no dizer de (S.) Cipriano, o sacerdote, recitado o prefácio, prepara as almas dos seus irmãos, exclamando- "Sursum corda! e respondendo o povo: "Habemus ad Dominum", é advertido a pôr todos os seus pensamentos em Deus.

    6ª Objeção: O ministro deste sacramento é o sacerdote, como se disse na q,72,a1. Logo tudo quanto nele se reza devia ser proferido pelo sacerdote e não, certas coisas pelos ministros e certas outras pelo coro.
    RESPOSTA: Neste sacramento menciona-se, como se disse, o concernente a toda a Igreja. Por isso, o coro recita certas partes atinentes ao povo. - Dessas, umas o coro as continua até ao fim; e esses são os sugeridos a todo o povo. - Outros o sacerdote, que faz as vezes de Deus, começa e o povo continua; em sinal de que tais coisas, como a fé na glória celeste, chegavam ao povo por divina revelação. Por isso, o sacerdote começa a recitar o Credo in unum Deum (Símbolo da fé) e o Gloria in excelsis Deo. Outros são recitados pelos ministros, como a doutrina do Velho e do Novo Testamento; como sinal que ela foi anunciada aos povos pelos ministros mandados por Deus.
    Outras partes, porém, só o sacerdote é quem as recita; e são as que lhe concerne ao ofício próprio, que é oferecer dons e sacrifícios pelo povo, como diz São Paulo em Hebreus, V, I. Mas, aí, o concernente ao sacerdote e ao povo, o sacerdote o recita em voz alta, e tais são as orações comuns. - Mas certas outras, como a oblação e a consagração, concernem só ao sacerdote. Por isso reza em voz submissa o que a constitui. Mas antes, porém, o sacerdote desperta a atenção do povo, dizendo Per omnia saecula saeculorum, e esperando o assentimento do povo com o Amen; e depois diz Dominus vobiscum. 
    O que reza secretamente é também sinal de que , na Paixão de Cristo, só às ocultas os discípulos O confessavam. 

    7ª Objeção: Este sacramento é certamente obra do poder divino. Logo, é supérfluo o pedido do sacerdote para que essa obra se cumpra: "Quam oblationem tu, Deus, in omnibus... facere digneris..." (=Esta oblação, ó Deus, nós pedimos, dignai-Vos abençoá-la, recebê--la e aprová-la plenamente..."
    RESPOSTA: Primeiro devemos estar lembrados que a eficácia das palavras sacramentais pode ficar impedida pela intenção do sacerdote. - Nem há inconveniente em pedirmos a Deus o que sabemos com certeza Ele o fará; assim Cristo pediu a sua glorificação (São João, XVII). - Aqui, no entanto, o sacerdote não ora para que se faça a consagração, mas para nos ser ela frutuosa; donde dizer sinaladamente que ela se torne para nós o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo. E isto significam as palavras que proferiu antes: Dignai-Vos tornar esta oblação bendita,isto é, como o explica (Santo) Agostinho, pela qual sejamos abençoados, pela graça; aprovada,isto é, pela qual sejamos recebidos no céu; ratificada, isto é, que por ela sejamos unidos ao coração de Cristo; racionável, isto é, pela qual sejamos livres do senso animal; aceitável, isto é, a fim de que, descontentes de nós mesmos, por meio dela sejamos aceitáveis ao Seu Filho único. 

