17. Do Servo de Deus Humilde
"Bem-aventurado o servo" (Mt 24, 46) que não se envaidece com o bem que o Senhor diz e opera por meio dele mais do que com o que o Senhor diz e opera por meio de outrem. Peca o homem que exige do seu semelhante mais do que ele mesmo daria de si ao Senhor seu Deus.
18. Da Paciência para com o Próximo
Bem-aventurado o homem que suporta o seu próximo com suas fraquezas tanto quanto quisera ser suportado por ele se estivesse na mesma situação. Bem-aventurado o servo que restitui todos os seus bens ao Senhor seu Deus; porquanto, quem para si retém alguma coisa "esconde o dinheiro do seu amo" (Mt 25, 18), e "o que julgava possuir ser-lhe-á tirado" (Lc 8, 18).
19. Do Servo de Deus Humilde
Bem-aventurado o servo que, sendo louvado e exaltado pelos homens, não se considera melhor do que quando é tido por insignificante, simplório e desprezível. Porque o homem vale o que é diante de Deus e nada mais. Ai do religioso que, enaltecido pelos outros, em sua obstinação não quer mais descer. E bem-aventurado o servo que não é por sua vontade enaltecido e que continuamente deseja ser posto debaixo dos pés dos outros.
20. Do Religioso Autêntico e do Fictício
Bem-aventurado o religioso que não sente prazer nem alegria senão nas santas palavras e obras do Senhor e por elas conduz os homens em júbilo e alegria ao amor de Deus. E ai do religioso que se deleita com palavras ociosas e fúteis e, por esse meio, leva os homens a dar risadas.
21. Do Religioso Frívolo e Loquaz
Bem-aventurado o servo que não fala por interesse de recompensa nem manifesta tudo o que pensa nem é "precipitado no falar" (Prov 29, 30), mas calcula antes sabiamente o que deve dizer e responder. Ai do religioso que não conserva no fundo do seu coração (cf. Lc 2, 25) os bens com que o Senhor o favorece e aos outros não os manifesta por suas obras, mas antes, na esperança de alguma recompensa, procura mostrá-los aos homens por palavras. E esta será toda sua recompensa, e os seus ouvintes colherão pouco fruto.
22. Da Reta Correção
Bem-aventurado o servo que recebe as advertências, acusações e repreensões dos outros com tanta paciência como se proviessem dele mesmo. Bem-aventurado o servo que, repreendido, de boa mente se submete, com respeito obedece, humildemente reconhece sua culpa, voluntariamente oferece reparação. Bem-aventurado o servo que não procura logo escusar-se e com humildade suporta vergonha e repreensão por uma falta que não cometeu.
23. Da Verdadeira Humildade
Bem-aventurado o servo que for achado tão humilde no meio de seus súditos como se estivesse no meio de seus senhores. Feliz do servo que sempre permanece firme sob a vara da correção. "Servo fiel e prudente" (Mt 24, 45) é o servo que em todas as suas faltas não tarda em castigar-se, interiormente pela contrição e exteriormente pela confissão e obras de reparação.
24. Da Verdadeira Caridade
Bem-aventurado o servo que ama ao seu confrade enfermo, que não lhe pode ser útil, tanto como ao que tem saúde e está em condições de lhe prestar serviços.
25. Ainda Sobre o Mesmo Assunto
Bem-aventurado o servo que tanto ama e respeita o seu confrade quando está longe como se estivesse perto nem diz na ausência dele coisa alguma que não possa dizer na sua presença sem lhe faltar à caridade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário