"É preciso orar sempre e não cessar de o fazer" (S. Lucas XVIII, 1)
A oração é o grande meio de salvação. E tanto isto é
verdade, que Santo Afonso de Ligório afirma e prova que quem reza se salva e
quem não reza, se condena.
O homem de si mesmo, é um nada e fraqueza, já que sua
natureza corrompida é tão violentamente inclinada ao mal. Tem, na verdade, a
razão para conhecer seus deveres. Mas isto não basta. "Vejo o bem e o aprovo, vejo o mal e o desaprovo, e, no entanto,
faço a mal que desaprovo e não faço o bem que aprovo" assim diz do homem o
Apóstolo S. Paulo (cf. Rom. VII, 15-20). Portanto, é absolutamente
necessário ao homem o auxílio de Deus, auxílio este alcançado pela oração.
A oração bem feita produz sempre frutos e põe à nossa
disposição a onipotência de Deus. Na verdade, a oração bem feita enternece o
Coração de Deus, é uma homenagem aos seu poder, à sua sabedoria, à sua bondade,
ao seu amor. Quem reza, pois, une-se a Deus que se compraz em espargir suas
perfeições sobre todos os que d'Ele se aproximam pela oração. A oração também
nos une aos Santos no Céu e às almas virtuosas na terra. Duas pessoas que rezam
uma pela outra, embora separadas pelos oceanos, estão mais intimamente unidas
que outras duas que vivem juntas mas não rezam.
Quão comovente são os convites de Nosso Senhor à oração! "Vigiai e orai"; "Pedi e
recebereis, procurai e achareis; batei e vos será aberto" (S. Mat.
VII, 21; S. Luc. XI, 9). E ainda: "Tudo
quanto pedirdes com fé, ser-vos-á concedido" (S. Mat. XXI, 22); "Se dois dentre vós estiverem de
acordo, aquilo que pedirdes vos será concedido por meu Pai que está no
céu" (S. Mat. XVIII, 19);
"Tudo quanto pedirdes a meu Pai em
meu nome, eu o farei" (S. João XVI, 13); "Se vós permanecerdes em mim e se minhas palavras permanecerem em
vós, tudo quanto quiserdes pedir, ser-vos-á concedido" (S. João XV,
7).
Mas São Tiago diz:
"Pedis e não obtendes", e logo dá a razão: "porque pedis mal, com o fim de satisfazerdes vossas paixões"
(S. Tiago IV, 3). Deus é a própria sabedoria e não irá ceder aos caprichos de
quem reza mal. Santo Agostinho assim resume em latim os motivos porque a oração
não é atendida: "Petimus mali,
petimus male, petimus mala. Traduzindo: Nós que pedimos somos maus; pedimos com
oração mal feita; pedimos coisas más.
Petimus mali: sendo
maus, isto é, em estado de pecado. Encontrar-se em estado de revolta contra
Deus será disposição para alcançar suas graças? Reconciliemo-nos primeiro com
Ele, façamos a sua vontade e Ele fará a nossa.
Petimus male: rezamos
mal, ou seja, sem atenção; sem elevar a alma para Deus, sem humildade, sem
confiança, sem perseverança. Santo Agostinho diz que "o latir do cão é
menos desagradável aos ouvidos de Deus do que a oração mal feita".
Petimus mala: isto
é, o que pode ser inútil, mesmo prejudicial, sem o sabermos, como são às vezes,
os bens relativos como saúde, recursos, talentos etc. Peçamos primeiro os bens
absolutos: a graça, a virtude, a salvação, os bens sobrenaturais, e
secundariamente, e sob condição de serem para a glória de Deus e bem da alma, também os bens de ordem natural.
É a regra que traçou Nosso Senhor Jesus Cristo: "Procurai em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, e
todas estas coisas ser-vos-ão dadas por acréscimo" (S. Mat. VI, 33).
Não esqueçamos de pedir "em nome de Nosso Senhor, isto é, "pelos
merecimentos de Jesus Cristo e pelo amor que Deus Pai Lhe tem. Deus Pai nada
recusa ao seu Filho, diz S. Paulo, por causa da consideração que Lhe tem: "propter reverentiam".