    8ª Objeção: O sacrifício da Lei Nova é muito mais excelente  que o dos antigos Patriarcas. Logo, o sacerdote não devia pedir a aceitação desse sacrifício, como o de Abel, Abraão e Melquisedech.
    RESPOSTA: Embora este sacramento seja, em si mesmo, superior a todos os antigos sacrifícios, contudo os sacrifícios dos antigos foram muito aceitos de Deus, por causa da devoção deles. Por isso o sacerdote pede que este sacrifício seja aceito de Deus, pela devoção dos oferentes, como o foram aqueles outros do A. T.
    9ª Objeção: O corpo de Cristo, assim como não começa a estar neste sacramento por mudança de lugar ( como antes q. 75,a 2 foi dito), assim também nem, por este modo, deixa de nele estar. Logo, não é apropriada a petição do sacerdote: ("Suplices te rogamus, omnipotens Deus): jube  haec perferri per manus sancti Angeli tui... (Nós Vos suplicamos, humildemente, ó Deus onipotente, que, pelas mãos de vosso Santo Anjo, mandeis levar estas ofertas ...).
    RESPOSTA: O sacerdote não pede nem que as espécies sacramentais sejam levadas ao céu; nem que o seja o verdadeiro corpo de Cristo, que aí não deixa de estar presente. Mas o pede para o corpo místico, simbolizado neste sacramento; isto é, que as orações, tanto do povo como do sacerdote, os apresente a Deus o anjo assistente aos divinos mistérios, segundo aquilo do Apocalipse, VIII, 4: "Subiu o fumo dos perfumes das orações dos santos da mão do anjo. Quanto à expressão - sublime altar de Deus - significa ou a própria Igreja triunfante, a que pedimos sejamos trasferidos; ou Deus mesmo, do qual pedimos participar. Pois, deste altar diz a Escritura em Êxodo, XX, 26: "Non ascendes per gradus ad altare meum, isto é, in Trinitate gradus non facies". ("Não subirás por degraus ao meu altar, isto é, não introduzirás graus na Trindade"). - Ou, pelo anjo entende-se o próprio Cristo, o Anjo do grande conselho, que uniu o seu corpo místico a Deus Pai e à Igreja triunfante. Donde também a denominação de missa; porque pelo anjo o sacerdote emite (mittit) as suas preces a Deus, como o povo, mediante o sacerdote. Por isso, no fim da missa  o diácono diz nos dias festivos- Ite, missa est (= Ide, foi oferecida) isto é, a hóstia  a Deus pelo anjo, de modo a ser de Deus aceita.





ARTIGO V: Se as cerimônias usadas na celebração deste mistério são convenientes.
   Parece que as cerimônias usadas na celebração deste sacramento não são convenientes. 
   Mas devemos dizer o contrário, porque estas cerimônias fazem parte do costume legitimo (consuetudo) da Igreja, que não pode errar, dado que é inspirada pelo Espírito Santo.
   EXPLICAÇÃO que dá a SOLUÇÃO para todas as dificuldades ou objeções.
   Como dissemos, para ser mais perfeita a significação, tudo o que se faz nos sacramentos é significado duplamente por palavras e por atos. Ora, certos passos da Paixão de Cristo, representados na celebração deste sacramento, são significados por palavras. Ou ainda certas coisas concernentes ao corpo místico, que esse sacramento representa; e outras referentes ao uso do mesmo, que deve ser com devoção e reverência. Por isso, na celebração deste mistério, certas práticas representam a Paixão de Cristo; ou ainda, a disposição do corpo místico; e certas outras dizem respeito à devoção e reverência devidas a este sacramento.
    OBJEÇÕES
    E assim podemos responder às objeções:
    1ª Objeção: Este sacramento pertence ao Novo Testamento, como o mostra a sua própria forma. Ora, na vigência do Novo Testamento não se devem observar as cerimônias do Velho, nas quais o sacerdote e os ministros lavavam-se com água quando iam oferecer o sacrifício. Assim, lemos em Êxodo, XXX, 19: "Aarão e seus filhos lavarão as suas mãos e os pés, quando tiverem de se aproximar do altar...". Logo, não é conveniente o sacerdote lavar as mãos na solenidade da missa.
    RESPOSTA: A ablução das mãos se faz na celebração da missa, pela reverência devida a este sacramento. E isto por duas rações: 1º - Por ser costume geral tocarmos em coisas preciosas com as mãos lavadas. Por onde, faltaria à decência quem se achegasse a tão grande sacramento com as mãos sujas, mesmo no sentido material. - 2º - Pelo significado da ablução. Pois, como diz (S.) Dionísio, o lavarmos as extremidades significa a purificação, ainda dos mínimos pecados, segundo aquilo do Evangelho de S. João, XIII, 10: "Aquele que está lavado não tem necessidade de lavar senão os pés". E esta purificação é necessária a quem se achega a este sacramento. O que também é significado pela confissão que se faz antes do começo da missa. E o mesmo significava a ablução dos sacerdotes na Lei Velha, conforme o ensina (S.) Dionísio no mesmo lugar. - Mas a Igreja não o observa como preceito cerimonial da Lei Velha, senão como instituído por ela, e na prática em si mesma conveniente. Por isso, não é observado do mesmo modo por que o era antigamente. Também se omite a ablução dos pés, conservando-se só a das mãos, por poder fazer mais facilmente e por bastar a significar a perfeita purificação. Pois, sendo as mãos o órgão dos órgãos, na expressão de Aristóteles, todas as obras se lhes atribuem a elas. Donde o dizer o Salmo XXV, 6: "Lavarei as minhas mãos entre os inocentes".

    2ª Objeção: O Senhor mandou que o sacerdote queimasse incenso de suave fragrância sobre o altar que estava diante do propiciatório (Êxodo, XXX, 7). O que também era uma das cerimônias do Antigo Testamento. Logo, não deve o sacerdote oferecer incenso, durante a missa. 
    RESPOSTA: Não usamos incenso como se fosse um preceito cerimonial da lei, mas por uma determinação da Igreja. Por isso não oferecemos do mesmo modo pelo qual o estatuía a Lei no Velho Testamento. - E o fazemos por duas razões - Primeiro, para reverenciar este sacramento: para que o bom cheiro do incenso, expulse algum mau odor do local, que pudesse provocar repugnância. Segundo, para representar o efeito da graça da qual, como de bom odor, Cristo tinha a plenitude, segundo aquilo da Escritura Gênesis XXVII, 27: "Eis o cheiro de meu filho como o cheiro de um campo cheio." E o qual deriva de Cristo para os fiéis, por meio dos ministros, segundo aquilo do Apóstolo em 2 Corintios II, 14: "Por nosso meio difunde o odor do conhecimento de si mesmo em todo lugar." Por isso , depois de incensado todo o altar, que designa a Cristo, incensam-se os demais, numa certa ordem.

   3ª Objeção: a) Transferimos para aqui a primeira parte da 2ª objeção do artigo anterior.
   Os atos de Cristo nós os conhecemos pelo Evangelho. Ora, na consagração deste sacramento se alude a ato que não está no Evangelho. Assim, aí não lemos que Cristo, na consagração deste sacramento, elevasse os olhos para o céu. Pois, na celebração deste sacramento se diz: Tendo elevado os olhos ao céu". Logo,  isto não deveria ser feito na celebração deste sacramento. 
RESPOSTA: Como diz o Evangelho de São João XXI,  25 , muitas coisas fez  e disse o Senhor pelos Evangelistas não referidas. Entre elas está que o Senhor, na Ceia, elevou os olhos para o céu, o que a Igreja o recebeu pela tradição dos Apóstolos. Pois é racional, que quem, na ressurreição de Lázaro  e na oração que fez pelos discípulos, levantou os olhos para o Pai, como o narra o evangelista, com maior razão o fizesse ao instituir este sacramento, coisa mais importante.

