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Se considerarmos agora a Eucaristia como Sacramento, descobriremos nela propriedades admiráveis de que só um Deus a podia dotar.
Os principais acontecimentos da história do povo judeu, no Antigo Testamento, eram o símbolo, umas vezes oculto, obscuro, outras patente, luminoso, das realidades que deviam iluminar a Nova Aliança estabelecida por Cristo. Ora, segundo as próprias palavras de Nosso Senhor, uma das figuras mais características da Eucaristia foi o maná. Com particular insistência, o divino Salvador estabelece comparações entre este alimento que caiu do céu para sustentar os hebreus no deserto e o pão eucarístico que Ele devia dar ao mundo. E assim, será partilhar dos sentimentos de Cristo estudar a figura e o símbolo, para melhor compreender a sua realidade.
Eis, pois, em que termos o escritor sagrado, órgão do Espírito Santo, fala do maná: "Saciastes, ó Deus, o Vosso povo com o alimento dos Anjos, e do céu deste-lhe sem trabalho um pão já preparado, que lhe proporcionava inteiro prazer e satisfazia todos os gostos. Esta substância, por Vós enviada, mostrava a doçura que tendes para os Vossos filhos, e este pão, acomodando-se ao desejo de quem o comia, transformava-se no que ele quisesse" (Sab. XVI, 20-21).
A Igreja tomou estas magníficas palavras para as aplicar à Eucaristia no Ofício do Santíssimo Sacramento. Vamos ver com que verdade e plenitude elas exprimem as propriedades do alimento eucarístico; vamos ver com quanto maior razão podemos cantar da sagrada Hóstia o que o autor inspirado cantava do maná.
Como o maná, a Eucaristia é alimento, mas alimento espiritual. Foi no meio dum banquete, sob forma de alimento, que Nosso Senhor a quis instituir. Jesus Cristo dá-se a nós como alimento das nossas almas: "A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue verdadeira bebida" (João VI, 56).
Como o maná, a Eucaristia é um pão descido do céu. O maná, porém, não passava de figura imperfeita; por isso, Nosso Senhor dizia aos judeus que Lhe recordavam o prodígio do deserto: "Moisés não vos deu o pão do céu; meu Pai é quem dá o verdadeiro pão do céu, porque o pão de Deus é Aquele que desce do céu e que dá a vida, não só a um povo em particular, mas a todos os homens".
E como os judeus murmurassem ao ouvirem-No chamar-se a si próprio "pão descido do céu", Jesus acrescenta: "Eu sou o pão da vida. Os vossos pais comeram o maná e morreram; este é o pão que desce dos céu para que quem o comer não morra. Eu sou o pão vivo que desci do céu; se alguém comer deste pão viverá eternamente". Estas palavras são verdadeiras. Porque, de fato, esse pão deposita em nossos corpos o germe de ressurreição. "E este pão que eu darei é a minha carne para vida do mundo" (São João VI, 32-33, 48-52).
Vede como Nosso Senhor mesmo nos mostra, nestas palavras, que a divina realidade da Eucaristia excede em plenitude, na sua substância e nos seus frutos, o alimento dado outrora ao povo judeu.
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