É mister, porém, observar que a oração feita de boa fé,
nunca ficará sem resposta. Portanto se o vosso pedido é imprudente mas provém
de vossa ignorância, Deus vos concederá então, não o que pedis, mas coisa muito
melhor. Por ex. pedis recursos materiais, e Deus sabe que será uma pedra em que
tropeçarás e perderás a fé, Ele então vos dará um pão, poderá ser uma fé e amor
maiores para com a Santíssima Eucaristia. Caríssimos, quando pedirdes uma
virtude, rezai, antes, para que vos seja dado um real desejo dessa virtude, e
dizei depois, em toda a sinceridade de vosso coração: Senhor, fazei-me praticar
essa virtude, custe o que custar. Por ex. pedimos a virtude da humildade; mas
devemos pedir também que Nosso Senhor nos dê a graça de termos fortaleza para
aceitarmos todas as humilhações que Ele se dignar enviar-nos.
O Pai-Nosso foi ensinado por Jesus como o modelo supremo. Aí
a alma começa a dar a Deus o belo título de Pai. Só isto já nos mostra quais os
sentimentos que devemos trazer no coração quando rezamos. Conversamos como o
nosso Pai, não o da terra (o que já é tão agradável!) mas o Pai do Céu, a
própria Bondade, a própria Perfeição , o Onipotente. Logo após, a alma pede a
glória divina e só depois expõe sua próprias necessidades.
Na oração podemos pedir tudo que é bom e santo, tudo o que
nos pode ser útil. Mas antes de tudo devemos desejar e pedir que Deus seja
conhecido, amado e glorificado. O terceiro pedido do Pai-Nosso, pedido este que
Jesus fez Ele mesmo de modo tão comovedor no Horto das Oliveiras, é um dos que
devem brotar com frequência de nossos lábios, e que parece resumir todos os
outros. "Meu Pai, se for possível,
que se afaste de mim esse cálice; mas que a vossa vontade seja feita e não a
minha". Assim devemos sempre adorar, louvar e amar a vontade de Deus. Com
estas palavras: seja feita a vossa vontade", podemos formular todas as
nossas orações. Peçamos para que se faça em nós a vontade de Deus. É certo que
Deus quer sejamos piedosos, humildes, desapegados, mortificados, caridosos.
Então peçamos: Senhor seja feita a vossa vontade, mesmo se for contra a minha,
custe o que custar. E, Senhor, quantos aos meios pelos quais me santificareis,
também escolhei-os Vós mesmo.
E se rezamos pelos outros, como por ex. pelos nossos
parentes ou amigos, ou pelas almas que nos são confiadas (os pais pelos filhos,
os padres pelos seus fiéis) será sempre a mesma regra: aliás, que podemos pedir
de melhor para eles senão a vontade de Deus?! Então digamos sempre com
sinceridade perfeita: Senhor, Vós sabeis e quereis o que convém mais: fazei a
vossa vontade, inspirai-me e inspirai aos outros as medidas as mais sábias, dai
a todos prudência e força, dai luz ao espírito e energia à vontade, e que tudo
se faça segundo a vossa sabedoria e as vossas preferências, para vossa maior
glória e para o nosso maior bem.
Caríssimos, já meditastes alguma vez sobre a vida de oração
de Nosso Senhor Jesus Cristo? Nada mais próprio para incutir em nós o amor à
oração, a convicção profunda da importância e necessidade da oração. Lembremos
apenas algumas passagens: "Levantado-se
muito antes de amanhecer, saiu, foi a um
lugar solitário e lá fazia oração" (S. Marc. I, 35); "Mas ele
retirava-se para lugares desertos e fazia oração"(S. Lucas V, 15);
"Despedidas as turbas, subiu só a um monte para orar" (S. Mat. XIV,
23); "Aconteceu naqueles dias que se retirou para o monte a orar e estava
passando toda a noite em oração a Deus" (S. Lucas VI, 12); "Ora
aconteceu que, recebendo o batismo todo o povo, batizando também Jesus, e
estando em oração, abriu-se o céu..." (S. Lucas III, 21); na
Transfiguração: "Tomou consigo
Pedro, Tiago e João, e subiu a um monte para orar. Enquanto orava..." (S.
Lucas IX,28, 29); "Então Jesus, falando novamente [ao Pai em oração]
disse: "Graças te dou, ó Pai..." (S. Mat. XI, 25 e sgs). Já
consideramos Sua oração no Getsêmani. Na cruz, sua primeira palavra foi uma
oração de perdão: Pai perdoai-lhes porque
não sabem o que fazem". Quão comovente é a oração que Jesus faz ao Seu
Pai após a Santa Ceia (cf. (S. João XVII, 1-26). Caríssimos, leiam e meditem!
Oremos como Jesus e nossa oração será perfeita. Amém!
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