   3ª Objeção: b) As cerimônias realizadas nos sacramentos da Igreja não devem reiterar-se. Logo, não deve o sacerdote repetir tantas vezes os sinais da cruz sobre este sacramento.
   RESPOSTA: O sacerdote, na celebração da Missa, faz o sinal da cruz para exprimir a Paixão de Cristo, que na cruz se consumou. A Paixão de Cristo, porém, realizou-se como por alguns graus.(=por etapas). 
Assim, primeiroteve lugar a entrega de Cristo, feita por Deus, efetuada por Judas e pelos Judeus. E isto significam os três sinais da cruz acompanhados das palavras: Haec dona +, haec munera + haec sancta sacrificia illibata +. Em português: "Estes dons, estes presentes, estes santos sacrifícios sem mancha." Segundo, depois foi Cristo vendido. Ele foi vendido, porém, pelos sacerdotes, escribas e fariseus. Para o significar, o sacerdote faz de novo por três vezes o sinal da cruz, dizendo: "Benedictam, +  adscriptam, +  ratam" + . Em português: "Bendita, aprovada, ratificada". Ou para mostrar o preço da venda, que foram os trinta dinheiros. E acrescenta duplo sinal da cruz às palavras: "ut nobis corpus + et sanguis +... Em português: "Afim de que para nós o corpo e o sangue..." a fim de designar a pessoa de Judas, o vendedor, e de Cristo, o vendido. - Terceiro, a Paixão de Cristo foi prenunciada na ceia. Para designá-lo o sacerdote faz em terceiro lugar, o sinal da cruz por duas vezes - uma ao consagrar o corpo; outra, ao consagrar o sangue, dizendo em ambas as vezes: "benedixit"=abençoou. Quarto: em quarto lugar, consumou-se a Paixão mesma de Cristo. E para representar as cinco chagas de Cristo o sacerdote faz pela quarta vez cinco sinais da cruz, dizendo: "hostiam + puram, hostiam+sanctam,  hostiam+ immaculatam,  panem +sanctum  vitae aeternae,  et calicem+ salutis perpetuae."  Em português: "a Hóstia pura, a Hóstia santa, a Hóstia imaculada. o Pão santo da vida eterna e o Cálice da salvação perpétua". Quinto: em quinto lugar é representada a extensão do corpo na cruz, a efusão do sangue e o fruto da paixão. Daí mais três sinais da cruz acompanhados das palavras: "Filii tui + Corpus, et + Sanguinem sumpserimus, omni + benedictione" ... Em português: "participando deste altar, recebermos o sacrossanto Corpo e o Sangue de vosso Filho, sejamos repletos de toda bênção celeste"... Sexto: em sexto lugar é representada a tríplice oração que Cristo fez na cruz: - uma pelos seus perseguidores, quando disse: "Pai, perdoai-lhes"... a segunda para libertar-se da morte, quando disse: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste"? a terceira para alcançar a glória quando exclamou: "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito". E para significá-lo o sacerdote faz três sinais da cruz, dizendo: "sanctificas,+  vivificas, + benedicis"+... = santificais, vivificais, abençoais... Sétimo: em sétimo lugar, representa as três horas durante as quais ficou suspenso na cruz, isto é, desde a sexta até a nona hora. E para significá-lo, faz de novo o sacerdote por três vezes o sinal de cruz, pronunciando as palavras: "Per + ipsum, et cum + ipso, et in + ipso". = "Por Ele, com Ele e n'Ele". Oitavo: em oitavo lugar, representa-se a separação entre a alma e o corpo, por dois sinais da cruz subsequentes, fora do cálice.  Nono: Enfim, em nono lugar, é representada a ressurreição, operada no terceiro dia, por três cruzes, acompanhadas da palavras: "Paz + Domini sit  + semper +  vobiscum". = "A paz do Senhor esteja sempre convosco." 
   - Mas, podemos dizer, mais brevemente, que a consagração deste sacramento e a aceitação deste sacrifício, bem como o seu fruto, procedem da virtude (=força ou eficácia)  da cruz de Cristo. Por isso, sempre que o sacerdote faz menção de alguma dessas três coisas(=consagração deste sacramento, aceitação deste sacrifício e o seu fruto) faz o sinal da cruz. 

   4ª Objeção: O Apóstolo  diz em Hebreus, VII, 7: "Sem nenhuma contradição, o que é inferior recebe a bênção do que é superior". Ora, Cristo, que está neste sacramento, depois da consagração, é muito maior que o sacerdote. Logo, inconvenientemente o sacerdote benze, depois da consagração, este sacramento, fazendo sobre Ele o sinal da cruz.
   RESPOSTA: O sacerdote, depois da consagração, não faz o sinal da cruz para benzer e consagrar, mas só para comemorar o sinal da cruz e o modo da Paixão de Cristo, o que ficou claro pelo que foi dito acima ao responder à terceira objeção. (cinco cruzes sobre Nosso Senhor para significar as cinco chagas feitas em Jesus na Sua Paixão).

   5ª Objeção: Nos sacramentos da Igreja não deve haver nada que seja ridículo. Ora, é ridículo fazer gesticulações, como quando o sacerdote estende os braços, põe as mãos, junta os dedos e se inclina. Logo, tais coisas se não deviam fazer neste sacramento.
   RESPOSTA: Nenhum dos gestos do sacerdote, na missa, constitui gesticulação ridícula , pois têm o fim de representar alguma coisa. - Assim, o estender os braços depois da consagração significa o Cristo com os braços estendidos na cruz. - Também levanta as mãos ao orar, para significar que a sua oração se dirige  a Deus, pelo povo, segundo aquilo da Escritura Tren., III, 41: "Levantemos ao Senhor os nossos corações com as mãos para os céus.". E Êxodo, XVII, 11 diz: "Quando Moisés tinha as mãos levantadas vencia Israel". - Quando põe as mãos, inclina-se, orando súplice e humildemente, designa assim a humildade e a obediência com que Cristo sofreu. - Junta os dedos polegar e indicador, com que tocou o corpo consagrado de Cristo a fim de que não se disperse alguma partícula que a eles se tivesse apegado. O que constitui reverência para com o sacramento.

   6ª Objeção: Também é ridículo o sacerdote voltar-se tantas vezes para o povo, tantas vezes saudá-lo. Logo, nada disso devia fazer-se na celebração deste sacramento. 
   RESPOSTA: O sacerdote volta-se cinco vezes para o povo, para significar que o Senhor se manifestou cinco vezes no dia da ressurreição, como dissemos quando tratamos da ressurreição de Cristo. - Saúda sete vezes o povo, isto é, cinco vezes quando se volta para ele; e duas, em que não se volta, isto é, quando antes do prefácio diz: "Dominus vobiscum". E quando diz: "Pax Domini sit semper vobiscum" = "A paz do Senhor esteja sempre convosco" para designar a septiforme graça do Espírito Santo. Quanto ao bispo, quando celebra nos dias festivos, diz, na primeira saudação: "Pax vobis", o que depois da ressurreição o Senhor o disse aos discípulos, cujas pessoas sobretudo as representa o bispo. 

   7ª Objeção: O Apóstolo em 1ª Cor. I, 13  diz que Cristo não deve ser dividido. Ora, depois da consagração Cristo está neste sacramento. Logo, o sacerdote não devia fracionar a hóstia. 
   RESPOSTA: A fração da hóstia significa três coisas. Primeiro, a divisão mesma do corpo de Cristo, que se operou na Paixão. - Segundo, a distinção do corpo místico em diversos estados. - Terceiro, a distribuição das graças procedentes da Paixão de Cristo, com diz (S.) Dionísio. Por onde, tal fracção não induz divisão em Cristo. 

   8ª Objeção: As cerimônias deste sacramento representam a Paixão de Cristo. Ora, na Paixão, o corpo de Cristo foi dividido nos lugares das cinco chagas.  Logo, o  corpo de Cristo devia ser dividido antes em cinco que em três partes. 
   RESPOSTA: Como diz o Papa Sérgio (em De consecr., didt. II): "Triforme é o corpo do Senhor. A parte oferecida, posta no cálice, representa o corpo de Cristo já ressuscitado. Isto  é, o próprio Cristo e a Santa Virgem, que já estão na glória com os seus corpos. A parte que se come significa os que ainda vivem nesta terra. pois os peregrinos neste mundo se unem com Cristo pelo sacramento; e ficam alquebrados pelo sofrimento como o pão comido é triturado. - A parte remanescente no altar até o fim da missa significa o corpo jacente no sepulcro; porque até o fim dos séculos os corpos dos santos estarão nos sepulcros; mas as almas estão no purgatório ou no céu. Este rito porém não se observa atualmente, isto é, o de conservar uma parte até ao fim da missa. Mas permanece a mesma significação das partes. O que certos exprimiram em versos, dizendo: A hóstia se divide em partes; molhada (=a que fica dentro do cálice com o precioso sangue) significa os que gozam da plena beatitude; seca, significa os vivos; conservada, significa os sepultos. 
   Certos, porém, dizem, que a parte posta no cálice significa os viventes neste mundo; a conservada fora do cálice significa os plenamente bem-aventurados, isto é, em corpo e alma; a parte comida significa os outros. 

   9ª Objeção: O corpo de Cristo é totalmente consagrado neste sacramento, em separado do sangue. Logo, não se devia misturar com o sangue uma parte dele.
   RESPOSTA: O cálice pode ter dupla significação. - Numa é a Paixão mesma, representada neste sacramento. E então, a parte posta no cálice significa os ainda participantes dos sofrimentos de Cristo. - Noutra significação pode simbolizar o gozo dos bem-aventurados, também prefigurado neste sacramento. Por onde, aqueles cujos corpos já gozam da plena beatitude são simbolizados pela parte posta no cálice. - E devemos  notar, que a parte posta no cálice não deve ser dada ao povo como complemento da comunhão, porque o pão molhado Cristo não o deu senão ao traidor Judas. 

   10ª Objeção: Assim como o corpo de Cristo é dado neste sacramento  como comida, assim o sangue de Cristo, como bebida. Ora, à recepção do corpo de Cristo, ao celebrar a missa, não se lhe acrescenta nenhum outro alimento para o corpo. Logo, não devia o sacerdote, depois de ter bebido o sangue de Cristo, tomar vinho não consagrado. (Se refere ao vinho das abluções)
   RESPOSTA: O vinho, em razão da sua humildade, serve para lavar. Por isso, é tomado depois da suscepção deste sacramento, para lavar a boca, para que nenhuma partícula nela fique; o que constitui reverência para com este sacramento. Por isso, uma disposição canônica determina: o sacerdote deve sempre lavar a boca com o vinho, depois de ter recebido completamente o sacramento da Eucaristia; salvo de dever no mesmo dia (Isto porque o jejum eucarístico era de 12 horas e só se celebrava de manhã) celebrar outra missa; a fim de que o vinho tomado para lavar a boca não impedisse celebrar outra vez. E pela mesma razão lava com vinho os dedos, com que tocou o corpo de Cristo. 

   11ª Objeção: O verdadeiro deve corresponder ao figurado. Ora, do cordeiro pascal, que foi a figura deste sacramento, a lei ordenava que nada se conservasse para o dia seguinte. Logo, não se deviam conservar hóstias consagradas, mas consumi-las logo.
   RESPOSTA: A verdade deve, de certo modo, corresponder à figura; assim não deveria realmente a parte da hóstia consagrada, da qual o sacerdote e os ministros ou também o povo comungam, ser conservada para o dia seguinte. Mas devendo este sacramento ser recebido todos os dias, o que não se dava com o cordeiro pascal, por isso é necessário conservar outras hóstias consagradas para os enfermos. Por onde na legislação da Igreja dada pelo Papa (S.) Clemente se estabelece: "O prebítero tenha sempre preparada a Eucaristia de modo que quando alguém adoecer, dê-lhe logo a comunhão, não vá morrer sem ela."

   12ª Objeção: O sacerdote fala aos ouvintes no plural; por   exemplo, quando diz: "Dominus vobiscum" (= O Senhor esteja convosco), e, "Gratias agamus" (= Demos graças). Ora, não devemos falar no plural quando nos dirigimos a um só, sobretudo inferior. Logo, não devia o sacerdote celebrar a missa, estando presente só um ministro.
   RESPOSTA: Na celebração solene da missa, vários devem estar presentes. Donde o dizer o Papa Sotero: "Também isto foi estabelecido, que nenhum sacerdote ouse celebrar solenemente a missa sem dois ministros presentes, que lhes respondam, a ele como terceiro; porque quando diz no plural "Dominus vobiscum"; e a oração secreta "Orate pro me", é necessário evidentemente que lhe alguém responda à saudação".  Por isso, para maior solenidade, lemos no mesmo lugar como estatuído ( De Consecr. dist. I , papa Soter) que o bispo celebre, com vários ministros, a solenidade da missa. - Mas, nas missas privadas, basta haver um ministro, representante de todo o povo católico, em nome do qual responde no plural ao sacerdote. 



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